Brigitte (Isabelle Huppert) é uma
mulher do interior. Com o marido, ela cria gado de corte e também para vencer
concursos pecuários, sentindo cada vez mais o peso do tempo transcorrido que
acentua o lado nefasto de sua rotina. Vê-se estagnada, mesmo longe das
dificuldades físicas impostas pela vindoura terceira idade, ou seja, ainda
plena de forças para perseguir desejos que, por certo, conflitam com a personalidade
mais pacata do marido, este feliz em meio à lida campestre. Numa festa de
adolescentes, ocorrida na propriedade vizinha, ela se vê enredada menos
propriamente pelo jovem com quem flerta e mais pela possibilidade de acessar
novamente sua juventude de espírito.
Um Amor em Paris (2013) é uma comédia. Como é bom ver Isabelle
Huppert, atriz de inegável talento, entretanto bastante presa ultimamente ao
que chamo de “efeito A Professora de
Piano” (por mimetizar em outros papeis o tipo esvaziado de emoções criado
por Michael Haneke), interpretar alguém de concepção mais leve, dotada de
anseios, dúvidas, zonas sombrias, claro, contudo de atitude mais calorosa
frente aos contratempos. Enquanto vaga por Paris com o álibi de buscar a cura
para um problema de pele, sua personagem entra de cabeça num processo de
autoconhecimento, orgânico, sem espetacularização ou dramatização para além da
conta.
O diretor e roteirista Marc
Fitoussi evita qualquer artifício que desvie o foco da pequena jornada
existencial da protagonista. Brigitte não é movida pela certeza, ao contrário, tateia
novidades por estar imersa em dúvida. Essa natureza é responsável por tornar
suas escolhas simpáticas ao nosso olhar, mesmo aquelas passíveis da reprovação
de alguns. Brigitte interage com o mundo estranho ao seu habitual como se dele
extraísse forças não para uma fuga, mas para redescobrir motivações bastante
particulares. E, também é importante pontuar, mesmo que a trama transcorra
entre o campo e a cidade grande, as diferenças geográficas e, por consequência,
culturais, são beneficamente insuficientes para definir o descompasso na
relação do casal.
A parte derradeira, bem como o
encerramento em si, se dá menos centrado em Brigitte, pois generoso também ao
protagonismo de Xavier, o marido vivido por Jean-Pierre Darroussin. Se até
então servia como principal coadjuvante, ele passa a ganhar importância
equivalente à da esposa, deflagrando seu próprio processo de reconciliações ocorrido
em paralelo às desventuras dela pela Cidade Luz. Um Amor em Paris é daqueles filmes que provocam sorrisos, sem para
isso comprometer a seriedade de observações maduras e pertinentes a respeito da
difícil conciliação entre realização pessoal e as necessidades dos
relacionamentos.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
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