PERFUME: A HISTÓRIA DE UM
ASSASSINO é baseado num romance considerado infilmável por, entre outros, nada
mais nada menos que Stanley Kubrick. Portanto, o êxito do alemão Tom Tylker é
ainda mais louvável. Em meio a uma França fétida, nasce um menino de olfato
extraordinário. Mais que nascer, ele sobrevive à negligência da mãe e à falta
de possibilidades. Quando adulto, busca capturar o perfume de tudo, seja de um
pedaço de cobre ou do corpo feminino. Em sua sanha desmedida, esse predestinado
vira um assassino que ceifa a vida de jovens para obter suas essências. Nós,
sempre tão mais confiantes nos olhos, somos convidados a acompanhar alguém que faz
dos aromas sua única razão de vida. Há muita intangibilidade na trama, talvez
por isso outros cineastas tenham desconsiderado a adaptação. Entretanto, Tylker
dá conta do recado, faz surgir o invisível e o sublime pelos poros da narrativa.
As cenas da execução que vira orgia e da oferenda antropofágica final comprovam
a qualidade acima da média deste filme.
O CRÍTICO é uma grande
brincadeira que mistura estereótipos e chavões, tanto no que diz respeito aos
críticos de cinema quanto às comédias românticas. O protagonista é um cara
pedante, amargo, que não consegue ver um filme açucarado sem fastio. Então, ele
conhece uma mulher imprevisível, daquelas que parecem saídas justamente de um
roteiro capenga feito para a gente torcer pelo casal. A vida dele passa a andar
no ritmo das comédias românticas, com emoções afloradas, corridas e chuva,
muita chuva. Hernán Guerschuny faz um filme de gênero sobre um gênero, ou seja,
ao mesmo tempo em que é fatalmente uma comédia romântica, se desenrola
denunciando de maneira bem-humorada os artifícios que esse tipo de realização
lança mão para conseguir a adesão do público. Meio que de brinde, uma observação
simples sobre o que funciona na vida e o que funciona somente na arte, na cena
em que o protagonista repete a ação de Jean-Paul Belmondo em Acossado. No filme de Godard, a ameaça
vira sorriso, já na realidade gera só mais desconforto.
DRAGON BALL Z: A BATALHA DOS
DEUSES é uma grande bobagem. Primeiro, porque insiste em criar mais um nível de
poder para o protagonista, Goku, como se isso, por si, garantisse o interesse
dos fãs. Não funciona, pois o tal “deus supersayajin” é tão fajuto que nem dura
muito, dando lugar ao bom e velho poder de superação como maneira de explicar
rompantes de habilidades extraordinárias. Depois, porque tem um roteiro frouxo.
A trama é repleta de passagens que não agregam ao perigo representado pelo deus
da destruição, o antagonista da vez, ele que, aliás, mais parece um bobo da
corte. Enquanto o que se espera é, pelo menos, algumas cenas de batalhas
decentes, o filme insiste em ser engraçado, em tentar meio que voltar às
origens, mas apenas patina sem sair do lugar. Nem ação, nem humor. O
investimento na parte técnica também está aquém da fama que a série obteve pelo
mundo. Assim, a animação propriamente dita é outra decepção. O filme serve, no
máximo, para lembrar os saudosos tempos da série de TV, e olhe lá.