Em A Árvore do Amor, durante a revolução cultural promovida na China a
partir de 1966, pelo então líder Mao Tsé-Tung, a estudante ginasial Jin é
enviada para reeducar-se no campo, assim como tantos outros jovens privados da
vida urbana em prol do ideário comunista. Recebida numa família que a trata
como filha, ela conhece, em meio a histórias do estranho espinheiro que dá
flores vermelhas, seu grande amor, um oficial da estação geológica operacional
na cercania. Sun é esse homem, filho de gente influente no partido (garantia de
vantagens). Jin, por sua vez, é de família posta à margem pelas convicções
políticas de seu patriarca, direitista encarcerado.
Mais conhecido do grande público
por seus épicos wuxia (gênero chinês
por excelência que mistura fantasia e artes marciais) o diretor Zhang Yimou reconstrói
em A Árvore do Amor um importante
período da história chinesa, marcado por transformações políticas e sociais, onde
ambienta esse melodrama repleto de belas paisagens e propenso a lágrimas. Nele,
o envolvimento da menina que necessita mostrar retidão se quiser abraçar a
carreira professoral da mãe, com o jovem feito anjo da guarda pelo amor
incondicional sentido. O que poderia desenrolar-se facilmente como versão
oriental de Romeu e Julieta, afinal Sun e Jin são filhos de homens
ideologicamente contrários, felizmente nem sequer resvala nesta aproximação com
a obra do bardo.
Se há pecado em A Árvore do Amor é sua duração, pois
aqui e acolá a contemplação excede-se ligeiramente. No entanto, isto não
enfraquece substancialmente a beleza do relacionamento construído entre
encontros fortuitos, pequenas espiadelas, olhares ávidos e a vigília típica dos
enamorados. Registrado num tom próximo
ao sépia, tal fotograma envelhecido, A
Árvore do Amor ainda sorve graça da paisagem campestre que lhe serve de
cenário máster. Mas o filme de Zhang Yimou emociona mesmo é pela poética quase
inocente desse amor jovial, espécime tão raro em tempos turbulentos quanto o
florescimento em vermelho do espinheiro que, por natureza, deveria
enriquecer-se em alvas flores.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celo!
ResponderExcluirSeu texto me fez pensar sobre como vemos a vida. Pois é, tudo é muito instantâneo e passageiro, ao passo que deixamos de lado a contemplação e reflexão. O culto a comunicação reserva ao seu conteúdo papel secundário na sociedade contemporânea. É uma pena.
Abraçosss
Faço das palavras do Rafa, as minhas.."..tudo é muito instantâneo e passageiro". Árvore do amor emociona,nos faz justamente refletir sobre as sutilezas..
ResponderExcluirCelo!
ResponderExcluirTenho visão muito parecida com a sua, vejo muitos aspectos positivos que talvez sejam prejudicados pela longa duração do filme. No entanto, é mais um belo trabalho do Zhang Yimou, diretor que tem uma cinematografia linda - seja esteticamente ou através temas que aborda.
Um abraço!