tag:blogger.com,1999:blog-79265079787235558822024-03-19T07:48:33.796-03:00The TrampsMarcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.comBlogger641125tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-61933197630564266882016-03-13T22:01:00.001-03:002016-03-13T22:01:16.351-03:00Doses Homeopáticas #69<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-sxEFEtfr_ZxRcEa6KtVTg-hwq8eAikjcqwiRiw2HBcOVygahswm816MHvszMAopo_Us6HgWKge6zAoePCbq-Klft5kfoqus1XkHOGpaZiqjn8mt0oN14XmVqgo6W82Hv8r19EVVR8w/s1600/passaros-pluma-cristal-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="126" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-sxEFEtfr_ZxRcEa6KtVTg-hwq8eAikjcqwiRiw2HBcOVygahswm816MHvszMAopo_Us6HgWKge6zAoePCbq-Klft5kfoqus1XkHOGpaZiqjn8mt0oN14XmVqgo6W82Hv8r19EVVR8w/s640/passaros-pluma-cristal-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
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Primeiro longa-metragem de Dario
Argento, O PÁSSARO DAS PLUMAS DE CRISTAL é um <i>thriller</i> instigante que coloca um
escritor norte-americano, em vias de voltar para a América, enredado numa
investigação sobre vários assassinatos. Ele testemunha um ataque e, a partir
daí, passa a seguir pistas por conta própria. Argento habilmente lança luz em
diversas direções, fazendo-nos ora acreditar na culpa de determinado
personagem, quase de maneira inequívoca, ora a duvidar e, com isso, desviar as
atenções para qualquer outro que minimamente dê sinais de possível vilania. A
trilha sonora de Ennio Morricone se incumbe de temperar essa atmosfera. A
sensualidade também está presente, ainda que tímida, na beleza das mulheres vitimadas
pelo assassino. O estrangeiro deslocado é levado pelas circunstâncias a assumir
responsabilidades de captura, algo para o que a polícia, embora também
empenhada na missão, não parece competente, mesmo usando métodos científicos e
parafernálias a fim de tentar encontrar o meliante. Embora esteja à mercê da
figura ameaçadora vestida de negro, o protagonista segue adiante, refletindo a
curiosidade do espectador. A vulnerabilidade fica por conta de sua esposa e de
todas as outras mulheres em constante perigo.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjabmjabPoP5LCWvZEKsxojci-1zs6ub-gtLV4CYKQkvWOI3eLJmRfyHiSDqNs4oy_sqYi9znIIvEvuc_LU9WqYHvcTqiuXFIHAoaWBKQtUTR6sjZ88qT6KqKTp3eeuY6bGgVmaDIfD8A/s1600/phenomena-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="106" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjabmjabPoP5LCWvZEKsxojci-1zs6ub-gtLV4CYKQkvWOI3eLJmRfyHiSDqNs4oy_sqYi9znIIvEvuc_LU9WqYHvcTqiuXFIHAoaWBKQtUTR6sjZ88qT6KqKTp3eeuY6bGgVmaDIfD8A/s640/phenomena-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
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<br /></div>
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PHENOMENA começa num terreno caro
ao diretor Dario Argento, o das narrativas debruçadas sobre assassinos em
série. A personagem de Jennifer Connelly é norte-americana, filha de um famoso
ator de cinema, recém-chegada à Suíça para uma temporada de estudos. O medo a
circunda, ainda mais quando sua colega de quarto é morta durante a escapada
para namorar. Ela conhece um entomólogo que a ajuda a entender sua rara relação
com os insetos. A partir daí, o filme envereda pelo sobrenatural, com Jenniffer
sendo, inclusive, acusada de proximidade com o demônio. Esses vieses se cruzam
e se alimentam numa trama tomada gradativamente por diversas facetas do
macabro. Jenniffer corre grande perigo, pois o matador parece cada vez mais
próximo e especialmente ávido por fazê-la vítima. O final tem um quê de <i>gore</i>, as motivações do antagonista são postas às claras e o horror se impõe, com direito a poço com pedaços de corpos e um elemento
surpresa tão ameaçador quanto o portador de facas e outros objetos cortantes,
só que ainda mais insólito, por sua natureza e deformidade. <o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik1LcPNh4o306rdv6VNzZ1Yo-OhpJ94TNnfMAxLTJ9MSp3Phy0YCwbBD9ubq7JIb5PKSpnFV7YbZlNhLhxUaF_O_Qfiko6mzS_lhsndGV6KyPs1K2YnOSLQVxeJ3XAObIpZf4oqg_K6A/s1600/nosferatu-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="102" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik1LcPNh4o306rdv6VNzZ1Yo-OhpJ94TNnfMAxLTJ9MSp3Phy0YCwbBD9ubq7JIb5PKSpnFV7YbZlNhLhxUaF_O_Qfiko6mzS_lhsndGV6KyPs1K2YnOSLQVxeJ3XAObIpZf4oqg_K6A/s640/nosferatu-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
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São muito distintas as várias
abordagens cinematográficas de Drácula, a obra máxima de Bram Stoker. Em
NOSFERATU, do cineasta alemão F.W. Murnau, datada de 1922, o que importa é a
construção cênica do horror, levada a cabo por meio de diversos expedientes. A
colorização manual da película, recurso cromático que distingue os segmentos, é
um deles. A não demora neste ou naquele personagem é outro indício de que à
Murnau interessa a atmosfera, o clima de medo e apreensão que se vale de alguns
elementos do expressionismo alemão – sendo o mais evidente deles o jogo marcado
de luz e escuridão – para impor-se. A caracterização de Max Schreck como o
Conde Orlock (assim chamado em virtude de uma divergência no que tange aos
direitos autorais do original escrito) não entrou para a história como uma das
mais horripilantes por acaso. Distante dos vampiros sedutores, ele encarna uma
figura amedrontadora, cuja presença traz consigo o medo e boa parte da carga de
tensão do filme. Uma obra com quase cem anos, mas que continua intacta no que
diz respeito à capacidade ímpar de mostrar Drácula como criatura que carrega
consigo a essência do mal. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-75550808277471432322016-02-28T10:43:00.000-03:002016-02-28T10:43:05.435-03:00Doses Homeopáticas #68<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-SD-Bx8rf9uWbrByh-Uv4_sSMOQSp-G6xdZJ0PpGrzo5iEC5gzRjtxdwa_iGgQngbibgpVYYyelXJSAK0eTo2m9-achkmYv5cCrOlXHfE8MjYj3kTAeTX4gqyiIh8-EFPedxPge04fA/s1600/drive-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-SD-Bx8rf9uWbrByh-Uv4_sSMOQSp-G6xdZJ0PpGrzo5iEC5gzRjtxdwa_iGgQngbibgpVYYyelXJSAK0eTo2m9-achkmYv5cCrOlXHfE8MjYj3kTAeTX4gqyiIh8-EFPedxPge04fA/s640/drive-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
DRIVE é um filme que fala sobre
paternidade. O personagem de Ryan Gosling assume temporariamente, da forma como
lhe é possível, o papel de figura paterna ao menino cujo pai biológico está na
cadeia. De maneira semelhante, o patrão vivido por Bryan Cranston substitui,
mesmo que por vias tortas, a referência que ele provavelmente não teve na
infância. Trajando uma indefectível jaqueta de escorpião, o protagonista se
assemelha aos enigmáticos pistoleiros do <i>western</i>,
aos homens sem nome, de poucas palavras, sobre os quais não se sabia de onde
viam, para onde iam e que propósitos lhes guiavam. O diretor Nicolas Winding
Refn cria um filme tenso, repleto de uma iconografia muito própria, mas com conceito decalcado de obras anteriores, sobretudo da Hollywood de outrora. Filme-homenagem, tem no desempenho assombroso de Ryan Gosling um de
seus pilares. Aliás, o elenco recheado de nomes tão conhecidos quanto
competentes proporciona o aprofundamento da dimensão humana, dos
elementos que enriquecem o que a imagem e o ritmo dão conta de acelerar e
desacelerar. A violência está presente a todo o momento, com sangue jorrando em
grande profusão para marcar uma realidade essencialmente bárbara, em que o dinheiro
fala mais alto e nem sempre os bons sentimentos conseguem sobrepujar as
adversidades.</div>
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<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
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Redefinição da comédia romântica
na época de seu lançamento, NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA continua um filme
excepcional, talvez a obra-prima maior de Woody Allen, pelas maneiras
bem-humorada e madura com as quais esquadrinha a relação dos protagonistas. Sabemos desde o início que Alvy e Annie vão se separar, mas
não deixamos de acompanhar com entusiasmo os primeiro encontros, as risadas que
pontuam o simples preparo de um jantar, a cumplicidade que vai se adensado no
ritmo do pessimismo dele e da alegria quase inocente dela. Aos poucos, porém, o
amor arrefece e vai perdendo terreno para as desilusões cotidianas, as
diferenças que crescem na medida em que a tolerância rareia. Os
personagens falam com o expectador, interagem com transeuntes como se eles
fossem conselheiros sentimentais, há as tiradas afiadas de Allen, com uma fartura poucas vezes vista, além da evidente cumplicidade entre o cineasta/ator e Diane
Keaton, quiçá sua parceira de cena mais marcante. A abordagem dos sentimentos
e, principalmente, dos relacionamentos que deles decorrem é destituída de
falsos ideais de romantismo ou de fórmulas prontas. O amor, que antes parecia
eterno, acaba porque as coisas mudam, nos diz essa obra que aponta à
maturidade de um artista cujos talentos vão muito além da capacidade de fazer
rir.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLlbvqfoBbweA_WRyhStZ9KxUfQa5U24PUoksn6xDBZKxtcBYG4senUr0mm0TB195VMW0JapDES-5HfgMzfRZYYY9g1zij4urDaMBjmHiSSconIbvuovZs9w448Pa2GNS2czHyPzThpg/s1600/tatuagem-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLlbvqfoBbweA_WRyhStZ9KxUfQa5U24PUoksn6xDBZKxtcBYG4senUr0mm0TB195VMW0JapDES-5HfgMzfRZYYY9g1zij4urDaMBjmHiSSconIbvuovZs9w448Pa2GNS2czHyPzThpg/s640/tatuagem-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
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<br /></div>
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Ainda sob o jugo da ditadura militar no Brasil, um grupo de
artistas performáticos, liderados pelo personagem de Irandhir Santos, desafia com irreverência as convenções e a carolice imperativa. Seus números iconoclastas no palco do
Chão de Estrelas apostam na força, na sensualidade e na naturalidade dos
corpos. Em meio a isso, o protagonista se envolve com um soldado, ou seja,
alguém lotado no extremo aposto dessa luta na qual ele se vale da poesia, da
música, enfim, da arte, a fim de fazer valer os direitos de existir sem restrições.
Em TATUAGEM, primeiro longa-metragem de Hilton Lacerda como diretor, os números
musicais/poéticos entrecortam as e se fundem organicamente às demais camadas,
com a história propriamente dita. Irandhir e Jesuíta Barbosa, intérpretes do
envolvimento amoroso/sexual que personifica a transgressão defendida pelos
componentes da trupe, merecem todo reconhecimento em virtude do excepcional trabalho, que
funciona tanto no registro mais expressivo e desbragado quanto no que diz
respeito às evidências surgidas nos não ditos e nos olhares enviesados. Lacerda
choca a sedimentada tradição e os intentos de revolução nesse excelente filme que
faz jus com folga aos prêmios recebidos.</div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-58759523028170389132016-02-20T20:53:00.001-02:002016-02-20T20:53:16.953-02:00Doses Homeopáticas #67<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoVQNpyykHKhCC9cnUOr84Vy5Zx86ch4D39TfYVodUTumOh4xlIOyMu-Ag1fNOQcC0E6yGBJFKZBg0bMMVgyy0xwxOjJrBQqEBqkDm0gx2m_ZmRlsUZ0sBs3BFtKNTyMZA3B01SNl6tw/s1600/garras-do-vicio-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="82" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoVQNpyykHKhCC9cnUOr84Vy5Zx86ch4D39TfYVodUTumOh4xlIOyMu-Ag1fNOQcC0E6yGBJFKZBg0bMMVgyy0xwxOjJrBQqEBqkDm0gx2m_ZmRlsUZ0sBs3BFtKNTyMZA3B01SNl6tw/s640/garras-do-vicio-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Marco-zero da <i>nouvelle vague</i> francesa, NAS GARRAS DO
VÍCIO mostra um jovem que volta à cidade interiorana onde cresceu, a fim de
recuperar-se de uma doença que quase o matou. Lá ele encontra um espaço parado
no tempo, em que a arquitetura não mudou tanto, diferentemente das pessoas de
seu passado, que agora são outras, não raro oprimidas pelas dificuldades que o
isolamento e a falta de perspectiva impõem. O diretor Claude Chabrol filma esse
regresso amargo com liberdade para tocar em temas-tabu, tais como o incesto. O
protagonista se ressente de não poder fazer muito por seu amigo de infância, um
sujeito infeliz que trata mal a esposa grávida, vive bêbado e flerta com a
cunhada mais nova. Serge é extremamente autodestrutivo, um homem ressentido
pelas oportunidades que a vida lhe negou, por ter criado raízes num local em
que seus sonhos de crescimento não encontram ressonância nem possibilidade. Os
personagens, bem como as relações que os unem, são construídos de maneira
orgânica, sobretudo no que tange aos sentimentos e contradições, combinando,
assim, com o despojamento e o frescor apregoados pela encenação. <o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXc_EysGZF-fXfKRglYOmF7bIvoeepTKOjbb2k4dL7wYb8rSoL04Gx6lcSTdmK4AL4BXDS9XZGoC9F_SNE4Ts4WU1fE2bxjbrCygLeZi_gAQcIbR3SLw4yiFAUC6zQIQvfKEmEiOHyxg/s1600/oracao-amor-selvagem-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXc_EysGZF-fXfKRglYOmF7bIvoeepTKOjbb2k4dL7wYb8rSoL04Gx6lcSTdmK4AL4BXDS9XZGoC9F_SNE4Ts4WU1fE2bxjbrCygLeZi_gAQcIbR3SLw4yiFAUC6zQIQvfKEmEiOHyxg/s640/oracao-amor-selvagem-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
ORAÇÃO DO AMOR SELVAGEM, do
cineasta catarinense Chico Faganello, é um filme repleto de pequenos problemas,
como na primeira parte, em que o protagonista, interpretado com muita
competência por Chico Diaz, perde a esposa e passa um período numa comunidade
pautada pela religiosidade. Contudo, a trama que enfoca contendas motivadas
pela intolerância religiosa e os ótimos desempenhos do elenco garantem o saldo
positivo. Enredado pela irmã do pastor vivido por Ivo Müller, Thiago precisa
lutar contra um entorno que lhe vê com olhos desconfiados. A comunidade é
arredia ao diferente, a quem não frequenta a missa e reza pela cartilha do
homem que brada sermões e invoca Deus, muitas vezes, para cobrir as próprias
falhas. A filha de Thiago é um emblema de pureza nesse entorno degradado,
tacanho e com mentalidade enferrujada. Embora os homens sejam aparentemente
mandatários, são as mulheres que definem as coisas. O desejo paira no ar,
principalmente o do pastor pela própria irmã, ou mesmo o dela pelo forasteiro.
Fosse um pouco menos pudico no que diz respeito às cenas mais quentes,
Faganello poderia ter potencializado o sexo enquanto elemento de combustão daquele
lugar. Ainda assim, um filme com muito a dizer, que não se furta, inclusive, de
um final muito bonito, em que a poesia é precedida da barbárie, da violência
extrema. <o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDr3Fbj3rxj0bq03JJ8V9A4O8I0OLaw0eLG_QNccsPwgD_CM4Lrov0akeLbci9QzebvnyE8cikZ_qemU3jBCTWqoI-SrkMqczoUzPEOSloDuSMM2EOc-syM2-tHIPPuitmh13CoUi2Hw/s1600/casamento-carlitos-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="108" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDr3Fbj3rxj0bq03JJ8V9A4O8I0OLaw0eLG_QNccsPwgD_CM4Lrov0akeLbci9QzebvnyE8cikZ_qemU3jBCTWqoI-SrkMqczoUzPEOSloDuSMM2EOc-syM2-tHIPPuitmh13CoUi2Hw/s640/casamento-carlitos-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Considerado o primeiro
longa-metragem norte-americano, O CASAMENTO DE CARLITOS não é protagonizado
pelo personagem icônico de Charles Chaplin, o vagabundo de chapéu-coco, mas pelo
pilantra que se envolve com uma menina do campo a fim de ficar com o dinheiro
do pai. A atriz Marie Dressler é o grande destaque do filme, interpretando essa
interiorana atrapalhada e corpulenta que, depois de ser passada para trás, se
vê trabalhando como garçonete para, mais tarde, tornar-se a única herdeira do
tio que sofre um acidente praticando montanhismo. Embora dividido em seis
capítulos, o longa dirigido por Mack Sennett, chefão da Keystone, não soa
episódico, como se fosse um apanhando de curtas-metragens enfileirados para dar
conta da duração maior. Se em boa parte da trama temos a dinâmica triangular
entre Carlitos, a herdeira e sua mulher anterior (que também espera lucrar
alguma coisa em virtude da ingenuidade alheia), a parte final exibe as principais
características das produções da Keystone, como ação tresloucada, os
Keystone Cops mais atrapalhando que ajudando e as coisas se resolvendo no
âmbito da gag. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-81797180524452159952016-02-14T21:35:00.000-02:002016-02-14T21:35:39.974-02:00Doses Homeopáticas #66<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUKBaCOtakgC9iIIktmfLbxxbVqB8BFBXD73TRBWK3ECdJPP7Dq2lbpc19w9N_gQ1MeCMIP95w7LmN2DlA6l1K7aCuPU6J6k6_VxHGsuoCZbk3wevRIaon34EgiMviju7HtLNCkWjh6g/s1600/el-dorado-papo-de-cinema.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUKBaCOtakgC9iIIktmfLbxxbVqB8BFBXD73TRBWK3ECdJPP7Dq2lbpc19w9N_gQ1MeCMIP95w7LmN2DlA6l1K7aCuPU6J6k6_VxHGsuoCZbk3wevRIaon34EgiMviju7HtLNCkWjh6g/s640/el-dorado-papo-de-cinema.png" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dirigido por Howard Hawks, EL
DORADO é protagonizado por John Wayne e Robert Mitchum. O primeiro interpreta um
lobo solitário, aqueles tipos que vagueavam pelo velho oeste sem eira nem
beira, aceitando os trabalhos mais diversos, desde que eles incluíssem o uso de
sua arma. O segundo é o xerife da cidade que dá nome ao filme, homem que
precisa de ajuda para mediar um conflito entre dois fazendeiros, principalmente
depois que uma desilusão amorosa o faz mergulhar pesado no álcool. Os dois são
amigos, até mesmo por isso o personagem de Wayne volta para ajudar o de Mitchum
quando as coisas parecem insolúveis pelas vias diplomáticas. Auxiliando eles,
um jovem que não sabe atirar e um idoso que se autoproclama matador de índios.
Assim como na obra-prima <i>Onde Começa o
Inferno</i>, Hawks privilegia os momentos de espera, mais importantes, de fato,
que os tiroteios responsáveis por pontuar os desdobramentos da contenda. Há
humor, uma boa dose de romance, mas, sobretudo, a valorização da amizade, algo
visto tanto na proximidade dos dois protagonistas quanto na trajetória do
novato que passou dois anos caçando os responsáveis pela morte de um velho
amigo de quem herdou o chapéu estranho.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicH31_bXj_kJUKLq_2qqNVQt5sGA49wXXgLKoqL9c50K39NAh8ueaAr-3mbMRWuXxEc62aVaiMts1MksxmuVA9YXeytwMyIbCkeueT_0IsJ5yPEDe8S2MiOKHQZCWu06e0qhj5Jp8GoA/s1600/audazes-malditos-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="86" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicH31_bXj_kJUKLq_2qqNVQt5sGA49wXXgLKoqL9c50K39NAh8ueaAr-3mbMRWuXxEc62aVaiMts1MksxmuVA9YXeytwMyIbCkeueT_0IsJ5yPEDe8S2MiOKHQZCWu06e0qhj5Jp8GoA/s640/audazes-malditos-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
AUDAZES E MALDITOS é um faroeste
vanguardista, no qual John Ford discute o preconceito racial. A culpa de um crime
bárbaro (estupro seguido de duplo homicídio) é imputada ao sargento Rutledge, membro
respeitado e exemplar do exército norte-americano. Ele é negro e sabe muito bem
que a cor de sua pele pode determinar o veredito da corte marcial. Quase sem esperanças, Rutledge não se pronuncia sobre o caso, pelo
menos até o julgamento em que é defendido pelo colega e amigo Tom Cantrell
(Jeffrey Hunter). Os eventos anteriores e posteriores ao assassinato da
adolescente e de seu pai, também um oficial do exército, surgem nos
depoimentos das testemunhas do processo que decide o futuro de Rutlege.
Embora não estenda a questão aos indígenas, vistos no filme
apenas como antagonistas sanguinários capazes das maiores atrocidades e,
portanto, indignos de nossa simpatia, esta realização de John Ford abraça o combate à
discriminação, primeiro, mostrando toda opressão que achata o homem de honra
ilibada, tachado criminoso muito mais por conta de sua raça que propriamente em
virtude dos indícios, e segundo, mostrando-o como uma figura heroica, alguém
que ainda se sente escravo, dada a conjuntura social que hipocritamente diz-se
igualitária, mas que, na verdade, rebaixa e repele todos que não são brancos e
endinheirados.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-AMntto57XVQKpChjm6ekAzoYiz_2aSZVKscjcI-24VDkKRqryZFPRp8PFM92paAytmw3olt6d_zmLHxUQD1_CxZ2GcOzIGhOmxXsgRULbyZFR4d0nwpWvYX1UZZDwm7Cv0SOYMCAwg/s1600/homem-luta-s%25C3%25B3-the-tramps.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="90" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-AMntto57XVQKpChjm6ekAzoYiz_2aSZVKscjcI-24VDkKRqryZFPRp8PFM92paAytmw3olt6d_zmLHxUQD1_CxZ2GcOzIGhOmxXsgRULbyZFR4d0nwpWvYX1UZZDwm7Cv0SOYMCAwg/s640/homem-luta-s%25C3%25B3-the-tramps.png" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Embora esteja sempre acompanhado na
jornada para levar um bandido à cidade onde lhe pagarão pelo serviço de captura, o
protagonista de O HOMEM QUE LUTA SÓ é essencialmente solitário, alguém que
interage em virtude da necessidade, sobretudo por estar focado numa questão muito
particular. O personagem interpretado por Randolph Scott convive com ameaças, dos índios que querem esposar uma de suas acompanhantes de viagem, do irmão do
sacripantas que ele escolta até a forca e de um companheiro de estrada que
deixa clara a intenção de lhe matar para poder usufruir do benefício da
anistia, concedido como recompensa. As cenas de ação, muito bem filmadas, evidenciam a
relação do homem do velho oeste com a natureza que o circunda. Contudo, o diretor Budd
Boetticher privilegia a exposição das motivações. Cada personagem
possui uma intenção muito bem definida, pela qual luta, não importando o
esforço e/ou a consequência. Vingança e luto se mesclam no final redentor, no qual o fogo consome o totem da dor de quem já viu de tudo nos
descampados do oeste selvagem. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-9626257149985789212016-02-07T21:38:00.001-02:002016-02-07T21:38:08.314-02:00Doses Homeopáticas #65<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg74UkJMVpM6_B8-7XBDf9vvutbSCmDHSBLFgIL-ShvmBIRVhze0mC2ZVfQEKFaUZDFh-XlW3tFgX9E_FKsJtM776Cv1ay57QL31KzYZSQ6e5YVyi0yNQFJBxSN_0uSaOtK0HAzHm6fKw/s1600/macbeth-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="92" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg74UkJMVpM6_B8-7XBDf9vvutbSCmDHSBLFgIL-ShvmBIRVhze0mC2ZVfQEKFaUZDFh-XlW3tFgX9E_FKsJtM776Cv1ay57QL31KzYZSQ6e5YVyi0yNQFJBxSN_0uSaOtK0HAzHm6fKw/s640/macbeth-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O primeiro grande acerto de
MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA é tratar o protagonista e os personagens mais
próximos como forças da natureza. Isso é evidenciado pela imagem, aliás, pela
belíssima construção visual a cargo do diretor de fotografia Adam Arkapaw. Os
méritos prosseguem na excelente direção de arte, entre outros detalhes, como o
estado deplorável dos guerreiros no campo de batalha, ou seja, a maquiagem
também se destaca. Mas, fora os quesitos técnicos (que, claro, também podem ser
considerados artísticos), o que mais salta aos olhos neste corajoso e brutal
filme de Justin Kurzel são as interpretações de Michael Fassbender e Marion
Cotillard. Ela consegue transparecer todo ardil do qual se vale para insuflar o
espirito guerreiro do marido na direção do trono da Escócia. Já ele, em
princípio transmitindo a virulência de um homem dominado com facilidade pelos
joguetes da esposa, aos poucos evidencia a loucura de Macbeth, a ira sem fim
que faz desta trama um transcorrer repleto de som e fúria. Um grande trabalho
dos atores, coroado com uma produção esmerada e suntuosa, sem nunca
transparecer ostentação ou gratuidade. Numa temporada de prêmios como o Oscar,
é de se lamentar este filme não concorrer nas principais categorias.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvrelmzQ4RQwsKiM0dQE_wuCMvUAL9qnEiKrkiqEv7uqa4QvFXC906kY5pPvfag6hjNm3kTE1Cwcg9fwm0Mogkp-V6t4OkX8A4rtCdgithYYJU5kUqkEL6MgJVbM_5zpc6Q1KOTcrgnQ/s1600/grande-aposta-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="90" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvrelmzQ4RQwsKiM0dQE_wuCMvUAL9qnEiKrkiqEv7uqa4QvFXC906kY5pPvfag6hjNm3kTE1Cwcg9fwm0Mogkp-V6t4OkX8A4rtCdgithYYJU5kUqkEL6MgJVbM_5zpc6Q1KOTcrgnQ/s640/grande-aposta-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Perder-se é um risco sério em
meio ao ritmo frenético de A GRANDE APOSTA, afinal de contas o filme se vale de
diversas expressões idiomáticas do mercado financeiro, ininteligíveis para
muitos de nós. Contudo, o diretor Adam McKay contorna essa dificuldade com
explicações, entre as contidas nos diálogos e algumas brincadeiras, como as
protagonizadas por celebridades que destrincham verbetes enquanto fazem
qualquer outra coisa. O grupo de homens que anteviu a crise imobiliária responsável
por devastar a economia em 2008 é heterogêneo. Seus membros se aproximam apenas
no que diz respeito à clarividência de enxergar um mercado sustentado por
títulos quase sem valor. O filme aponta o dedo condenatório aos bancos,
mostrando-os como os principais responsáveis pela quebradeira que deixou
milhões desabrigados e desempregados nos Estados Unidos. O andamento acelerado,
a montagem inteligente, o roteiro esperto, são atributos de um ótimo filme, que
dá conta de comentar criticamente a conjuntura sobre a qual o capitalismo
estadunidense foi construído e mostrar a singularidade dos personagens que
tiveram suas razões para apostar pesado contra algo que todos achavam sólido
demais.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtD8M3JWJCXbmlB6zAGtzYfikkx_9XzDcoIuj3DTKK-qVstWup_oZtfU8HmNh_kYXIf6k-YXxzeOsLguf5_F3ABV7i3oJQfyb_kajAflbJ1nM4I3WIbp7l2cAhArPpY3i4qKi0G75HIQ/s1600/spotlight-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="90" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtD8M3JWJCXbmlB6zAGtzYfikkx_9XzDcoIuj3DTKK-qVstWup_oZtfU8HmNh_kYXIf6k-YXxzeOsLguf5_F3ABV7i3oJQfyb_kajAflbJ1nM4I3WIbp7l2cAhArPpY3i4qKi0G75HIQ/s640/spotlight-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
SPOTLIGTH: SEGREDOS REVELADOS é
um drama jornalístico orquestrado de maneira tão inteligente que não é preciso
muito tempo para estarmos completamente absortos na investigação da equipe
especial do jornal Boston Globe sobre crimes de pedofilia cometidos por padres.
O diretor Tom McCarthy nos coloca em contato íntimo com a rotina da redação,
com as etapas necessárias para que uma boa história vire reportagem e possa, de
alguma maneira, influenciar positivamente a sociedade. Os personagens são muito
bem construídos, tendo contempladas suas singularidades – o que os torna gente
acima de jornalistas – sem, contudo, que o foco da apuração seja desviado para suas
dificuldades. São pessoas de carne a osso, com anseios muito próprios e motivações,
da mesma forma, bastante particulares, que dividem uma gana pela verdade, por
fazer do jornalismo um instrumento efetivo. Os bastidores da notícia são
expostos como uma zona cinzenta à qual geralmente os leitores não têm acesso,
repleta de pressões e outros impeditivos para que as coisas sejam impressas da
maneira como aconteceram. Há um crescendo de emoção e adrenalina que acompanha
a progressão da trama, o que evidencia a tensão inerente a um trabalho complexo
como o empreendido pelos jornalistas do Globe, fazendo deste filme um êxito
contundente, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p> </o:p><span style="text-align: justify;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-75991610377073966232016-02-03T21:57:00.002-02:002016-02-03T21:58:11.529-02:00Doses Homeopáticas #64<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirZVCYz5M8RZw5xhyZVHnWV8TJ_jmNIWOYzeI91bUdYt5bszeWeLYbBCjMduAFt8wi_xWIrWminFRdUbErd_-oJeOHaGVNI8jLZDpk4qmpTqA0RcB-Ns6vBYP5V9b-ttlqAlv1YjrWMg/s1600/solidao-da-noite-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="102" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirZVCYz5M8RZw5xhyZVHnWV8TJ_jmNIWOYzeI91bUdYt5bszeWeLYbBCjMduAFt8wi_xWIrWminFRdUbErd_-oJeOHaGVNI8jLZDpk4qmpTqA0RcB-Ns6vBYP5V9b-ttlqAlv1YjrWMg/s640/solidao-da-noite-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O brasileiro Alberto Cavalcanti é
um dos diretores do inglês NA SOLIDÃO DA NOITE, filme que maquia com muita
perspicácia sua estrutura essencialmente episódica. Um arquiteto reconhece os
presentes numa casa estranha como protagonistas de pesadelos recorrentes que
ele vem tendo. Intrigados pelo inusitado, os presentes, até mesmo para
convencerem um cético psiquiatra que não acredita no sobrenatural, começam, um
a um, a contar casos estranhos acontecidos consigo próprios ou mesmo com
pessoas próximas. O clima de terror/horror é quebrado por uma trama
engraçadinha, movimento inteligente que nos convida a ficar mais atentos à
encenação, já que tudo decorre de relatos e, por certo, é passível de
distorções, quando não de invenções. Entre um causo e outro, o arquiteto se
convence de que algo muito grave vai acontecer, que aquele dia estranho não vai
acabar bem, algo sinalizado pela confirmação, na prática, do que ele havia
presenciado apenas durante o sono. As tramas são interessantes uniformemente,
ou seja, não há um sensível desiquilíbrio, como de costume em filmes feitos de
fragmentos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDGykxiHed_HWRafn7A6HTlbfWKGx63YXPJiQu-Bc5q-g5ONQSp3OY8yjrFmsgK6DdGZH_VXJqbPMzGUVontu6pImQ4GgTbdnU7ADnS4pJC9xPjpBHpkJQekeSvN79LJG_y_ET7x9ZEw/s1600/noite-demonio-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDGykxiHed_HWRafn7A6HTlbfWKGx63YXPJiQu-Bc5q-g5ONQSp3OY8yjrFmsgK6DdGZH_VXJqbPMzGUVontu6pImQ4GgTbdnU7ADnS4pJC9xPjpBHpkJQekeSvN79LJG_y_ET7x9ZEw/s640/noite-demonio-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A NOITE DO DEMÔNIO é Jacques
Tourneur em grande forma. O filme contrapõe ceticismo e ocultismo, no qual o
segundo acaba se sobressaindo, principalmente, pela presença marcante do demônio
que surge em meio à fumaça para aniquilar aqueles que foram presenteados com
pergaminhos amaldiçoados. O protagonista não aceita a existência do
sobrenatural, buscando explicações científicas e racionais para fenômenos estranhos.
O demônio é uma figura ameaçadora, fruto da trucagem que dá conta de transmitir
o temor decorrente dessa presença. Embora Tourneur fosse terminantemente contra
a aparição literal, preferindo que os espectadores, assim como os personagens,
ficassem na dúvida se viram mesmo algo extraordinário, ela funciona muito bem.
Perdida a queda de braço para os produtores, temos o mostro na tela, elemento
que extirpa qualquer ambiguidade e deflagra a existência inconteste de forças bizarras
que regem o entorno. Ainda assim, o
filme nos ganha pela atmosfera que oprime num crescendo de horror eficiente,
pois construído com inteligência ao largo das discussões suscitadas e do
romance que surge. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHHBVeo6m10pTEvWyhvJFi7mTbXhc3KpaIA3p8Znk_e5oBgepIE3y3bJ-cSxULbzQL7_GTrHhnjW6hv5AmySNFuIdIYfq-QnrwrSQH6ZjG7jibagxkTV1Dk08U0uufLG818VSygwSQow/s1600/aldeia-amaldi%25C3%25A7oados.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="118" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHHBVeo6m10pTEvWyhvJFi7mTbXhc3KpaIA3p8Znk_e5oBgepIE3y3bJ-cSxULbzQL7_GTrHhnjW6hv5AmySNFuIdIYfq-QnrwrSQH6ZjG7jibagxkTV1Dk08U0uufLG818VSygwSQow/s640/aldeia-amaldi%25C3%25A7oados.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS é um
filme curto, que consegue em seus sintéticos 77 minutos estabelecer um clima de
horror genuíno, baseado nas tensões despertadas por fenômenos inexplicáveis.
Primeiro o apagão geral numa cidadezinha inglesa. Os habitantes desmaiam e
acordam horas depois, como se nada tivesse acontecido. A herança de tal
ocorrência é a gravidez de todas as mulheres férteis do lugar, a gestação
acelerada e o nascimento, no mesmo dia, de um bando de crianças loiras, com
olhos estranhos e uma concepção física e intelectual extraordinárias. Os pequenos
crescem rápido, expondo poderes cada vez mais ameaçadores. Não se sabe qual a
origem deles, embora haja uma teoria que os relacione a seres extraterrestres.
Tudo funciona muito bem nesta realização de Wolf Rilla, em que os vilões,
filhos apenas de mães, estão dispostos a qualquer coisa para sobreviver, até
mesmo a matar entes próximos (não queridos, já que eles são destituídos de
emoções). Apreensão e medo caminham juntos, um alimentando o outro,
constantemente.</div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-77305794933853025652016-01-28T22:23:00.000-02:002016-01-28T22:30:50.795-02:00Doses Homeopáticas #63<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8H-OgyscI5zcHyKRapHMd0ObaYWmmo5aj3ejfJbwSYWyrmGNcl62Rbr6Cc00UC-N93kw2JpmsUY5hH5Y6G1xga7BrZcjBoWESFjGxRmHc0y5sdntL2jDZXZOPJq_xpB-8E0Rt1AWrgw/s1600/anomalisa-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="82" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8H-OgyscI5zcHyKRapHMd0ObaYWmmo5aj3ejfJbwSYWyrmGNcl62Rbr6Cc00UC-N93kw2JpmsUY5hH5Y6G1xga7BrZcjBoWESFjGxRmHc0y5sdntL2jDZXZOPJq_xpB-8E0Rt1AWrgw/s640/anomalisa-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um homem bem-sucedido
profissionalmente, com um casamento estável, entra em parafuso ao hospedar-se
em uma cidade, não por acaso a mesma onde mora um amor do passado, na qual vai
dar palestra de negócios. O protagonista de ANOMALISA, esse grande filme de Charlie
Kaufman, está cercado de gente com a mesma voz e feições semelhantes. Todo
mundo é igual ao redor, a não ser Lisa, dona de uma voz singular, bem como de
um rosto que a destaca dos demais, não necessariamente pela beleza, mas, sobretudo,
por ser diferente. A animação é impressionante, os gestos de velocidade
descompassada da técnica ajudam a exprimir a situação em que o protagonista se
encontra, um estado de melancolia tamanho que o desespero começa a soar como
sinal de salvação. Uma noite de sexo, o timbre único da mulher em seus braços,
o fazem apaixonar-se instantaneamente por aquela até então estranha que sente
vergonha do próprio corpo e não dissimula a baixa autoestima. Tão depressa
quanto demonstrou apego, ele percebe que o problema não é o mundo, mas ele
próprio, pois não consegue conectar-se a alguém, sem achá-lo parte aborrecida e
redundante de algo que não o preenche. O personagem principal do filme de
Kaufman parece fadado a sofrer, por ser irremediavelmente oco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUsvnnmI32NUa-pIs8ujBmhaB6VSLlpLJEBCkq2fcStSMoi19WYBttfkxCN7evvCc9jCldOw0jj-3kyxnpXP0qK5fO0WiqkmNlm25JkDQVz7d0VHamwoLxOE5QXbYsI3cKkzlCa8Cefw/s1600/taxi-teera-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="95" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUsvnnmI32NUa-pIs8ujBmhaB6VSLlpLJEBCkq2fcStSMoi19WYBttfkxCN7evvCc9jCldOw0jj-3kyxnpXP0qK5fO0WiqkmNlm25JkDQVz7d0VHamwoLxOE5QXbYsI3cKkzlCa8Cefw/s640/taxi-teera-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
TAXI TEERÃ é outro dos filmes
feitos de maneira um tanto clandestina por Jafar Panahi, em virtude da
proibição imposta pelo governo iraniano, que o impede de exercer seu ofício. O
diretor, então, instala câmeras num táxi e interage com os passageiros que
embarcam aleatoriamente. De tão insólitas e representativas das restrições
sociopolíticas enfrentadas pelo povo do Irã, as situações parecem até
combinadas, quando não encenadas. Um acidentado pede para o diretor filmar seu
testamento antes que ele morra; um vendedor de DVDs pirata proporciona
reflexões a respeito da circulação de bens culturais no país; duas senhoras e
seus peixes dourados representam as crenças do povo; além de outras ocasiões
que se interligam por falar a respeito de ladrões e de possíveis punições. Mas
o grande achado deste filme é a sobrinha do cineasta, sobretudo sua lista de
ressalvas, de ordem temática, à realização de um curta estudantil. Panahi fica
visivelmente incomodado com a tarefa escolar, algo compreensível já que aquilo
alude diretamente à punição por ele sofrida. A dinâmica imagética lembra <i>10,</i> do conterrâneo Abbas Kiarostami, mas
o resultado é bastante distinto, salvo o fato de ambos refletirem em trânsito
uma sociedade há muito estagnada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil2eQCLMkrshmHPzjx7Yqq8zrPb7rno7W-pnHVvddaMkqh5KOx9SePI2O4yzJ1_FNV6lOe08VIhvj60m6sxPeUSnJ93otxr50SJLT7CXX7_NTcvds9uUnijDXBX28qbOzw_EMludlGzg/s1600/amar-beber-cantar-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="120" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil2eQCLMkrshmHPzjx7Yqq8zrPb7rno7W-pnHVvddaMkqh5KOx9SePI2O4yzJ1_FNV6lOe08VIhvj60m6sxPeUSnJ93otxr50SJLT7CXX7_NTcvds9uUnijDXBX28qbOzw_EMludlGzg/s640/amar-beber-cantar-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
AMAR, BEBER E CANTAR, o
testamento de Alain Resnais, é um filme aparentemente leve, centrado em
cirandas amorosas ocasionadas por uma série de situações que ocorrem em meio aos
ensaios de uma peça teatral. Aliás, a arte dos palcos é reverenciada pelo
diretor francês, que opta por cenários mais afeitos, em princípio, a ela que ao
próprio cinema. Resnais experimentou até o fim, recusando-se a
permanecer demasiado numa zona de conforto. É um dos grandes exemplos de carreira
construída com doses generosas de risco. Neste filme, além de refutar
veementemente o naturalismo cênico, sem com isso abdicar de um registro algo
verista, sobretudo no que diz respeito às respostas dos personagens às
complexidades dos relacionamentos, ele confere ares de protagonista a alguém que nunca aparece em cena. O amigo de todos, que está beirando a
morte, desenganado pelos médicos que lhe dão não mais que seis meses de vida, é
uma figura quase onipresente que, inclusive, promove boa parte dos desencontros
com suas propostas insólitas às esposas dos amigos e até mesmo à mulher que
havia o deixado. Resnais nos convida a imaginar, a participar ativamente do
jogo de representação, no qual a ficção suspende nossa descrença, nos fazendo
dar mais valor ao fabulário que necessariamente à pretensa verdade inerente à
visão. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-33887124182922789682016-01-24T20:48:00.004-02:002016-01-24T20:49:22.423-02:00Doses Homeopáticas #62<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5ghwXVGXLI30MEQv8aSDopt5O2PiPRJzqyQXv3yu6fIF-0TTwDtDDTb7foIniUktYclpsd7nTCeTgK95gUe5QYbzLc5jhE09yB6yp7_WTOx34LkCGiiDKT5SKPjzz7FjEO0ZbOvpd3A/s1600/mil-uma-noites-inquieto-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="112" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5ghwXVGXLI30MEQv8aSDopt5O2PiPRJzqyQXv3yu6fIF-0TTwDtDDTb7foIniUktYclpsd7nTCeTgK95gUe5QYbzLc5jhE09yB6yp7_WTOx34LkCGiiDKT5SKPjzz7FjEO0ZbOvpd3A/s640/mil-uma-noites-inquieto-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O estaleiro prestes a fechar
deixará para trás um manancial de desempregados. A praga das vespas ameaça a
existência das abelhas e, por conseguinte, o ganha-pão dos apicultores. O
cineasta diz não saber muito bem como combinar os registros do filme que pretende
fazer. AS MIL E UMA NOITES: O INQUIETO, primeira parte da trilogia dirigida
pelo português Miguel Gomes, é um filme de linguagem vigorosa, com múltiplos
vieses, que trafega com segurança pela linha que separa ficção e documentário,
não fazendo muita distinção entre ambos. As histórias que Xerazade conta se
conectam mais ou menos explicitamente, mas se conectam, com a difícil situação
político-social que Portugal enfrenta. Burocratas e políticos acometidos por
uma ereção intermitente aludem às negociatas de bastidores que, não raro,
prejudicam o povo; um galo é processado por cantar à noite, demonstrando mais
tarde antever o abismo como nenhum humano em cena; e o autoexplicativo banho
catártico dos sem trabalho nas águas gélidas do primeiro dia de 2014, com
direito à cena passada dentro de uma baleia. Os segmentos se comunicam num
nível nevrálgico, cativando tanto pela singularidade de suas abordagens e focos
quanto pelo painel que formam, um conjunto de insuspeita e pungente unidade que
celebra a fábula sem descolar-se da realidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgACspaSsXE3XJhL571CdQ4A9IjLkiJ3EbdX9RMGBFlhWayqCV_sQ1rNc4att6K8I-zITCCdoSGqz0Oi06Na6fv1QfdxabF0bvmINOXlTrM1Xo7l8Yw-IxJidpjrmkqaoxmiZ6mDxMSnQ/s1600/45-anos-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="116" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgACspaSsXE3XJhL571CdQ4A9IjLkiJ3EbdX9RMGBFlhWayqCV_sQ1rNc4att6K8I-zITCCdoSGqz0Oi06Na6fv1QfdxabF0bvmINOXlTrM1Xo7l8Yw-IxJidpjrmkqaoxmiZ6mDxMSnQ/s640/45-anos-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 45 ANOS sobressaem-se os
trabalhos de Charlotte Rampling e Tom Courtenay, dois atores que dominam as
nuances responsáveis por tornar seus personagens tão humanos e profundos.
Casados há quase 50 anos, prestes a celebrar a longevidade da união, ele recebe
a notícia insólita de que encontraram o corpo congelado de uma amada do
passado. A notícia abala a ele, que passa a se recordar da mulher perdida em condições
trágicas, e também a ela, que experimenta o sofrimento do ciúme e da insegurança.
O filme do diretor Andrew Haigh vai mostrando aos poucos a vida conjugal sendo
posta em xeque, com desconfortos surgindo numa convivência que parecia mais que
solidificada, tanto em virtude do tempo quanto da força o sentimento que a
propicia. Embora Haigh algumas vezes perca o rumo, deixando a trama navegar em
águas calmas demais, o filme consegue exprimir as sutilezas que deflagram a
fragilidade e o caráter quebradiço dos relacionamentos, instituições cuja
solidez não está garantida, a despeito das aparências. Rampling e Courtenay dão
conta de expressar muito bem essa tempestade que assola o casamento de seus
personagens.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6IMy3sSwXl0HorJ6Dgnspf6DrUwcRffAiojtTdeVjWaTqRoK8AFJq0N7R4GfNyk17UzxlZkr0AyhqgBe3d2BNx6PuaOOnP2S8lk6u1Z9wQqKFHRDQocz1Sagj1Nxmpg5HN4DeRHCaoA/s1600/clube-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="106" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6IMy3sSwXl0HorJ6Dgnspf6DrUwcRffAiojtTdeVjWaTqRoK8AFJq0N7R4GfNyk17UzxlZkr0AyhqgBe3d2BNx6PuaOOnP2S8lk6u1Z9wQqKFHRDQocz1Sagj1Nxmpg5HN4DeRHCaoA/s640/clube-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma casa misteriosa à beira-mar.
Padres e uma freira vivem em clausura, às voltas com o treinamento de um cão de
corrida que lhes permite vencer apostas. A chegada de um novo morador e a
sequente tragédia expõem feridas da igreja católica, pois traz à tona a
polêmica questão dos sacerdotes pedófilos. Um emissário do Vaticano vai até lá
para resolver a questão. Assim, dois homens estranhos, três se contarmos aquele
que circunda a casa vociferando a mágoa de ter sido estuprado quando pequeno,
alteram a rotina desses serventes de Deus encerrados nos muros que representam
punição. O CLUBE é um filme cinzento. O tom predominante oprime a beleza
natural do cenário, denotando a atmosfera da casa em que os párocos convivem,
numa dinâmica muito própria. Aos poucos, as intrusões se impõem, inclusive as
da burocracia de uma instituição que prefere varrer para os porões do
esquecimento, disfarçados convenientemente de local de penitência, os crimes
cometidos pelos seus. Mas o diretor Pablo Larraín não fica somente no âmbito da
denúncia, mostrando os pequenos dramas de todos que ali são acometidos, com
mais ou menos violência, pela repressão de instintos e vontades. No fim, um
cordeiro é escolhido para purificar os pecados do entorno, movimento que
utiliza a simbologia religiosa para ressaltar a violência e a agressividade dos
próprios procedimentos da igreja. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-52860505502581545102016-01-20T20:12:00.000-02:002016-01-20T20:12:04.655-02:00Doses Homeopáticas #61<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0jMnjPSGgZBzl2C6kBO2ZliDJJKKxSn4O7KXR1SbfFW_VC7Y_5bmTx27H1DszGRK3w21b8Ou8PqU26YAoBoNo4TbUpVViRT24tdgt7LuynJe2B0pOzBsZ9CvE8FoWTOi3POTTznhhyphenhypheng/s1600/olmo-gaivota-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="86" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0jMnjPSGgZBzl2C6kBO2ZliDJJKKxSn4O7KXR1SbfFW_VC7Y_5bmTx27H1DszGRK3w21b8Ou8PqU26YAoBoNo4TbUpVViRT24tdgt7LuynJe2B0pOzBsZ9CvE8FoWTOi3POTTznhhyphenhypheng/s640/olmo-gaivota-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em OLMO E A GAIVOTA as diretoras
borram com gosto os limites entre ficção e documentário, confundindo os
registros para criar um filme que não se apoia apenas na linguagem, já que o
conteúdo é de extrema relevância. A maternidade, estado celebrado ao longo dos
tempos como ápice do sublime feminino, afinal de contas está a se gerar uma
vida, é vista sem condescendência, despida totalmente da aura de santidade com
a qual sempre foi revestida. A atriz que pensava poder conciliar apresentações
e gravidez se vê enclausurada por meses a fio em virtude de um problema que
pode ocasionar aborto. Antes eufórica por ser mãe, ela vai experimentando a
angústia e certa solidão, ainda que o marido seja tão presente quanto possível.
Ela divaga sobre a dificuldade de doar partes de si mesma a outra pessoa, não
com isso expondo falta de sensibilidade, pelo contrário. Cena se desenrolando e
ouvimos a voz de alguém pedindo para que a dinâmica do casal assuma outro tom.
Documentário ou ficção? Há um hibridismo muito interessante, discreto, que não
grita pela nossa atenção, justamente para que paulatinamente a diferença entre
verdade e encenação passe a ser irrelevante, diante da intensidade dramática
(forjada ou não) com que se aborda um tema tão complexo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPgJ74NgByJQFhzMWrQ-TD9X-1VJWX_TGB-l3ln4WdHZ-reKJ0qjMoi7vTwMXvXk7Gv4r29pvdubSziTjX51UeDjd5eP6UZAp4WwFhT8HiVZEytl4fImXZ9uGg9AEc8prZMy5avHMjjA/s1600/skyfall-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="82" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPgJ74NgByJQFhzMWrQ-TD9X-1VJWX_TGB-l3ln4WdHZ-reKJ0qjMoi7vTwMXvXk7Gv4r29pvdubSziTjX51UeDjd5eP6UZAp4WwFhT8HiVZEytl4fImXZ9uGg9AEc8prZMy5avHMjjA/s640/skyfall-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 007 SKYFALL, a obsolescência
está à espreita. As relevâncias de James Bond, de M, do MI6, são postas em
xeque pelos novos tempos dos terroristas virtuais, das grandes negociações
conduzidas e, muitas vezes, seladas online. Após um acidente, Bond não parece o
mesmo. O tempo é implacável e enquanto sua chefa defende a permanência do
serviço secreto na ativa, ele parte em busca do inimigo escondido nas sombras,
melhor dizendo, atrás da tela do computador. Sam Mendes faz um 007 com muita
ação, entre outros elementos canônicos do personagem que possui licença para
matar. Na medida em que a trama avança, torna-se urgente uma volta ao passado.
É a chance que o diretor tem de fazer uma série de homenagens à franquia
derivada dos livros de Ian Fleming, sendo uma delas a aparição do clássico
Aston Martin utilizado pelo Bond de Seann Connery em <i>007 Contra Goldeney</i>, entre alusões a outros filmes. A sequência na
propriedade Skyfall é um dos pontos altos de toda a série, momento que permite
a Daniel Craig mostrar as qualidades dramáticas que fazem do seu Bond um dos
mais multifacetados e complexos de todos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz3RSfwpUMm-R2CXVaiXxx17G8zfZUqfLByBWeGudpzL8H1fn7qZiXgKUTOA57c2KRAGIMGLL3-cH_ZM9_mcgrq65lIcMnXz5uHHACbnYJCiK2lvTZqv82hJvLvQD-5gKvZNH54YwgkQ/s1600/spectre-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="76" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz3RSfwpUMm-R2CXVaiXxx17G8zfZUqfLByBWeGudpzL8H1fn7qZiXgKUTOA57c2KRAGIMGLL3-cH_ZM9_mcgrq65lIcMnXz5uHHACbnYJCiK2lvTZqv82hJvLvQD-5gKvZNH54YwgkQ/s640/spectre-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
007 CONTRA SPECTRE é um filme
morno, nem ruim, nem bom, apenas meio insosso. Muito embora as perseguições, as
explosões, os flertes e a ameaça verdadeira à segurança mundial estejam
presentes, nada é de fato aprofundado. Após <i>Skyfall</i>
e toda aquela reflexão sobre o tempo, o obsoleto, que conferia camadas de
profundidade tanto à narrativa quanto ao protagonista, aqui as coisas acontecem
sem o devido peso dramático. Bond se depara com a iminente extinção do programa
00, encara um vilão com potencial para ser o mais significativo da era Daniel
Craig, mas o resultado é um 007 banalizado pelo boicote constante de momentos
pouco expressivos. Christoph Waltz decepciona, e bastante, como antagonista.
Monica Bellucci é uma mera figura de decoração, lhe deram um papel
insignificante, aquém de sua fama e talento. Léa Seydoux até que se sai muito
bem como par romântico do personagem interpretado mais uma vez com competência
por Craig, ator que consegue equilibrar força bruta e fragilidade. O problema
maior é o roteiro, que desperdiça situações, ora as estendendo para além do
necessário, ora se detendo menos do que deveria em passagens de muita
relevância ao todo. O final é menos ambíguo do que pode parecer, não apontando
realmente se teremos adiante uma nova era ou continuidade, bem ao gosto dos
produtores que, assim, mantém o suspense e a marca em evidência.<o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-61906055265903353802016-01-03T22:59:00.001-02:002016-01-03T23:03:28.455-02:00Doses Homeopáticas #60<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh511T5ALY-08OrF4IxWk4j5j1ykk_AaiGSGmxQfXC5jGGFOz3am56o2h03WXvVOA0jO2dQK5cMVGgPc8obVe-i1iEkf1ttfVS6qaTYdTGuJIXfgOPaMi95mB2XZHMqvkPZnl0nXj0LPw/s1600/500-dias-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="124" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh511T5ALY-08OrF4IxWk4j5j1ykk_AaiGSGmxQfXC5jGGFOz3am56o2h03WXvVOA0jO2dQK5cMVGgPc8obVe-i1iEkf1ttfVS6qaTYdTGuJIXfgOPaMi95mB2XZHMqvkPZnl0nXj0LPw/s640/500-dias-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
(500) DIAS COM ELA tem <i>The Smiths</i> na trilha sonora, um roteiro
esperto que utiliza muito bem o vai e vem temporal, Zooey Deschanel e Joseph
Gordon-Levitt ótimos como o casal cujo relacionamento nasce, cresce e morre na
nossa frente, referências ao cinema europeu (Godard, Bergman, etc), entre
outras qualidades. Acompanhamos o entusiasmo de Tom quando ele conhece Summer,
garota que, desde o começo, diz não acreditar em relacionamentos. O sexo é bom,
a convivência é legal, ele a faz rir, então porque cargas d’água Summer não
aceita ficar junto, assumir namoro, fazer, quem sabe, planos para casamento?
É justo ao lançar essas questões e tornar as respostas, ou melhor, as não respostas,
tão naturais, que o filme de Marc Webb se diferencia de muitos congêneres. Os
sentimentos em voga não são tratados como respostas óbvias e formatadas a
certos comportamentos, mas sim condicionados a uma série de questões,
bloqueios e anseios muito particulares, que nem sempre evanescem na vida a
dois. A cena da tela dividida entre as expectativas e a realidade em
determinado encontro dos protagonistas é um dos grandes achados do filme, bem
como a sequência musical responsável por denotar a felicidade extrema do rapaz
que acabou de passar a noite com a mulher amada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0tleWC3_gH0Ng5Nchxv6Ywu9FvKNDjCgbH4NPb28rwh9OU9HoNzwX6mDx-78gaovI8neWZ1O4uOWPyF7Kb4vrW6m2Q4tOmpZDEYmMMg-FOJLGczUtq0WSDj2PlZ0wnt9AfDginIxIoA/s1600/emprego-the-tramps.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="96" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0tleWC3_gH0Ng5Nchxv6Ywu9FvKNDjCgbH4NPb28rwh9OU9HoNzwX6mDx-78gaovI8neWZ1O4uOWPyF7Kb4vrW6m2Q4tOmpZDEYmMMg-FOJLGczUtq0WSDj2PlZ0wnt9AfDginIxIoA/s640/emprego-the-tramps.png" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O jovem acordado cedo pela mãe
afetuosa, uma típica matrona italiana, é o protagonista de O EMPREGO, segundo
filme de Ermanno Olmi. A vocação neorrealista se vê na maneira como a câmera
perscruta criticamente a Itália empobrecida. O menino passa por uma série de testes
até conseguir a ocupação numa grande empresa. Tímido, ele se enrabicha por uma
colega. A paixão e o primeiro trabalho marcam, a um só tempo, o crescimento
desse rapaz constantemente trajado com um sobretudo, cuja voz claudicante é
relativamente pouco ouvida em todo filme. Os demais funcionários da empresa
demonstram os ambientes laborais viciados, a opressão à qual o homem se submete
em busca de subsistência. A miséria vista em filmes italianos anteriores aqui
aparece nas entrelinhas, como uma herança cuja maldição só será parcialmente
quebrada com a penhora do suor em favor do crescimento econômico, ou seja, em
prol do capital e seus ditames. O olhar do garoto expõe perplexidade e
curiosidade em contato com a necessidade de crescer e assumir seu lugar de
adulto numa Europa efervescente e voltada ao progresso, nem que para isso precise
privilegiar uma realidade em que o lazer é exceção e o trabalho é valorizado
como dádiva. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7aSt0tsR2yoXjCAz0FVfct3xMNpJ5J3gHC-4MX-bKu3jZfNSgGIz6IuHV6rEGWC6sMcQ3iuUvbCpL-PdtMesV70bUqOfSLsuD_1XNNcREajysjQH-yyiaerBWfxvhNhKWt7pRZb167A/s1600/viver-facil-the-tramps.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="114" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7aSt0tsR2yoXjCAz0FVfct3xMNpJ5J3gHC-4MX-bKu3jZfNSgGIz6IuHV6rEGWC6sMcQ3iuUvbCpL-PdtMesV70bUqOfSLsuD_1XNNcREajysjQH-yyiaerBWfxvhNhKWt7pRZb167A/s640/viver-facil-the-tramps.jpeg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
VIVER É FÁCIL COM OS OLHOS
FECHADOS é o tipo de filme que nos arranca facilmente sorrisos. Protagonista
cativante, personagens secundários com luz própria, história muito bem contada,
registro visual bonito, atores aparentemente bastante à vontade em seus papeis,
humor na medida e certa dose de melancolia para não deixar tudo adocicado
demais. O professor interpretado por Javier Cámara empreende uma viagem para
conhecer seu ídolo, John Lennon. No caminho, dá carona a dois jovens que se
tornaram amigos, e mais, parceiros nessa jornada. A singularidade das pessoas
em cena é bem trabalhada pelo roteiro, assim como são precisas as viradas que
vez ou outra dão uma chacoalhada na missão principal, evidenciado que há dramas
humanos latentes nesse grupo que parte em busca do Beatle. Talvez seja essa
precisão que ateste ligeiramente contra o filme, a sensação de conferirmos algo
milimetricamente construído, sem espaço para arestas ou outros “detritos” que
poderiam injetar organicidade à trama, enfraquecendo assim o engessamento do
qual ela padece. Ainda assim, a realização de David Trueba tem a capacidade de
emocionar, sem apelações, de nos prender na tela e nos fazer torcer para tudo dar certo.<o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-38356355850680777952015-12-29T21:57:00.000-02:002015-12-29T21:57:05.040-02:00Doses Homeopáticas #59<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8st-v1PGLzf8e3mr_vojfYk4onQ4wx-5M6_A_qih-HoRipiWaG50kyYNHpWSd4Hp5BUZz72JQ1-GuA9_UF9wYZLjGFTZCh7a_EXoCP0UO2Ar5cSy_L8sjc3r23tAu627xCCvIKgWVPQ/s1600/filme-dem%25C3%25AAncia-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="108" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8st-v1PGLzf8e3mr_vojfYk4onQ4wx-5M6_A_qih-HoRipiWaG50kyYNHpWSd4Hp5BUZz72JQ1-GuA9_UF9wYZLjGFTZCh7a_EXoCP0UO2Ar5cSy_L8sjc3r23tAu627xCCvIKgWVPQ/s640/filme-dem%25C3%25AAncia-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
FILME DEMÊNCIA é a descida ao
inferno empreendida pelo homem que se depara com a falência do negócio herdado do
pai. Livre adaptação de <i>Fausto</i>, de
Goethe, o filme de Carlos Reichenbach acompanha o protagonista em andanças desnorteadas, em contato com todo tipo de representante do submundo,
transitando por entornos onde a degradação é latente. O povo
professa em prosa e verso as injustiças vigentes enquanto este Fausto moderno
atravessa São Paulo mirando um oásis que lhe vem em sonho e cuja imagem o
persegue durante toda trama, configurando-se numa espécie de ponto a ser
alcançado. Carlão realça a condição terceiro-mundista das pessoas e de suas
aspirações, ressaltando a importância do sexo por meio dos corpos nus das
mulheres que se insinuam ao protagonista. O fluxo é onírico, instância em que
matar pode significar libertação, enquanto morrer não é uma opção a quem já vive
no fio da navalha. As deambulações de Fausto por prostíbulos de quinta
categoria, bares infestados de fracassados, ruelas decrépitas, bem como a
companhia de tipos estranhos, evidenciam a vontade de Reichenbach de mesclar o
popular e o erudito, pintando com tintas de subdesenvolvimento a escrita original
do alemão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhMh5SyvKDi_PwSCMG2XraYJEVX26egpx1xEIHUB5yT-smM-JgH-5XznrqftrTP3BSeJiQO9PYCntNgHWl1-FN6fzJ36-i24zFjfO9EL2djyi_FaSnhZ76gtc0c1KMC_oYzfZ6cmioXg/s1600/terra-transe-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="120" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhMh5SyvKDi_PwSCMG2XraYJEVX26egpx1xEIHUB5yT-smM-JgH-5XznrqftrTP3BSeJiQO9PYCntNgHWl1-FN6fzJ36-i24zFjfO9EL2djyi_FaSnhZ76gtc0c1KMC_oYzfZ6cmioXg/s640/terra-transe-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
TERRA EM TRANSE é uma alegoria
complexa da política terceiro-mundista, com seus personagens trocando de lugar,
torcendo a própria ideologia em busca de votos e poder. O poeta apoia o
candidato tecnocrata até que ele se eleja senador, depois transfere sua pena à
causa do vereador populista que, então, vira um postulante ao cargo de
governador. A intenção é abrandar a situação do povo, a miséria que toma conta
das camadas menos abastadas da fictícia Eldorado. As forças econômicas são
desmascaradas como manipuladoras da conjuntura social, elas que usam políticos
como títeres para alcançar seus objetivos. Um magnata da mídia também escancara
sua influência, o poder que comumente se intitula de o quarto, mas que pode
assumir um protagonismo disfarçado de isenção, no que tange aos destinos da
nação. Glauber Rocha fez um filme instigante, no qual a linearidade temporal é abertamente
desrespeitada em prol de uma estrutura narrativa signatária do caos que se
pretende deflagrar. Essa realização de Glauber é um convulsionado retrato da
política brasileira, sobretudo do conturbado período do início dos anos 1960.
Obra-prima. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz3L5M748bL_VhaUBOJa7gHEpudaDNSNjVt2_td_yvbL1ughsCpzoJTSnpdBwtiv9S7lg4zL1D6VtB4gEUUggQ9qqeZRtbwhkIVJfrQuNdx2aVo52ahCRJP6Tdi9PV1V0-JxPWvMH_Uw/s1600/senhor-estagi%25C3%25A1rio-the-tramps.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="102" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhz3L5M748bL_VhaUBOJa7gHEpudaDNSNjVt2_td_yvbL1ughsCpzoJTSnpdBwtiv9S7lg4zL1D6VtB4gEUUggQ9qqeZRtbwhkIVJfrQuNdx2aVo52ahCRJP6Tdi9PV1V0-JxPWvMH_Uw/s640/senhor-estagi%25C3%25A1rio-the-tramps.jpeg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não há nada de mais em UM SENHOR
ESTAGIÁRIO. Um cara resolve voltar a trabalhar depois dos 70 anos, virando
estagiário numa empresa moderna, repleta de jovens. Claro que sua presença vai
alterar a rotina, servir de contraponto experiente à imaturidade de muitos ali.
O que faz o filme ser muito bom, divertido, é a maneira como Robert De Niro
interpreta esse cara boa praça, acolhedor, que observa a todos com carinho,
sem julgamentos excessivos. Há também méritos no trabalho de direção de Nancy
Meyers, especialista neste tipo de filme que, se por um lado, navega em águas
calmas, sacolejadas vez ou outra por ventos que sabemos serem passageiros, por
outro, não se acovarda de apresentar as falhas e as dificuldades de seus
personagens. Embarcamos, assim, nessa nau comandada por Meyers sabendo o tipo
de narrativa que nos espera, algo não necessariamente ruim se estivermos em
busca de uma história bem contada, protagonizada por gente carismática. Aqui, o
estagiário de De Niro serve como uma espécie de anjo da guarda que ajuda a
chefe a ser uma pessoa melhor, além de auxiliar os colegas nas mais diversas
tarefas (inclusive amorosas) e encontrar, ele próprio, o amor. Cinema que deixa
um sorriso no rosto do espectador ao fim da sessão.<o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-73762108994033987172015-12-27T10:44:00.001-02:002015-12-27T10:44:35.862-02:00Heli<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg9vlZjYF__edOKBJ4smOIFOy1dozDiOlY2AadivAYRyknCEBj_hCqrmiP3uBtUhTIyhZbxjTJsWTsynbdUisNjSAUINUKSsVYtJrOPEvOJqULiau7um-omW6qx5gG6JEgdGKhAdzXZQ/s1600/heli-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="122" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg9vlZjYF__edOKBJ4smOIFOy1dozDiOlY2AadivAYRyknCEBj_hCqrmiP3uBtUhTIyhZbxjTJsWTsynbdUisNjSAUINUKSsVYtJrOPEvOJqULiau7um-omW6qx5gG6JEgdGKhAdzXZQ/s640/heli-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Heli</i> (2013) é o filme pelo qual Amat Escalante ganhou o prêmio de Melhor
Direção no Festival de Cannes do ano passado. Já na primeira sequência, a
câmera desliza por entre corpos que repousam machucados numa traseira de
camionete. Então, nosso olhar é conduzido à estrada e posteriormente ao
enforcamento de alguém em plena luz do dia. A mensagem está dada: quem se
colocar contra o poder local vigente inevitavelmente se dará mal. Após essa
passagem que culmina em morte, encontramos Heli (Armando Espitia) tentando
fazer sexo com sua esposa, quando é interrompido por uma funcionária do censo.
Desse ponto em diante, a família de Heli, constituída pelo pai, a irmã e o
filho recém-nascido, será o núcleo de onde partirão as observações do filme,
sejam elas a respeito da natureza das pessoas ou mesmo sobre a violência que predomina
em certas localidades mexicanas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sem estudo e oportunidades
suficientes para subir na vida, a Heli só resta seguir os passos do pai,
trabalhando numa montadora automobilística, mesmo porque o lugarejo não oferece
muitas opções. Trabalhador braçal, policial ou traficante, são essas as
trajetórias mais evidentes. Estela (Andrea Vergara), a irmã do protagonista,
namora com um recruta mais velho. Noutra cena em que o sexo não se consuma, ela
impede que a mão do pretendente passe acima da linha da coxa, o que o deixa frustrado.
A menina tem medo, engravidar assim tão nova está fora de cogitação.
Apaixonado, esse rapaz que sofre humilhações cotidianas nos treinamentos
militares sai em busca de alternativas para, então, casar com sua amada. Decide
roubar drogas sabe-se lá de quem para viabilizar a união. Mas, dinheiro fácil
nunca é fácil. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A potência da imagem em <i>Heli</i> é preponderante. De início, a
violência crua e inclemente nos situa no território de aridez (inclusive emocional)
que abriga os personagens. Logo, porém, o registro visual pende ao idílico,
pois a fotografia é cuidadosamente construída numa dimensão poética. O
artifício não chega a “embelezar” os acontecimentos, pois à câmera parece
importante registrar a miséria a seu modo, sem nunca torna-la espetacular. Estranhamente,
num terceiro momento a imagem volta a captar a violência de frente, só que
desta vez em seu aspecto ordinário, quase pornográfico. O discurso é esvaziado
justo por apoiar-se demasiado em determinados atos de tortura, como se eles,
assim vistos, fossem imprescindíveis para dotar de relevância o discurso
anterior bem como o do porvir. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Daí em diante, a trama de <i>Heli</i> fica refém de inconstâncias.
Personagens tentam refazer-se ainda sob o efeito da tragédia, mas essa fase de
luto surge sem o peso suficiente. Tentando retomar a contemplação inicial, a
narrativa se prende numa teia de fatos um tanto quanto irrelevantes, ao menos
pela maneira como são apresentados. É como se o processo de anestesia do
protagonista contaminasse o desenvolvimento que, assim, acontece sem maiores
acréscimos. O sexo, ou melhor, a impossibilidade de sua ocorrência, está ali
para, quem sabe, sinalizar a não união dos corpos como prenúncio de morte. <i>Heli</i> tem momentos que justificam
plenamente a ovação crítica em Cannes, mas, no geral, é vítima do descompasso
entre sugerir e esfregar determinadas “realidades” na cara do espectador.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/heli">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-46121007062171546402015-12-25T21:40:00.000-02:002015-12-25T21:42:49.836-02:00Doses Homeopáticas #58<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8CV2MVjQFg-d5FfWworUbG1SyLHWsUVcGW-ZTbcWjthN4CicNj7EQ7BN5FijcMx-9UOvqSaf1qXqVVX3iRGuqZ77VJD_vA4sCavCHNs16D4G-dWvanNo5MI5DrOSN6QFxmlJRjeExxg/s1600/la-sapienza-the-tramops.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="94" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8CV2MVjQFg-d5FfWworUbG1SyLHWsUVcGW-ZTbcWjthN4CicNj7EQ7BN5FijcMx-9UOvqSaf1qXqVVX3iRGuqZ77VJD_vA4sCavCHNs16D4G-dWvanNo5MI5DrOSN6QFxmlJRjeExxg/s640/la-sapienza-the-tramops.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em LA SAPIENZA os personagens
falam diretamente à câmera, como se o interlocutor fôssemos nós, espectadores.
Em crise, matrimonial e profissional, um arquiteto francês parte com a esposa
para o interior da Itália, pois planeja efetivar o estudo sobre uma de suas
referências. Há uma frieza quase total no relacionamento do casal, eles mal se
olham, interagindo burocraticamente. Tudo muda depois de encontrarem dois
irmãos, uma menina fragilizada por determinada doença (talvez de fundo somático)
e um garoto cheio de energia que sonha em ser também arquiteto. O cineasta
Eugène Green faz um filme lento, no qual as imagens permanecem na tela tempo
suficiente para delas apreendermos o que na pressa deixamos escapar.
Progressivamente os mais jovens mostram aos mais velhos a chama que ainda pode
inflamar suas vidas. Fala-se muito a respeito de luz, nos contextos literal e
simbólico. Formalmente rigoroso, caudaloso, é o tipo de filme que pode afugentar
alguns, enfadar outros tantos, mas que oferece a recompensa devida a quem
embarcar na construção cinematográfica de Green, que dá conta de combater a
aridez, o embotamento decorrente das tristezas cotidianas, com a beleza
intrínseca à criação, aos encontros e às trocas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNM_jBeAJT5kGUtUunb1ICnyht6TJCmQTq-5AWL1MJHf_EcHQZfM2V4SmcnIiH6Ogr2tFxKtIpulWfexc2jfvg999eqtryOoVl0NRBE66B_dPSCQjUysvekHcSFfaEO_Y8wkBJix1Xjw/s1600/leolo-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="96" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNM_jBeAJT5kGUtUunb1ICnyht6TJCmQTq-5AWL1MJHf_EcHQZfM2V4SmcnIiH6Ogr2tFxKtIpulWfexc2jfvg999eqtryOoVl0NRBE66B_dPSCQjUysvekHcSFfaEO_Y8wkBJix1Xjw/s640/leolo-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Protagonista de LÉOLO, Léo se crê filho de um italiano onanista que contaminou os tomates esmagados por sua mãe
após um acidente. Isso lhe veio por meio de um sonho. Preferindo ser chamado de
Léolo, esse garoto vive às voltas com a própria imaginação para afastar a
loucura hereditária que acomete quase toda a família. Narrando em prosa e
verso seu cotidiano de experiências, entre as inerentes a qualquer criança e as
bastantes singulares, ele cria um mundo próprio, no qual se refugia da
realidade. Fácil se afeiçoar a esse menino que funciona como um dos pilares da
casa, o outro é a mãe, sempre tão afetuosa com ele, mesmo em momentos bizarros
como a vigília para garantir a evacuação, algo obsessivo para o pai. Aliás,
mesmo num ambiente degradado como aquele, o que não falta é afeto, sentimento
tornado âncora que mantém todos unidos, até onde possível, contra a patologia
que ameaça a sanidade. O tom de fábula ameniza ligeiramente a miséria daquela
gente, mas não dá conta de segurar a torrente de tristeza que marca o
encerramento desse filme em que a esperança quase vence as probabilidades, quase.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisdqqZ_gliOpx0PIyKv2-oee6FEkf5XBv_FCyFtIhRplO3TvszGStEQ5MSjPf6CAWGQUp2UWtzTcab6D3c8J_p63qz1zZscqpXnXiUQ0Jb80sIjW3uSv09Aupk48vxIdOVgmkGvDTV0w/s1600/tudo-vai-ficar-bem-the-tra%252Cps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="108" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisdqqZ_gliOpx0PIyKv2-oee6FEkf5XBv_FCyFtIhRplO3TvszGStEQ5MSjPf6CAWGQUp2UWtzTcab6D3c8J_p63qz1zZscqpXnXiUQ0Jb80sIjW3uSv09Aupk48vxIdOVgmkGvDTV0w/s640/tudo-vai-ficar-bem-the-tra%252Cps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
TUDO VAI FICAR BEM é um desastre
quase completo. Não fosse a engenhosa cena do acidente, em que o protagonista
transita do alívio ao desespero em questão de segundos, o filme seria
descartável de todo. Há um privilégio às emoções fáceis, à autocomiseração e à
lamúria, opção que não encontra nos atores, e muito menos na direção, algum
registro que dê conta de minimizar os danos. A recorrência das várias
transições do tipo <i>“tanto anos depois”,</i>
expediente que visa marcar a passagem do tempo, expõe a fragilidade do roteiro.
No que diz respeito às atuações, não há um destaque sequer, ao menos não
positivo. James Franco, que virou caricatura de si mesmo, escancara suas
limitações, sempre recorrendo ao franzir do cenho e às caretas para tentar
transmitir a angústia de seu personagem. Já a de Charlotte Gainsbourg
só chora, desenha e, de vez em quando, solta alguma pílula que denota fé. Fosse
obra de um diretor estreante, a precariedade estaria, até certo ponto, ao menos
justificada. Mas, não, estamos falando de Win Wenders, um grande cineasta que
já nos deu obras-primas, como <i>Paris,
Texas, </i>mas que, infelizmente, não vem fazendo jus à própria trajetória. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-58111617352510874912015-12-24T11:08:00.000-02:002015-12-24T11:08:39.495-02:00Meninos de Kichute<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSW9DmX92l0yRAo2ekRPIHw-_gzzhOGsGiNHfCxjAe9gu5bz92ZknB11BUlAP09Koe68NU9lnW8QOu9NAIH6hyphenhyphenLCIuMJ7C2tsDulkRCOIh0TuXgeROgJycyT9pZBxPSstBJGSH8afOow/s1600/meninos-de-kichute-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="140" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSW9DmX92l0yRAo2ekRPIHw-_gzzhOGsGiNHfCxjAe9gu5bz92ZknB11BUlAP09Koe68NU9lnW8QOu9NAIH6hyphenhyphenLCIuMJ7C2tsDulkRCOIh0TuXgeROgJycyT9pZBxPSstBJGSH8afOow/s640/meninos-de-kichute-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda que esteja pronto desde
2010, <i>Meninos de Kichute</i> só chega
agora, em 2014, às salas de cinema, depois de exibido em alguns festivais. Particularidades
da nossa cadeia produtiva que quando não “enforca” o filme nacional na gestação,
o faz na distribuição. Na trama ambientada na década de setenta, o menino Beto
(Lucas Alexandre) sonha em ser goleiro. Ele mora em Londrina, interior
paranaense, com o pai extremamente religioso e contrário ao espírito
competitivo do esporte, com a mãe que se submete aos desmandos do marido cuja
autoridade parece legitimada tanto pelo machismo histórico quanto pela natureza
patriarcal da religião, com a irmã mais velha e o irmão mais novo. A vida que
lhe interessa está no campo, lá onde ele saiu da linha e foi para o gol, na
posição entendida por muitos como a mais ingrata do futebol.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As rotinas escolares evidenciam um
civismo imposto goela abaixo, em grande parte nas aulas de Moral e Cívica. Não
esqueçamos, na época retratada o país ainda vivia no cabresto da ditadura
militar. A rigidez de professores e funcionários é contraposta pela molecagem
dos meninos que estão loucos para jogar futebol e transgredir as regras,
inclusive vendo postais e revistas de mulher pelada, o que era considerado
pouca vergonha. Há uma boa dose de memória afetiva na tela. Muito legal
identificar nesse comportamento “ultrapassado” os costumes de uma realidade
completamente analógica. Que menino de então nunca quis ter um Kichute, o
famoso tênis da Alpargatas que imitava a chuteira? A tônica era ir para a rua,
machucar o joelho nas partidas disputadas em campinhos de terra, fazer
traquinagem, tudo menos ficar em casa. A vida estava lá fora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma pena o diretor Luca Amberg
desperdiçar esse potencial nostálgico, diluindo-o num simplismo que, aliás,
permeia todo filme. O principal entrave ao sonho de Beto é o próprio pai.
Interpretado por Werner Schünemann, esse homem evoca os dogmas de sua crença
para castrar a aspiração do filho em nome de Deus. O que poderia ser um diálogo
interessante, adquire contornos caricaturais, já que a figura paterna é
unidimensional e está ali apenas como barreira, sem nuances mais claras. Até
mesmo o destino desse pai dentro do filme é uma simplificação quase grosseira,
pois choca sem sutilezas o discurso religioso com os atos posteriores que
denotam hipocrisia, resvalando assim num evidente senso-comum. A narrativa
infelizmente se apoia demais nessa estrutura frágil e monocórdica. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Meninos de Kichute </i>possui encenação meio desleixada e diálogos que
batem pouco naturais na tela. O elenco, por sua vez, parece ora no piloto
automático ora à deriva. Contudo, dificilmente o filme aborrecerá o espectador,
desde que ele entenda limitações e abrace possibilidades. É um cinema
intermediário, nem tão popularesco e muito menos voltado aos guetos da
intelectualidade. Mas nem só de boas intenções vive o cinema, já que dele se
espera um pouco de risco, que fuja vez ou outra da área confortável lá de onde
as ressonâncias vêm enfraquecidas. <i>Meninos
de Kichute</i> tem bons momentos, sobretudo as divertidas partidas de futebol,
mas no geral fica a impressão de que a mistura de esporte, infância, anos de
chumbo e família poderia render bem mais do que um filme simpático do qual, imagino,
pouco lembraremos mais adiante. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/meninos-de-kichute">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-40192511735838617752015-12-18T22:22:00.003-02:002015-12-18T22:28:47.847-02:00Doses Homeopáticas #57<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibfEwh7aNisDanKMbnO0Y-0Uo3ER-2KvXMn8YMKmVL_1fFLm0MQmvYLNM0YQLL87Wd40bkp8EWkdot_O4iM0AP_Xuu5P7h3zEnTH57cni-fKcpwhBj9li1y0Z5wamwg9WrKYvtTjQHGA/s1600/chicote-corpo-the-tramps.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="112" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibfEwh7aNisDanKMbnO0Y-0Uo3ER-2KvXMn8YMKmVL_1fFLm0MQmvYLNM0YQLL87Wd40bkp8EWkdot_O4iM0AP_Xuu5P7h3zEnTH57cni-fKcpwhBj9li1y0Z5wamwg9WrKYvtTjQHGA/s640/chicote-corpo-the-tramps.png" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O CHICOTE E O CORPO, do diretor
Mário Bava, começa com um “fantasma” cavalgando na beira da praia em direção à
velha casa onde não é bem-vindo. Christopher Lee interpreta esse homem odiado
por empregados e pela própria família, que chega ao castelo iluminado apenas
pela luz das velas e da lua para trazer desgraça. O clima de terror é
constante, com o <i>chiaroscuro</i> e a
cenografia sendo em grande parte responsáveis por isso. Bava ambienta a
contenda familiar num cenário macabro, marcado por sombras, no qual a luz pena
para conseguir trazer algum tipo de alento ao que parece realmente fadado a
virar tragédia. A cena em que Kurt chicoteia o antigo amor, expondo assim seu
sadismo em conexão com o masoquismo dela, é apenas a perversão mais evidente
das que surgem nas relações entre os personagens. Literalmente transformado
mais tarde em fantasma, o filho regresso assombra a mulher que não consegue
esquecê-lo, deixando um rastro de morte sempre que sai da catacumba para
seduzi-la. O olhar compenetrado de Lee personifica o perigo, a danação que
abate o clã, parte de uma sina escrita na história com sangue e lágrimas neste
clássico italiano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggK0mssNfwDwU1iQvTZI1M5GHdFyjZ5PcgX-1dAMP5mx-k6qwfyNKvX8jPtX3G3ISXb3asZ8bWEATdzKJnU-pFUyMOXxzP-bhlsL0uP144-GEy1-07Ntah64ImyrAo1q60JJX-wv8Sdw/s1600/orgia-morte-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggK0mssNfwDwU1iQvTZI1M5GHdFyjZ5PcgX-1dAMP5mx-k6qwfyNKvX8jPtX3G3ISXb3asZ8bWEATdzKJnU-pFUyMOXxzP-bhlsL0uP144-GEy1-07Ntah64ImyrAo1q60JJX-wv8Sdw/s640/orgia-morte-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Baseado num conto de Edgar Allan
Poe, A ORGIA DA MORTE é dirigido por Roger Corman, fã confesso do escritor
norte-americano. A morte se veste de vermelho, ceifando vidas por meio da peste
num vilarejo. Alheio a isso, o príncipe interpretado por Vincent Price incentiva
nos limites de seus muros toda sorte de atrocidades promovidas pela
aristocracia, protegido por um pacto com o diabo. Os três aldeões levados à
corte servem de brinquedo aos nobres, sobretudo a esse monarca que pensa estar
acima do bem e do mal. Enquanto os moradores da vila sucumbem diante da doença
que avança, não encontrando clemência nos portões do castelo, os convidados do
baile de máscaras se regozijam até mesmo quando um dos seus é incendiado. Em
meio a uma trama de terror, Corman preserva a crítica social, não apenas por denunciar
a opulência dos ricos opressores, mas também por mostra-los como vítimas do
próprio ridículo. Abastados digladiam-se no salão quando o anfitrião lhes joga pedras
preciosas, demonstrando ganância desmedida.
Os cenários suntuosos e as cores saturadas marcam o visual do filme.
Terror sofisticado, um grande exemplar do rei dos filmes “B”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibK7xfB13koqWPmnd3Zy_qJwgAM6VubfpO3ElVMUEtEGeWKhAGET9EZZwMUBOpwO_sLsoKHHUUnSNP_59WDut-HMgje3WgCGK_TjxPsCHKgXPNJyLADjcNGWA1QdEAmalV9tIQgg3HSQ/s1600/tumulo-vazio-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="148" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibK7xfB13koqWPmnd3Zy_qJwgAM6VubfpO3ElVMUEtEGeWKhAGET9EZZwMUBOpwO_sLsoKHHUUnSNP_59WDut-HMgje3WgCGK_TjxPsCHKgXPNJyLADjcNGWA1QdEAmalV9tIQgg3HSQ/s640/tumulo-vazio-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Boris Karloff vive um profanador
de sepulturas em O TÚMULO VAZIO, homem sem escrúpulos que chantageia a
aterroriza o médico para o qual presta serviços. O doutor precisa de corpos
para as aulas de anatomia. O taciturno cocheiro necessita de dinheiro. Um jovem
aprendiz não quer fazer parte desse jogo sujo, mas cede diante da chance de curar a paralisia de uma menininha impossibilitada de correr e brincar como
as outras crianças. O diretor Robert Wise investe na persona forte de Karloff,
na interpretação de um ator que parece talhado para incitar medo. A ética é
posta à prova durante a trama, afinal de contas, os médicos roubam cadáveres
para aprofundar conhecimentos a respeito do corpo humano, algo que, em tese,
servirá mais adiante para salvar vidas. Mesmo que haja certa nobreza por trás
desse ato de tornar vazias as sepulturas, é algo contrário à lei vigente.
Complexidades morais à parte, o filme possui figuras muito bem delimitadas, de
quem podemos esperar este ou aquele comportamento. A força da narrativa se
encontra no choque entre os anseios e as determinações das pessoas, bem como no
visual macabro e na presença marcante de Boris Karloff, cujo personagem
transpira ameaça. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-79095533504651573142015-12-13T23:16:00.001-02:002015-12-13T23:16:44.962-02:00A Pele de Vênus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkCSTwoi9aTQwFPHZOGBq2-Pw-nYDsrmZ7l34C7_6FdLNGNZl69JusClw0CsF7wEQ8c9hS6jWvujlbm5XdgWx1s7-wve9sNvfrD706QSi4vX0uDSYmOcj0Du1YUkRZcGcAEDYcrkvDLg/s1600/pele-venus-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkCSTwoi9aTQwFPHZOGBq2-Pw-nYDsrmZ7l34C7_6FdLNGNZl69JusClw0CsF7wEQ8c9hS6jWvujlbm5XdgWx1s7-wve9sNvfrD706QSi4vX0uDSYmOcj0Du1YUkRZcGcAEDYcrkvDLg/s640/pele-venus-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A estrutura formal de <i>A Pele de Vênus</i> (2013), mais recente
realização de Roman Polanski, dialoga evidentemente com a linguagem teatral,
ainda que a expressão pejorativa “teatro filmado” não lhe seja justa - assim
como, a meu ver, não se ajustava, mesmo que por motivos distintos, a <i>Deus da Carnificina</i> (2011), filme
anterior do cineasta. O fato de quase toda ação se passar num palco italiano e
seus arredores, não basta para que o cinema se submeta ao teatro. Aliás, o
imperativo dos signos estritamente cinematográficos, tais como a montagem, por
exemplo, em consonância com a encenação algo teatral, promove uma simbiose com
ares de reverência mútua entre teatro, arte milenar, e cinema, arte
secular. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Thomas (Mathieu Amalric) é o
adaptador do livro <i>A Vênus das Peles</i>,
de Leopold von Sacher-Masoch, que tentará sua primeira incursão enquanto
diretor. Desgastado por um dia de testes inúteis com atrizes incapazes de
entender os personagens (sinal dos tempos, se repete ao longo do filme) ele
está para partir quando interrompido pela atrasada Vanda (Emmanuelle Seigner),
aspirante ao papel principal que chega reclamando de má sorte, desfilando
vulgaridades e certo desdém pelo texto, ao passo que tenta convencer seu
interlocutor a ficar e estender uma noite que parecia até então fadada ao
encerramento num encontro protocolar com a noiva. Para Thomas a conversa
inicial não é promissora, contudo ele acaba cedendo, mais à insistência
destrambelhada de Vanda do que a qualquer esperança de encontrar nela sua musa.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A interpretação surpreendente da
estranha e o crescente envolvimento de Thomas com o papel masculino faz emergir
o que parece o eixo temático de <i>A Pele de
Vênus</i>: relações de poder. Da autoridade do diretor logo relativizada à
discussão sobre a histórica sujeição feminina, tudo gira em torno da ideia de
que os relacionamentos, também os amorosos, são entremeados por complexas disputas
por poder. Thomas é enredado pela misteriosa Vanda, de quem nada sabemos além
das poucas informações fornecidas após conversas telefônicas de duvidosa
existência. E esse jogo da mulher que utiliza o corpo e a voluptuosidade, mas,
sobretudo, a inteligência para mostrar a fraqueza do bicho homem, acaba por
embaralhar ficção e realidade. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não estaria Polanski com <i>A Pele de Vênus</i> expondo um conceito de
viés filosófico, segundo o qual, no final das contas, tudo é encenação?
Conforme postulado na origem do teatro grego, se podemos ser interpretados por
alguém, não seríamos nós mesmos essencialmente personagens? Thomas e Vanda são
tipos que se atraem e se repulsam, quase na mesma medida. Polanski também
promove uma aproximação seguida de distanciamento entre o tempo passado do
romance (escrito em 1870) e a contemporaneidade do filme, apontando certas
características e impulsos humanos imunes ao transcorrer dos relógios enquanto
sinaliza determinantes demandas próprias da era atual. Ali, no palco teatral apropriado
pelo cinema, Roman Polanski discute a complexidade das relações e do desejo,
fazendo assim outro grande filme.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/a-pele-de-venus">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-30349679844369333372015-12-10T23:46:00.001-02:002015-12-10T23:46:51.254-02:00Doses Homeopáticas #56 - Especial Star Wars <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiseSMkDpu3uPafi_hh7bEGNF-NhM2LUs8pjdwGHn4T17NQAoV3HytA288ydMmdrJ0HXhidJf2_2-33z5Z10PMw3p5xQmm0DzqOclslUKcoRh-4ZrYx8v4lbBEwbcl03B1vn562bkzB5A/s1600/nova-esperanca-papo-de-cinema.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="106" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiseSMkDpu3uPafi_hh7bEGNF-NhM2LUs8pjdwGHn4T17NQAoV3HytA288ydMmdrJ0HXhidJf2_2-33z5Z10PMw3p5xQmm0DzqOclslUKcoRh-4ZrYx8v4lbBEwbcl03B1vn562bkzB5A/s640/nova-esperanca-papo-de-cinema.jpg" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
UMA NOVA ESPERANÇA, primeiro
filme da saga Star Wars, ainda que seja seu quarto capítulo, cronologicamente
falando, estabelece todo um mundo novo (ou vários), valendo-se de personagens
carismáticos e situações referentes a um passado que veríamos efetivamente na
tela apenas nos anos 2000. Muito embora enquanto aventura seja desenvolvida a
contento e possua uma mitologia bem construída, a realização de George Lucas
peca pela fragilidade do roteiro que restringe as possibilidades de um maior
envolvimento do espectador com o filme. Assim que conhece Luke Skywalker,
Obi-Wan denuncia ser um Jedi exilado, e também conta boa parte do passado do
garoto, inclusive que seu pai também era um guerreiro usuário da Força. Essa exposição
acelerada de acontecimentos é uma constante durante todo o longa, algo que
incomoda, claro, caso o espectador esteja em busca de algo a mais – sobretudo
no que diz respeito à relação dos personagens, entre si e com a situação
política que a galáxia vive – além de mocinhos contra vilões em batalhas que
cortam a tela com lasers e outros artefatos bélicos futuristas. Mesmo Darth
Vader não aparece em todo seu esplendor vilanesco nesta obra superestimada,
que iniciou um verdadeiro culto persistente até hoje.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-la6Tdat9fANRKMZuu7Bkk9-v62gT9oT4nBf7aWWsGLh16XPf6slevlh3pfUIgfs0hcqi_4Y6IL0hziuYHc_N7hE4x2w7lqB_wojli1Zl2I4y84G78EkXE2KHYs-XCX7CrlVwuSgujw/s1600/imperio-contra-ataca-papo-de-cinema.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="96" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-la6Tdat9fANRKMZuu7Bkk9-v62gT9oT4nBf7aWWsGLh16XPf6slevlh3pfUIgfs0hcqi_4Y6IL0hziuYHc_N7hE4x2w7lqB_wojli1Zl2I4y84G78EkXE2KHYs-XCX7CrlVwuSgujw/s640/imperio-contra-ataca-papo-de-cinema.jpg" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O IMPÉRIO CONTRA ATACA é o filme
responsável por consolidar Darth Vader como um dos vilões mais marcantes do
cinema. Ele começa caçando os gêmeos Skywalker no planeta gelado em que eles
montaram uma base de resistência. Não é apenas supremacia política que está em
jogo, mas a milenar luta entre os Sith e os Jedi, já que o Imperador Palpatine
teme as habilidades de Luke, preferindo achar meios para aproximá-lo do lado
negro da Força. Um dos grandes méritos do longa-metragem é balancear muito bem
as várias dimensões dessa disputa, com isso não relegando os coadjuvantes à
mera função de escora dos personagens principais, aliás, pelo contrário. Han
Solo, por exemplo, ganha vários instantes de protagonismo. Muitos eventos
essenciais à série acontecem neste filme. Luke encontra Yoda e passa a ter
treinamento Jedi. Solo é congelado em carbonite. Luke enfrenta Vader numa luta de vida e
morte, na qual o Sith revela ser o pai do futuro Jedi. O diretor Irvin Kershner
dá ares mais trágicos à série, consolidando a mitologia Star Wars, superando de
longe seu antecessor.<br />
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn8nlR8VfTD7CkrsVFaLVt15bM6cTsNb9ibnaZrYb8wAYiOmWdeuMtJzluRfY1L9IIXGRf-p8oHnRMMxPK5evMPdtJUUsSNtX0luwg4BXFmrP5nb50itn7rcpgHtZ-rYSMZBzP4aIF0A/s1600/retorno-jedi-papo-de-cinema.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="110" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn8nlR8VfTD7CkrsVFaLVt15bM6cTsNb9ibnaZrYb8wAYiOmWdeuMtJzluRfY1L9IIXGRf-p8oHnRMMxPK5evMPdtJUUsSNtX0luwg4BXFmrP5nb50itn7rcpgHtZ-rYSMZBzP4aIF0A/s640/retorno-jedi-papo-de-cinema.jpg" width="640" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O RETORNO DE JEDI encerra com a
mesma competência do episódio anterior a trilogia clássica de Star Wars. O
roteiro dá conta de tornar ainda mais dramática, e definitiva, a luta entre Luke
e Darth Vader. Enquanto isso, são cada vez mais valorizados os personagens que quase não podem
ser chamados de secundários, dada sua importância. Os rebeldes precisam
destruir a segunda Estrela da Morte, mas, claro, não será uma missão fácil,
primeiro, porque o Imperador em pessoa está cuidando da mesma, e segundo, pois
Vader intui que seu filho está diretamente envolvido na ação e, portanto,
também se cerca de cuidados. Luke aparece já praticamente como um Jedi, exibindo certa sapiência que o faz, inclusive, não se deixar seduzir pelo lado negro da Força.
Pai e filho brigam para ficar próximos, seja em qual lado for. No fim das
contas, o bem prevalece, com direito a um breve momento em que Anakin,
renegando a máscara e expondo sua humanidade decrépita, ressurge para sepultar
de vez (será?) o grande vilão. O clima de final feliz toma
conta da saga, com direito a festa no planeta dos Ewok, criaturas de grande
valia para a vitória que possibilitou a restauração da República (até quando?).</div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-76050664287181126072015-12-08T23:27:00.000-02:002015-12-08T23:28:04.171-02:00Era Uma Vez na Anatólia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpZMOIdqLKpb3-XLERH-dDJ03F6BoNFFS7f9VrAZAbt2BEFeoZcN5NDYJdqfoVmAzTZstBDD7dZjtPIa6cI3eMKOgXa65vggL2J61GB5nrMW-a5qOgON2X2nbUnuy0rE2P9rFfRCCYPg/s1600/era-uma-vez-anatolia-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpZMOIdqLKpb3-XLERH-dDJ03F6BoNFFS7f9VrAZAbt2BEFeoZcN5NDYJdqfoVmAzTZstBDD7dZjtPIa6cI3eMKOgXa65vggL2J61GB5nrMW-a5qOgON2X2nbUnuy0rE2P9rFfRCCYPg/s640/era-uma-vez-anatolia-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tudo parte da busca de um corpo.
O crime está praticamente resolvido, pois os assassinos são confessos, só faltando
mesmo a prova material. Três carros trafegam durante a madrugada pela paisagem
de Anatólia, na Turquia, iluminando os campos com seus faróis à procura da
vítima inerte. O principal dos culpados, o que parece ter efetivado a barbárie,
tomba de sono enquanto a câmera do diretor Nuri Bilge Ceylan avança lenta em
meio à conversa dos policiais sobre trivialidades. Tudo é trivial, até mesmo a
morte. <i>Era Uma Vez na Anatólia</i> (2011)
se desenrola na primeira de suas duas partes como uma espécie de conto de fadas,
no qual a “moral da história” não reside no aparente foco principal, ou seja, na
necessidade de encontrar um corpo morto, mas no que se constrói durante a interação
entre os agentes dessa busca.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um dos primeiros pontos a se
destacar no filme de Ceylan é a alta capacidade expressiva de sua imagem, esta geralmente
construída no limite entre luz e escuridão. Esse contraste dá um tom
ligeiramente onírico à tensão que cresce de parada em parada. Os criminosos não
lembram exatamente onde desovaram o corpo, portanto o mistério e a
não-resolução ameaçam triunfar. Por sua vez, o policial encarregado do caso mostra
insatisfação por não conseguir cumprir a missão que lhe foi confiada pelo
promotor também presente. Como já dito, nada parece acontecer de fato dentro
dessa sucessão de procuras em vão, a não ser o que surge na coadjuvância falsa das
conversas paralelas. De toda maneira, ainda que conheçamos gradativamente
melhor as figuras, até então apenas peças da ação principal e coletiva, não me
parece que seja a elas que devamos atentar, mas às suas heranças.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assim, exumar as terras não é simplesmente
ir ao encontro de um dado material que resolveria o crime, mas sim desenterrar
metaforicamente os elementos formadores de um povo, de uma nação ainda bastante
alicerçada na tradição. O vir do dia não diminui essa sensação, apenas concede
à palavra o que antes vinha com mais força da imagem. O médico e o promotor, em
tese os mais letrados desde o início, debaterão veladamente questões que
envolvem ceticismo e crença, a abertura ou não ao desconhecido, e a necessidade
de conhecer ou não verdade. Isso se dá em colóquios de aparente banalidade, mas
que não disfarçam seu caráter de conversa existencial. Para muitos, <i>Era Uma Vez na Anatólia</i> pode soar
pesado, tanto pela duração (150 minutos) quanto pela negação veemente do
espetáculo.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se no começo da carreira, Ceylan mostrava
clara influência do cinema de Robert Bresson (vide <i>A Pequena Cidade,</i> seu primeiro longa-metragem, de 1997), com o
passar dos anos ele depurou um estilo próprio, bastante calcado na plasticidade
e na interação do homem com uma natureza não raro hostil (exemplo: as nuvens
carregadas que muitas vezes simbolizam interiores conturbados). Em <i>Era uma Vez na Anatólia</i>, ele vincula
muito bem imagem e som para reverberar formalmente as demandas dos personagens
na influência ainda bastante presente da ancestralidade turca. O ritmo
caudaloso às vezes soa mesmo excessivo, como se a alguns dos chamados “tempos
mortos” fossem dados mais minutos do que o devido. Não é um tipo de cinema de
fácil empatia, ou necessariamente divertido, mas altamente compensador para
quem estiver disposto a contrariar, vez ou outra, a própria fadiga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/era-uma-vez-na-anatolia">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-88113657639225254232015-11-24T00:32:00.002-02:002015-11-24T00:33:15.725-02:00Doses Homeopáticas #55<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvsREIn6y8vRSNdrKjjfiJuYI93r_W-g7bt4AyODqF4wcQupuJ1j-sPAjtLHvLbsBwOYXrHr8L3WigKYUwakA2KombCsxQkuPYc9Gwmfxpe_J_Gm75FcDdLH1OvxcBtbR6JaZ_RbMKnw/s1600/horas-ela-volta-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvsREIn6y8vRSNdrKjjfiJuYI93r_W-g7bt4AyODqF4wcQupuJ1j-sPAjtLHvLbsBwOYXrHr8L3WigKYUwakA2KombCsxQkuPYc9Gwmfxpe_J_Gm75FcDdLH1OvxcBtbR6JaZ_RbMKnw/s640/horas-ela-volta-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como li por aí, QUE HORAS ELA
VOLTA? corre o risco de ser eclipsado pela atuação de Regina Casé. Mas, para
além desse trabalho excepcional de interpretação, fica a visão madura e muito
bem construída das tensões sociais ainda muito vivas no Brasil. Lugares
pré-determinados, ambientes exclusivos, artigos de consumo restrito, são muitos
os detalhes que evidenciam os abismos responsáveis por separar classes. Da
perplexidade da patroa com a “petulância” da filha da empregada que deseja
cursar arquitetura numa concorrida faculdade pública à própria reação da
personagem de Casé à maneira desavergonhada com que Jéssica reivindica espaços,
tudo está a serviço de uma visão bastante ampla, não restrita aos estereótipos
e arquétipos, flertando com tais expedientes apenas como forma de sustentar
papeis que deles realmente se alimentam. A cena da piscina é emocionalmente
forte, possui simbologia política diretamente ligada às conquistas das classes
C e D nos últimos anos. A vitória que quebra a hereditariedade da miséria
propicia a ocupação de lugares até então restritos por uma lei não escrita,
proporcionando esperança de liberdade e crescimento, onde antes havia apenas
servilismo. Um ótimo filme. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqIiX_ptuJRTX9Ey6dcuBC6nE8_vyv6siAAeOLo8PFDTg47qqqXKv0svqEiQk0nWZnUE3KGbflQUm433eYjjQzPrWcFcyHpUrNH56d2Sje9mmoH45kVpyVIues4YDAmG_5IWW46-SO9w/s1600/corrente-mal-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="96" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqIiX_ptuJRTX9Ey6dcuBC6nE8_vyv6siAAeOLo8PFDTg47qqqXKv0svqEiQk0nWZnUE3KGbflQUm433eYjjQzPrWcFcyHpUrNH56d2Sje9mmoH45kVpyVIues4YDAmG_5IWW46-SO9w/s640/corrente-mal-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
CORRENTE DO MAL vem sendo
celebrado como exemplo de vida inteligente no cinema contemporâneo de horror,
não sem razão. O clima de tensão é constante nessa trama centrada na garota que
recebe uma maldição após transar. Por mais que corra, se afaste, seja onde
estiver, ela é perseguida por uma entidade macabra que assume formas diversas.
Para livrar-se, precisa fazer sexo e passar adiante a praga. A câmera se
incumbe de boa parte do clima de opressão, com personagens desavisados enquanto
ao longe vemos a aproximação do perigo, por exemplo. O diretor David Robert
Mitchell constrói habilmente uma atmosfera carregada de apreensão, impregnada
da sensação de morte iminente. Não há muito tempo para a protagonista
problematizar seu dilema – passar ou não adiante a força maligna – já que cada
instante de reflexão mais demorada pode significar a aproximação do perseguidor
e de suas intenções assassinas. Não há explicações de origem, pois o que
importa são as consequências. Pode não ser uma obra-prima, mas não faz feio
diante de bons exemplares do gênero, sobretudo alguns dos anos 1980. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaBHGQHDerfeeREjQjJnvXirW6vv6GPf-VGUop2EY_soWP1RGIrAZ0mc-HjMcmWpjDHXNvnbF4Go1aEkPcUKInJwQeJqDzO3FsdXJP0T0UOO7SwFpqCK13WhqRNtiyzlLDGmYE7ta11A/s1600/love-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="100" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaBHGQHDerfeeREjQjJnvXirW6vv6GPf-VGUop2EY_soWP1RGIrAZ0mc-HjMcmWpjDHXNvnbF4Go1aEkPcUKInJwQeJqDzO3FsdXJP0T0UOO7SwFpqCK13WhqRNtiyzlLDGmYE7ta11A/s640/love-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
LOVE, mais recente filme de
Gaspar Noé, chama a atenção, à primeira vista, pelo despudor, pela maneira
explícita com que mostra o sexo, a carnalidade do amor. Masturbações, felações,
penetrações e o gozo, tudo irrompe na tela menos pelo potencial do choque e
mais para materializar o amor e a posterior dor da perda. O corte deflagra a
ausência, ausência do corpo de Electra, da mulher que se foi deixando Murphy
numa vida burocrática. Sem reverência alguma à cronologia, Noé constrói aos
poucos, aos solavancos, a história de um sentimento que parou de tanto pulsar.
Há um desequilíbrio entre a primeira e a segunda parte, pois com o passar do
tempo percebemos reiterações indesejadas. Contudo, ainda que não seja isento de
percalços, o filme de Noé dá conta de exteriorizar uma dor que parece
particular demais para ser cinematográfica, no sentido espetacular que o termo
às vezes carrega. Frustração, tempo perdido, tudo está ali, entre uma transa e
outra, na busca pelo equilíbrio entre as forças que emanam das relações. Cinema
sensorial, que excita e nos permite criar empatia com os personagens que vagam
buscando momentos de felicidade.</div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-32370174817691322832015-11-20T16:50:00.000-02:002015-11-20T16:59:30.254-02:00Doses Homeopáticas #54 - Especial Star Wars<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKt_uULESjqT4zpQgtAJDRcyuCWWWxqJ-F3Oa7zYOFbgXw6RrcnwmF9ABpcylZnC-HaAcfsrnHj9rhwc8K_4Cui5QpCdfQrXh0ewZQt04NfeFizElOOljS8Od-zFnjdN1w5foSvNtk7Q/s1600/amea%25C3%25A7a-fantasma-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="130" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKt_uULESjqT4zpQgtAJDRcyuCWWWxqJ-F3Oa7zYOFbgXw6RrcnwmF9ABpcylZnC-HaAcfsrnHj9rhwc8K_4Cui5QpCdfQrXh0ewZQt04NfeFizElOOljS8Od-zFnjdN1w5foSvNtk7Q/s640/amea%25C3%25A7a-fantasma-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em A AMEAÇA FANTASMA temos uma
série de ingredientes que deixam, em princípio, qualquer fã de Star Wars
salivando. Primeiro, é o início de tudo. Vemos o jovem Obi-Wan Kenobi, e,
principalmente, o pequeno Anakin Skywalker sendo descoberto nos desertos de Tatooine.
As maquinações do Lorde Sith também estão ali, bem como seu aprendiz estiloso
com um sabre de luz duplo. Mas por que o
filme não funciona? Simples, o fiapo de história é contado sem qualquer senso
de emoção. George Lucas mostra toda sua limitação enquanto diretor,
desperdiçando cena após cena o potencial dramático. A corrida de pods, que
poderia ser o pico de adrenalina do filme, é um vai e vem aborrecido. A única
sequência que se salva é a luta dos Jedis com o Sith. Jar Jar Binks foi
concebido como alívio cômico, mas consegue no máximo enervar o espectador com
sua voz esganiçada e uma patetice que nem engraçada consegue ser. O amontoado
de equívocos só não é mais prejudicial porque Lucas trabalha com base numa
mitologia mais que estabelecida no imaginário dos cinéfilos, recorrendo a
personagens e situações muito melhor explorados em longas anteriores que,
cronologicamente, são posteriores a ele.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC0TXmysM0JkV1s8E8npCo_AZP1P2c_g0a-ZNUngXpfwcHSvWEXc6WMMUZ4jIrrxvfZvoR2miSOgR3wOJTMGC5Hy4q__bG19UwUv8dIsBZ9Ny1h5Ucs6wpCdHOOzMSlOgk5MnZoC2dCA/s1600/ataque-clones-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="102" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC0TXmysM0JkV1s8E8npCo_AZP1P2c_g0a-ZNUngXpfwcHSvWEXc6WMMUZ4jIrrxvfZvoR2miSOgR3wOJTMGC5Hy4q__bG19UwUv8dIsBZ9Ny1h5Ucs6wpCdHOOzMSlOgk5MnZoC2dCA/s640/ataque-clones-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As coisas melhoram bastante em O
ATAQUE DOS CLONES. Quer dizer, ainda há momentos descartáveis, como Anakin e
Amidala rolando pela grama num clima de paixão, mas, em contrapartida, as
intrigas políticas ganham corpo, assim como a participação dos Jedis nos rumos
que a galáxia irá tomar. O futuro Darth Vader dá seus primeiros passos em
direção ao lado negro da força, permitindo-se amar e odiar na mesma medida,
exibindo a arrogância do predestinado que já se acha à altura do Mestre Yoda.
Falando em Yoda, em meio a uma batalha realmente empolgante, repleta de sabres
de luz cortando a ar e os dróides, finalmente o vemos em ação, numa disputa com
o Conde Dookan interpretado por Christopher Lee. É um dos pontos altos da nova
trilogia. Já a conspiração envolvendo a criação de um exército de clones
explica os Stormtroopers que mais adiante servirão lealmente a Vader. Em suma, a
despeito de alguns problemas, já não temos mais Jar Jar Binks irritando o
público – agora ele está bem mais discreto e contido -, e a política surge com
relevância, assim como os dramas que propiciarão os eventos de trágicas
proporções que vimos na trilogia clássica.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlYBfYwN7yvE3Mt_zO6qkRcZZSUhpcQfvg4BOwnP3UoHkcrI-nerYvEjN_ZgN8_MyMHmCQrp15n9XsVTSpRQeV43h0b4sIcs4K-_tXsoYz2SON1ow-yBGpGSnMct6CeAFO7IMdsX_ZzQ/s1600/vingan%25C3%25A7a-sith-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="104" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlYBfYwN7yvE3Mt_zO6qkRcZZSUhpcQfvg4BOwnP3UoHkcrI-nerYvEjN_ZgN8_MyMHmCQrp15n9XsVTSpRQeV43h0b4sIcs4K-_tXsoYz2SON1ow-yBGpGSnMct6CeAFO7IMdsX_ZzQ/s640/vingan%25C3%25A7a-sith-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É em A VINGANÇA DOS SITH que temos
um dos episódios mais importantes de toda saga Star Wars: o surgimento de Darth
Vader. O que até então parecia apenas uma disputa político-comercial assume
definitivamente contornos de golpe de estado. Palpatine, ou melhor, Darth
Sidious, atrai o jovem Anakin para o lado negro da força, prometendo a ele
poderes de controlar vida e morte. George Lucas concentra na derrocada de
Anakin, circundada pelo e estritamente ligada com o extermínio dos Jedis, o núcleo
dramático do filme. A ação é bem filmada, não há muitos momentos de respiro, o
que denota um mundo convulsionado pela iminente erupção de um poder grande
demais para ser controlado. Lucas trabalha o paralelo em duas instâncias
capitais. Enquanto Anakin e Kenobi duelam em meio ao fogo do planeta inóspito,
Palpatine e Yoda travam uma batalha de mestres. Mais tarde, enquanto Amidala dá
a luz aos gêmeos Luke e Lea Skywalker, seu marido "morre" para dar lugar a um dos
vilões mais icônicos do cinema. Da nova trilogia, este é o filme mais maduro,
talvez por ser também o mais trágico e representativo dentro do universo criado
por Lucas nos hoje já longínquos anos 1970.</div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-73654003174580285922015-11-14T00:30:00.000-02:002015-11-14T00:30:30.947-02:00Valentin<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIjHStymBC8FFJ45tXts6vfyyszLQlgxpR50NT3v3PJZp6Y_OPTRlL787ua0ByrzsoJ_zDt03j1_x3ca6_Qn-ioO1uHxRjXkZ03Uij34ublFck0HdsIFPLbhZf2vUwsbBJnN_f3lFErA/s1600/valentin-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="164" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIjHStymBC8FFJ45tXts6vfyyszLQlgxpR50NT3v3PJZp6Y_OPTRlL787ua0ByrzsoJ_zDt03j1_x3ca6_Qn-ioO1uHxRjXkZ03Uij34ublFck0HdsIFPLbhZf2vUwsbBJnN_f3lFErA/s640/valentin-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Valentin (Rodrigo Noya) é um
menino argentino de nove anos que sonha em ser astronauta, isso na Buenos Aires
dos anos 1960. Ele mora com a avó (Carmen Maura), já que o pai está sempre
tomado pelo trabalho e a mãe não é vista desde a separação traumática dos dois.
Em seu quarto, Valentin brinca de ser um desbravador do espaço, talvez
almejando algo que o leve para longe da Terra chata e sem graça, na qual nem
mesmo suas contagens frequentes até 1000 servem para prenunciar o tão aguardado
retorno da mãe. A avó, rígida e terna, faz o que pode para educar o menino, sua
única companhia após a morte do marido. De quando em quando o pai visita ambos
ou o tio traz notícias de longe, passagens breves que enquanto duram são só
alegria, mas que quando acabam deixam um rastro de abandono pela casa antiga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O protagonista de <i>Valentin </i>(2003), filme dirigido por
Alejandro Agresti, é uma faísca de esperança em meio a tantos adultos
problemáticos, se contrapõe ao peso excessivo das rotinas de gente grande justamente
porque à sua infância ainda é permitido ter esperança ou mesmo sonhar alto sem
parecer alienado da realidade. De juventude contemporânea à morte de Che
Guevara, ocasião histórica lembrada com pesar lá pelas tantas durante o sermão
do padre, Valentin procura amenizar seus próprios problemas, sendo os
principais deles a falta de uma referência masculina e a necessidade de carinho
materno. Ele se coloca basicamente num meio termo entre as coisas boas esquecidas
e as ruins excessivamente lembradas pelos adultos que o cercam. Enquanto
criança, não entende os porquês de tanta discórdia, de tanta complicação, já
que a pouca idade ainda lhe poupa dos calos que só vêm com o tempo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não parece aleatória a escolha de
Alejandro Agresti pela ambiência nos difíceis anos 1960, período da contenção
das revoluções, dos movimentos ditatoriais sul-americanos que abafaram a
democracia, enfim, de anos de chumbo que só poderiam ser encarados com um pouco
menos do que desespero por aliados, alheios ou crianças. Mas <i>Valentin</i> passa à margem daqueles filmes
que essencialmente trazem o período nefasto filtrado por olhos infantis, uma
vez que a questão política não é necessariamente condutora, se propondo mais a
uma espécie de moldura quase translúcida e discreta. O que importa à trama é a
vida corajosa que Valentin leva, sua simpatia e ânimo para vencer os
infortúnios que batem prematuramente à porta. Além da inteligência precoce, Valentin
demonstra com seus atos que um pouco de afeto talvez seja o antídoto necessário
para combater os males diários, sejam eles quais forem.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esse garoto que em princípio
reproduz inocentemente o preconceito da família contra os judeus, com a mesma
naturalidade com a qual abandona a discriminação ao entende-la cruel – ou seja,
passando da reprodução de uma herança familiar às próprias ideias –, se esforça
em seu cotidiano para juntar aqueles que vagam sozinhos, seja ajudando o pai
com a nova namorada – que ele quer por nova mãe – ou mesmo cultivando amizade
sincera com o amigo pianista que após conhecê-lo diminuiu o álcool, até então
seu único companheiro. O sonho do garoto de subir além do céu, a fim de tocar
as estrelas, encobre um real desejo que nada tem de extraordinário. Valentin só
quer ser como os outros e ter uma família para chamar de sua. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/valentin">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-24153705961824898242015-11-09T22:49:00.004-02:002015-11-09T22:49:58.569-02:00Doses Homeopáticas #53<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM0B9yQkI5BfCi5cliYlMLd7BfTr97DMifHEVlNmWy1w9iDKaxTfuI5A3_mYPyHIZ9FoSEuuI2BybeWeHZU1vzpS3II0fTy3IZFoclcABn_yzfSqUN09oqBYItFDHf4Y24jndxfqYEzQ/s1600/miss-julie-the-tramps.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="92" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM0B9yQkI5BfCi5cliYlMLd7BfTr97DMifHEVlNmWy1w9iDKaxTfuI5A3_mYPyHIZ9FoSEuuI2BybeWeHZU1vzpS3II0fTy3IZFoclcABn_yzfSqUN09oqBYItFDHf4Y24jndxfqYEzQ/s640/miss-julie-the-tramps.png" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em MISS JULIE é lacerante a
tirania do desejo, mais especificamente da impossibilidade do gozo sem culpa,
em virtude dos grilhões das convenções sociais. Tudo principia num jogo de
submissão, em que o cavalariço resiste até onde é possível ao assédio da filha
do Barão, sua patroa, no mais das vezes semelhante a uma menina mimada. O
empregado é feito um animal encurralado pela dona sádica. A terceira personagem
deste filme de Liv Ullman é a cozinheira que testemunha tudo, não sem seu
próprio investimento emocional. A consumação muda as coisas, bagunça as
máscaras que aqueles pessoas usam, precipitando um torvelinho de agressões
motivadas por poderes alheios ao controle dos que digladiam. Embora se passe
quase num único cenário, o filme não se presta ao pejorativamente chamado “teatro
filmado”. Há muito cinema na câmera que ora desliza contemplando, ora muda
bruscamente de face a face, só para citar o aspecto da imagem. Colin Farrell,
Jessica Chastain e Samantha Morton, que trio em cena. Dona de um olhar muito
particular às vicissitudes do humano, Liv Ullman busca apoio em Strindberg para
fazer um ótimo filme. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBJysdPn5zRjy8OEGjC2ng1EVvby_Xk-8y1kqtWhF-OBZ_8rjwjrr-yABk6BtBo9HsFit5_cT1daJREoRthQ7OWX5z6ndMcetc_bi9p-a9NK_21KSON_S7QodcKfV6JQw5z6-zGX9Sxw/s1600/dracula-bram-stoker-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="92" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBJysdPn5zRjy8OEGjC2ng1EVvby_Xk-8y1kqtWhF-OBZ_8rjwjrr-yABk6BtBo9HsFit5_cT1daJREoRthQ7OWX5z6ndMcetc_bi9p-a9NK_21KSON_S7QodcKfV6JQw5z6-zGX9Sxw/s640/dracula-bram-stoker-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
DRÁCULA DE BRAM STOKER é um conto
de amor trágico centrado no senhor dos vampiros. A cena em que o príncipe
regresso da guerra renega Deus após deparar-se com sua amada morta é primorosa.
A armadura em forma de músculos tem duplo significado, pois, ao passo em que
aterroriza pelo visual é uma metáfora à exposição do personagem de Gary Oldman
às brutalidades do mundo. Simbolicamente sem pele, depois literalmente sem
alma, ele vaga séculos até encontrar novamente sua amada. A sensualidade anda
de mãos dadas com o perigo, a sedução é a arma do demônio para angariar
soldados ao seu exército. A imagem barroca, a trilha sonora, a progressão dos
personagens por cenários claramente construídos em estúdio, tudo remete à
abordagem clássica dos contos de terror pelo cinema. O drama maior é o do
próprio Conde Drácula, um homem que devota vida e morte ao amor que perdeu para
as traquinagens do desconhecido. A criatura repugnante se transmuta em nobre
para reaver sua paixão, para reconciliar-se consigo mesmo. Os outros
personagens são meras peças, agentes que ajudam a história a progredir até o
desfecho doloroso. Antes de ser um demônio, Drácula é vítima da desgraça nessa
obra-prima de Francis Ford Coppola. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdGRyC4x1K2h7Iy6ErzzREt0IropE39AsdDba1OcvVlG1ytlnINnV9rCSIdXtvWqkR9zeNBQlqw6zKqhuiz0mnD10CO4N0uP4vkjAflPwAQ6xskQ7XEkAE3h59p5ahO-JlAhfkJa4Vdg/s1600/luzes-da-ribalta-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="100" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdGRyC4x1K2h7Iy6ErzzREt0IropE39AsdDba1OcvVlG1ytlnINnV9rCSIdXtvWqkR9zeNBQlqw6zKqhuiz0mnD10CO4N0uP4vkjAflPwAQ6xskQ7XEkAE3h59p5ahO-JlAhfkJa4Vdg/s640/luzes-da-ribalta-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Calvero é um palhaço arruinado
pela passagem do tempo. Embriagado, ele salva uma jovem bailarina que tenta se
suicidar. Por conta desse encontro inusitado, motivada pelas palavras do homem
mais velho por quem se apaixona, ela se recupera e começa uma carreira
ascendente. Já ele remói as próprias feridas, bebe cada vez mais para esquecer
o fracasso. LUZES DA RIBALTA fala sobre o crepúsculo do artista, aquele
instante em que ele passa a não mais interessar como antes. Dar passagem aos
mais novos pode ser um esforço hercúleo, bem maior que um simples gesto altruísta.
Chaplin homenageia os que viveram no palco, nas telas, mas que sucumbem
inevitavelmente ante a velocidade com que o público cobra coisas novas. O
relacionamento de seu personagem com a menina devotada e agradecida é o
ingrediente romântico dessa tragédia inevitável. Ele sabe que não há como
fazê-la plenamente feliz, por isso, como muitas vezes o vagabundo de
chapéu-coco fez, renuncia ao amor em prol do futuro alheio. A lamentar apenas o
pouco tempo em que Carlitos e Buster Keaton contracenam e alguns esquetes que
se estendem ligeiramente. No mais, um grande filme. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-26194162104752799682015-11-04T23:24:00.002-02:002015-11-04T23:24:38.566-02:00Chinatown<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn_KJfSx50ZfIY7crq3XTsWVSjAByjnuj5owblcM79w0JEUfp6bRhidM6gU72fBkiWI4FEhufos82vflkK_M0O6A2toR-gTu5t46PywHw_Gh-3gtkG1bPGeP0-FNaa4m5FN2Nm7FqgBQ/s1600/chinatown-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="152" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn_KJfSx50ZfIY7crq3XTsWVSjAByjnuj5owblcM79w0JEUfp6bRhidM6gU72fBkiWI4FEhufos82vflkK_M0O6A2toR-gTu5t46PywHw_Gh-3gtkG1bPGeP0-FNaa4m5FN2Nm7FqgBQ/s640/chinatown-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
J.J Gittes (Jack Nicholson) é
ex-policial, agora um detetive particular que ganha a vida investigando casos
matrimoniais. Uma mulher aparentemente distinta bate à sua porta,
suspeitando-se traída pelo marido, um figurão da administração de Los Angeles.
Trabalho bem pago, trabalho aceito. Não se sabe como, mas os resultados vão
parar nas primeiras páginas dos jornais, detonando assim uma crise política que
parece servir a interesses escusos. Gittes, cuja visão das coisas foi moldada
pelos tempos de patrulha às ruelas de Chinatown, a famigerada região na qual a
lei e a ordem muitas vezes se confundem, decide ir a fundo, primeiro para saber
quem lhe usou como bode-expiatório e depois para entender a cidade que sofre
pela falta de água que é ilegalmente desperdiçada na calada da noite. Assim
inicia <i>Chinatown</i> (1974), <i>neo-noir</i> dirigido por Roman Polanski.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A enigmática Evelyn Cross Mulwray
(Faye Dunaway), verdadeira esposa do chefe do departamento de águas que Gittes
investigou, logo aparece como elemento desestabilizador. Gittes é ligeiramente
distinto dos detetives <i>noir </i>clássicos,
não se deixa levar totalmente pela presença dessa mulher fatal que turva ainda
mais seu caminho. Ao passo que descobre algumas ligações estranhas entre
determinadas figuras, conexões estas que deveriam permanecer desconhecidas para
o bem de uma minoria influente, o personagem de Nicholson se vê seriamente
ameaçado de morte. Numa de suas rondas noturnas, ele se depara com o agressor
que lhe corta o nariz, talho feio, protegido depois pelo curativo que se torna quase
uma característica física a nos lembrar da constância do perigo. O agressor em
questão, denominado na ficha técnica apenas como “o homem da faca” é
interpretado pelo próprio Polanski. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O ritmo de <i>Chinatown</i> é ditado pelas sucessivas descobertas de Gittes, pela
sujeira que pouco a pouco emerge das relações, das maquinações expostas, das
vilanias ora em xeque ora confirmadas pelos comportamentos condenáveis (para
dizer o mínimo) de determinados personagens. Los Angeles, a cidade que na época
retratada já era o berço do cinema americano, é vista como uma localidade que,
a despeito de seu tamanho e importância, segue administrada tal e qual um
pequeno feudo lucrativo para meia dúzia de canalhas. Contudo, a lente de
Polanski parece interessada na corrupção administrativa apenas como efeito da
corrupção moral generalizada. Sendo assim, não haveriam políticos desonestos se
a desonestidade fosse ignorada pelo humano que precede o cargo. Gittes, por sua
vez, não é nenhum santo, mas o movimento de tentar atravessar o lamaçal que se
adensa, faz dele um alvo a ser abatido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Num elenco que conta com a
participação especial do cineasta John Huston, na pele do pai da personagem de
Dunaway (ela, precisa entre a frieza e a passionalidade), é mesmo Nicholson
quem toma conta. Sobre o filme como um todo, de nada adiantaria a riqueza da
produção, a precisa reconstrução de época, entre outros elementos de cunho mais
técnico, não fosse a sordidez amplificada cinematograficamente por Polanski a
partir do grande roteiro que criou junto com Robert Towne. <i>Chinatown</i> possui rara agudeza e perspicácia, muito por se valer
exemplarmente de um período histórico específico, de personalidades
conflituosas e sintomáticas do estado das coisas, para colocar em relevo
questões de interesse atemporal. A frase <i>“Esqueça,
Jake, isto aqui é Chinatown"</i> não se aplica tão e somente ao local notório
como “terra de ninguém”, mas à sua representação da podridão que nos assola,
independentemente de onde estejamos, seja na superfície ou no submundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/chinatown">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-72511652644359953522015-11-01T00:23:00.002-02:002015-11-01T00:30:14.767-02:00Doses Homeopáticas #52<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3B7tMm9kiTLtq82cQhYhbYkFFoO5PplMfUsPISWIrXYRMkjNF685RxaQCnQotd44THZwGeQluq62g3E7tii9Cu6b4UlPCU_YipY_hQQDyhimOWB0SuELgfbBEva1qV9afO2eNoHBCjQ/s1600/poema-rinoceronte-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3B7tMm9kiTLtq82cQhYhbYkFFoO5PplMfUsPISWIrXYRMkjNF685RxaQCnQotd44THZwGeQluq62g3E7tii9Cu6b4UlPCU_YipY_hQQDyhimOWB0SuELgfbBEva1qV9afO2eNoHBCjQ/s640/poema-rinoceronte-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O lirismo é o atributo principal da linguagem de O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE. A triste história do
casal separado por anos, em virtude de uma vingança, tendo como pano de fundo a
revolução islâmica, é contada com um pé na realidade e o outro no
simbolismo. O homem sai quase catatônico
da cadeia depois de trinta anos encarcerado. Assim como ele, os demais
personagens são reduzidos ao mínimo de expressão, o que incomoda de certo ponto
em diante. Tudo é enfraquecido por esse tom monocórdico, quebrado vez ou outra
pela inserção de algum elemento que faz emergir a dor de maneira poética. As coisas
vão se acontecendo sem muito a acrescentar ao prólogo. A fraqueza diante da
impossibilidade de apagar a angústia da memória, assim como a constatação da
perenidade das feridas que não deixarão de sangrar, são instâncias basilares à
trama. Contudo, uma sensação de vazio permeia boa parte do que acontece no
filme, não necessariamente a do tipo existencial, embora as pessoas nele se
comportem como autômatos, mas relativa à falta de expedientes menos
edulcorados. A pretensa poesia, contrário ao intento, acaba embotando as coisas,
reduzindo os danos da realidade em prol da evocação de uma beleza
paradoxal. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFvTkc-fUdYd6LNtaha2zD9HGCE7YEv76uugW4H8Spd44KAyJTh0yJ406RmnfikkzD5UadQPvDNtm-ygMoGu3WOQCS9KUYuFp0pldCpjB3nwZd7vBRy6KejYj8zOoWDpH-BKwm13pJ3Q/s1600/quarteto-fantastico-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="96" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFvTkc-fUdYd6LNtaha2zD9HGCE7YEv76uugW4H8Spd44KAyJTh0yJ406RmnfikkzD5UadQPvDNtm-ygMoGu3WOQCS9KUYuFp0pldCpjB3nwZd7vBRy6KejYj8zOoWDpH-BKwm13pJ3Q/s640/quarteto-fantastico-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O QUARTETO FANTÁSTICO deixa a
desejar em alguns momentos, sem dúvida. Contudo, está longe de ser ruim como
andam dizendo por aí. Vou além, é muito interessante. O garoto determinado
desde cedo a ser cientista, o amigo fiel que assume o sonho alheio como seu, a
menina pragmática escondida atrás dos padrões, o rebelde que contesta o pai
para obter atenção, são todos personagens bem construídos, uns mais outros
menos, é verdade, mas, ainda assim, com um nível de maturidade estranho aos
filmes de heróis. Até eles se confrontarem com o Doutor Destino, temos um drama
com ares de ficção científica, uma narrativa consistente que, embora faça
concessões, carrega a singular visão do diretor. Isso claramente é descartado
quando a ação toma conta, quando evocado um heroísmo mais óbvio. A partir daí
as coisas se tornam um tanto quanto banais e os conflitos se resolvem
facilmente. Esses dois momentos distintos podem ser explicados pelas
divergências de produção que vieram a público, ou talvez nem tanto. Fato é que,
mesmo derrapando no fim, a realização de Josh Trank merece bem mais
reconhecimento do que vem tendo, pois não é mau cinema, muito pelo contrário.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn0vaRoy-0tsmEvX7mARfZJh4AUMLlPOpW7_JJYwGCYGGSmySccnY3IqXUylmIV8Br1Jo1W4LvFp09OhkhsYdjAo5p8svT1QSnocMShz2EJzk_Xf4iOzapAKi82WXyt9qvbztNIFnCUg/s1600/missao-impossivel-papo-de-cinema.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="88" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgn0vaRoy-0tsmEvX7mARfZJh4AUMLlPOpW7_JJYwGCYGGSmySccnY3IqXUylmIV8Br1Jo1W4LvFp09OhkhsYdjAo5p8svT1QSnocMShz2EJzk_Xf4iOzapAKi82WXyt9qvbztNIFnCUg/s640/missao-impossivel-papo-de-cinema.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A primeira cena do novo MISSÃO
IMPOSSÍVEL dá uma ideia do que teremos pela frente. O espetacular e o
improvável costuram o filme de Christopher McQuarrie, sobretudo no que diz
respeito às cenas de ação. Tiroteios, perseguições, explosões, enfim, tudo
aquilo que acontece quando Ethan Hunt passa por um lugar está aqui. De James
Bond ele herdou a necessidade das constantes viagens e a companhia de mulheres
tão fatais quanto belas. Não só os combates chamam a atenção neste quinto
capítulo, mas também o roteiro, as intrigas geopolíticas muito bem urdidas numa
trama que coloca a IMF em apuros duplos, pois caçada por uma organização
secreta e oficialmente extinta pelo governo norte-americano. É dado o devido
valor ao trabalho em conjunto, à importância de cada colega para que tudo corra
bem no fim das contas. Tom Cruise, famoso por dispensar dublês e fazer ele próprio
as cenas perigosas, parece ter encontrado um time (de atores e produtores, já
que os diretores se sucedem) que pode levar Ethan Hunt adiante, mantendo viva
sua franquia, espera-se, com filmes tão bons quanto este. <o:p></o:p></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7926507978723555882.post-68180867300969669152015-10-28T23:45:00.000-02:002015-10-28T23:46:17.596-02:00Expresso do Amanhã<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfktxJ7k7tRFZAnprosiLpuQnjT695TL4wAxFkpbPdypZ5G-5i1HTqUgU1rua3a0ihbLKG2d_cYIYLWJfCSvBGPIpXns9xd9xcXQWi-3OgAb1ePBV_AR7_YXuCondLcOQ7_upsoYWlWg/s1600/expresso-amanha-the-tramps.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfktxJ7k7tRFZAnprosiLpuQnjT695TL4wAxFkpbPdypZ5G-5i1HTqUgU1rua3a0ihbLKG2d_cYIYLWJfCSvBGPIpXns9xd9xcXQWi-3OgAb1ePBV_AR7_YXuCondLcOQ7_upsoYWlWg/s640/expresso-amanha-the-tramps.jpg" width="640" /></a></div>
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Expresso do Amanhã</i> (2013), primeiro filme em inglês do diretor
sul-coreano Bong Joon-ho, baseado na HQ francesa <i>Le Transperceneige</i>, parte da ficcional e malograda tentativa de
conter o aquecimento global através de uma substância que acaba por congelar
nossa atmosfera, excluindo dessa maneira a possibilidade de sobrevivência fora
do trem que cruza ininterruptamente o planeta agora submerso em neve e morte.
Essa arca moderna contém o que sobrou do mundo, o miniaturizando no que ele tem
de melhor e de pior. Castas desempenham papeis bastante específicos ao
equilíbrio “necessário” do todo. Ricos vivem na parte da frente, com suas mesas
repletas de iguarias, enquanto os miseráveis definham nos compartimentos de trás,
alimentando-se de barras de proteínas feitas sabe-se lá de quê.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A insurgência é questão de tempo
e ela explode sob a liderança de Curtis (Chris Evans), alguém que já
testemunhou toda espécie de barbárie. Ele e seus amigos estão cansados de
sobreviver, de comer a mesma porcaria de sempre, de sujeitar-se às ordens dos
guardas que promovem contagens diárias, enfim, estão fartos de sub-existir. Então,
arquitetam um plano que visa tomar vagão por vagão com destino à extremidade
dianteira, onde se encontra aquele que tudo controla, o empresário que anteviu
a desgraça e fez de seu veículo ferroviário um microcosmo cruel e revelador da
sociedade de antes. O trem, sempre em movimento, talvez para que a
inevitabilidade da morte por inércia seja amenizada, guarda os anseios da
maioria de alteração do <i>status quo</i>.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A luta de classes, assim, é
transferida das ruas para o espaço diminuto do veículo que trafega nos trilhos
congelados. De ambiente em ambiente conquistado, os maltrapilhos que brigam por
um pouco de dignidade tomam contato com realidades bastante distantes das suas.
Bong Joon-ho ressalta a cada segmento de seu filme a violência dos abismos
sociais, a categorização das pessoas, seja por posses ou local de nascimento. Não
o faz sem tornar também gráfica essa violência, com sangue colorindo as janelas
esbranquiçadas da locomotiva, ao passo que miseráveis, empregados e ricos
tombam numa luta movida pela aspiração a direitos básicos, estes negados em
virtude da manutenção do conforto de uns poucos. <i>Expresso do Amanhã</i> é um filme político, não no sentido das
contendas partidárias, mas por comentar alegórica e criticamente realidades
próximas a nós, tão próximas que, às vezes, fica difícil dimensiona-las.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Poderia falar do elenco,
sobretudo do desempenho surpreendente de Chris Evans enquanto protagonista e da
caricatura bastante certeira que Tilda Swinton faz dos políticos/burocratas
puxa-sacos; poderia destacar a construção cênica engenhosa e verossímil; poderia,
ainda, exaltar o excelente trabalho de câmera de Bong Joon-ho, responsável por
criar imagens fortes e claustrofóbicas que acentuam o clima de opressão. Mas, a
rigor, o que me parece realmente certeiro em <i>Expresso do Amanhã</i> (e, claro, isto é moldado pelos elementos
citados) é a maturidade de sua visão de mundo, entre o pessimismo e a
esperança, entre a constatação da realidade desfavorável e o otimismo teimoso
de que dias melhores virão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O final aponta à nova era, em
contraponto à nossa atual sociedade etnocêntrica, prioritariamente branca e
cristã. A despeito das já divulgadas disputas criativas/comerciais entre o
diretor e os produtores que impuseram cortes significativos e inserções
arbitrárias para o lançamento internacional, <i>Expresso do Amanhã</i> é o que toda ficção científica deveria ser: uma parábola
contundente sobre nosso próprio tempo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Publicado originalmente no <a href="http://www.papodecinema.com.br/filmes/expresso-do-amanha">Papo de Cinema</a></i></div>
Marcelo Müllerhttp://www.blogger.com/profile/02495305400192082420noreply@blogger.com0