JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA PARTE 1 padece de um problema causado por
sua concepção mercantil. Não li o original literário no qual a trama se baseia,
mas a divisão o último livro da série em dois filmes – claramente uma decisão
de mercado, apoiada em experiências anteriores que deram certo financeiramente
– faz com que este apenas impulsione o fechamento que virá a seguir, levantando
uma série de questões que (espero) serão aprofundadas na sequência direta.
Ainda assim, é um entretenimento muito longe da banalidade, que expõe – às
vezes de maneira um tanto ingênua, noutras com muita inteligência – tanto os
mecanismos que regem os governos totalitários quanto as engrenagens das uniões
rebeldes. Não basta ser valente, lutar por um ideal, é necessário parecer, e
nisso o personagem de Philip Seymour Hoffman é emblemático, pois à frente do
marketing que visa criar um mito encorajador, o Tordo que liderará as massas
contra os desmandos da Capital. Mesmo tropeçando, a série continua no bom caminho.
Assim como em O Guia Pervertido do Cinema, o
filósofo/teórico/crítico social esloveno Slavoj Žižek dá em O GUIA PERVERTIDO
DA IDEOLOGIA uma verdadeira aula de minuciosa decodificação dos processos
ideológicos, tendo como referência fundamental o cinema. Ele passeia por
cenários de filmes de Martin Scorsese, John Frankenheimer, James Cameron, entre
outros, para expor mensagens por trás das ideias superficiais do cinema. Assim,
é muito interessante, por exemplo, a análise do que é absorvido geralmente como
evidência da luta de classes em Titanic,
mas que, segundo ele, não passa da reafirmação da soberania burguesa. Žižek
também toma como base de sua explanação, de sua verborragia impressionante, os
regimes fascistas, fazendo relações entre os mesmos e os mecanismos
capitalistas. A religião também é questionada, assim como a própria ideia de
ateísmo. O GUIA PERVERTIDO DA IDEOLOGIA é mais uma amostra do porquê Žižek ser
considerado um dos grandes pensadores da atualidade.
SÉTIMO até começa bem. A ideia do
sumiço das crianças no percurso escada abaixo do prédio onde moram, enquanto o
pai desce pelo elevador, é bem interessante e propõe uma busca fisicamente
retida naquele espaço específico. Contudo, ao passo que se desenvolve, o filme
do diretor Patxi Amezuca vai perdendo o pouco fôlego que tinha inicialmente,
sobretudo por conta do roteiro que aposta demais numa dinâmica que logo se
vicia: surge um novo suspeito; descarta-se o novo suspeito. Não há, em
princípio, nada de errado com o procedimento, desde que se mantenha um pouco de
tensão entre uma desconfiança e outra. Ricardo Darín não consegue salvar o
próprio personagem – tampouco o filme em sua totalidade – de um esquematismo
incômodo. Há referências visuais que soam como pistas, mas que não dão em nada,
como as constantes tomadas que contrapõem escadas espiraladas e elevadores. SÉTIMO caminha a passos largos para o fim
decepcionante que de fato vem. Aliás, decepcionante não, pois o próprio rumar
trôpego já dava a ideia de que aquilo não poderia acabar bem.
Boa, Celito.
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