A assinatura do diretor Tim Burton
surge logo no início de Batman – O
Retorno. Afeito a tipos estranhos, gente posta à margem – seja por particularidades
físicas ou mesmo comportamentos fora do “normal”, o regente dessa segunda
incursão do Homem-Morcego pelas telonas, não por acaso, parte da construção do
antagonista. Nascido diferente, irascível, Pinguim fora largado à própria sorte
num esgoto fétido por pais burgueses, incapazes de conviver com as
idiossincrasias de seu primogênito, que, então, cresceu em meio aos dejetos de
Gothan City, nutrido de raiva e um bom tanto de carência. Tim Burton parece
deliciar-se legando ao bizarro vilão o papel de destaque.
Verdade seja dita, em Batman – O Retorno o herói é um
coadjuvante de luxo, pois sutilmente (ou não tão assim) escanteado ante a
proposta de investigação diretiva, muito mais preocupada com a dualidade dos
vilões. O Batman encarnado por Michael Keaton é apenas uma antítese decorativa
da desordem surgida para, paradoxalmente, purificar a cidade atolada em sujeira
e gente corrupta. Pena as escolhas de Burton, potenciais alavancas, perderem
força e esgotarem-se prematuramente. Que interessante caminho mostrar um homem (o
empresário Max Shreck), dotado “apenas” de ganância e inteligência, controlando
bandidos, a priori, incontroláveis. É claro, não fosse percorrido com tanta preguiça,
entrecortado por um tipo de humor muitas vezes anêmico, aliás, presente em todo
filme.
Batman – O Retorno remete a algumas das temáticas prediletas de Tim
Burton e, infelizmente, também aos seus momentos menos inspirados. Tudo é muito
falso: os cenários, as interpretações, e a própria encenação que poucas vezes transcende
a observação satírica das coisas. Burton sai-se melhor quando estabelece
contrapontos. Batman – O Retorno é,
ainda, versão jogada dos quadrinhos para as telas, sem muito senso de adaptação
ou respeito às diferenças entre os meios. Claro, é proposital, mas não dá liga.
Por certo Batman – O Retorno guarda lá seu charme, e muito dele vem da
deliciosa Mulher-Gato de Michele Pfeiffer e do inesquecível Pinguim defendido
por Danny DeVito. Além disso, não dá para negar láureas a Tim Burton por sua
fidelidade estilística, aqui certamente presente de maneira diluída, porém não
tão imperceptível assim. Numa Gothan City essencialmente fake, filmada em estúdio, repleta de situações ligeiras e resvalões
em assuntos que se melhor abordados confeririam profundidade ao espectro
narrativo, nada mais natural a resultante ser mero entretenimento, divertido e
agradável, porém, inofensivo.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celo!
ResponderExcluirInteressante ler um texto sobre este Batman tendo visto o filme há tanto tempo... Pouco permaneceu em minha memória além do bizarro Danny DeVito e do "Meow" da Michele Pfeiffer, incrivelmente linda.
Não sei se voltarei a incursionar pelos filmes da série anteriores ao Nolan... Quem sabe um dia!
Grande abraço!!
Celo!
ResponderExcluirEsse filme tem cheiro de infância e "Tela Quente". Mas, fora a nostalgia, enquanto obra cinematográfica, creio que compartilharia de sua visão se o assistisse novamente.
Grande abraço.