Primeiro longa-metragem de Dario
Argento, O PÁSSARO DAS PLUMAS DE CRISTAL é um thriller instigante que coloca um
escritor norte-americano, em vias de voltar para a América, enredado numa
investigação sobre vários assassinatos. Ele testemunha um ataque e, a partir
daí, passa a seguir pistas por conta própria. Argento habilmente lança luz em
diversas direções, fazendo-nos ora acreditar na culpa de determinado
personagem, quase de maneira inequívoca, ora a duvidar e, com isso, desviar as
atenções para qualquer outro que minimamente dê sinais de possível vilania. A
trilha sonora de Ennio Morricone se incumbe de temperar essa atmosfera. A
sensualidade também está presente, ainda que tímida, na beleza das mulheres vitimadas
pelo assassino. O estrangeiro deslocado é levado pelas circunstâncias a assumir
responsabilidades de captura, algo para o que a polícia, embora também
empenhada na missão, não parece competente, mesmo usando métodos científicos e
parafernálias a fim de tentar encontrar o meliante. Embora esteja à mercê da
figura ameaçadora vestida de negro, o protagonista segue adiante, refletindo a
curiosidade do espectador. A vulnerabilidade fica por conta de sua esposa e de
todas as outras mulheres em constante perigo.
PHENOMENA começa num terreno caro
ao diretor Dario Argento, o das narrativas debruçadas sobre assassinos em
série. A personagem de Jennifer Connelly é norte-americana, filha de um famoso
ator de cinema, recém-chegada à Suíça para uma temporada de estudos. O medo a
circunda, ainda mais quando sua colega de quarto é morta durante a escapada
para namorar. Ela conhece um entomólogo que a ajuda a entender sua rara relação
com os insetos. A partir daí, o filme envereda pelo sobrenatural, com Jenniffer
sendo, inclusive, acusada de proximidade com o demônio. Esses vieses se cruzam
e se alimentam numa trama tomada gradativamente por diversas facetas do
macabro. Jenniffer corre grande perigo, pois o matador parece cada vez mais
próximo e especialmente ávido por fazê-la vítima. O final tem um quê de gore, as motivações do antagonista são postas às claras e o horror se impõe, com direito a poço com pedaços de corpos e um elemento
surpresa tão ameaçador quanto o portador de facas e outros objetos cortantes,
só que ainda mais insólito, por sua natureza e deformidade.
São muito distintas as várias
abordagens cinematográficas de Drácula, a obra máxima de Bram Stoker. Em
NOSFERATU, do cineasta alemão F.W. Murnau, datada de 1922, o que importa é a
construção cênica do horror, levada a cabo por meio de diversos expedientes. A
colorização manual da película, recurso cromático que distingue os segmentos, é
um deles. A não demora neste ou naquele personagem é outro indício de que à
Murnau interessa a atmosfera, o clima de medo e apreensão que se vale de alguns
elementos do expressionismo alemão – sendo o mais evidente deles o jogo marcado
de luz e escuridão – para impor-se. A caracterização de Max Schreck como o
Conde Orlock (assim chamado em virtude de uma divergência no que tange aos
direitos autorais do original escrito) não entrou para a história como uma das
mais horripilantes por acaso. Distante dos vampiros sedutores, ele encarna uma
figura amedrontadora, cuja presença traz consigo o medo e boa parte da carga de
tensão do filme. Uma obra com quase cem anos, mas que continua intacta no que
diz respeito à capacidade ímpar de mostrar Drácula como criatura que carrega
consigo a essência do mal.