Desde o sucesso inesperado de Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito
(2008) tem-se destacado um gênero no Brasil: o filme espírita. A afirmação veio
com o estrondoso sucesso de Nosso Lar e
os bons desempenhos comerciais de seus co-irmãos. Não há dúvida, o cinema espírita vem garantindo
sua fatia muito mais pela identificação do público com as tramas do que
necessariamente por eventuais qualidades narrativas. Antes que as primeiras
pedras venham, cabe um alerta: isto é uma crítica cinematográfica, propõe-se a análise
da obra dos homens, não da suposta obra de Deus, ok?
Dito isso, E a Vida Continua... pega carona na onda, sem qualquer mérito
enquanto cinema. Baseado num livro psicografado pelo médium Chico Xavier, que seria,
por sua vez, ditado pelo espírito André Luiz, centra-se num relacionamento forçado
entre dois pacientes terminais, a jovem Evelina e o já balzaquiano Ernesto, irmanados
no infortúnio de uma doença, logo parceiros nas primeiras vivências além da
vida. Juntos, aprenderão os estágios pós-morte, os conceitos da reencarnação e
outros meandros do espiritismo.
O maior pecado de E a Vida Continua... é, exatamente, o
caráter didático que o preenche. Ao passo em que os desencarnados são instruídos
no novo plano, submetemo-nos, enquanto espectadores, a pílulas “elucidativas” da
crença. A música melosa e
sentimentalista emoldura situações à beira do risível, soando assim, imagino, até
mesmo aos seguidores dos preceitos legados por Allan Kardec. Eveline vê-se no
centro de um melodrama dos mais chinfrins, com assassinatos, adultérios,
submissões, ou seja, vícios e virtudes, encenados de maneira doutrinária.
As interpretações de E a Vida Continua... merecem capítulo à
parte, pois todas em tons erráticos. Exemplo disso é o trabalho equivocado de
Luiz Carlos Feliz como o marido da protagonista, cujo desempenho monocórdico em
nada auxilia seu personagem de construção pífia. Cai na caricatura, sinal não
só de ineficiência do intérprete, mas, e a julgar pela ruindade geral (vista
também em atores como Lima Duarte, Ana Rosa, e outros), da evidente falta de tato
na direção de atores.
E a Vida Continua..., do ator e diretor Paulo Figueiredo, não
poderia ser mais desastroso, pois, sobretudo, preocupado em capitalizar sobre a
fé e seus seguidores. Toscamente decupado, montado de maneira frouxa, de
dramaturgia frágil, e nulo mesmo enquanto palestra religiosa, ele desmerece até
a alcunha de “amador”, dadas suas inúmeras precariedades. O limbo da cinematografia
nacional está de bom tamanho a algo assim.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Modismo no cinema é SODA!
ResponderExcluirTodos querem a receita do bolo que deu certo.
Abraçosss