sexta-feira, 31 de julho de 2009

Crítica: A Partida

Direção: Yojiro Takita
Roteiro: Kundo Koyama
Elenco: Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Ryoko Hirosue, Kazuko Yoshiyuki, Kimiko Yo e Takashi Sasano.

Uma das maiores surpresas da cerimônia do Oscar em 2009 ocorreu na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, onde dentre os premiáveis se encontrava o vencedor da Palma de Ouro em Cannes Entre os Muros da Escola e também o muito elogiado Valsa com Bashir. Eis que o prêmio foi parar nas mãos do japonês Yojiro Takita por seu drama A Partida. A surpresa aconteceu para a maioria e até mesmo para o diretor pela grande expectativa na disputa entre os dois filmes supracitados, o que não tira o mérito do belo drama japonês, que mereceu esta e outras honrarias recebidas.

Daigo Kobayashi é um músico que presencia a dissolução da orquestra em que toca violoncelo. Surpreendido pela situação e sem muitas opções, decide deixar Tokyo e retornar à sua cidade natal junto com sua esposa. Já vivendo no local e em busca por uma nova profissão, após relutar contra a ideia, passa a trabalhar em uma funerária, no meticuloso e antigo processo japonês de preparar corpos sem vida para cerimônias de despedida. Ganhando mais que o suficiente para viver, Daigo permanece sem aceitar muito bem o que faz, escondendo o fato de sua esposa e daqueles que o cercam, que acreditam que ele trabalha em uma agência de viagens.

Yojiro Takita, que dirige A Partida, é bastante conhecido no oriente por uma série de filmes eróticos classificados como filmes ‘pink’, onde o roteiro não é descartado e todo o sexo é apresentado de maneira mais leve, ou seja, uma espécie oriental de pornôs softcore. O diretor assume que encarava tais produções como quaisquer outras e diz que apenas com esses e outros projetos conseguiu desenvolver seu feeling cinematográfico. A Partida demorou mais de 10 anos para ser concluído desde que o diretor teve o primeiro contato com o roteiro de Kundo Koyama, quando aceitou dirigir a história do escritor estreante.

A maneira de Takita apresentar o percurso do violoncelista que passa a ser considerado uma espécie de burakumin – casta japonesa historicamente descriminada por suas profissões, consideradas sujas – é ora bem sucedida, ora incorreta, pois o filme abusa do humor, o que quebra o ritmo narrativo da produção, para abordar de forma leve um assunto considerado ainda tabu: a morte. A cena em que a esposa de Daigo descobre sua profissão é um dos exemplos: com potencial para ser um dos momentos mais sérios do filme, em que existe o confronto entre o amor que ela sente por ele e a repulsa por sua profissão, os toques cômicos acabam prejudicando toda a sequência, assim como a atuação caricata de Ryoko Hirosue, linda atriz que infelizmente parece uma personagem de animação japonesa.

Além das atuações exageradas de parte do elenco, o humor recorrentemente empregado em A Partida é apenas um de seus problemas, que refletem a inexperiência de Koyama como roteirista. Algumas escolhas são desnecessárias e criam uma aura melodramática desnecessária para o filme, como a subtrama de Daigo com seu pai desaparecido, que possui um desfecho bastante previsível. O principal ponto elogiável do texto de Koyama são, evidentemente, suas escolhas por inserir sua história em um contexto belo e acessível a um tema sombrio, tradicionalmente abordado no cinema em dramas densos ou em comédias escrachadas.

Como não poderia deixar de ser, por contar a história de um violoncelista, a trilha sonora de A Partida é linda e feita para ser ouvida muitas vezes mesmo após o término do filme. Joe Higashi, colaborador habitual do estúdio japonês Ghibli que compôs a trilha de vários dos filmes de Hayao Miyazaki, insere composições de Brahms, Beethoven e Schubert que aprofundam ainda mais o filme de Takita. Em um de seus grandes momentos vemos Daigo, interpretado pelo carismático Masahiro Motoki, tocando seu pequeno violoncelo no topo de uma colina, em uma mesma sequência onde se mostra o protagonista preparando alguns rituais fúnebres de diferentes religiões – sempre apresentados de forma poética pelas câmeras do diretor.

Em suma, A Partida funciona e consegue o difícil feito de ser um drama agradável, enquanto narra os momentos de transição na vida de um personagem que, mesmo carecendo de certa veracidade, funciona perfeitamente na ficção. E o Oscar, mesmo se tornando um prêmio que cada vez menos pode ser levado a sério, brilha merecidamente na prateleira de Takita.

domingo, 26 de julho de 2009

Ser ou não ser...


Fugirei da tentação de começar este texto versando sobre a pouca audiência que Som & Fúria teve. Não gastarei um parágrafo, sequer, tentando entender esta quimera chamada “público” que prefere um filme de ação desenfreada sendo exibido na emissora concorrente, em detrimento da beleza de uma minissérie que tem a coragem de falar de Shakespeare na televisão aberta. Mesmo querendo fugir de tais críticas e de uma visão mais incisiva sobre a “audiência”, acabei por me trair e falei um pouco do que não me propus a falar. Agora sim, farei de conta que os números não contam, que os resultados não influem no desenvolvimento da arte e falarei somente do que importa, que é a própria arte.

Adaptada de uma minissérie canadense pelo cineasta Fernando Meirelles, que disse, inclusive, ter adorado a experiência de fazer televisão depois de seu reconhecimento internacional como diretor cinematográfico, Som & Fúria fala sobre um grupo de teatro, ligado ao teatro municipal, portanto estatal, que luta para tirar do papel, durante uma temporada de clássicos, algumas peças daquele que é celebrado como um dos maiores, senão o maior, dramaturgos de todos os tempos: William Shakespeare. Depois de uma apresentação de Sonhos de Uma Noite de Verão, Oliveira, o diretor artístico morre atropelado por um caminhão de presunto e, em meio a comoção pelo acontecido, eis que Dante é chamado para substituir Oliveira. Dante é um diretor que trabalha com teatro independente, um festejado ator do passado que caiu em desgraça após abandonar uma peça em plena apresentação. Ele interpretava Hamlet, o príncipe da Dinamarca, numa montagem dirigida por Oliveira, de quem era amigo. Sim, era, pois Dante e Oliveira, depois do ocorrido, passaram a ser desafetos. A ironia aqui não reside apenas no fato de Dante assumir a direção artística depois da morte de Oliveira. Tampouco ela se caracteriza pela peça a qual Dante precisa montar imediatamente: Hamlet. A ironia fica por conta das aparições do fantasma de Oliveira à Dante, tal qual faz o rei, pai de Hamlet, na peça do bardo inglês. Em meio a esta situação, a companhia de teatro precisa se desenvolver, criar peças, montar aquilo que serve para motivar a platéia.

Som & Fúria foi uma realização belíssima, um programa com o refinamento do qual precisávamos na televisão brasileira, tão dominada por shows que maquiam a realidade ou mesmo programas que nos transformam em macacos de auditório. Meu entusiasmo com estes primeiros doze capítulos (torço por uma segunda temporada) é tamanho que ouso a dizer que, desde Cidade de Deus, Meirelles não apresentava uma obra tão densa e relevante, tão cheia de nuances, independente do meio. O diretor geral começou acertando na escolha do tema: Shakespeare. O dramaturgo inglês, que em sua época buscava escrever para um público amplo, acabou sendo erroneamente elitizado com o tempo, e no aspecto da aproximação de seus textos e temáticas universais com o grande público, Fernando Meirelles acertou no tom leve, irônico, sem abdicar de passagens emocionantes, dramáticas, emulando, mesmo que limitado pelo meio, a pluralidade de temas que Shakespeare abordou em seus escritos. Porém, os acertos da equipe de produção não se limitaram a abordagem sensível das obras imortais de Shakespeare.

Um dos grandes trunfos de Som & Fúria está no seu maravilhoso, irretocável elenco, cheio de nomes poderosos e, especialmente, de um retorno triunfal, o de Felipe Camargo. Felipe surgiu como astro na década de oitenta, mas sucumbiu à fama, às drogas e ao álcool, caindo no ostracismo do qual Som & Fúria acabou de tirá-lo. Felipe esteve magnífico como Dante, uma atuação digna de um triunfo. Mas como falar de elenco sem mencionar o fantasma brilhante de Pedro Paulo Rangel; a diva multifacetada de Andréa Beltrão; o engraçadíssimo diretor administrativo criado por Dan Stulbach; a caricata funcionária pública de Regina Casé; o publicitário enrolador de Rodrigo Santoro; o ator de televisão que quer ser levado a sério, encarnado por um versátil Daniel Oliveira; a atriz principiante dividida entre o amor e a arte, da ótima Maria Flor; o funcionário de teatro que ama o teatro, interpretado pelo, sempre genial, Gero Camilo; ou mesmo a secretária única que saiu do talento de Cecília Homem de Melo. Temos mais gente, que me furto de comentar, por medo de que este texto fique comprido demais (se já não o está). Enfim, a minissérie foi um verdadeiro desfile de interpretações, muito bem regidas, é verdade, mas que exalaram o talento natural e a força da dramaturgia brasileira.

Som & Fúria foi uma das melhores realizações da televisão brasileira nos últimos anos, sem dúvida, pois, brincando com arquétipos, utilizando por vezes a galhofa, e em outras a profundidade de peças sobre assassinos e casais que vagam entre o amor e a traição, ela ergueu um espelho que nos refletiu. Além disso, serviu para lembrar que as peças de um homem morto há quase trezentos anos, ainda dizem muito sobre a natureza humana, sobre seus dramas, paixões, desilusões e felicidades.

Como, em minha opinião, o que importa é a qualidade e a relevância artística do que foi proposto, Som & Fúria foi um estrondoso sucesso, uma obra exitosa.

O resto é silêncio.

sábado, 25 de julho de 2009

Minha Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano

Uma viagem pessoal pelo cinema americano
Martin Scorsese e Michael Henry Wilson
Tradução: José Geraldo Couto


Ganhei este livro, há algum tempo, de uma amiga muito querida. As pessoas de quem gosto e que, suponho, também gostam de mim, sabendo de meu apreço pelo cinema, costumeiramente me presenteiam com algo relacionado a cinema, seja um filme, ou mesmo um livro, como neste caso. Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano é, na realidade, uma adaptação do documentário que a televisão inglesa encomendou a Martin Scorsese no meio da década de noventa, como parte integrante de uma programação especial que comemorou os cem anos do cinema. Assim, Scorsese foi convidado a interpretar o cinema americano, com a ajuda de seu colaborador Michel Henry Wilson.

Deixo claro que ainda não vi o tal documentário, não o achei nem lícita ou “ilicitamente” para conferência. Pegando então como referencial informações que a própria edição do livro traz como apresentação, ouso comparar um pouco e tecer alguns comentários sobre esta obra tão relevante. Na transposição houve o cuidado de não se esquecer do elemento visual que, no documentário se fazia presente por meio de fragmentos dos filmes pinçados por Scorsese e na versão letrada é muito bem representada por fotografias lindíssimas de diversas cenas cruciais para a construção do cinema americano. Muitas das cenas descritas, dos diálogos transcritos, foram pura novidade para mim, que peco pela falta de aproximação com os grandes cineastas americanos, não somente os amplamente reconhecidos, como John Ford ou mesmo Howard Hawks, só para citar dois, mas também, e principalmente, com os que não nos chegam por estas plagas com frequência, como Samuel Fuller, Otto Preminger, Anthony Mann, Sam Peckinpah, entre outros. Aliás, o que mais chamou minha atenção neste relato apaixonado de Scorsese foi o foco central nos diretores americanos não muito badalados e, nem por isso, menos importantes. Ao longo da leitura fui anotando alguns filmes que me despertaram a curiosidade e que julgo trarão uma ampliação de meu conhecimento como amante do cinema, além de preencher a lacuna supracitada que tenho com o grande cinema clássico americano. É claro que assisti os clássicos, os indiscutíveis, que na época ironicamente eram discutíveis, mas que hoje são incontestes, mas está na hora de mergulhar fundo nesta que é uma das mais, senão a mais, importantes cinematografias do mundo. Com mais frequência aparecerão por aqui textos, críticas ou mesmo comentários curtos, a respeito desta época fértil do cinema americano, já que este é o filão que mais me instiga no momento. Para começar, assisti O Beijo Amargo, de Samuel Fuller.

No início, uma cena forte, belissimamente filmada, mostra Kelly, uma mulher batendo em um homem bêbado que, representado pela câmera subjetiva, cambaleia, levando o público a começar o filme num misto de agonia e espanto. Já dá, de início, para perceber que as cenas de Fuller são fortes. Os personagens bem delineados e multidimensionais só aumentam o interesse pela trama, que ganha novos contornos com a chegada de Kelly a uma cidadezinha do interior. Ela guarda um segredo, que não o será por muito tempo, ainda mais quando sua presença começa a criar raízes na comunidade, influenciando a vida de todos, mas especialmente a de um policial, a de um solteiro rico, a da dona de um bordel e a rotina da clínica de reabilitação ortopédica para crianças, aonde Kelly trabalhará. O que marca muito a narrativa desenvolvida por Samuel Fuller é a utilização freqüente de elipses, de uma dinâmica que privilegia o desenrolar ágil dos acontecimentos, sem que para isso se sacrifique a fluidez, sem que o enfoque se torne apressado, atropelado. Fotografado em preto-e-branco, o filme tem um interessante jogo de luz e sombra, que auxilia no desenvolvimento psicológico dos personagens.

Fiquei particularmente fascinado pela história, pela maneira como o diretor conduz o todo, seja por meio do roteiro enxuto e bastante eficaz, ou mesmo pela direção elegante e visão incisiva que possui, de uma sociedade movida pelas aparências, maniqueísta, que eleva o mocinho a vilão em pouquíssimo tempo, e vice versa, sem critério. Sem dúvida alguma, O Beijo Amargo é um grande filme que, se, infelizmente, não goza da fama que alguns exemplares de menos qualidades artísticas têm, é por uma destas injustiças históricas, que ocorrem no cinema, de vez em quando. Só para encerrar: apenas eu fiz este paralelo, ou existe semelhança, nem que seja pequena, entre Kelly e outra mulher/protagonista que desenvolve laços com uma pequena comunidade, a Grace de Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier? É verdade que, enquanto em Dogville a protagonista é vista quase como uma alegoria, e o foco fica nas pessoas da comunidade, a protagonista de O Beijo Amargo é o centro emocional do filme. De qualquer maneira, para quem viu os dois filmes, fica a proposta do paralelo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Crítica: Há Tanto Tempo Que te Amo

Direção e roteiro: Phillipe Claudel
Elenco: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévill, Frédéric Pierrot e Lise Ségur.

“Pode ser um testemunho, ou mais exatamente um falso testemunho, pois me falta uma coisa essencial para falar da prisão: ter passado uma noite lá dentro.”

- Philippe Claudel, em “O Barulho das Chaves”.

Assim o premiado romancista Phillipe Claudel exprime seu sentimento em relação à prisão, em um trecho extraído de seu livro O Barulho das Chaves, ainda inédito no Brasil. Em várias notas onde reflete acerca da falta de liberdade e do significado do aprisionamento, ora metafórico, ora literal, Claudel desenvolveu seu livro e pode-se dizer que de tais escritos também surgiu o argumento para seu trabalho de estreia como diretor, em Há Tanto Tempo Que te Amo.

O agora cineasta, responsável também pelo roteiro do filme, apresenta em sua história Juliette Fontaine em seus primeiros momentos em liberdade, após passar 15 anos em uma prisão. Juliette passa a viver com Léa, irmã que há muito tempo não via, e com a família desta, composta por seu esposo Luc, as duas filhas do casal e seu sogro, um senhor mudo.

Em seu debute cinematográfico, Philippe Claudel surpreende por demonstrar grande habilidade na forma de conduzir um drama, não cedendo aos recorrentes maneirismos do gênero. Não se pode duvidar de que o mesmo teve ótima assistência para comandar a produção, também no trabalho com os atores, que estão soberbos, mas o romancista deve ser elogiado por seu desempenho no cargo de diretor. Em algumas sequências em específico, a técnica de Claudel não poderia ser mais correta, como nos enquadramentos que caminham e aproximam algum personagem lentamente, dando ênfase ao que o mesmo diz. O diretor também utiliza corretamente artifícios já bastante empregados em outros filmes, como a trilha que corre ininterrupta conduzindo uma série de pequenas cenas, para indicar a passagem do tempo.

Todo o desenvolvimento do roteiro de Claudel é linear e gradativo. As verdades acerca de Juliette são reveladas aos poucos, juntamente com o fortalecimento dela como personagem. Tudo parece proposital na concepção do realizador, incluindo aqui seus vários acertos na forma com que amplia sua narrativa, transformando os participantes em seres tridimensionais e muito críveis. Os espaços destinados às divagações e análises dos dramas enfrentados por seus personagens também são extremamente válidos, nunca gratuitos. Quando Claudel insere no filme aquele que é claramente seu alter-ego, Michel, essas análises ficam ainda mais fortes, como em dado momento onde este revela à protagonista os difíceis anos que teve quando lecionava em uma prisão.

Juliette, por sua vez, é uma personagem extremamente profunda, obscura e amarga. Tudo o que se sabe sobre ela é dito por aqueles que a cercam, e a mesma em poucos momentos exprime seus sentimentos em relação ao que viveu ou o motivo de ter sido presa por tanto tempo. A introspecção e melancolia de Juliette são evidentes na interpretação magnífica de Kristin Scott Thomas, que em cada olhar distante e em seus silêncios diz o necessário para a compreensão de sua situação. Destituída de maquiagem ou qualquer glamour em sua caracterização, a atriz se entrega completamente à Juliette, e nem se percebe que a mesma interpreta utilizando aquela que não é sua língua de origem, o francês, devido à sua imensa naturalidade. O restante do elenco é igualmente competente, com destaque para a intérprete de Léa, Elsa Zylberstein, premiada com o César, e para a pequena Lise Ségur, que com graça e veracidade vive uma das sobrinhas de Juliette.

Claudel, que revelou que procura não passar sequer na frente de uma prisão no supracitado O Barulho das Chaves, aborda o tema do aprisionamento emocional de forma realista e muito profunda, sem recorrer ao melodrama ou deixar que um sentimentalismo excessivo atrapalhe sua explanação sobre o assunto. O encarceramento, como transmite Juliette em determinado momento e Claudel reafirma em grande parte de seu belo filme, pode estar fora de uma prisão, mas dentro de nós mesmos.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Lua de Papel - Ryan e Tatum O'Neal

A imagem acima é do filme Lua de Papel, de Peter Bogdanovich e mostra pai e filha contracenando. Ele, Ryan O’Neal, um astro na época, os idos anos de 1973, nos quais a história foi filmada. Ela, Tatum O’Neal, uma menininha que tinha entre oito e nove anos, era só filha de celebridades (sua mãe era a também atriz Joanna Moore). Foi então que Bogdanovich, substituindo John Huston, que abandonara o projeto antes da pré-produção, se encantou com a espontaneidade da filha de Ryan, anteriormente seu colaborador, e a convidou a dividir as telas com ele, num debute que entrou para a história. Tatum não somente se mostrou um fenômeno, embasbacando o mundo com uma interpretação magistral, como também se tornou a mais jovem ganhadora do Oscar, em uma categoria competitiva, na história da premiação. Ela ganhou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante com apenas dez anos.

Lua de Papel é um filme maravilhoso, um trabalho exemplar de direção, com lindíssima fotografia em preto-e-branco e ritmo perfeito para o desenvolvimento pleno da história, que mistura comédia e nostalgia, numa reconstrução dos anos da grande depressão econômica americana e dos tempos da lei seca. Mas nenhum destes elementos teriam o mesmo esplendor não fosse a química existente entre Ryan e Tatum O’Neal, a quase simbiose entre seus personagens. Ele, excelente como o vigarista que vende bíblias para recém viúvas. Ela, iluminada como a garotinha órfã, fumante inveterada aos nove anos, que esconde sua fragilidade infantil/feminina por detrás de uma postura madura, vestida com roupas de menino. Excelente filme, sem dúvida, ensolarado por uma grande dupla de atores, mas principalmente por uma menininha encantadora que, infelizmente, não reproduziu em papéis posteriores o poder de sua estreia grandiosa.