terça-feira, 26 de agosto de 2008

Crítica: Lars and the Real Girl

Direção: Craig Gillespie
Roteiro:
Nancy Oliver
Elenco:
Ryan Gosling, Emily Mortimer, Paul Schneider, Kelli Garner, Patricia Clarkson, Nancy Beatty.


Se convencionalmente a fórmula das comédias românticas se mantém igual em essência, alterando apenas nomes, lugares e atores (ora se vê Cameron Diaz, ora Hugh Grant), uma curta sinopse de “Lars and the Real Girl” pode assustar espectadores desavisados. Lars, jovem trabalhador com distúrbios de convivência social, decide apresentar sua nova namorada a seu irmão mais velho e sua cunhada. São duas as surpresas do casal: a primeira, por verem orgulhosos Lars se relacionando com alguém. A segunda é Bianca, a então namorada, que nada mais é do que uma boneca (normalmente utilizada para fins não exemplificados em filmes com conteúdo para menores de 18 anos).

Indicado ao Academy Award na categoria de melhor roteiro original em 2008 (perdeu para “Juno”), “Lars and the Real Girl” traz vitalidade para uma indústria cinematográfica cada vez mais direcionada à produção do cinema de entretenimento, e mostra através de uma premissa inusitada as (des)aventuras desse rapaz em sua cidade interiorana, que é confrontada pela situação incômoda à que são apresentados: os moradores devem aceitar o namoro de Lars, submetidos ao respeito que sua família possui no local e não problematizando ainda mais o estado mental do jovem.

O que é evidente em “Lars and the Real Girl” é a fluidez de seu roteiro, que se resolve frente às situações e temas que são conectados ao seu plot. O filme aborda o mote controverso enquanto cria mais e mais personagens secundários incrivelmente bem caracterizados e críveis (algo raríssimo no cinema contemporâneo), demonstrando suas necessidades e relevâncias para a trama. Como exemplo, temos os diversos moradores da cidade, que demonstram uma aceitação aparentemente irreal perante o relacionamento do protagonista com a moça de borracha. Irreal até que o roteiro guie diversas cenas em que se possa entender o relacionamento que essas pessoas criam com Bianca, onde o que primeiramente é apenas uma questão de altruísmo por Lars, passa a ser a solução de diversas necessidades desses moradores.

É então nesse momento que Bianca nasce. Ela deixa de ser apenas fruto da estranheza do personagem principal e passa a ser uma pessoa, com personalidade própria, singularidades e um próprio caráter. Os responsáveis por tamanho feito são os próprios personagens secundários, que agregam valores e características desejadas por si próprios à boneca e, com isso, desenvolvem uma identidade para a mesma. E cabe a Lars aceitar cada vez mais essa nova Bianca, que não está se comportando como aquela que ele idealizou (no extremo do literal). E Nancy Oliver, a roteirista do projeto, é a “culpada” por essa fantástica realização.

Inseridos no ótimo roteiro, os personagens são interpretados por de um time de atores de primeira, vez ou outra envoltos com bons projetos independentes, encabeçados pelo grande ator em ascensão Ryan Gosling. Gosling tem um carisma único, perfeitamente cabível à personagens não-convencionais como Lars. Também ganham destaque na película Patrícia Clarkson, como a médica da família e Emily Mortimer, que orquestra de forma incrível cenas cômicas e dramáticas como a doce cunhada de Lars.

Mesmo sem uma direção elaborada ou muito rebuscada, “Lars and the Real Girl” faz rir e emociona através de elementos muito puros. Nada como um suspiro de inovação no massificador cinema atual.


Texto publicado originalmente em www.cineplayers.com.


2 comentários:

  1. Realmente "Lars an The Real Girl" é um belíssimo filme, de uma singeleza tocante. A maneira (muito bem elogiada por seu texto) como o roteiro vai explicitando em Bianca um elo entre Lars e os coadjuvantes, é algo louvável pela eficiência e organicidade. Ryan Gosling é realmente um dos melhores atores da sua geração, por incorporar personas diferentes como ninguém e ainda dar verossimilhança à elas. Parabéns pelo texto Kon.
    Abraços

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  2. Olá, Kon!!
    Esse filme é extremamente agradável e bem realizado.

    Abraçossss

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