O primeiro grande acerto de
MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA é tratar o protagonista e os personagens mais
próximos como forças da natureza. Isso é evidenciado pela imagem, aliás, pela
belíssima construção visual a cargo do diretor de fotografia Adam Arkapaw. Os
méritos prosseguem na excelente direção de arte, entre outros detalhes, como o
estado deplorável dos guerreiros no campo de batalha, ou seja, a maquiagem
também se destaca. Mas, fora os quesitos técnicos (que, claro, também podem ser
considerados artísticos), o que mais salta aos olhos neste corajoso e brutal
filme de Justin Kurzel são as interpretações de Michael Fassbender e Marion
Cotillard. Ela consegue transparecer todo ardil do qual se vale para insuflar o
espirito guerreiro do marido na direção do trono da Escócia. Já ele, em
princípio transmitindo a virulência de um homem dominado com facilidade pelos
joguetes da esposa, aos poucos evidencia a loucura de Macbeth, a ira sem fim
que faz desta trama um transcorrer repleto de som e fúria. Um grande trabalho
dos atores, coroado com uma produção esmerada e suntuosa, sem nunca
transparecer ostentação ou gratuidade. Numa temporada de prêmios como o Oscar,
é de se lamentar este filme não concorrer nas principais categorias.
Perder-se é um risco sério em
meio ao ritmo frenético de A GRANDE APOSTA, afinal de contas o filme se vale de
diversas expressões idiomáticas do mercado financeiro, ininteligíveis para
muitos de nós. Contudo, o diretor Adam McKay contorna essa dificuldade com
explicações, entre as contidas nos diálogos e algumas brincadeiras, como as
protagonizadas por celebridades que destrincham verbetes enquanto fazem
qualquer outra coisa. O grupo de homens que anteviu a crise imobiliária responsável
por devastar a economia em 2008 é heterogêneo. Seus membros se aproximam apenas
no que diz respeito à clarividência de enxergar um mercado sustentado por
títulos quase sem valor. O filme aponta o dedo condenatório aos bancos,
mostrando-os como os principais responsáveis pela quebradeira que deixou
milhões desabrigados e desempregados nos Estados Unidos. O andamento acelerado,
a montagem inteligente, o roteiro esperto, são atributos de um ótimo filme, que
dá conta de comentar criticamente a conjuntura sobre a qual o capitalismo
estadunidense foi construído e mostrar a singularidade dos personagens que
tiveram suas razões para apostar pesado contra algo que todos achavam sólido
demais.
SPOTLIGTH: SEGREDOS REVELADOS é
um drama jornalístico orquestrado de maneira tão inteligente que não é preciso
muito tempo para estarmos completamente absortos na investigação da equipe
especial do jornal Boston Globe sobre crimes de pedofilia cometidos por padres.
O diretor Tom McCarthy nos coloca em contato íntimo com a rotina da redação,
com as etapas necessárias para que uma boa história vire reportagem e possa, de
alguma maneira, influenciar positivamente a sociedade. Os personagens são muito
bem construídos, tendo contempladas suas singularidades – o que os torna gente
acima de jornalistas – sem, contudo, que o foco da apuração seja desviado para suas
dificuldades. São pessoas de carne a osso, com anseios muito próprios e motivações,
da mesma forma, bastante particulares, que dividem uma gana pela verdade, por
fazer do jornalismo um instrumento efetivo. Os bastidores da notícia são
expostos como uma zona cinzenta à qual geralmente os leitores não têm acesso,
repleta de pressões e outros impeditivos para que as coisas sejam impressas da
maneira como aconteceram. Há um crescendo de emoção e adrenalina que acompanha
a progressão da trama, o que evidencia a tensão inerente a um trabalho complexo
como o empreendido pelos jornalistas do Globe, fazendo deste filme um êxito
contundente, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo.
Vi MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA, e não posso deixar de lembrar que Marion Cotillard queria ( em manifestação onírica/espiritual) seduzir ( capturar a alma) do Leonardo DiCaprio mas só conseguiu fazê-lo com Fassbender. Vou dizer que o capricho deu lugar ao fazer bem ???
ResponderExcluirEm MACBETH tive a nítida sensação da presença de uma entidade/manifestação do MAL ( com suas variadas faces) na pessoa de Lady Macbeth (Marion Cotillard) que se deixou impregnar pelo desejo de PODER e GLÓRIA. Esta projeção se tornou “casada" ou coletiva e trouxe para o "belo" casal o espelho da grandeza. Mas este DESEJO não estava somente nela (esposa). Ele (Macbeth ) se impregnava desta ambição em cada batalha vencida. Esta tentação chegava dentro de uma névoa espessa na forma feminina ( bruxas). Ali brilhava a tormenta sobre suas inclinações/desejos e da possibilidade destes se concretizarem. Mas foi no encontro fecundo com sua Lady que nasceu a destruição da sua HUMANIDADE. Este desrespeito consigo e logo a seguir com todos, ou vice-versa, fez dele refém da CULPA, da DESCONFIANÇA, da PERSEGUIÇÃO... e levou-o pela TRAJETÓRIA da LOUCURA .
ResponderExcluirFiz uma comparação com o filme "A Origem "(acima - comentário nove de fev) porque ali a personagem de Marion Cotillard também atraia seu esposo ( em sonho/ manifestação ) para este abismo- LOUCURA afetiva. Neste caso não houve adesão emocional e " DiCaprio" fugiu do espelho.