domingo, 26 de fevereiro de 2012

Oscar 2012: A Aposta

Olá, queridos amigos cinéfilos!

Eis a tradicional aposta The Tramps para o Oscar, nesta edição marcada pelo duelo entre "O Artista" e "A Invenção de Hugo Cabret". No vídeo abaixo, as apostas e perspectivas de Conrado Heoli, Marcelo e Rafael Müller para a cerimônia de 2012. No próximo post, os resultados do nosso bolão, que neste ano terá como prêmio o valor "simbólico" de R$ 75.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Oscar (ir)relevante


Logo ocorrerá a entrega do Oscar, o maior (pelo menos em termos de mídia e badalação) prêmio do cinema. Muitos questionam seu valor, pois ele privilegia filmes que não passariam pelo crivo de uma seleção menos bairrista e mais atenta ao que se produz mundialmente. Neste tocante, o Festival de Cannes, por exemplo, pode ser tido como referência. Mas não há como negar que a tradição faça do Oscar a estatueta mais cobiçada, seja por produtores, que querem ver seus “produtos” enriquecidos pela chancela da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ou mesmo por artistas que podem ter suas carreiras catapultadas em caso de vitória.

Pode-se questionar o mérito artístico de indicados e vencedores, mas nunca a influência que o Oscar exerce no público, e no futuro de quem por ele concorre. E você, por que acha o Oscar relevante ou irrelevante?

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O notável Estranho sem Nome


Clint Eastwod tornou-se célebre homem de western por vias tortas, longe da mitologia do cowboy americano. Sob a égide do diretor italiano Sérgio Leone, filmando em descampados espanhois, construiu a figura emblemática do homem sem nome, afamado pela trilogia dos dólares. Ensimesmado, lacônico e de gatilho insuperável, este pistoleiro - assemelhado a um ronin do Japão feudal - encabeçou e até hoje simboliza com perfeição o ideário do chamado Spaghetti Western, que desmontou o velho oeste e deu cores ainda mais terrosas a este gênero americano por excelência. Clint ressuscitou o personagem em O Estranho sem Nome, faroeste de claras influências leônicas, sua segunda experiência como cineasta.

De início saído do mormaço desértico, o estranho vê-se acossado na pequena Lago por três homens que implicam com seu estrangeirismo, estes que logo preencherão os caixões expostos em frente à funerária local. Não demora, ele é convidado a defender a cidade de outros três bandoleiros vingativos prestes a serem soltos da cadeia. Dotado de plenos poderes, o “sem nome” faz de gato sapato com os locais, nomeando um anão como xerife e prefeito, desalojando todos os hóspedes de um hotel, flertando (e chegando às vias de fato) abertamente com mulheres comprometidas, trazendo os parias à mesa, em suma, deixando os próceres da comunidade cada vez mais irritados. Não bastasse este movimento, surgem alguns flashbacks que dão relevo à falência moral de Lago e deflagram certo mistério, algo de sobrenatural. Clint Eastwood sempre teve culhões para encarar o risco.

O que move O Estranho sem Nome é a espera repleta de observações ferinas que, de alguma maneira, encontram eco na sociedade americana e no clássico Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann. Nivelar bandidos e cidadãos acima de qualquer suspeita parece a missão prima do estranho sem nome, aqui uma espécie de anjo vingador que transforma Lago num encarnado e ardente inferno, onde todos devem se purificar pela dor. Conduzido de maneira sóbria, sem maneirismos e já conectado ao ideário que Clint Eastwood construiria como cineasta ao longo dos anos, O Estranho sem Nome traz mais que o oeste desmistificado, pois alinha discussões éticas atemporais que se descolam da tela e da época retratada pelo filme. Obra de brilho próprio, sem dúvida reverente (não prisioneira) ao Spaghetti Western, é digna homenagem a este macarrônico gênero que gestou tantas figuras icônicas, sendo provavelmente a principal delas, justamente este homem inominado construído por Eastwood e Leone, então reencarnado nos primórdios da hoje celebrada carreira atrás das câmeras do bom e velho Clint.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A sina do Guerreiro


Caim e Abel digladiam no octógno do MMA, o combinado de artes marciais que virou epidemia entre os amantes de lutas. A aproximação com os personagens bíblicos é óbvia e não-original (quem escreveu nestes termos foi o crítico Peter Travers, da Rolling Stone), mas parece-me resumir bem o visto em Guerreiro, mais novo filme do diretor Gavin O’Connor. Seguindo a boa tradição cinematográfica de obras que utilizam o esporte como metáfora (vitórias, derrotas, reviravoltas, etc.), ele se vale do violento mundo das artes marciais mistas como fundo de uma história familiar repleta de encontros, ânsias de perdão, mágoas e tentativas de recomeço. Creio que atenderá tanto à fatia do público que vai buscar na sessão o saciar de sua mais nova febre esportiva, quanto aos amantes do bom cinema. Mas falará principalmente ao segundo grupo.

Tom Hardy interpreta Tommy, um homem que volta do limbo para jogar na cara do pai (Nick Nolte num trabalho soberbo) o quanto seu alcoolismo de outrora contribuiu para a ruína familiar. Encontra o velho homem que busca no arrependimento, e nos quase mil dias sem beber, a paz que sozinho não consegue alcançar. Seu irmão Brendan, incorporado com semelhante competência por Joel Edgerton, persegue a saída do aperto financeiro que promete, em breve, tirar o teto de sua mulher e filhas. Ele é professor de física, enquanto Tommy é desertor (e herói) do corpo dos fuzileiros navais dos EUA, a menina dos olhos do exército americano. Irmãos feridos pela mágoa que guardam mutuamente, ambos carentes do pai que odeiam por força do passado que não se apaga. Por vias tortuosas e distintas, os dois acabam inscritos no maior espetáculo já visto no esporte, onde 16 homens travam batalhas solitárias pelo polpudo prêmio de 5 milhões de dólares.

Mais que filme de MMA, Guerreiro é essencialmente sobre família. Investe assertivamente, sem sentimentalismos baratos ou soluções fáceis, na complexa dinâmica íntima que o sustenta. Deve-se ressaltar, ainda, a maneira como Gavin O’Connor combina os embates e a construção dos personagens, edificando figuras dotadas de camadas que não são consideradas convencionalmente em filmes de apelo mais físico, onde os duelos assumem protagonismo perigoso e, não raro, redutor. No catártico encerramento, a certeza de que a frenética sina de perdedores e vencedores, mais do que basilar no competitivo ambiente das lutas, infelizmente o é no cotidiano. Guerreiro fala bravamente de superação, pecado, perdão e força de vontade, sem que para isto precise soar piegas ou entregar personagens às redenções forçadas e ao artificialismo de conexões quebradiças que se consertam como num passe de mágica. Agradabilíssima surpresa, sem dúvida.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Griselda Ripley?


(ESTAMPA, Fina – Rede Globo, Brasil, 2012)

  • Carlota Valdez, mãe biológica de Tereza Cristina (a figura mais histriônica e caricata da televisão no momento) foi assim nominada em homenagem a Um Corpo que Cai, de Alfred Hitchcock. No filme de Hitch, Carlotta Valdes é a mulher retratada num quadro, por quem Madeleine (Kim Novak) tem estranha obsessão. (Li a curiosidade no jornal)
  • Dia destes, a personagem de Arlete Salles disse conhecer alguém que subia no telhado e gritava "Eu quero uma esposaaaa, eu quero uma esposaaaaa", clara referência ao Tio Teo, do felliniano Amarcord, que brada algo similar empoleirado numa árvore. (Reportado por Conrado Heoli).

Qual será a próxima referência cinematográfica? Quem sabe Griselda, cansada das presepadas de sua antagonista, não entre para alguma missão espacial, onde acabará confrontando o Alien em pessoa? 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Artista e o clamor pelo cinema


O estranhamento delicioso de assistir a algo reverente e alusivo ao cinema mudo das primeiras décadas do século passado traz automaticamente uma aura de encantamento a O Artista. Logo, porém, percebe-se o longa do diretor francês Michel Hazanavicius como obra de êxito não apenas por esta brilhante revisita formal aos primórdios cinemáticos, uma vez que possuiu méritos além da pura contemplação de algo trajado tal e qual um simpático senhor perdido no tempo.

A curva descendente da carreira artística de George Valetin, iniciada pelo ocaso do cinema mudo e nascimento do sonoro, é base de uma trama romântica, alimentada pela sinergia entre o drama do homem que sente o chão lhe faltar, e a potência da arte que, enquanto ser vivo e pulsante, não para de adquirir novas formas, causando deleite e êxtase. A derrocada do astro pode ser entendida como a própria arte cinematográfica que, vez ou outra, declina na negociação constante de sua sobrevivência. Já os coadjuvantes capitaneados por Peppy Miller, atriz de meteórico sucesso e estandarte do recém gestado cinema sonoro, são quão socorristas do ator vitimado pelo ostracismo, se recusam a deixar o cinema (bem como seus avatares) morrer à míngua. Há os precipícios, mas felizmente existem também os apanhadores nos campos de centeio.

Mas antes que se veja O Artista puramente como libelo filmado à moda antiga pela intenção de refletir sobre certa “pureza” fundamental perdida na contemporaneidade cinematográfica, ou mesmo o contrário, como alerta aos opositores das inovações - já que por sua teimosia em não acolher as novidades o protagonista sofre conseqüências nefastas -, cabe perceber que o filme abraça amplitudes e paradoxos sem medo. O Artista utiliza ambas as extremidades para edificar um diálogo aberto, sem que qualquer delas afirme categoricamente ou instaure restritivos pontos finais. Sim, há um clamor explícito: para que o público volte a amar o cinema, independente da bitola, formato, granulação, ou qualquer outra variante.

Um filme preto e branco, mudo, em plena era do império 3D. Quanta ousadia de Hazanavicius, a de levar o cinema de volta às origens, quando astros e estrelas não emitiam sons, quando as falas, pancadas e rajadas de bala ecoavam apenas no caminho entre a visão e a imaginação. O atrevimento recompensa, pois O Artista não é apenas um OVNI em meio à produção atual, é uma carta de amor ao cinema, este ser intangível constituído de imaginário, fascínio, medo, paixões, desamores, ação, entre outros tantos elementos que se desprendem da tela para nos modificar. Pois se o cinema não nos modifica, bom cinema não é.


Publicado originalmente no Papo de Cinema

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

É para festa?


Dados referentes ao comportamento do filme brasileiro no mercado interno em 2011, recém divulgados pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema), apontam: crescimento dos lançamentos (99), bom número de exemplares com mais de um milhão de espectadores (7) e queda de 30% na bilheteria total, esta justificada pela ausência de um blockbuster como Tropa de Elite 2, fenômeno de 2010.  Destes 99 longas lançados, cerca de 20 tiveram menos de mil espectadores.

Levando em consideração que boa parte dos responsáveis por este, em geral, satisfatório desempenho do cinema brasileiro junto ao público, segue a cartilha “comédia de gosto duvidoso com linguagem televisiva”, enquanto alguns relevantes ficaram “de pires na mão”, pergunto:
Comemora-se ou não?