Certa feita, o crítico Paulo
Emílio Salles Gomes proferiu: “O pior
filme brasileiro diz mais de nós mesmos do que o melhor filme estrangeiro”.
É claro, prestou-se à provocação, a chacoalhar intelectuais e pensadores,
chamando-lhes a atenção para algo evidente: a função “espelho” de toda
cinematografia. Mas, é óbvio, não há por que sermos condescendentes com o
cinema brasileiro, em rompantes de nacionalismo exacerbado. Finda a introdução,
vamos então sem complacência a Polaróides
Urbanas, primeiro longa de Miguel Falabella como realizador. Um
sub-Almodóvar, é de onde poderíamos partir na análise desse filme-coral de
diversas historietas - ora comédia rasgada, ora drama pasteurizado.
Falabella leva ao cinema seu
questionável gosto estético, este paradoxalmente amparado e sufocado pelo
inegável talento que seu autor possui enquanto homem das palavras. Talvez Como Encher um Biquini Selvagem, sucesso
dos palcos em que Polaróides Urbanas foi
baseado, saia-se melhor na observação das muitas tramas que se imbricam na
narrativa, não sei. Cinematograficamente, a resultante da mão frouxa de um
diretor inexperiente, mas dotado de ampla bagagem noutros meios (provável
causador do relaxamento com os signos estritamente cinemáticos) é um filme de
sobreposições fajutas, onde os encontros são tão ou mais artificiais que a
convivência desastrada entre a face cômica e trágica do filme.
De elenco robusto, Polaróides Urbanas carece, ainda, de
coerência interna, pois abandona personagens com a mesma velocidade e inépcia
com que erige outros às luzes da ribalta. A dona-de-casa frustrada, ciumenta da
irmã escandalosa e viajante, o stripper
suicida, a terapeuta com problemas familiares, a atriz consagrada em meio à
crise de pânico, entre outros, partem de premissas interessantes, mas acabam meros
títeres de uma entidade maior (o diretor) que vê graça em tornar todos meio
bobos e banais, de maneira acrítica, é bom dizer. Ficamos alheios às dores e
amores dos tipos que vem e vão deixando poucas pegadas.
Imagino Falabella se divertindo muito
ao fazer Polaróides Urbanas, e esse
sentimento, possivelmente ocasionado pela companhia de amigos e fieis
colaboradores no set, é a única nota dissonante (portanto positiva e transparente)
numa obra errática, anódina e completamente esquecível. Nem mesmo as presenças
de Marília Pêra, Arlete Salles, Natália do Vale, Berta Loran, Lúcio Mauro,
Marcos Caruso ou Otávio Augusto, só para citar alguns, salvam a estreia de
Miguel Falabella como cineasta. Há certos filmes que crescem após a sessão,
motivo pelo qual é recomendado não nos atirarmos às primeiras impressões, mas Polaróides Urbanas precisa melhorar um bocado para ser taxado de ruim.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Nossa, Celo, tu gostou bastante do filme, né?
ResponderExcluirSe estivesse em minha lista, riscaria.
Abraços