Clint Eastwod tornou-se célebre
homem de western por vias tortas, longe da mitologia do cowboy americano. Sob a
égide do diretor italiano Sérgio Leone, filmando em descampados espanhois,
construiu a figura emblemática do homem sem nome, afamado pela trilogia dos
dólares. Ensimesmado, lacônico e de gatilho insuperável, este pistoleiro - assemelhado
a um ronin do Japão feudal - encabeçou e até hoje simboliza com perfeição o
ideário do chamado Spaghetti Western, que desmontou o velho oeste e deu cores
ainda mais terrosas a este gênero americano por excelência. Clint ressuscitou o
personagem em O Estranho sem Nome, faroeste de claras
influências leônicas, sua segunda experiência como cineasta.
De início saído do mormaço desértico,
o estranho vê-se acossado na pequena Lago por três homens que implicam com seu
estrangeirismo, estes que logo preencherão os caixões expostos em frente à
funerária local. Não demora, ele é convidado a defender a cidade de outros três
bandoleiros vingativos prestes a serem soltos da cadeia. Dotado de plenos
poderes, o “sem nome” faz de gato sapato com os locais, nomeando um anão como
xerife e prefeito, desalojando todos os hóspedes de um hotel, flertando (e
chegando às vias de fato) abertamente com mulheres comprometidas, trazendo os
parias à mesa, em suma, deixando os próceres da comunidade cada vez mais
irritados. Não bastasse este movimento, surgem alguns flashbacks que dão relevo
à falência moral de Lago e deflagram certo mistério, algo de sobrenatural.
Clint Eastwood sempre teve culhões para encarar o risco.
O que move O Estranho sem Nome é a espera repleta de observações ferinas que,
de alguma maneira, encontram eco na sociedade americana e no clássico Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann.
Nivelar bandidos e cidadãos acima de qualquer suspeita parece a missão prima do
estranho sem nome, aqui uma espécie de anjo vingador que transforma Lago num
encarnado e ardente inferno, onde todos devem se purificar pela dor. Conduzido
de maneira sóbria, sem maneirismos e já conectado ao ideário que Clint Eastwood
construiria como cineasta ao longo dos anos, O Estranho sem Nome traz mais que o oeste desmistificado, pois
alinha discussões éticas atemporais que se descolam da tela e da época
retratada pelo filme. Obra de brilho próprio, sem dúvida reverente (não
prisioneira) ao Spaghetti Western, é digna homenagem a este macarrônico gênero
que gestou tantas figuras icônicas, sendo provavelmente a principal delas,
justamente este homem inominado construído por Eastwood e Leone, então
reencarnado nos primórdios da hoje celebrada carreira atrás das câmeras do bom
e velho Clint.
Olá, Celo!
ResponderExcluirBom, até o Didi Mocó foi influenciado a criar um personagem sem nome:
http://www.youtube.com/watch?v=EJNkcZ5Kx-w
Abraçossssss
Celo!
ResponderExcluirA dimensão do tal homem sem nome em um universo tão rico e cheio de nuances me impressiona. A parceria entre Leone e Eastwood é das mais importantes dentro da história do cinema, e serviu de escola para a hoje muito relevante carreira do segundo.
Espero assistir logo esta outra interessante indicação sua, Celo!
Um abraço,
Conrado