Já pela noite, fui à Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, para assistir ao drama brasileiro (assim que a prefeitura o definiu para a divulgação) Falsa Loura. Nunca tinha assistido a nada de Carlos Reichenbach, cineasta da velha-guarda, oriundo da chamada Boca do Lixo Paulistana. Silmara é uma operária que trabalha para sustentar a si e o pai desempregado. No início, ela é arrogante, toma uma postura de superioridade perante suas colegas, quem sabe por sua beleza, mas, mesmo assim, é admirada por elas em virtude de sua sinceridade e coleguismo. Aos poucos, num dos grandes méritos do longa, Silmara vai mostrando a menina sonhadora por baixo da casca de mulher inabalável. Ela é fã de músicas românticas, bregas para dizer a verdade, e este clima meio kitsch dá uma verniz diferenciado à narrativa visual. Falsa Loura não é um filme perfeito, irrepreensível, por conta de algumas atuações pouco inspiradas e uma que outra inconstância do roteiro. Contudo, o que vi foi um filme ótimo, sincero, que tem na protagonista o epicentro narrativo, como se todos os acontecimentos e mesmo as experiências dos coadjuvantes servissem apenas ao propósito de enriquecer Silmara como personagem. O filme é muito bem dirigido e se vale da presença luminosa, belíssima e competente de Rosane Mulholland como a protagonista. Reichenbach se propõe a mostrar o universo feminino das operárias por meio dos anseios e escolhas de Silmara e isto resulta num filme de diálogo fácil com diversos públicos e fadado à ser incompreendido por outros tantos, devido à sua veia kitsch e escolha pouco convencional de elenco.
Dois diretores oriundos da cena alternativa das décadas de 60/70, com enfoque nas suas protagonistas loiras e sonhadoras, cada qual a sua maneira, bem distintas uma da outra, é verdade, mas com um diálogo possível, mesmo que uma sirva à alegoria da periferia carioca e a outra ao realismo kitsch do subúrbio paulistano.