(500) DIAS COM ELA tem The Smiths na trilha sonora, um roteiro
esperto que utiliza muito bem o vai e vem temporal, Zooey Deschanel e Joseph
Gordon-Levitt ótimos como o casal cujo relacionamento nasce, cresce e morre na
nossa frente, referências ao cinema europeu (Godard, Bergman, etc), entre
outras qualidades. Acompanhamos o entusiasmo de Tom quando ele conhece Summer,
garota que, desde o começo, diz não acreditar em relacionamentos. O sexo é bom,
a convivência é legal, ele a faz rir, então porque cargas d’água Summer não
aceita ficar junto, assumir namoro, fazer, quem sabe, planos para casamento?
É justo ao lançar essas questões e tornar as respostas, ou melhor, as não respostas,
tão naturais, que o filme de Marc Webb se diferencia de muitos congêneres. Os
sentimentos em voga não são tratados como respostas óbvias e formatadas a
certos comportamentos, mas sim condicionados a uma série de questões,
bloqueios e anseios muito particulares, que nem sempre evanescem na vida a
dois. A cena da tela dividida entre as expectativas e a realidade em
determinado encontro dos protagonistas é um dos grandes achados do filme, bem
como a sequência musical responsável por denotar a felicidade extrema do rapaz
que acabou de passar a noite com a mulher amada.
O jovem acordado cedo pela mãe
afetuosa, uma típica matrona italiana, é o protagonista de O EMPREGO, segundo
filme de Ermanno Olmi. A vocação neorrealista se vê na maneira como a câmera
perscruta criticamente a Itália empobrecida. O menino passa por uma série de testes
até conseguir a ocupação numa grande empresa. Tímido, ele se enrabicha por uma
colega. A paixão e o primeiro trabalho marcam, a um só tempo, o crescimento
desse rapaz constantemente trajado com um sobretudo, cuja voz claudicante é
relativamente pouco ouvida em todo filme. Os demais funcionários da empresa
demonstram os ambientes laborais viciados, a opressão à qual o homem se submete
em busca de subsistência. A miséria vista em filmes italianos anteriores aqui
aparece nas entrelinhas, como uma herança cuja maldição só será parcialmente
quebrada com a penhora do suor em favor do crescimento econômico, ou seja, em
prol do capital e seus ditames. O olhar do garoto expõe perplexidade e
curiosidade em contato com a necessidade de crescer e assumir seu lugar de
adulto numa Europa efervescente e voltada ao progresso, nem que para isso precise
privilegiar uma realidade em que o lazer é exceção e o trabalho é valorizado
como dádiva.
VIVER É FÁCIL COM OS OLHOS
FECHADOS é o tipo de filme que nos arranca facilmente sorrisos. Protagonista
cativante, personagens secundários com luz própria, história muito bem contada,
registro visual bonito, atores aparentemente bastante à vontade em seus papeis,
humor na medida e certa dose de melancolia para não deixar tudo adocicado
demais. O professor interpretado por Javier Cámara empreende uma viagem para
conhecer seu ídolo, John Lennon. No caminho, dá carona a dois jovens que se
tornaram amigos, e mais, parceiros nessa jornada. A singularidade das pessoas
em cena é bem trabalhada pelo roteiro, assim como são precisas as viradas que
vez ou outra dão uma chacoalhada na missão principal, evidenciado que há dramas
humanos latentes nesse grupo que parte em busca do Beatle. Talvez seja essa
precisão que ateste ligeiramente contra o filme, a sensação de conferirmos algo
milimetricamente construído, sem espaço para arestas ou outros “detritos” que
poderiam injetar organicidade à trama, enfraquecendo assim o engessamento do
qual ela padece. Ainda assim, a realização de David Trueba tem a capacidade de
emocionar, sem apelações, de nos prender na tela e nos fazer torcer para tudo dar certo.
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