MICHAEL KOHLHAAS: JUSTIÇA E HONRA
começa promissor. Primeiro, em virtude de seu trabalho quase artesanal de
direção de arte, que recria a França pastoril do século XVI. Depois, por conta de
seu enredo, protagonizado pelo comerciante interpretado por Mads Mikkelsen, ele
que empreende uma verdadeira cruzada em busca de justiça contra o império que o
governa mancomunado com seus opressores. Como esperar reparação se a lei é
parcial? Uma pena o roteiro ser tão dispersivo e a direção frouxa ao ponto de
enfraquecer sequências que poderiam transpirar mais dramaticidade e emoção. Não
há, da mesma maneira, a construção de um cenário (imaginário) suficientemente
sólido para que os desdobramentos da trama ressoem além do semblante de
Mikkelsen. Aliás, o filme se apoia demais no trabalho excepcional do ator,
deixando um tanto de lado seu entorno, o que acaba limitando o envolvimento do
espectador àquilo que se passa com o protagonista, tão e somente.
Lukas Moodysson gosta de
ambientar alguns de seus filmes nos anos 1980. NÓS SOMOS AS MELHORES se passa
também nessa época em que muitos sentenciavam a morte do punk. Nele, duas
garotas meio deslocadas resolvem botar a indignação para fora em forma de
música. Eis que elas convidam para sua banda recém-formada uma menina também excluída,
mas que sabe tocar muito bem e é cristã, ou seja, diferente delas que só fazem
barulho e são descrentes. Talvez o que funcione menos no filme seja justo esse
terceiro elemento, a colega temente a Deus. A diferença por ela representada
não oferece um contraponto significativo às ideias punks das duas meninas
principais, e nem se instaura como ruptura convincente (embora seja de fato uma
ruptura) à própria garota que logo terá um corte de cabelo radical e trocará o
violão pela guitarra. No fim das contas, é um filme muito bom, mesmo que tenha
pouca profundidade se comparado a outros de Moodysson.
2014 ainda guardava uma ótima
surpresa para sua reta final: OPERAÇÃO BIG HERO, animação da Disney baseada
numa HQ da Marvel. A começar pelo visual muito bem feito, da construção de uma
São Francisco orientalizada aos próprios personagens e traquitanas tecnológicas
que transformam nerds em super-heróis. Mas não só no plano da imagem o filme
sai-se muito bem, pois também sua história é cativante. O garoto que começa
meio rebelde logo aprende com o irmão mais velho a canalizar seu talento.
Então, de desafiante em batalhas ilegais de robô, passa rapidamente a aspirar uma vaga na escola que incentiva gênios precoces. Claro, com as coisas complicadas
ele vai usar isso a favor da montagem de uma equipe heterogênea a improvável de
heróis, eles que também contam apenas com a inteligência para combater a ameaça
próxima. O filme tem um roteiro muito eficiente, personagens carismáticos, direção
inteligente e cenas de batalhas que empolgam. Ótimo entretenimento, para ver sem
contraindicações.