LIFE ITSELF é uma bela homenagem
a Roger Ebert, um dos críticos de cinema mais respeitados dos Estados Unidos.
Sem apego à progressão cronológica, o documentário entrelaça suas histórias
familiares, os primórdios da escrita e da edição muitas vezes implacável, a
ascensão enquanto crítico de cinema e a doença que lhe tirou a voz, mas não o
ímpeto de expressar-se. Não estamos naquele terreno da homenagem pura e simples
a quem se foi. Alguns entrevistados, mesmo admiradores confessos, fazem questão
de dizer que ele nem sempre era de bom trato, muitas vezes se vangloriando de
feitos como forma de ganhar alguma vantagem, sobretudo se desafiado por um
interlocutor à sua altura. Gene Siskel, com quem dividiu um famoso programa de
televisão e teve amizade repleta de rivalidade, talvez tenha sido o maior de
seus “oponentes”. Numa época em que questionamos constantemente a importância
da crítica, na era da proliferação dos blogs, é inspiradora a trajetória de
Roger Ebert, profissional que, adaptando-se aos novos tempos, fez da internet
uma tribuna para difundir opiniões e ideias acerca não apenas do cinema, mas da
vida como um todo.
MONSTER conta uma história de
tristeza e violência. Tristeza, por conta da vida miserável que a protagonista
leva, trabalhando como prostituta de beira de estrada em troca de migalhas. Lee
quer ser alguém, sentir-se amada, o que acontece quando encontra uma menina
quase tão desamparada quanto ela, com quem engata um relacionamento intenso,
porém instável. Violento, porque a personagem de Charlize Theron entra numa
sequência de assassinatos. Começa com um cliente que a estupra e tenta matá-la,
mas estende isso a todo e qualquer homem que lhe dá carona em busca de sexo
barato. Evidências do passado ajudam a entender essa mentalidade prejudicada, o
desespero que leva alguém a atos extremados. Theron está impressionante na pele
da mulher que mais parece um animal ferido. A atriz renuncia à própria beleza,
à sensualidade que lhe é inerente, para dar vida a essa pessoa surrada pela
vida, cujo sexo é explorado como meio de sobrevivência. Apenas com a namorada, a
protagonista tem momentos de ternura, nos quais consegue aproveitar o prazer
que seu corpo pode proporcionar. Tratada como mostro, Lee é vista, pela
abordagem da diretora Patty Jenkins, como um fruto compreensivelmente
apodrecido de um meio degradado.
O CIDADÃO DO ANO começa como
típica jornada de vingança do homem comum que pega em armas para fazer justiça
com as próprias mãos. O diferencial, em princípio, é a paisagem tomada de neve
e a violência que não faz muita cerimônia para aparecer, muitas vezes nua e
crua. Nada de muito original acontece até que os primeiros sinais de humor
apareçam. A graça se infiltra até virar parceira inseparável da barbárie. Essa
relação singular só não é mais interessante porque o humor nem sempre surge num
bom tom. O antagonista, por exemplo, histriônico e cheio de trejeitos, figura
quase cartunesca, é um pavão posto ali propositalmente para destoar dos
mafiosos mal encarados. A ideia é boa, de acordo com o registro adotado, mas
nem sempre funciona, já que o diretor se atém demais às suas idiossincrasias,
não estabelecendo uma relação menos banal entre ele e o todo. Quando as coisas
ficam mais definidas, ou seja, a partir do momento em que entendemos que não é
para se levar tudo aquilo muito sério, contrariando os belos e contemplativos
planos iniciais do caminhão abrindo espaço nas estradas repletas de neve, fica
mais fácil curtir. Estranho, ora no bom, ora no mal sentido, o filme de Hans
Petter Moland opta pelo deboche para, de alguma maneira, amplificar a violência
inerente ao cenário desenhado.
Adoro o Doses =)
ResponderExcluir