quarta-feira, 6 de abril de 2011

Tinto Brass e o magnetismo sexual


O cinema de Tinto Brass é kistch até os ossos. Erótico e lascivo são também adjetivos que se pode atribuir às narrativas e mise-en-scènes que brotam da cabeça deste italiano sem pudor. Nem sempre é fácil identificar as camadas que compõe seus desnudos personagens, ou “penetrar” no psicológico e nas motivações de mulheres que exibem sua genitália sob uma calcinha provocante de renda, ou por meio do reflexo no espelho. Tinto brinca com a capacidade de concentração do espectador e regularmente trata de desviar seu olhar, dissociando muitas vezes suas percepções de imagem e som, como nas sequências em que mulheres conversam sobre angústias, dúvidas e temores, enquanto a câmera fica estática em suas (geralmente lindas) bundas. Tinto Brass se vale de personagens que guiam seu comportamento pelas pulsões sexuais, brinca com as taras e impulsos do espectador. 

Ao contrário do que muitos pensam, Tinto não faz filmes para homens, ou só para eles, já que sua intenção não é puramente exibir a mulher, mas sim mostrá-la como meio pelo qual o desejo universal se manifesta. A câmera de Tinto é magnetizada pelo corpo feminino, pela voluptuosidade das curvas, gestos e trejeitos da fêmea, cuja nudez, convenhamos, independente de gostos cores e amores, esteticamente é muito mais atraente que a do homem, este bicho rústico, quase um bípede pré-histórico. Assim como habilidosos cineastas utilizam o terror para fazer comentários políticos, por exemplo, Tinto faz do comportamento quase surrealmente sexual de suas personagens, veículo para discussões que influenciam o particular e, por conseguinte, o entorno social. Nem sempre suas narrativas conseguem transcender esta proposta estética embebida de signos ligados ao sexo. Por vezes a forma sufoca, e ele perde a mão no conteúdo. Erram, porém, os que reduzem o erotismo de Tinto Brass ao soft pornô, ou ao estigma de “filme para tarados”. Pensar assim é amortizar o talento de um autor que, no mínimo, trabalha com habilidade no limite entre o bom e o mau gosto.

3 comentários:

  1. Desculpe-me Celo, mas se você continuar inserindo fotos como esta ficará difícil dar a atenção que seu texto merece... haha Ainda não vi nada do Tinto Brass e pretendo me retratar em breve.

    Abraços!!

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  2. Olá, Celo!
    Kon, entendi. O Celo quis desviar nossa atenção, semelhante ao que faz o cineasta italiano. Olha, parabéns, foi difícil realmente.

    Abraçosss

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  3. Marcelo,

    Lembrei daquele outro seu texto sobre o Tinto Brass, se não me engano sobre "Voyeur", não sei ao certo.Só sei que adorei, vc foi certeiro quando o analisou!
    Acho que você está certíssimo quando diz que seu público alvo não é essencialmente o masculino.Ele faz filmes que contém elementos que habitam o imaginário promordialmente feminino.
    Tinto Brass é talentoso nessa arte de enredar o espectador em suas lentes eróticas, sedutoras, onde às vezes um beijo quando focado na boca ou dentro desta torna a cena altamente excitante.
    Não que ele ignore ou dispense os sarcasmos, as cenas de nudez rasgadas, pelo contrário, mas seu trabalho é singular na medida em que transforma o tosco, engraçado em erótico,excitante. Além de ser muito exigente com o elenco feminino , as mulheres são lindas!

    beijos

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