O início de Refém da Paixão (2013) nos propõe a convivência complexa entre uma
mãe e seu filho. Devastada pelo que parece crise depressiva grave, ela dificilmente
sai de casa, é pouco mais do que um fantasma que transita pela propriedade
interiorana cujo aspecto semiabandonado (gramado por cortar e outros sinais de
desleixo) deixa notar a apatia de quem ali mora. O garoto faz o que pode,
doando tempo à mãe, fazendo dela sua missão particular. Ele acha que pode
cobrir certas lacunas que o pai deixou ao partir, mas já tem idade suficiente
para entender que em determinadas searas nada pode fazer para recuperar o ânimo
da mãe. A situação ganha tempero novo quando um foragido da justiça se abanca
na casa deles.
Na verdade, pode-se dizer que a
chegada do forasteiro, que de ameaça, gradativamente, passará a conforto e
esperança de uma reconstituição familiar, traz ao mesmo tempo o amor de volta
ao itinerário de Adele (Kate Winslet) e um modelo paterno a Henry (Gattlin
Griffith). O passado doloroso desse procurado, Frank (Josh Brolin), é
desvendado aos poucos, em flashbacks, ao passo que acompanhamos o
amadurecimento do garoto que começa a olhar com mais desejo as curvas das
colegas. É como se a partir do instante em que vê sua mãe novamente amando,
protegida por um homem, ele se sentisse pronto para de fato crescer e ser ele
mesmo um homem diante do amor e de suas instâncias.
Pena o diretor Jason Reitman tratar
tudo de maneira dispersiva, fracionada, como se o renascimento sentimental de
Adele, a descoberta inusitada de um porto seguro para Frank e o crescimento de
Henry não pudessem imbricar-se, assim amplificando-se. Há uma incômoda
pendência ao dramalhão, à saturação em detrimento dos matizes intermediários.
Se o filme não descamba para algo excessivamente açucarado, isso se deve muito
ao trabalho dos atores, que freiam o caráter um tanto piegas conferido à trama
pela maneira como ela se desenrola. O filme lembra As Pontes de Madison (1995), pela paisagem semelhante e o desenho
de um amor fadado a percalços, mas, claro, não chega perto do brilhantismo
alcançado por Clint Eastwood.
Não à toa Refém da Paixão chegou aos cinemas de mansinho, sem qualquer
alarde, ainda que dirigido pelo responsável por Juno (2007) e Amor Sem
Escalas (2009), além de ser protagonizado por dois conhecidos atores. O
caráter anêmico do todo, ocasionado em grande parte pelo desperdício dos
possíveis cruzamentos temáticos que poderiam resultar em algo verdadeiramente
profundo, fazem dele um filme multifocado e, ao mesmo tempo, negligente. Longe de ser cansativo, porém, é daqueles
longas que vemos numa boa, ainda que persista uma sensação esquisita de falta,
ou de tempo para desenvolver melhor a trama dentro da proposta de Reitman, ou
mesmo de sensibilidade para tornar complexo o que se apresenta na tela de
maneira simplória.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
0 comentários:
Postar um comentário