O novo filme de Francis Ford
Coppola é estranho, para dizer o mínimo. Twixt
começa pela apresentação de uma cidade interiorana, onde, assim como na
localidade idealizada por David Lynch no seriado Twin Peaks, repousam mistérios e bizarrices. Falemos abertamente: Swan
Valley é Twin Peaks genérica. E cabe ao narrador resumir com impostação vocal
alusiva a seus colegas dos terrores B, as idiossincrasias desse lugar de
aparências. Pronto, de início já sabemos o necessário sobre a urbe que
abrigará, em breve, a sessão de autógrafos do outrora prestigiado escritor,
então um reles autor de contos sobrenaturais (especialmente bruxaria), Hall
Baltimore.
Baltimore logo conhece o xerife
Bob LaGrange, oficial que lhe propõe escrever livro a quatro mãos sobre um caso
de assassinato múltiplo ocorrido no passado. Chacina de crianças órfãs. Tragado
pelo mistério, o escritor passa a vagar entre a realidade colorida e os sonhos
desbotados. Nestes, é guiado por uma linda menina, Virgínia, e até mesmo por
Edgar Allan Poe, o mestre dos contos de ficção policial com pitadas macabras.
Como é do feitio de Coppola – e isso se observa bem na atual fase de
financiamento dos próprios projetos, em Twixt
temos diversos elementos narrativos que o descolam do estritamente concreto. É
claro, a inclusão do onírico permite ao diretor polarizar ainda mais essa
dicotomia real/irreal.
Twixt é um filme de mistério, com algo de gótico e que, aos poucos,
vai descambando para o terror. As intervenções de Allan Poe visam iluminar a trama,
e elas cumprem esse papel até de maneira incômoda, pois se entende como
facilidade o personagem onisciente que entrega de bandeja, tanto ao
protagonista quando ao espectador, as motivações da trama. A própria
caracterização da cidade, pretensa a uma aura de instabilidade e segredo, fica
tão e somente evidenciada nos tipos estranhos. Voltando ao paralelo, se Lynch
conseguia fazer de Twin Peaks tão notável como seus moradores, Coppola acaba dependente
da já citada narração inicial, insuficiente para o clima que busca (precisa)
alcançar.
Em Twixt há, ainda, dados que chocam religiosidade, fanáticos e
vampiros, sejam estes metafóricos ou, como queiram, literais. O filme guarda
também uma pontinha de interesse na identificação entre as histórias de
Baltimore e Virgínia. Mesmo com algumas inspirações na biografia de Coppola, a
principal delas dizendo respeito a perda filial num acidente de barco, Twixt nunca alcança qualquer pessoalidade
autêntica, a não ser aquela contida nas chamadas “curiosidades de produção”. Acaba
refém da pequenez (no sentido pejorativo mesmo) e do acanhamento, soando
preguiçoso. Poderíamos rotulá-lo “filme menor”, por falta de definição menos
clichê e certa condescendência com seu brilhante autor.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celito!
ResponderExcluirPretendo marcar algumas sessões imersas nessa fase "autoral" do Coppola.
Abraços
Rafa,
ResponderExcluirVale a pena encarar a fase mais "independente" do Coppola, oh se vale. Recomendo sobretudo "Tetro".
Abração