Em
tempos de massificação, salas em shoppings, programação uniforme e outras
tantas constantes entre exibidores, é um alento perceber trabalhos assertivos
como o realizado pelos curadores da Sala
de Cinema Ulysses Geremia, localizada no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, em Caxias do Sul. A
cidade da Serra Gaúcha, apelidada carinhosamente de “pérola das colônias”, tem
fama de progressista, mas, mesmo assim, ainda engatinha quando o assunto é
cinema, seja na produção ou na valorização do mesmo enquanto arte.
Juntando
os dois maiores complexos comerciais da cidade, são 12 salas de exibição
cinematográfica com o que há de mais moderno. Boas instalações, sabores
variados de pipoca, estacionamento com segurança, 3D e tudo que as atuais
tendências do “ir ao cinema” englobam. Então por que esse espaço acanhado, de
boas (mas não excelentes) condições técnicas, é o mais importante dos locais propostos
a exibir cinema em Caxias do Sul? São diversos os fatores, mas o principal
deles é mesmo a qualidade da programação, não subserviente aos desígnios de um
mercado voltado à lotação desenfreada.
Com
capacidade para 100 pessoas, a Sala de
Cinema Ulysses Geremia abriga sessões em DVD às tardes, com o “Matine às
3”, projeto que visa fidelizar determinada parcela do público, não raro
instigada a frequentar as sessões de inéditos, que ocorrem das quintas aos
domingos, sempre com filmes de circuito (35mm) e média de 200 espectadores por
semana. Um filme pouco conhecido, como A
Fonte das Mulheres, tem cerca de 150 espectadores por semana, e títulos de
maior apelo, como A Árvore da Vida ou
A Separação, chegam a ter 250
espectadores semanais.
Dentre
os responsáveis pelo vigor da Sala de
Cinema Ulysses Geremia, destacam-se seus dois curadores, o filósofo,
escritor e também coordenador da Galeria
de Arte Gerd Bornheim, Gilmar Marcílio, e o publicitário Conrado Heoli. Quando
abraçaram a dura tarefa de resgatar um espaço até então incipiente, escravo de
DVDs já lançados, eles sabiam das dificuldades. Impulsionados pela paixão que
nutrem, arregaçaram as mangas e hoje estão satisfeitos, mantendo-se sempre
atentos à necessidade de reforçar e expandir essa linha que vem dando certo. A
Sala teve considerável aumento de espectadores desde que alterada a proposta de
seleção dos filmes e reforçada a divulgação. Os freqüentadores, antes
minguados, agora abundam em sessões das mais variadas e nos debates que ocorrem
logo após algumas delas.
Para
cada mês, ou seja, 02 filmes, Conrado e Gilmar assistem por volta de 10 títulos
em busca daqueles que melhor se encaixam nessa nova proposta curatorial. Conrado
Heoli resume bem a alegria com o atual momento: “A resposta do público não poderia ser melhor, temos cada vez mais
espectadores e o retorno que recebemos direta e indiretamente é muito positivo”.
Cumprindo imprescindível papel à formação de público, sendo alternativa aos cinéfilos
e apreciadores, principalmente os da Serra Gaúcha, a Sala de Cinema Ulysses Geremia é um bom exemplo de que basta boa
vontade, perspicácia, e uma pitadinha de amor no momento de pensar sessões para
que, mesmo longe dos blockbusters, se
consiga algo como o alcançado por esses bravos defensores do bom cinema em
Caxias do Sul.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Que bacana esse Cinema e na minha opinião não deixa nada a desejar aos" maiores" e mais conhecidos pelo público.
ResponderExcluirEssa atmosfera mais intimista atrai um público também e esses filmes citados, em especial A Fonte das mulheres e Separação são verdadeiras maravilhas e merecem ser exibidos e divulgados.
Sucesso sempre.
Celo!
ResponderExcluirMuito bom falar aqui no blog sobre a Sala. Um espaço que há poucos anos estava jogado às traças, hoje proporciona sessões agradáveis e com a presença de público cada vez mais fiel.
Abraçosss