Eleito melhor roteiro no Festival
do Rio 2011, A Novela das 8 é “vendido”
como homenagem à Dancin Days, sucesso
de Gilberto Braga que trouxe a discoteca para o Brasil então coagido pela
ditadura Ernesto Geisel. Tal movimento
canhestro visa apenas atrair os fãs da trama pretérita ao cinema do presente, já
que, propriamente como recurso narrativo, a aproximação resume-se a uma citação
aqui, outra bem acolá. O filme foca-se nos
árduos anos de chumbo e na coletividade que, em busca de escapismo, arrendava
sua atenção ao ritmo e aos brilhos do horário nobre. Mas que não se espere
qualquer apontamento mais ferino acerca da miopia provocada pelo folhetim
global.
Dora é ex-militante e trabalha
como empregada doméstica da prostituta Amanda. Num revés próprio à estrutura
novelesca e seus artificialismos, ela identifica um dos clientes da patroa como
seu algoz de idos tempos e, logo após matá-lo, foge com a chefa feita inadvertidamente
cúmplice. As coisas vão evoluindo (ou seria involuindo?), e entram em cena diversos
personagens possivelmente retirados de algum arcabouço de lugares-comuns: o
torturador caricaturalmente vilanesco, o filho que nada sabe dos pais
(representante da inocência), os capangas arrependidos, os guerrilheiros
“mocinhos”, etc. Pílulas de pseudo-incorreção surgem na forma de palavrões,
sangue, beijo gay, entre outras manifestações banalizadas e superficiais, pois
destoantes do itinerário narrativo percorrido pela fábula.
De dramaturgia esvaziada, A Novela das 8 ainda padece de
decupagem e encenação pouco inspiradas. E para que não se fale em desastre
total, há certa simpatia na representação exagerada de Vanessa Giácomo, essa,
porém, tampouco aproveitada a contento pelo diretor Odilon Rocha, num rocambole
repleto de figuras rasas e desenvolvimentos condizentes com tal profundidade. Quem
for ao cinema em busca de elaboradas alusões a Dancin Days terá ingrata surpresa, bem como os que confiam resultar
da justaposição “novela/ditadura” um substrato crítico mais espesso. Sem dúvida
que há boas intenções em A Novela das 8,
principalmente na reabertura de velhas feridas, mas como bem se sabe, a morada
do capeta está repleta desses intentos que não dão em nada.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celo!
ResponderExcluirBom, ao menos, pelo que seu texto nos diz, a narrativa segue o que o nome precede.
Abraçossss
É o ápice da globochanchada?
ResponderExcluirUm filme que passa longe da minha lista de interesses... Ainda mais depois da sua resenha.
Um abraço, Celo!