É fato que certos filmes marcam
infância e adolescência, ficando conosco numa espécie de sedimento
afetivo/cinematográfico. Os da minha geração (nasci no início dos anos 1980)
tendem a olhar para trás com carinho, sobretudo às clássicas sessões da tarde.
Foi lá que conhecemos Ferris Bueller (Curtindo
a Vida Adoidado), acompanhamos as aventuras dos meninos em Os Goonies, entre outras experiências
definidoras. Lembro com especial saudosismo de Gotcha – Uma Arma do Barulho, longa protagonizado pelo ainda jovem Anthony Eduards (lembram de Plantão Médico?) e marcado pela beleza
fulgurante de Linda Fiorentino. Um dos
meus favoritos daquela época imberbe, sem dúvida.
Nele, Jonathan é um rapaz
impopular com as mulheres que desfruta a vida acadêmica entre as aulas e Gotcha
(algo como “te peguei”), um emulador de espionagem no qual os competidores
esgueiram-se pelo campus acertando seus “inimigos” com armas de paintball. Dos
pais abastados ele ganha viagem pela Europa com seu amigo Manolo. Louco para
fazer sexo, ver museus e nada mais, acaba envolvido com uma bela mulher numa
trama de espionagem internacional. Jonathan precisa, então, utilizar suas
habilidades no jogo para a atuação involuntária no mundo real dos agentes
secretos, em óbvia metáfora sobre o crescimento, esta também evidenciada na
concomitante descoberta sexual do protagonista.
Nos anos oitenta os americanos
faziam bons filmes escapistas que entretinham de verdade, independente do
absurdo em que eram calcados. Afinal de contas, um filhinho-de-papai que brinca
de James Bond na universidade e esbarra durante a exploração do novo continente
numa gata quase inalcançável, seu passaporte para um imbróglio dos demônios, é enredo
bem nonsense, certo? Mas Gotcha – Uma
Arma do Barulho busca tão e somente entreter, e consegue, mesmo os nem tão
jovens e ingênuos assim. Claro, também há contra-indicações. Nas representações
de cada papel (mocinhos, bandidos, etc.) reside um miolo revelador do
pensamento preconceituoso americano a respeito da então geopolítica européia
(num imaginário muito alimentado pelos anos de Guerra Fria).
O filme é uma obra de arte? Não,
claro que não, tem momentos até bem deslocados, como quando Jonathan, em meio
ao caos, resolve comer uma bela refeição americana, mistura de merchandising e
patriotada bem vagabunda. Mas é divertido, leve e nem de longe aborrece, pois,
mesmo nos momentos sérios, é permeado por aquele humor típico dos filmes
americanos oitentistas feitos para consumo na puberdade. Com Gotcha – Uma Arma do Barulho aprendi
inúmeras coisas, como, por exemplo, a nunca acreditar que uma linda mulher, com
jeito e sotaque de espiã, possa se interessar por você apenas por não gostar de
homens peludos. Óbvio, não é para levar a sério, mas a picardia remete ao tempo
(nem tão longínquo assim) em que cinema de entretenimento para adolescentes e
jovens adultos não era totalmente imbecilizante.
Publicado originalmente no Papo de Cinema
Olá, Celo!
ResponderExcluirTenho vaga memória desse filme, mas lembro-me dele com carinho. Parabéns pelo texto.
Abraçoss
Ahh, deu muita vontade de ver hehe. Eu tenho a impressão que irei me divertir!!
ResponderExcluirÓtimo texto!! beijos
Carol, assista quando puder. :)
ResponderExcluirO filme é tão bobo e ingênuo que chega a ser ótimo.
beijos
Caro Marcelo, concordo com você plenamente que os filmes de hoje são imbecilizantes. Nossa, não tenho muito prazer em assistir os filmes de hoje, sem preconceito, mas estão cada vez piores. Desde 2011, que não me empolgo para assistir filmes.
ResponderExcluirGotcha, realmente marcou à minha infância aprendi o que é 'strudel' com esse filme. Nostalgia, tempos que não voltam, os atores é que digam, o mocinho que já etá calvo; a mocinha que já fora outrora hiper cobiçada. Mas, a lembrança é eterna. Bom, é isso que eu falo para às ex, para pular fora.
Forte abraço Marcelo, linha de raciocínio excelente.