Em LA SAPIENZA os personagens
falam diretamente à câmera, como se o interlocutor fôssemos nós, espectadores.
Em crise, matrimonial e profissional, um arquiteto francês parte com a esposa
para o interior da Itália, pois planeja efetivar o estudo sobre uma de suas
referências. Há uma frieza quase total no relacionamento do casal, eles mal se
olham, interagindo burocraticamente. Tudo muda depois de encontrarem dois
irmãos, uma menina fragilizada por determinada doença (talvez de fundo somático)
e um garoto cheio de energia que sonha em ser também arquiteto. O cineasta
Eugène Green faz um filme lento, no qual as imagens permanecem na tela tempo
suficiente para delas apreendermos o que na pressa deixamos escapar.
Progressivamente os mais jovens mostram aos mais velhos a chama que ainda pode
inflamar suas vidas. Fala-se muito a respeito de luz, nos contextos literal e
simbólico. Formalmente rigoroso, caudaloso, é o tipo de filme que pode afugentar
alguns, enfadar outros tantos, mas que oferece a recompensa devida a quem
embarcar na construção cinematográfica de Green, que dá conta de combater a
aridez, o embotamento decorrente das tristezas cotidianas, com a beleza
intrínseca à criação, aos encontros e às trocas.
Protagonista de LÉOLO, Léo se crê filho de um italiano onanista que contaminou os tomates esmagados por sua mãe
após um acidente. Isso lhe veio por meio de um sonho. Preferindo ser chamado de
Léolo, esse garoto vive às voltas com a própria imaginação para afastar a
loucura hereditária que acomete quase toda a família. Narrando em prosa e
verso seu cotidiano de experiências, entre as inerentes a qualquer criança e as
bastantes singulares, ele cria um mundo próprio, no qual se refugia da
realidade. Fácil se afeiçoar a esse menino que funciona como um dos pilares da
casa, o outro é a mãe, sempre tão afetuosa com ele, mesmo em momentos bizarros
como a vigília para garantir a evacuação, algo obsessivo para o pai. Aliás,
mesmo num ambiente degradado como aquele, o que não falta é afeto, sentimento
tornado âncora que mantém todos unidos, até onde possível, contra a patologia
que ameaça a sanidade. O tom de fábula ameniza ligeiramente a miséria daquela
gente, mas não dá conta de segurar a torrente de tristeza que marca o
encerramento desse filme em que a esperança quase vence as probabilidades, quase.
TUDO VAI FICAR BEM é um desastre
quase completo. Não fosse a engenhosa cena do acidente, em que o protagonista
transita do alívio ao desespero em questão de segundos, o filme seria
descartável de todo. Há um privilégio às emoções fáceis, à autocomiseração e à
lamúria, opção que não encontra nos atores, e muito menos na direção, algum
registro que dê conta de minimizar os danos. A recorrência das várias
transições do tipo “tanto anos depois”,
expediente que visa marcar a passagem do tempo, expõe a fragilidade do roteiro.
No que diz respeito às atuações, não há um destaque sequer, ao menos não
positivo. James Franco, que virou caricatura de si mesmo, escancara suas
limitações, sempre recorrendo ao franzir do cenho e às caretas para tentar
transmitir a angústia de seu personagem. Já a de Charlotte Gainsbourg
só chora, desenha e, de vez em quando, solta alguma pílula que denota fé. Fosse
obra de um diretor estreante, a precariedade estaria, até certo ponto, ao menos
justificada. Mas, não, estamos falando de Win Wenders, um grande cineasta que
já nos deu obras-primas, como Paris,
Texas, mas que, infelizmente, não vem fazendo jus à própria trajetória.
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