GREMLINS é um conto de Natal
macabro e muito bem-humorado. O garoto ganha uma criatura estranha que todos
tomam por exótica. Ao molhá-la, ela se multiplica. Alimentando os outros depois
da meia-noite, cria uma espécie assassina e zombeteira. O diretor Joe Dante
arruma tempo, em meio à correria provocada pelos pequenos monstros que tocam o
terror na cidade, para que determinada personagem conte uma história triste,
envolvendo um pai de pescoço quebrado e entalado na chaminé pela qual deveria
descer com os presentes natalinos. Há muitas homenagens ao próprio cinema,
sendo a mais marcante delas a cena em que os gremlins assistem ao clássico Branca de Neve e os Sete Anões, com
direito a coro ressoando a música e tudo. Não faltam criaturas sendo moídas em
trituradores, atacadas a facadas pela mãe do protagonista, queimadas vivas,
assim como os próprios humanos vitimados por flechadas, mordidas, emboscadas e
outros tipos mais ou menos explícitos de violência. É um blockbuster daqueles que hoje certamente passariam por uma espécie
de esterilização para chegar às telas, sobretudo com a chancela de um grande
estúdio. Filme divertido e sinistro na medida certa para entreter e marcar uma
época.
Em ENQUANTO SOMOS JOVENS, o casal
interpretado por Ben Stiller e Naomi Watts é arrebatado pela jovialidade e o
frescor do relacionamento dos personagens vividos por Adam Driver e Amanda
Seyfried. O documentarista quarentão começa a usar chapéu, a andar de
bicicleta, a se abrir para um mundo menos rígido. Sua esposa segue o ritmo, aprendendo
dança, indo a cerimônias de purificação espiritual, etc. Há um paradoxo
instaurado na comunicação entre o velho e o novo, já que os jovens ouvem LPs,
enquanto os de meia-idade estão completamente viciados em celulares e outras
tecnologias digitais, por exemplo. No instante em que o garoto envolve o mais
experiente na produção de um documentário, o filme de Noah Baumbach exibe sua
segunda camada de importância, instaurada na discussão do próprio cinema
enquanto linguagem. Emblemática a cena do diretor controlando remotamente o
zoom para captar uma emoção fabricada. O processo de produção do filme coloca
em rota de colisão dois criadores, trazendo à tona, além de diferenças
geracionais e de formação, uma disparidade no que diz respeito à maneira como
ambos encaram o ofício de transformar ações e reações em cinema. Os
comportamentos e decisões são relativos, passíveis de ataques e defesas, nesse
filme que lança bem mais questões que respostas.
Hoje em dia, a comédia romântica
é um subgênero desgastado, talvez boa parte porque os realizadores não
conseguem se desvencilhar de seus lugares-comuns. HARRY E SALLY, a despeito de
não ser de “hoje em dia” e de não apresentar necessariamente novidades - a
começar por sua vocação de valorizar do amor enquanto sentimento capaz de
reduzir qualquer dano-, é um bom exemplo de como trabalhar dentro das
convenções sem entregar-se às suas facilidades. Billy Crystal e Meg Ryan formam
um casal improvável desde o início. Anos se passam, entre encontros e
desencontros, até que eles se tornam grande amigos. Da amizade ao desejo/amor é
um pulo. Mesmo que eles não queiram ver, estão apaixonados, curtindo cada
momento passado na companhia do outro. Os relacionamentos amorosos são vistos
no que eles têm de mais corriqueiro, mas há (e esse é o diferencial do filme)
uma fina camada abaixo da superfície que evidencia as dificuldades de manter as
ligações afetivas. O diretor Rob Reiner, assim, faz um filme divertido, bem-humorado,
no qual inevitavelmente torcemos para que os protagonistas se percebam de
verdade e entendam que a amizade já virou amor há muito tempo. O grande trunfo
aqui é evitar a canonização do sentimento como algo alheio às dificuldades e,
mesmo assim, celebrá-lo como força vital imprescindível.
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