Tatiana Babadobulos é formada em jornalismo
desde 1998 e cursou pós-graduação em Crítica Cinematográfica. Membro da
Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), é apaixonada por
viagens e arte, odeia filme dublado, adora uma sessão de filme francês, mas não
abre mão dos longas de animação. É autora do blog Memória Cinematográfica e, juntamente com o colega Antonio Carlos
Egypto, do curso de pós-graduação na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado),
escreve no blog Cinema com Recheio. Sobre viagens, registra suas experiências no
Memória de Viagem.
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• Como nasceu em você a paixão pelo cinema?
Na
infância. Costumava ir ao cinema, principalmente nas férias, em Santos (litoral
paulista), com meus irmãos e primos. Minha avó também me levava bastante ao
cinema perto da casa dela, em São Paulo. E ficava maravilhada com aquela magia.
• Qual é o sentido de ser crítico nos dias de
hoje?
Crítico
tem a função de esmiuçar o que é produzido, muitas vezes até traduzir para o
público o que o diretor está mostrando na tela. Nos dias de hoje, com tantas
produções, o crítico tem a oportunidade de separar o joio do trigo, ainda que
isso não seja essencial para direcionar o público.
• Qual sua posição frente a nova crítica de
cinema, que germinou na era dos blogs e das revistas virtuais?
Com
o encolhimento dos espaços nos jornais e nas revistas, a internet tem espaço
ilimitado para a discussão, além de o leitor poder interagir com o autor e
enriquecer a discussão da obra.
• Como vê o academicismo de certas linhas de
pensamento na crítica cultural? Acredita que a dissecação de um filme, tornando
a análise o mais objetiva possível, tende a enfraquecer a importância da
análise subjetiva?
Não
acredito que enfraqueça. É uma maneira menos arrogante de se falar de uma obra.
O academicismo é válido, claro, mas a linguagem direta sempre tem a vantagem de
atingir um público maior e de aproximar a crítica do leitor/espectador, de modo
que o espectador se identifique com o que o crítico pensa/escreve.
• Quais são seus críticos de cinema
favoritos? Os de outrora, que influenciaram ou ainda influenciam seu trabalho,
e os de agora, que acredita sustentarem com talento a causa da crítica de
cinema.
Paulo
Emílio Salles Gomes é o precursor, de modo que não dá pra estudar a crítica
cinematográfica sem passar por seus textos. O mesmo acontece quando falamos da
crítica internacional, como nomes como François Truffaut e Pauline Kael. Hoje
admiro Luiz Zanin Oricchio, Neusa Barbosa, Sergio Rizzo...
• É célebre a história de Antonio Moniz
Vianna parou de escrever quando da morte de seu maior ídolo, John Ford, pois
acreditava que nada tinha mais a acrescentar como pensador diante da crise
criativa contemporânea. Qual diretor cuja morte já lhe provocou semelhante
desalento?
Não
sei dizer, acho que por enquanto nenhum me provocou desta forma.
• A perda de espaço de textos críticos nos
veículos impressos é sintoma da falta de interesse público, ou a busca ávida
dos veículos pela adequação a tempos de pouca reflexão?
Acredito
que há uma crise em todos os sentidos. A falta de espaço nos jornais, por
exemplo, acontece devido à falta de investimento publicitário, que atualmente
migrou para as mídias eletrônicas. Papel está caro para bancar sem patrocínio.
Internet é um modo de baratear a disseminação de informação. Outra crise é do
interesse. Ou melhor: da falta de interesse. Há pesquisas que mostram que o
leitor não passa do primeiro parágrafo. Ele quer textos curtos e o máximo de
informação em uma mesma página, por exemplo. Ele quer saber, mas não quer se
aprofundar. E profundidade, para o exercício da crítica, é fundamental.
• Discutir "comércio versus arte"
ainda é válido quando percebemos qualquer cinematografia?
Independentemente
de ser arte ou blockbuster, o cinema precisa sobreviver. E ele sobrevive com o
comércio. A vida capitalista é assim. Não dá para separar uma coisa da outra. O
que não dá é para achar que os cineastas só produzem os tais
arrasa-quarteirões, já que eles dominam as salas, enquanto há muita coisa boa
sendo produzida e muitas vezes esquecida pelos exibidores.
• Como vê o cinema brasileiro atual?
O
cinema brasileiro está mal. Desde a Retomada houve uma boa melhora, mas poucas
produções levam o público às salas. O público que vai, leva em conta o star
system, vindo das telenovelas. Mas o público também é culpado por preferir
prestigiar o besteirol em detrimento de boas produções, principalmente na área
de documentário. Dos cerca de 80 filmes nacionais produzidos, quantos vão às
telas? Com exibidores internacionais, nem a cota de tela tem resolvido. Quantos
são realmente prestigiados? Outra questão é quanto à produção. Como o cinema
nacional sai pago quando é lançado (fruto das leis de incentivo), o que se vê
são produções pouco ousadas, com narrativas tolas e atores não muito envolvidos
com o tema. É triste saber que o cinema argentino, por exemplo, está muito
melhor que o brasileiro. Mas, ao mesmo tempo, é bom saber que é possível chegar
lá, mesmo com baixo orçamento. Talento nós temos, só é preciso saber
empregá-lo.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Obrigado por mais uma ótima entrevista, Celo.
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