Quem nunca colocou dentes sob o
travesseiro, caçou ovos pelo gramado ou mesmo vibrou quando presenteado perto da
árvore natalina? Temos a infância marcada por vários rituais e seus respectivos
símbolos justamente para que cresçamos com encantamento, embalados por algo de
teor mais lúdico que amorteça desde cedo os solavancos. Com o passar do tempo nos
tornamos mais cínicos e céticos, legando tipos como Papai Noel, Coelho da
Páscoa e a Fada do Dente aos confins da inocência de outrora. Mas e se eles
existissem, zelando pelas crianças do mundo? Em A Origem dos Guardiões, novo trabalho da DreamWorks, é bem esse o
contexto. Claro, há também Breu, vulgo Bicho-Papão, o vilão da jornada.
O malvado não quer mais
esconder-se embaixo das camas, nem ficar de braços cruzados enquanto pais o
difamam, negando o medo que dele provém. A fim de mudar o panorama, Breu literalmente
“toca o terror” tumultuando sonos com pesadelos nefastos e generalizando o pavor.
Para combater-lhe, unem-se os guardiões. Esqueça as versões fofinhas e
estilizadas, em A Origem dos Guardiões
Papai Noel é um senhor imponente e tatuado, o Coelho da Páscoa é alto, forte e
destemido, a Fada do Dente é uma corajosa líder e Sandman propaga sonhos exercendo
seu lado protetor. Na iminente batalha o fiel da balança será Jack Frost,
entidade tratada como lenda até pelos próprios infantes, ou seja, de anseio bastante
próximo ao do antagonista, uma vez que ambos buscam crédito.
Aliás, se há mensagem clara em A Origem dos Guardiões é a de que forças
construídas para tornar a vivência um tanto mais “especial” só existem se nelas
cremos. A observação sublinha a importância do humano, essencial no desenrolar
da trama. Mesmo apoiado em algumas convenções narrativas próprias às obras
comerciais para consumo de pequenos e jovens adultos, tais como a superação, o
sacrifício em prol do coletivo e o poder habitante em cada um de nós, esta
animação cativa não só pela inusitada releitura de tão familiares personagens, mas
também por conta do paralelo estabelecido entre Frost e Breu, luz e sombra conectadas
por desejos similares, contudo repelidas na essência, pois de cernes
completamente distintos.
Visualmente, o filme é um
deslumbre. Os muitos embates se dão em sequências de feitio esmerado, nas quais
há harmonia entre tecnologia e criatividade, respectivamente prerrogativa e
atributo da equipe chefiada pelo diretor Peter Ramsey. O 3D é utilizado com
inteligência, soando orgânico e funcional, um verdadeiro milagre em meio a
tantas experiências capengas que capitalizam sem ofertar qualquer sensação relevante
em troca. A Origem dos Guardiões sai-se
bem porque sabe dosar humor, ação e emoção, levantando questões pertinentes a moleques,
crescidos, e até aos seres fantásticos. Boa surpresa que 2012 ainda nos
reservava.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celo!
ResponderExcluirPois é, apenas pelo fato da releitura já valeria uma espiada, mas com argumentos tão favoráveis, definitivamente vai para minha lista (enorme e incalculável ^^).
Abraços