sábado, 22 de setembro de 2012

Super Nada


A sensação no início de Super Nada é que algo muito bom sairá da observação do cotidiano daquele ator longe dos holofotes e do tapete vermelho que o senso comum teima em associar ao ofício da representação. Vimos recentemente o cinema nacional debruçar-se sobre o mesmo tema, em Riscado, de Gustavo Pizzi, onde Karine Teles reinava soberana na tela com sua atriz amargurada entre apresentações em aniversários e a defesa diária de mensagem ao vivo. No filme de Rubens Rewald, a dinâmica proposta em torno do personagem de Marat Descartes é semelhante, pois o acompanhamos durante a rotina fatigante dos inúmeros testes, as aulas de teatro, as dificuldades financeiras, enfim, no périplo de um trabalhador brasileiro em busca da sobrevivência pelo que ama. 

Guto, essa figura central, tem uma espécie de ídolo da TV, o Super Nada, interpretado por ninguém mais ninguém menos que Jair Rodrigues, baluarte da música popular brasileira. Um herói malandro, safo, digno do “super” pela capacidade na lida com a rotina, mexendo-se e sobrevivendo entre tantas adversidades. Pronto, o paralelo entre fã e ídolo está construído, até de maneira bem simplória e, por que não, óbvia. Mas, sabedor dos recursos dramatúrgicos de seu ator principal, pelo qual a câmera parece magnetizar-se, o diretor acerta nesse movimento inicial, no qual faz tudo gravitar em torno de Marat, esse praticamente desconhecido das massas (afinal não fez novela), mas de grande consideração tanto no teatro quanto no cinema. Pena serem poucos e breves esses momentos de inspiração. 

No desenrolar, Super Nada entorta, direcionando-se para o abismo. Não que a guinada seja brusca, ela é construída com requintes de crueldade e, por isso mesmo, lentamente. À medida que transcorre, ele abandona qualquer profundidade pretendida no início, e cai num registro até difícil de definir. A expressão “pastelão” não me parece exagero. E o que deflagra essa derrocada é a sequência de Guto interagindo com seu ídolo, quando de um teste para sua participação especial no programa de televisão. Todo o desdobramento leva a lugar nenhum, provoca risos involuntários, dando o empurrão necessário para que o filme caia de vez em terreno infértil e inabitável. O diretor parece não perceber, por exemplo, nessa malograda passagem, que ele priva o espectador de todo e qualquer envolvimento emocional com alguém de início trágico e logo quase patético. 

Super Nada cai numa banalidade só não total, repito, pelo talento de Marat Descartes, o que de melhor o filme tem a oferecer. Seu drama cômico poderia ser clownesco, isso caso restassem ao filme atributos para além da pouca inspiração surgida em meio a tanto caos e descontrole. Falta a Rubens Rewald um olhar mais apurado sobre o ritmo interno e as implicações cinematográficas de algumas escolhas contestáveis do roteiro. Também inexiste sensibilidade para lidar com um ator cujo desempenho está bem acima da obra que protagoniza. No fim, a mensagem verbalizada de Super Nada, de que não devemos nos preocupar em demasia com nada, pois, no frigir dos ovos, é tudo uma porcaria sem importância mesmo, o sublinha ironicamente. É, realmente não tá fácil pra ninguém. 


Publicado originalmente no Papo de Cinema

Um comentário:

  1. Celo!
    Começo promissor que segue ladeira abaixo... Que dó, que dó.


    Abraçosss

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