Em AS PRAIAS DE AGNÈS, a cineasta
Agnès Varda, uma das expoentes da nouvelle
vague francesa, reconstrói sua própria história, partindo do cenário que
mais lhe agrada: a praia. Ela vagueia pelas lembranças refeitas cenicamente,
rememora a infância endurecida pela guerra, os anos de fotógrafa, a paixão pelo
cinema, os encontros que alimentaram sua persona artística, o incontornável
amor e a saudade do companheiro que se foi, o também cineasta Jacques Demy,
isso tudo num tom confessional e nostálgico, mas não lamurioso. O que vemos na
tela é uma mulher com mais de oitenta anos, dotada de espírito ainda jovial e
curioso, não apenas pelo ofício da arte, mas, e sobretudo, pelos meandros da
vida.
MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO, por
onde começar? A trama é uma bobagem que envolve a rivalidade entre duas
madrinhas, cada qual querendo mais atenção da noiva. Até aí tudo bem, não fosse
o amontoado de sequências inteiras ruins, grosseiras e sem qualquer propósito,
a não ser o de fazer graça utilizando escatologia e babaquice. Disenterias que
arruínam a prova de vestidos, uma mulher chapada num voo para Los Angeles, sequências
e mais sequências tentando - em vão e da maneira mais torta possível - mostrar
uma mulher emancipada de sua condição submissa, e a resultante não poderia ser
mais rasa e torpe.
Embora EM BUSCA DO OURO não seja
um dos meus filmes favoritos de Charles Chaplin, difícil ficar alheio aos seus momentos
de antologia. Para citar apenas dois, a sequência em que Big Jim, faminto, vê
Carlitos como um frango e a famosa cena da dança dos pãenzinhos. A primeira
parte é sustentada na corrida do garimpo, na ironia dos homens mortos de fome enquanto
literalmente sobre uma montanha de ouro. Depois, a história enverada pelo
romance, protagonizado por aquela que brinca com os sentimentos do vagabundo,
zombando de seu romantismo. Aí rareiam as gags inspiradas e tudo fica meio
pálido, numa trama guiada por certo desamor já melhor utilizado por Chaplin em
outros filmes. Ainda assim, por momentos isolados, fortes o suficiente, é algo
obrigatório, sem dúvida.
JULIO SUMIU é um filme que se
segura nos erros, um atrás do outro, pois são eles que fornecem costura à
trama. Uma mãe, das mais preocupadas, não sem razão diante da criminalidade dos
dias de hoje, bota na cabeça que seu filho foi sequestrado. Depois disso,
falhas e mais falhas de interpretação vão engrossando o caldo sem sal do filme
de Roberto Berliner. Um bando de piadas sem graça, situações batidas, palavrões
como que para mostrar “coragem”, tudo envolto num pacote que se não tem cara de
novela tampouco tem cara de filme. Uma bobagem que, vá lá, tem um que outro
momento dos bons, mas que, no geral, é do tipo para o público médio (leia-se
“aquele que vai ao cinema só de quando em quando”) sair da sala rindo e falando
bem (?) do cinema brasileiro. Como exemplar de mercado (mal necessário) até
passa.
A gente começa assistindo A
PRIMEIRA COISA BELA com a sensação de que vai ser mais um daqueles filmes nos
quais o adulto busca no passado as raízes de suas neuroses presentes, deixando
nesse trajeto evidente a “culpa” dos pais. Passar essa ideia inicialmente não
me parece gratuidade, mas sim uma espécie de isca falsa para que sejamos
surpreendidos no decorrer, quando o próprio protagonista, ao acompanhar de
perto a doença irreversível que acomete a mãe da qual tinha certa vergonha
quando criança, entenderá sua infância como um período não tão doloroso assim,
em que seus pais, certos ou errados, fizeram o possível dentro de suas próprias
limitações. Um filme bem-humorado, cujo desenrolar com cara de fábula não
esconde a intenção de trazer para perto de nós alguns sentimentos e
contradições bastante comuns.