FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE é um típico filme Disney, típico ao ponto de a menina de oito anos que o assistia comigo dizer meio fatigada já nos primeiros minutos: “vai ter um casamento, afinal nos filmes de princesas sempre tem um casamento”. Há ali uma fórmula bem definida e, inclusive, um coadjuvante mais carismático do que o restante dos personagens, algo quase obrigatório nas animações de hoje. Do ponto de vista técnico, nada a reclamar, mas, ora, estamos falando da Disney e se eles não possuem excelência nesse quesito, quem há de ter? Mas também não sejamos por demais ranzinzas, a história das duas princesas separadas pelo destino impiedoso de uma delas é um bom divertimento, ainda que remeta demais a ENROLADOS – e, por conseguinte, à história de Rapunzel -, outro filme recente da Casa das Ideias, por sinal melhor do que FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE. Mas entre mortos, feridos e congelados, sobram bons momentos.
Perder um filho ocasiona provavelmente
a maior dor que alguém pode sentir. Passamos a primeira metade de ALABAMA MONROE numa
alternância temporal que coloca em paralelo a construção da felicidade do casal
Elise e Didier e o desespero da luta deles contra o câncer da filha. O luto é
um período indeterminado e, para explorá-lo mais frontalmente, o filme quase se
assenta na linearidade em sua segunda metade, ali onde Didier tentará de tudo
para recomeçar a vida ao lado da sua amada, ela, por sua vez, tão devastada
pela perda que não vê saídas possíveis. A música desempenha papel fundamental
em ALABAMA MONROE. No palco muita coisa é dita, demônios são externados,
sentimentos são postos para fora com uma profundidade que falta às palavras sem
melodia. O diretor Felix Van Groeningen faz um filme maduro, onde acompanhamos
pesarosos primeiro a finitude de uma criança, algo triste por si, e segundo a
impossibilidade de felicidade ali onde ela anteriormente tinha tão
confortavelmente se instalado.
A maior covardia da temporada foi
trazer de volta UM CORPO QUE CAI às salas de exibição. Diante da obra-prima de
Alfred Hitchcock, todo o circuito restante empalidece, perde um pouco de
importância. Rever o filme em tela
grande é uma experiência e tanto. Toda a construção inicial, a investigação da
mulher que supostamente está possuída por um espírito antepassado, já alude à
segunda, pois em ambas há o amor por um fantasma. Logo sabemos que Judy e
Madeleine são a mesma, e se ela se submete aos desmandos do obcecado John,
determinado a transformá-la em seu amor falecido, é justamente por que também o
ama. O homem aposentando pelas vertigens é enredado numa trama ardilosa cuja
finalidade é determinada herança. O efeito colateral é a paixão, não por
Madeleine, pois ela nunca existiu, mas pela ficção criada para fornecer álibi
irrefutável a um crime. UM CORPO QUE CAI
é genial, e soa ainda melhor visto no cinema. Que baita oportunidade.
ÁLBUM DE FAMÍLIA é esquemático.
Lá pelas tantas desconfiamos que a matriarca interpretada brilhantemente por
Meryl Streep acabará do jeito que acaba, o que é confirmado por uma sucessão de
abandonos, aliás, filmados quase da mesma maneira. Mas a despeito dessa
fórmula, de um roteiro que se mostra às vezes mais do que deveria, tá aí um
filme que aborda problemas familiares com propriedade. A morte do pai traz de
volta ao lar as três filhas, cada qual com seus problemas e dificuldades. Não
ajuda nada ter uma mãe sofrendo de câncer e descontrolada por anos de vício em
remédios. Virão à tona velhas rixas, sentimentos e eventos asfixiados anos a
fio para o bem da boa convivência. É como se houvesse uma implosão gradativa,
já que o pilar de sustentação da família se foi. ÁLBUM DE FAMÍLIA é um filme de atores, pois é
por meio do trabalho deles que nos aproximamos emocionalmente dos personagens e
das situações. Atire a primeira pedra quem não identificar algum traço de sua
própria família ao assistir esse filme.
As atuações de Matthew
McConaughey e Jared Leto felizmente não são as únicas qualidades de CLUBE DE
COMPRAS DALLAS. Aliás, é claro que impressiona a mudança física pela qual os
atores passaram, mas seus desempenhos estão para além desse componente. Mais do
que abordar a trajetória do homem que se descobre soropositivo e, a partir daí,
não apenas melhora enquanto pessoa, mas também aproveita para lucrar com
tratamentos alternativos, o filme carrega uma bandeira contra a indústria
farmacêutica e sua já conhecida ferocidade no combate à “concorrência”. Eles
(os laboratórios) estavam pouco se lixando se o AZT trazia efeitos colaterais em
longo prazo, até por que naquela época os diagnosticados com HIV tinham pouco
tempo de vida, ou seja, também, em tese, impossibilidade de reclamar muito dos
tais efeitos. CLUBE DE COMPRAS DALLAS tem uma queda por clichês, isso sim, mas
nem o flerte com esses expedientes já batidos diminui a força do longa, feito de dois atores de trabalho excepcional e uma luta ainda
necessária.