Entre as distinções aplicáveis ao cinema
norte-americano contemporâneo, a que o separa entre independente e comercial
talvez seja a mais comum – tanto que existem premiações específicas para cada
um dos grupos. Considerando tal universo, A
Irmã de Sua Irmã (2012), de Lynn Shelton, é um filme majoritariamente
independente, ainda que seja protagonizado por uma estrela já absorvida pelo
mainstream, Emily Blunt. Shelton é uma das entusiastas do que se convencionou
nomear mumblecore, movimento do
cinema indie estadunidense que preza
por produções de baixo orçamento com temas cotidianos, interpretações e diálogos
naturalistas. Ainda que não sejam regras, uma vez que não existe um manifesto
“à la Dogma 95” com o mumblecore,
todos os itens supracitados fazem parte de seu mais novo filme.
Em seu quarto longa-metragem, Shelton basicamente
trabalha com um ambiente e três personagens, interpretados por Blunt, Rosemarie
DeWitt e Mark Duplass – ator/roteirista/cineasta também ligado ao mumblecore, mais conhecido pelo filme Cyrus (2010). A relação do trio nasce quando
Iris (Blunt) convida Jack (Duplass) para passar um tempo em sua casa de campo e
superar a morte de seu irmão – sem saber que sua própria irmã, Hannah (DeWitt),
já está no local tentando esquecer o fim conturbado de um relacionamento.
Depois de se conhecerem e dividirem muito mais que algumas doses de tequila,
Jack e Hannah são surpreendidos por Iris, que chega ao local para criar o
improvável triângulo que dá o tom de A
Irmã da Sua Irmã.
Lynn Shelton, que assina roteiro e direção do filme,
aborda o cômico da relação do trio de personagens com uma proximidade elogiável.
O que pontua a ligação dos três é a omissão de importantes fatos que sempre unem
dois deles e separa um terceiro – Iris tem um segredo com Hannah sobre Jack,
que por sua vez divide algo com Hannah que Iris não pode saber, e assim por
diante. Algumas situações muito divertidas – e embaraçosas para os envolvidos –
são desenvolvidas a partir dessa dinâmica, que em dado momento se torna
insustentável pela proximidade do trio.
Ainda que tenha algumas saídas criativas, o filme
acaba caindo em convencionalismos dos romances que envolvem triângulos
amorosos. No entanto, o principal problema de A Irmã de Sua Irmã seja sua teatralidade. Ainda que o naturalismo
aplicado à narrativa tragicômica perpetue todo o filme, como em cultuados indies recentes – vide Pequena Miss Sunshine (2006) e Juno (2007) – o espaço diminuto e o
excesso de diálogos imprimem tons teatrais ao filme, tornando-o por vezes
maçante e repetitivo. O charme da trinca de protagonistas poderia fazer valer a
sessão, porém a única atriz que consegue maior destaque é Rosemarie DeWitt, que
tem um papel mais complexo para desenvolver. Blunt e Duplass fazem o que podem,
mas não atingem a credibilidade necessária para tornar seus personagens mais
interessantes.
Diferente de seu filme anterior, Humpday (2009), no qual dois amigos resolvem protagonizar um filme
de arte homoerótica para ganhar dinheiro, Lynn Shelton não tem conteúdo
suficiente para validar sua obra. Fica a sensação de que os 12 dias de produção
em uma belíssima paisagem campestre fizeram valer o esforço dos envolvidos no
filme, mas não são igualmente divertidos para garantir uma boa sessão aos seus espectadores.
Publicado originalmente no Papo de Cinema.
Publicado originalmente no Papo de Cinema.
Oi Kon,
ResponderExcluirExcelente texto, parabéns.
Por uma questão de prioridades (e demandas) acabo me afastando deste tipo de filme, que sempre me soou simpático e delicioso de ver.
Mesmo diante de suas ressalvas, confesso que fiquei curioso para assistir "A Irmã da Sua Irmã".
Abração
Olá, Kon!
ResponderExcluirMuito bem estruturado seu texto. Parabéns.
Sobre o filme, é uma pena. Infelizmente, são bastante recorrentes histórias interessantes que caem na mesmice.
Abraçosss