quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Doses Homeopáticas #33


JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA PARTE 1 padece de um problema causado por sua concepção mercantil. Não li o original literário no qual a trama se baseia, mas a divisão o último livro da série em dois filmes – claramente uma decisão de mercado, apoiada em experiências anteriores que deram certo financeiramente – faz com que este apenas impulsione o fechamento que virá a seguir, levantando uma série de questões que (espero) serão aprofundadas na sequência direta. Ainda assim, é um entretenimento muito longe da banalidade, que expõe – às vezes de maneira um tanto ingênua, noutras com muita inteligência – tanto os mecanismos que regem os governos totalitários quanto as engrenagens das uniões rebeldes. Não basta ser valente, lutar por um ideal, é necessário parecer, e nisso o personagem de Philip Seymour Hoffman é emblemático, pois à frente do marketing que visa criar um mito encorajador, o Tordo que liderará as massas contra os desmandos da Capital. Mesmo tropeçando, a série continua no bom caminho.


Assim como em O Guia Pervertido do Cinema, o filósofo/teórico/crítico social esloveno Slavoj Žižek dá em O GUIA PERVERTIDO DA IDEOLOGIA uma verdadeira aula de minuciosa decodificação dos processos ideológicos, tendo como referência fundamental o cinema. Ele passeia por cenários de filmes de Martin Scorsese, John Frankenheimer, James Cameron, entre outros, para expor mensagens por trás das ideias superficiais do cinema. Assim, é muito interessante, por exemplo, a análise do que é absorvido geralmente como evidência da luta de classes em Titanic, mas que, segundo ele, não passa da reafirmação da soberania burguesa. Žižek também toma como base de sua explanação, de sua verborragia impressionante, os regimes fascistas, fazendo relações entre os mesmos e os mecanismos capitalistas. A religião também é questionada, assim como a própria ideia de ateísmo. O GUIA PERVERTIDO DA IDEOLOGIA é mais uma amostra do porquê Žižek ser considerado um dos grandes pensadores da atualidade.



SÉTIMO até começa bem. A ideia do sumiço das crianças no percurso escada abaixo do prédio onde moram, enquanto o pai desce pelo elevador, é bem interessante e propõe uma busca fisicamente retida naquele espaço específico. Contudo, ao passo que se desenvolve, o filme do diretor Patxi Amezuca vai perdendo o pouco fôlego que tinha inicialmente, sobretudo por conta do roteiro que aposta demais numa dinâmica que logo se vicia: surge um novo suspeito; descarta-se o novo suspeito. Não há, em princípio, nada de errado com o procedimento, desde que se mantenha um pouco de tensão entre uma desconfiança e outra. Ricardo Darín não consegue salvar o próprio personagem – tampouco o filme em sua totalidade – de um esquematismo incômodo. Há referências visuais que soam como pistas, mas que não dão em nada, como as constantes tomadas que contrapõem escadas espiraladas e elevadores.  SÉTIMO caminha a passos largos para o fim decepcionante que de fato vem. Aliás, decepcionante não, pois o próprio rumar trôpego já dava a ideia de que aquilo não poderia acabar bem.

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