O universo de Kamchatka é retratado com sensibilidade
e humanidade num contexto político. Uma história que fala de amor, de laços
afetivos num cenário bélico, de tensão e angústia na Argentina da década de 1970.
Harry, o garoto, filho do casal que precisa fugir da ditadura, se vê
praticamente sem saída e elege uma alternativa bastante interessante: jogar com
seu pai todas as noites. O jogo explica um pouco do enredo, se tornando recurso
lúdico que faz do filme mais inteligente e sagaz. Se acrescermos isso ao fato
do menino praticamente conduzir a narrativa, a potência do expediente aumenta.
Os atores principais do elenco
(Ricardo Darín e Cecilia Roth) unem forças para desempenhar conjuntamente muito
bem seus papéis, mesmo que estes estejam longe de ser os mais importantes de
suas respectivas carreiras. Já o menino que interpreta Harry atua de maneira
promissora. Existe um engajamento poderoso na forma como eles agem, passando
sempre a ideia da família nuclear enquanto importante e mantenedora, preservando
todo sentimento, cultivando-o dia a dia, no meio de uma guerra que estoura lá
fora. Excelente filme.
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Em Kamchatka, Ricardo Darín é um pai que, como tantos contrários à ditadura
militar instaurada na Argentina, se isolou com sua família para evitar
perseguição e morte. O mais importante no filme de Marcelo Piñeyro é a
experiência infantil, a inocência dos filhos sendo confrontada pela barbárie de
um regime que torturou e fez desaparecer. A repressão não precisa ser vista por
meio da violência física, pois presente, de maneira ainda mais contundente, em
cada momento de tensão, nas entradas e saídas às escondidas, no treinamento das
crianças para eventuais emergências, na necessidade de ensinar a eles novos
nomes, novas vidas, de privá-los do contato com os amigos.
O mais velho se agarra nas peripécias
de Houdini, o escapista. O mais novo sonha em ser santo. Ricardo Darín e Cecilia
Roth interpretam os pais tidos como subversivos, que precisam salvar as próprias peles e ainda proteger os filhos dos perigos que os rondam. O narrador-protagonista
lembra com carinho das partidas em que Kamchatka era o território onde se podia
resistir, metáfora para o esforço de muitos que resolveram não cruzar os braços
frente aos desmandos militares. Não só a Argentina, mas, infelizmente, boa
parte da América latina viveu sob o jugo ditatorial em algum momento. Filmes
como Kamchatka são imprescindíveis,
pois nos dão a dimensão do que de humano se perdeu nos nefastos anos de chumbo.
Mais um para a lista :)
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