Com atuações contundentes que,
aos poucos, vão revelando o segredo dos personagens, XXY acerta em cheio, a meu ver, na forma como trata um tema tão
delicado e ainda obscuro, até mesmo para os pesquisadores da área. No entanto,
muito mais que a síndrome de Klinefelter, a mutação genética da protagonista
Alex, o filme coloca em pauta, de maneira profunda, questões biológicas,
sociais e culturais, fazendo-nos refletir sobre os rótulos, sobre a relação de
pais e filhos e a descoberta da sexualidade em diversas esferas, não só a
respeito da decisão de Alex de tomar ou não hormônios para seguir sem
características masculinas.
A história prossegue tendo como
pano de fundo o romance entre Alex e um adolescente. Ele se apaixona, vivendo
um grande conflito primordialmente por não aceitar seu desejo. Por isso,
precisa enfrentar os próprios dilemas existenciais. Alex, por sua vez, coloca-o
frente às suas maiores questões, com a identidade sexual, sobretudo. Em todos
os núcleos podemos observar histórias de amor: entre os casais, dos mesmos para
com seus filhos, entre os amigos, entre Alex e o menino. Como se o amor e suas
vicissitudes, também pela vida e por suas relações, motivassem essas tramas muitas
vezes dramáticas, tensas, mas carregadas de paixão, de vontade de viver.
Creio ter sido de extrema
importância para a sociedade, para os interessados, pesquisadores, biólogos,
médicos, psicólogos, pacientes, etc, a criação de XXY, praticamente uma intervenção de Lucia Puenzo. No entanto,
ressalto aqui o conteúdo dramático, com ótima direção e atuações. Excelente
filme!
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Alex se comporta muitas vezes
como um animal acuado, arisco ao contato estranho. Também pudera, pois carrega
consigo os dois sexos. Ela toma corticoides para que a barba não cresça, para
que seu corpo mantenha características femininas, embora tenha um pênis. Como interagir
com os demais sem uma identidade de gênero definida? A protagonista de XXY vai se relacionar com um garoto
forasteiro. Nesse ponto, a diretora Lucia Puenzo evidencia a dificuldade de
enquadrar comportamentos de acordo com o que se espera de um homem e de uma
mulher. O pai de Alex, interpretado por Ricardo Darín, é talvez o mais sensível
ao drama da filha, aquele que tenta, a todo custo, compreendê-la e defendê-la
dos males do entorno.
XXY coloca na mesa a complexidade da definição de gêneros, do que
significam o masculino e o feminino, sobretudo quando ambos convivem tempestuosamente
num mesmo corpo. O foco vai se estreitando cada vez mais em Alex e seu pai,
deixando os demais personagens num segundo plano quase decorativo, exceção
feita ao garoto que se apaixona por Alex a despeito dos próprios pré-conceitos.
Darín compõe um homem fracionado entre a dúvida (como ajudar a filha, como encaminhá-la
à vida adulta?) e a convicção de que ela precisa seguir o caminho que melhor
lhe convir. Darín, aliás, é responsável por uma das sequências mais bonitas, na
qual diz ter negado a operação da filha logo após seu nascimento, por
considera-la perfeita, absolutamente perfeita.
Fiquei muito interessado :)
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