FOXCATCHER não é um filme sobre
luta, embora o embate físico seja o catalisador dos encontros. O que está em
jogo ali é a formatação de um modo de pensar estritamente norte-americano, com
aquele discurso patriótico que beira o fanatismo, a relação com armas de fogo,
a necessidade de ganhar e superar limites sempre. O personagem do
irreconhecível Steve Carrel condensa tudo isso, é um cara que precisou a vida
toda comprar as coisas, as pessoas, o status e até mesmo as relações. Reclama
da mãe que pagou um menino para ser seu amigo no passado, mas não hesita em
adquirir por meio do dinheiro a posição de treinador e mentor, sobretudo do
campeão olímpico que procura desvencilhar-se da sombra do irmão. Bennet Miller
fez um filme assustador no que diz respeito aos comportamentos limítrofes
daqueles que buscam a vitória ou incutir no outro suas próprias convicções. Não
indicar esse filme à principal categoria do Oscar foi outro (grave) erro da
Academia este ano.
PSICOSE cresce ainda mais visto
em tela grande. A obra-prima de Alfred Hitchcock se notabilizou com o passar do
tempo por diversas questões. Temos uma protagonista que morre antes do meio do
filme, algo bastante incomum; a grande cena do chuveiro, certamente uma das
mais influentes da história, exemplo de montagem, de utilização de som, ou
seja, uma aula de 44 segundos sobre as possibilidades cinematográficas; a
atmosfera que toma conta do filme com as lentes se virando para Norman Bates,
personagem imortalizado pela interpretação assustadora de Anthony Perkins; a
clara influência do expressionismo alemão, sobretudo no que diz respeito ao
jogo de luzes e sombras; o clima de suspense que não cessa; o desenho
psicológico dos personagens, etc. Há muito que dizer desse filme que Hitchcock
desenvolveu em meio a uma crise. Ele que sempre soube como levar seu público,
como conduzir suas sensações para obter o efeito necessário, enfrentava
dificuldades com a plateia. Até que resolveu, outra vez, basear-se num livro
sem qualquer peso, extraindo dele uma das realizações mais importantes de sua
filmografia, sucesso tanto de público quanto de crítica.
Em SE MEU APARTAMENTO FALASSE
difícil é apontar o que há de melhor. Temos nele o texto e a direção impecáveis
de Billy Wilder, diretor que durante toda carreira presenteou seus atores com
personagens repletos de possibilidades, guiando-os entre as tramas muito bem
arquitetadas de seus roteiros. Wilder entendia como poucos de timming, tanto cômico quanto dramático.
Dificilmente as obras dele perdem o ritmo, pois há uma precisão muito rara na
forma como suas histórias se desenrolam em relação ao tempo, seja ele o real ou
o cinematográfico. Há também um time respeitável de talentos, desde Fred
MacMurray, chefe inescrupuloso e machista, passando pela beleza e a vulnerabilidade
da jovem Shirley MacLaine, chegando até a atuação irrepreensível de Jack Lemmon,
talvez seu maior trabalho, como o homem que empresta o apartamento aos chefes
em aventuras extraconjugais. O filme, nos mais das vezes uma comédia romântica,
tem lá seus momentos de drama, sobretudo quando detido na fragilidade da
ascensorista ludibriada pelo patrão e na solidão do clownesco personagem de Lemmon. Uma obra-prima.
Desses, assisti apenas PSICOSE. Certamente, uma das maiores obras do cinema.
ResponderExcluirSobre os outros, já para a lista de futuras sessões.
Grande abraço.