Tou quase achando VINGADORES: ERA
DE ULTRON melhor que o primeiro filme do grupo da Marvel. Desta vez, a missão é
combater uma inteligência artificial que, em princípio, foi projetada para ser
uma espécie de salvaguarda da paz mundial. A ação continua opulenta, às vezes
até mesmo exagerada, como na sequência inicial, feita claramente para a gente
já entrar em 220v no filme. Mas, em meio a explosões e efeitos especiais,
surgem algumas complexidades interessantes que colocam os heróis na berlinda.
De alguma maneira, eles descem ao nível dos meros mortais, pois deixam aparecer
suas fragilidades, seja em virtude da própria e incontrolável natureza (como no
caso do Hulk), da impossibilidade de viver em tempos de calmaria (Capitão
América), da luta contra o próprio ego (Homem de Ferro), e por aí vai. Sobre a
trama, ela começa muito bem, o vilão é forte o suficiente para fazer frente aos
Vingadores, mas a solução se dá de maneira menos satisfatória, com tudo meio
corrido. A vitória é menos importante que a contenção da bomba projetada por
Ultron para acabar com o planeta. Contudo, entre mortos e feridos, uma boa
sequência para a Marvel no cinema.
O apagar das luzes de uma rica
família carioca é visto literal e metaforicamente na primeira cena de CASA
GRANDE. Ali já dá para perceber que não estamos diante de algo banal, passível
de se perder na memória tão logo acabe a sessão. O desenrolar prova a impressão
inicial, mostra uma radiografia contundente da sociedade brasileira, sobretudo
no que diz respeito às tensões entre as classes mais e menos favorecidas. Os
ricos precisam se adaptar aos novos tempos, mas carregam consigo preconceitos e
outros ranços feudais que não os deixam ver a periferia que circunda suas
mansões hermeticamente fechadas à realidade. O discurso é contundente, o olhar
é perceptivelmente ferino aos que procuram tão e somente a manutenção de suas
regalias, muitas vezes históricas. Mesmo assim, não há demonização de ricos e
santificação dos pobres, o longa não se presta a simplificar, mas sim a
problematizar. As interpretações, o estilo visual, o roteiro, tudo conflui para
a construção de um panorama tão íntimo quanto amplo. Em suma, um filme não
apenas acima da média, mas necessário. Daria uma bela sessão dupla com O Som ao Redor, de Kléber Mendonça Filho.
Parece que a câmera não está
capturando nada de interessante em CLUB SANDWICH. Mãe e filho num hotel meio
deserto, fora da alta temporada. Da piscina para o quarto, do quarto para a
piscina. Aos poucos, porém, percebemos que há uma atenção especial e sutil aos
corpos. O garoto, recém-saído da puberdade, talvez por ter a mãe como única
mulher próxima, toma seu corpo como erótico, algo que vai mudar quando ele
conhecer uma garota tão interessada em ingressar na vida adulta quanto ele. O
diretor Fernando Eimbcke preza pelo ritmo lento, no qual os chamados tempos
mortos desempenham papel fundamental. Ao passo que o filho se interessa pela
menina da sua idade, a mãe expõe um ciúme às vezes até meio ridículo, medo de
perder aquele com quem mantém um vínculo de muita proximidade. Essa interação
entre os personagens não serve apenas ao que está sendo contato, mas, em
virtude da forma como tudo flui, também funciona para que consigamos
conjecturar algo do passado deles. Assim como os longas anteriores de Eimbcke, Temporada de Patos e Lake Tahoe, aqui somos convidados a
buscar nos detalhes da narrativa compassada aquilo que o cinema hegemônico nos
entrega (quando entrega) de bandeja.
0 comentários:
Postar um comentário