Vivido por Forest Whitaker, o
protagonista de Ghost Dog: Matador
Implacável é um dos mais interessantes criados por Jim Jarmusch. Simples,
com menos idiossincrasias, embora ainda assim bastante consistente. Assassino
contratado, ele utiliza as artes marciais e é leal ao seu mestre Louie, mafioso
que lhe salvou a vida. O filme se desenvolve em torno de um duelo. De um lado,
Ghost Dog e sua arte samurai, códigos e preceitos. Do outro, os mafiosos que
atuam cruelmente, mas também com ética e rigor. Há entre eles respeito e
admiração, ingrediente generosamente adicionado por Jarmusch.
Os pontos altos do filme, os mais
metafóricos e sensíveis, se dão na interação de Ghost Dog com dois personagens:
Pearline, garotinha a quem ele empresta o livro Rashomon, e o francês Raymond,
vendedor de sorvete que não fala uma palavra de inglês, mas que consegue, de
alguma maneira, entender e fazer-se entender. Os três mantém cumplicidade,
quase um pacto inconsciente, no qual cumprem funções como num ciclo
complementar da vida.
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O protagonista de Ghost Dog: Matador Implacável guia sua
conduta pelo Hagakure, livro de
sentenças sobre as atitudes do vassalo perante o soberano, escrito por Yamamoto
Tsunetomo, samurai nascido em 1659 e falecido em 1719. Esse personagem de Forest
Whitaker se assemelha ao bando antagonista do qual seu “mestre” faz parte, pois,
assim como ele, também segue um estrito código moral. Gângsteres e samurais são
tipos anacrônicos. Os remanescentes vivem o crepúsculo de uma era, período
semelhante àquele em que os guerreiros japoneses e sua cultura definhavam frente
aos novos tempos.
Jim Jarmusch parte desse
protagonista, cujas expressões facial e corporal sobrepujam a verbal, não para
criar um conto moralista ou algo que o valha. O que importa é como as coisas
vão se desenrolando a partir da perspectiva desse solitário que compreende a
morte como uma presença constante e natural. Ghost Dog: Matador Implacável transpõe a essência da retidão
samurai para uma realidade atual e ocidental, personificando-a nessa figura
negra (isto posto, sobretudo, por ele carregar algo da cultura afro-americana) que,
assim como os soldados orientais de outrora, prefere morrer a viver em desonra.
Ou seja, Ghost Dog é um outsider, exatamente
por ser ético.
Mais um para minha extensa lista :(
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