De que maneira se continua um
filme do porte de O Bandido da Luz
Vermelha? Como ecoar no presente questões político-sociais altamente
identificadas com os anos 1960, sem parecer um resmungão parado no tempo?
Helena Ignez e Ícaro Martins, baseados no roteiro do já falecido Rogério
Sganzerla, conseguem, a meu ver, superar esses e outros desafios em Luz nas Trevas, A Volta do Bandido da Luz
Vermelha. Eles capturam a essência do antecessor, reverenciando-o em cena
aberta com originalidade.
O bandido está na cadeia,
mitigando sua estadia com boas refeições, visitas íntimas e o alcance de uma
consciência superior. Continua aquele iconoclasta inconfundível, bradando
contra o sistema penitenciário com a mesma verborragia empregada no
desagravo aos políticos. Surge Tudo-ou-Nada, seu herdeiro. Paramentado tal o
pai, ele parte numa jornada existencial e delinquente, na qual enreda a
namorada. Tudo-ou-Nada é o personagem de Paulo Villaça retrabalhando para nossa
época, paradoxalmente com os mesmos signos que fizeram de O Bandido da Luz Vermelha um dos mais importantes do cinema
brasileiro. Enquanto isso, o Luz original (vivido agora por Ney Matogrosso) amadurece
seu plano de fuga, profetizando novos tempos.
Luz nas Trevas, A Volta do Bandido da Luz Vermelha é homenagem
desbragada, consegue retomar questionamentos sem anacronismo e atualiza o mito
ao promover transição entre o velho e o novo. Entretanto, segue esquadrinhando
o círculo vicioso impingido ao terceiro-mundista, este dominado por diversos poderes. O fogo expurgatório e a música que lava a alma sinalizam anárquica
luminosidade no fim do túnel, em contraponto ao suicídio da retórica no filme de Rogério Sganzerla. Otimismo próprio de nossa época, em
tese, mais branda. Bela realização, sem dúvida.
Interessantes apontamentos, Celo! Lembro-me de quando soubemos da produção, lá se vão alguns anos, e ambos ficamos bastante entusiasmados - você ainda mais, tamanha sua admiração pela obra original.
ResponderExcluirAinda me deixa frustrado, no entanto, as limitações em conseguir que filmes como este sejam exibidos e vistos. Salve o Canal Brasil.
Falou bem, Kon. "Salve o Canal Brasil". Pena a distribuição deficitária que filmes de menor porte têm (e isso não é exclusividade brasileira).
ResponderExcluirAbraçosss