O lirismo é o atributo principal da linguagem de O ÚLTIMO POEMA DO RINOCERONTE. A triste história do
casal separado por anos, em virtude de uma vingança, tendo como pano de fundo a
revolução islâmica, é contada com um pé na realidade e o outro no
simbolismo. O homem sai quase catatônico
da cadeia depois de trinta anos encarcerado. Assim como ele, os demais
personagens são reduzidos ao mínimo de expressão, o que incomoda de certo ponto
em diante. Tudo é enfraquecido por esse tom monocórdico, quebrado vez ou outra
pela inserção de algum elemento que faz emergir a dor de maneira poética. As coisas
vão se acontecendo sem muito a acrescentar ao prólogo. A fraqueza diante da
impossibilidade de apagar a angústia da memória, assim como a constatação da
perenidade das feridas que não deixarão de sangrar, são instâncias basilares à
trama. Contudo, uma sensação de vazio permeia boa parte do que acontece no
filme, não necessariamente a do tipo existencial, embora as pessoas nele se
comportem como autômatos, mas relativa à falta de expedientes menos
edulcorados. A pretensa poesia, contrário ao intento, acaba embotando as coisas,
reduzindo os danos da realidade em prol da evocação de uma beleza
paradoxal.
O QUARTETO FANTÁSTICO deixa a
desejar em alguns momentos, sem dúvida. Contudo, está longe de ser ruim como
andam dizendo por aí. Vou além, é muito interessante. O garoto determinado
desde cedo a ser cientista, o amigo fiel que assume o sonho alheio como seu, a
menina pragmática escondida atrás dos padrões, o rebelde que contesta o pai
para obter atenção, são todos personagens bem construídos, uns mais outros
menos, é verdade, mas, ainda assim, com um nível de maturidade estranho aos
filmes de heróis. Até eles se confrontarem com o Doutor Destino, temos um drama
com ares de ficção científica, uma narrativa consistente que, embora faça
concessões, carrega a singular visão do diretor. Isso claramente é descartado
quando a ação toma conta, quando evocado um heroísmo mais óbvio. A partir daí
as coisas se tornam um tanto quanto banais e os conflitos se resolvem
facilmente. Esses dois momentos distintos podem ser explicados pelas
divergências de produção que vieram a público, ou talvez nem tanto. Fato é que,
mesmo derrapando no fim, a realização de Josh Trank merece bem mais
reconhecimento do que vem tendo, pois não é mau cinema, muito pelo contrário.
A primeira cena do novo MISSÃO
IMPOSSÍVEL dá uma ideia do que teremos pela frente. O espetacular e o
improvável costuram o filme de Christopher McQuarrie, sobretudo no que diz
respeito às cenas de ação. Tiroteios, perseguições, explosões, enfim, tudo
aquilo que acontece quando Ethan Hunt passa por um lugar está aqui. De James
Bond ele herdou a necessidade das constantes viagens e a companhia de mulheres
tão fatais quanto belas. Não só os combates chamam a atenção neste quinto
capítulo, mas também o roteiro, as intrigas geopolíticas muito bem urdidas numa
trama que coloca a IMF em apuros duplos, pois caçada por uma organização
secreta e oficialmente extinta pelo governo norte-americano. É dado o devido
valor ao trabalho em conjunto, à importância de cada colega para que tudo corra
bem no fim das contas. Tom Cruise, famoso por dispensar dublês e fazer ele próprio
as cenas perigosas, parece ter encontrado um time (de atores e produtores, já
que os diretores se sucedem) que pode levar Ethan Hunt adiante, mantendo viva
sua franquia, espera-se, com filmes tão bons quanto este.
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