Os Wheelers, residentes no número
115 da Revolutionary Road, representam verdadeiro modelo de felicidade aos
próximos. Entretanto, sob a superfície, são jovens arrastados por uma existência
a dois esquemática e pré-programada: filhos, casa impecável, insatisfação no
emprego, etc. Todos querem ser os Wheelers, menos os próprios, tanto que eles decidem
radicalizar com uma mudança à Paris, onde ela, April, trabalharia com polpudos
rendimentos a fim de proporcionar a ele,
Frank, tempo e disposição na busca de seu ideal. Tudo para mudar de vida e
vitamina-la com algo que lhe restitua o sentido. Os planos não duram muito,
pois logo a gravidez não programada e a possibilidade de aterrar-se mais no
ofício ainda chato, porém de vantajosos ganhos financeiros, serão
elementos suficientes para servir de desculpa.
Ironia ou não, o único
inteiramente lúcido e sincero a respeito dos Wheelers é John, paciente
psiquiátrico filho da corretora do casal. Alheio às convenções sociais que
fazem os demais posicionarem opiniões como num tabuleiro de xadrez, ele profere
leituras certeiras tanto acerca da necessidade de Frank mostra-se homem
(provedor) quanto sobre a histeria típica de April. John vê e fala enquanto os
outros veem e calam.
Foi Apenas um Sonho, dirigido por Sam Mendes, não por acaso se
passa nos anos 50, bem no auge propagandístico do american way of life como modelo infalível de plena realização
pessoal e familiar. Frank e April poderiam bem ser avós de Lester e Carolyn,
figuras igualmente signatárias da hipocrisia institucionalizada, noutro
excelente longa de Mendes, Beleza
Americana. Em Foi Apenas um Sonho, todavia,
a linguagem é mais sóbria e aplicada na tarefa de extrair paulatinamente a
verdade dos personagens.
Foi Apenas um Sonho está longe de propor uma mensagem vertical
sobre relacionamentos. Frank e April não transportam uma tese, são seres pulsantes
e contraditórios, ao mesmo tempo algozes e reféns das vicissitudes e da
covardia que, volta e meia, acometem a todos.
Já tinha ouvido falar bem desse filme, mas agora senti firmeza, hehehe. Adoro narrativas que penetram numa superfície aparentemente sadia para chegar aos recônditos mais obscuros e maculados do ser humano.
ResponderExcluirGrande abraço.