quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Doses Homeopáticas #64



O brasileiro Alberto Cavalcanti é um dos diretores do inglês NA SOLIDÃO DA NOITE, filme que maquia com muita perspicácia sua estrutura essencialmente episódica. Um arquiteto reconhece os presentes numa casa estranha como protagonistas de pesadelos recorrentes que ele vem tendo. Intrigados pelo inusitado, os presentes, até mesmo para convencerem um cético psiquiatra que não acredita no sobrenatural, começam, um a um, a contar casos estranhos acontecidos consigo próprios ou mesmo com pessoas próximas. O clima de terror/horror é quebrado por uma trama engraçadinha, movimento inteligente que nos convida a ficar mais atentos à encenação, já que tudo decorre de relatos e, por certo, é passível de distorções, quando não de invenções. Entre um causo e outro, o arquiteto se convence de que algo muito grave vai acontecer, que aquele dia estranho não vai acabar bem, algo sinalizado pela confirmação, na prática, do que ele havia presenciado apenas durante o sono. As tramas são interessantes uniformemente, ou seja, não há um sensível desiquilíbrio, como de costume em filmes feitos de fragmentos.


A NOITE DO DEMÔNIO é Jacques Tourneur em grande forma. O filme contrapõe ceticismo e ocultismo, no qual o segundo acaba se sobressaindo, principalmente, pela presença marcante do demônio que surge em meio à fumaça para aniquilar aqueles que foram presenteados com pergaminhos amaldiçoados. O protagonista não aceita a existência do sobrenatural, buscando explicações científicas e racionais para fenômenos estranhos. O demônio é uma figura ameaçadora, fruto da trucagem que dá conta de transmitir o temor decorrente dessa presença. Embora Tourneur fosse terminantemente contra a aparição literal, preferindo que os espectadores, assim como os personagens, ficassem na dúvida se viram mesmo algo extraordinário, ela funciona muito bem. Perdida a queda de braço para os produtores, temos o mostro na tela, elemento que extirpa qualquer ambiguidade e deflagra a existência inconteste de forças bizarras que regem o entorno.  Ainda assim, o filme nos ganha pela atmosfera que oprime num crescendo de horror eficiente, pois construído com inteligência ao largo das discussões suscitadas e do romance que surge.


A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS é um filme curto, que consegue em seus sintéticos 77 minutos estabelecer um clima de horror genuíno, baseado nas tensões despertadas por fenômenos inexplicáveis. Primeiro o apagão geral numa cidadezinha inglesa. Os habitantes desmaiam e acordam horas depois, como se nada tivesse acontecido. A herança de tal ocorrência é a gravidez de todas as mulheres férteis do lugar, a gestação acelerada e o nascimento, no mesmo dia, de um bando de crianças loiras, com olhos estranhos e uma concepção física e intelectual extraordinárias. Os pequenos crescem rápido, expondo poderes cada vez mais ameaçadores. Não se sabe qual a origem deles, embora haja uma teoria que os relacione a seres extraterrestres. Tudo funciona muito bem nesta realização de Wolf Rilla, em que os vilões, filhos apenas de mães, estão dispostos a qualquer coisa para sobreviver, até mesmo a matar entes próximos (não queridos, já que eles são destituídos de emoções). Apreensão e medo caminham juntos, um alimentando o outro, constantemente.

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