Levado por indicações calorosas,
conferi AS SESSÕES. O que chama a atenção, num primeiro momento, é a inusitada
abordagem acerca da sexualidade de deficientes físicos. Contudo, ótimo que as
qualidades do longa estejam também para além dessa coragem temática, emergindo,
sobretudo, das interpretações assertivas de John Hawkes (na trama, um poeta
paralisado pela doença) e de Helen Hunt (na pele da terapeuta sexual que faz enfermos
descobrirem o prazer advindo do próprio corpo). Menção honrosa, igualmente,
para William H. Macy, excelente coadjuvante enquanto padre. Bem humorado, AS
SESSÕES apresenta, com leveza, os desejos do homem limitado pela poliomielite,
e, ainda, os desdobramentos sentimentais da pequena jornada para a própria
terapeuta, a certa altura muito mais afetada pela experiência que seu próprio
paciente.
ANTES DA MEIA-NOITE era um dos
filmes mais esperados da temporada. Jesse e Celine estão em férias com as filhas
gêmeas pela Grécia. Ele em crise por não se fazer presente na vida do filho
adolescente (fruto de outro casamento) e ela num dilema profissional agravado
por essa instabilidade do marido. Celine motiva celeumas com mais frequência,
ao passo que Jesse se mostra flexível (fato curioso de levar em consideração e
que pode desagradar seriamente alguns). Entretanto, ANTES DA MEIA-NOITE me
pareceu um bom filme, que evita lançar imperativos comportamentais, tratando,
assim, num registro particular as dificuldades de UM relacionamento, não aspirando
abarcar TODOS eles.
Sem dúvida há algo de muito forte
em A BELA QUE DORME, filme do italiano Marco Bellocchio que pega emprestado o
caso verídico de Eluana Englaro, em estado vegetativo por 17 anos, para
construir um painel de personagens e situações que confrontam, sob óticas
políticas, religiosas e morais, a questão da eutanásia. A BELA QUE DORME
funda-se na liberdade, sobretudo de amar ou morrer quando bem entendermos. Cada
pequena trama amplia, à sua maneira, a polêmica causada pela possibilidade da
morte assistida de Eluana, assim lançando luz sobre outras complexidades. O
problema, a meu ver, está em certo laconismo inicial e nas transições
solavancadas entre um núcleo e outro. Não fosse isso, A BELA QUE DORME poderia
ser outra obra-prima desse italiano que, sem dúvida, faz cinema de gente
grande.
Ir de Buenos Aires, na Argentina,
a Villa Laura, no Uruguai, é um prazer maior se na companhia dos irmãos Susana
e Marcos, ela uma trambiqueira de marca maior e ele um senhor que perde o rumo quando
a mãe morre. DOIS IRMÃOS desvenda, aos
poucos e sutilmente, a arqueologia sentimental dos personagens interpretados
magistralmente por Graciela Borges e Antonio Gasalla, enquanto avança no
relacionamento deles. O filme mostra algumas
agruras e benesses de ter irmãos, criaturas paradoxais, pois desconhecidos
familiares, como ressaltou o próprio diretor Daniel Burman em entrevistas. DOIS
IRMÃOS possui encenação consistente e roteiro afiado, características inerentes
ao cinema Hermano, a bem da verdade.
Para ver e rever sem desgaste e com cada vez mais deleite.
Antes de ser cooptado e
pasteurizado por Hollywood, o cineasta Gabriele Muccino se destacou no cenário cinematográfico
italiano. Seu filme O ÚLTIMO BEIJO, devidamente reaproveitando para remake
ianque, é mais um dos inúmeros a tratar de relacionamentos e suas
complexidades. O faz com a autoridade de quem acrescenta algo a temas já tão
abordados. Ao redor de Carlo e suas desventuras amorosas extraconjugais - bem
na iminência de casar e ser pai – gravitam personagens igualmente envoltos em
decepções, turbulências, alegrias, perspectivas e projeções afetivas. A
linguagem é sóbria, direta, assim como o discurso equilibrado entre
constatações fatalistas e esperançosas. Fácil falar de amor e convivência,
difícil é fazê-lo com propriedade e maturidade suficiente para não cair no lodo
do lugar-comum, como bem faz O ÚLTIMO BEIJO.
Sabe que sou fã do Doses Homeopáticas..acho que esse formato mais curto, breve porém eficiente de publicar resenhas que muita gente passa batido, uns por não terem assistido e outros ainda por terem preguiça de encarar um texto maior, pode chegar mais facilmente 'a um público maior, atraindo-os para a leitura. E uma vez que entramos em contato,as próximas serão consequências agradabilíssimas.
ResponderExcluir" Antes da meia noite" foi uma enorme decepção pra mim, por isso me permito " implicar" com suas impressões hehe. De resto só filme bom!
beijos
É, Carol. O DOSES HOMEOPÁTICAS é bom justo por isso que você falou: nem sempre o leitor está disposto a encarar um texto maior, seja por preguiça mesmo ou por que ainda não assistiu ao filme e, assim, quer evitar ler algo mais aprofundado antes da sessão.
ResponderExcluirVocê que me incentivou a escrever sobre todos os filmes assistidos e disso surgiu essa seção do "The Tramps" que as pessoas parecem gostar mesmo.
Sobre ANTES DA MEIA-NOITE, sei que nossa opinião diverge no geral, mas, mesmo gostando, concordo com muita coisa que você aponta, sobretudo a respeito da Celine.
Obrigado, beijos.
Celito!
ResponderExcluirMuito bom, pelo jeito desta vez as sessões tiveram grande aproveitamento.
Forte abraço.