domingo, 3 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: A Solidão dos Números Primos


Com o coração ainda explodindo e a cabeça fervilhando, tento, sem muitos recursos, pois me faltam palavras, falar sobre essa maravilha: A Solidão dos Números Primos.

Alice e Mattia se conhecem na infância e ambos têm a vida marcada por uma criação cheia de conflitos e traumas que os tornam indivíduos singulares e isolados na sociedade em que vivem. Alice cresceu numa família onde a mãe era quase ausente e o pai, hiper autoritário e ditador, apostava em uma carreira atlética para ela quando esta sofreu um grave acidente de esqui que a deixou manca de uma perna. Mattia era responsável pelos cuidados de sua irmã gêmea deficiente, que um dia depois de sair para uma festa com ele, desaparece, provocando uma reviravolta na vida desse menino. O filme tem uma narrativa que começa em 1983 chegando a 2007 entre idas e vindas, numa alternância cronológica com a intenção de explicar o que ocorrera nesse período. Partindo desses dois acidentes, o filme se desenvolve.

Os traumas vividos por Alice e Mattia os uniam cada vez mais, como se cada um entendesse a dor do outro. No entanto, eles não conseguiam pedir ajuda para mais ninguém e se afundavam cada vez mais em seus problemas. Mattia se escondia atrás de ótimas notas na escola e, mais tarde, de títulos honrosos. Alice investiu na carreira de fotografia, mas isso não a segurou muito. Depois de um tempo ela foi ficando cada vez mais identificada com a sua mãe, uma mulher aparentemente omissa e perdida.

A infância, adolescência e vida adulta dos protagonistas são períodos apresentados com requinte de detalhes no que se refere aos sentimentos de ambos, estado de espírito e condições psicológicas. Alice, na fase adulta, impressiona por sua magreza típica de anorexia e Mattia com quilos a mais, reflete em suas expressões um estado solitário, culpado, de martírio e tristeza. Esses dois contrapontos, que também reforçam a idéia de inscrições corporais e não só psíquicas, chocam o espectador que, em busca de uma luz no fim do túnel, vai acompanhando esse roteiro perfeito, porém triste e muito sofrido.

Os dois são comparados aos números primos: divisíveis por um e por eles mesmos, sem chance de serem divisíveis por outros. Dando a idéia de que somente um poderia salvar o outro. Com essa base metafórica extraída da matemática, o autor vai descrevendo cenas lindas, intensas, fortes, vividas com dor e amor. De tão verossímeis os fatos, o filme acaba nos envolvendo e transportando para o universo traumático e obscuro de Alice e Mattia. Não poderia me antecipar, mas digo com segurança que A Solidão dos Números Primos pra mim foi o melhor filme da Mostra até agora! 

5 comentários:

  1. Oi Carol,

    Teu texto e tuas descrições me despertaram uma vontade muito grande de assistir "A Solidão dos Números Primos". Já tinha lido coisas elogiosas sobre ele, quando de sua exibição em um recente festival (terá sido Veneza?) e desde lá, guiado pela sinopse e pelos bons comentários, fiquei curioso.

    Assim que estiver disponível por aqui, certamente verei.

    beijos

    ResponderExcluir
  2. Olá, Carol!
    Fiquei bem interessado. O filme parece ser inventivo desde seu título, muito bem elaborado.

    Obrigado pelo texto,
    Beijossss

    ResponderExcluir
  3. Quem diria que a matemática seria transportada para o cinema numa metáfora tão delicada... O filme parece impérdível e que delícia é a ebulição de sentimentos depois de uma sessão dessas!

    Beijos, Carol =)

    ResponderExcluir
  4. Sim!! É indescritível Mana :)
    Acho que você vai gostar muito também!!
    Sabe que neste filme acabei me lembrando de certos pontos de "Mary & Max", talvez a solidão preponderante!

    Um beijão
    Carol

    ResponderExcluir
  5. Este título é sensacional!! Nem preciso dizer que estou louca pra assistir, mas do jeito que estou defasada, quando puder, não sei nem por onde começo. bjs

    ResponderExcluir