Um dos destaques indies
da atual temporada, Martha Marcy May
Marlene é ambientado de tal maneira longe dos cenários americanos mais
tipificados, que logo permite ao espectador a benéfica constatação da pluralidade
geográfica estadunidense, esta pouco perseguida pela maioria de seus conterrâneos.
A trama começa no escape da protagonista (Martha) de um lugarejo interiorano, onde
há ajuntamento semelhante a uma comunidade de fanáticos religiosos. Patrick, o mestre,
por assim dizer, é homem austero que alterna momentos de acolhida e instantes
de violência. Todos os seguem cegamente. As mulheres só comem depois dos
homens, e eles só copulam com elas após o “batismo” do grão-mestre. Martha escapa,
então, para os braços da irmã, mas vê-se assombrada por lembranças que, pouco a
pouco, embaralham sua percepção de segurança, tornando-a arredia, instável e um
tanto paranoica.
Martha Marcy May
Marlene começa promissor, pois cerca de mistérios a vida pregressa de
Martha, descortina lentamente seu envolvimento com as normas da “seita” (dentre
as principais, consentir-se estuprada e lidar diretamente com a morte), em
alternância à exposição da intricada adequação por ela experienciada no retorno
ao seio familiar. Hão de ser enaltecidas, ainda, a construção narrativa baseada
na ausência de informações “mastigadas”, e a esperta montagem do vai-e-vem
temporal, cuja função sintática, em muitas passagens, realça o desmoronamento
mental de Martha. Infelizmente, o interesse arrefece na medida em que a trama
avança, pois privilegiadas as investigações da personalidade caótica e do
estado psicológico ambíguo da figura central, não restam espaços satisfatórios
nem para qualquer estudo mais profundo sobre a vivência pretérita na comunidade
e muito menos a subtextos igualmente nuançados acerca da família que a irmã e o
cunhado workaholic querem formar.
Destacam-se - antes que o esquecimento não permita -, os
desempenhos de Elizabeth Olsen, como Martha (talento nato e deveras promissor)
e de John Hawkes, na pele de Patrick, (ele, excelente ator cuja capacidade não
foi plenamente descoberta pelo grande público). Ambos são figuras proeminentes
nesse longa mediano sobre alguém fracionado e psicologicamente abalado que não
encontra seu lugar. Ainda que não faça feio, Martha Marcy May Marlene está longe de qualquer voo mais libertador,
talvez porque seja demasiado ligado às conseqüências, e um tantinho negligente
quanto às causas.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celo!
ResponderExcluirObrigado por mais um texto.
Abraçosss
Já conversamos muito sobre o filme, Celo, e se não me engano fui um dos entusiastas que insistiu para que você o assistisse. O considero um dos suspenses mais interessantes que vi recentemente, com um clima excelente.
ResponderExcluirUm abraço, guri!