terça-feira, 5 de março de 2013

A Sombra do Inimigo


O psicólogo e detetive Alex Cross é a criação mais emblemática de James Patterson, ex-executivo que conciliou publicidade e literatura durante muito tempo. O autor e seu rebento receberam considerável notoriedade quando vertidos ao cinema, primeiro em Beijos que Matam e depois em Na Teia da Aranha, filmes estrelados por Morgan Freeman com relativo sucesso de público.  Mirando justamente algo de continuado potencial mercantil, chega às telas A Sombra do Inimigo, recomeço da franquia a cargo de Rob Cohen, homem por trás de Velozes e Furiosos e Triplo X, entre outros.

Nessa nova empreitada, o Dr. Alex Cross caça um sádico de músculos retesados que seda vítimas com a droga do momento para depois torturá-las. A trilha de corpos leva a um alto executivo, possível alvo final que precisa, então, ser protegido pela força da lei. A seguir, o primeiro de diversos clichês. O inquérito passa ao foro pessoal quando o facínora decide aterrorizar os policiais ocupados em capturá-lo. Esposas e namoradas são acuadas e os próprios investigadores serão encurralados.  Tal inversão, matéria-prima de bons momentos em longas similares, aqui só faz emergir uma das muitas fragilidades do enredo.

Nem o luto e a vendeta (elementos de considerável potencial) temperam A Sombra do Inimigo. A figura central é rasa, tanto pela atuação equivocada de Tyler Perry quanto por culpa do evidente desleixo diretivo na construção dramatúrgica. Aliás, o quesito interpretação é salvo - vejam só - por Matthew Fox (o Jack do seriado Lost) único a não operar totalmente no automático. Em que pese à base fraca, sobressai-se o trabalho preguiçoso do diretor Rob Cohen, incapaz justamente de transformar o amontoado de lugares-comuns do roteiro (incluindo aí um grande vilão que desvela detalhadamente seus planos no ato final) em algo minimamente instigante.

Entre mortos e feridos, se salva pouca coisa em A Sombra do Inimigo. Se para capitalizar sobre Alex Cross os produtores continuarem esse caminho, ou seja, reduzindo as faculdades dedutivas do protagonista em tramas ordinárias guiadas por profissionais de talento questionável, é bom mesmo contar com a condescendência do público. Nada muito difícil, vide os recentes êxitos (grandes e médios) que do mesmo modo apostaram na passividade da plateia e saíram vitoriosos. Num mundo justo, A Sombra do Inimigo serviria apenas para preencher madrugadas televisivas, e olhe lá. 


Publicado originalmente no Papo de Cinema

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