O brasileiro Alberto Cavalcanti é
um dos diretores do inglês NA SOLIDÃO DA NOITE, filme que maquia com muita
perspicácia sua estrutura essencialmente episódica. Um arquiteto reconhece os
presentes numa casa estranha como protagonistas de pesadelos recorrentes que
ele vem tendo. Intrigados pelo inusitado, os presentes, até mesmo para
convencerem um cético psiquiatra que não acredita no sobrenatural, começam, um
a um, a contar casos estranhos acontecidos consigo próprios ou mesmo com
pessoas próximas. O clima de terror/horror é quebrado por uma trama
engraçadinha, movimento inteligente que nos convida a ficar mais atentos à
encenação, já que tudo decorre de relatos e, por certo, é passível de
distorções, quando não de invenções. Entre um causo e outro, o arquiteto se
convence de que algo muito grave vai acontecer, que aquele dia estranho não vai
acabar bem, algo sinalizado pela confirmação, na prática, do que ele havia
presenciado apenas durante o sono. As tramas são interessantes uniformemente,
ou seja, não há um sensível desiquilíbrio, como de costume em filmes feitos de
fragmentos.
A NOITE DO DEMÔNIO é Jacques
Tourneur em grande forma. O filme contrapõe ceticismo e ocultismo, no qual o
segundo acaba se sobressaindo, principalmente, pela presença marcante do demônio
que surge em meio à fumaça para aniquilar aqueles que foram presenteados com
pergaminhos amaldiçoados. O protagonista não aceita a existência do
sobrenatural, buscando explicações científicas e racionais para fenômenos estranhos.
O demônio é uma figura ameaçadora, fruto da trucagem que dá conta de transmitir
o temor decorrente dessa presença. Embora Tourneur fosse terminantemente contra
a aparição literal, preferindo que os espectadores, assim como os personagens,
ficassem na dúvida se viram mesmo algo extraordinário, ela funciona muito bem.
Perdida a queda de braço para os produtores, temos o mostro na tela, elemento
que extirpa qualquer ambiguidade e deflagra a existência inconteste de forças bizarras
que regem o entorno. Ainda assim, o
filme nos ganha pela atmosfera que oprime num crescendo de horror eficiente,
pois construído com inteligência ao largo das discussões suscitadas e do
romance que surge.
A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS é um
filme curto, que consegue em seus sintéticos 77 minutos estabelecer um clima de
horror genuíno, baseado nas tensões despertadas por fenômenos inexplicáveis.
Primeiro o apagão geral numa cidadezinha inglesa. Os habitantes desmaiam e
acordam horas depois, como se nada tivesse acontecido. A herança de tal
ocorrência é a gravidez de todas as mulheres férteis do lugar, a gestação
acelerada e o nascimento, no mesmo dia, de um bando de crianças loiras, com
olhos estranhos e uma concepção física e intelectual extraordinárias. Os pequenos
crescem rápido, expondo poderes cada vez mais ameaçadores. Não se sabe qual a
origem deles, embora haja uma teoria que os relacione a seres extraterrestres.
Tudo funciona muito bem nesta realização de Wolf Rilla, em que os vilões,
filhos apenas de mães, estão dispostos a qualquer coisa para sobreviver, até
mesmo a matar entes próximos (não queridos, já que eles são destituídos de
emoções). Apreensão e medo caminham juntos, um alimentando o outro,
constantemente.
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