sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Releitura

Nunca se ouviu falar tanto na palavra “releitura”, quando o segmento da hora, é a sétima arte. Será a falta de bons roteiros que leva os diretores a buscar sucessos que foram criados para uma época, a qual, diga-se de passagem, não volta mais? Pude conferir a versão 2010 de A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street) um célebre filme norte-americano de 1984, do gênero terror, dirigido e escrito por Wes Craven, que narra a história na cidade fictícia de Springwood, Ohio, que gira em torno de um grupo de adolescentes aterrorizados em seus pesadelos pelo fantasma de um psicopata assassino de crianças chamado Freddy Krueger. Sem muitas delongas, o filme realizado na década de 1980 não tinha o pretexto de explicar ao espectador o que levaria uma turma de jovens (Johnny Depp está no elenco), a serem perseguidos pela fatídica luva com garras metálicas que estraçalhava os mesmos, em suas belas horas de sono. O filme original tinha um apelo tão aterrorizante, que o público em geral tinha até medo de dormir, sonhando muitas vezes com aquele "monstro" de blusa listrada. Nesta nova versão, onde o diretor conta a causa que leva Freddy Kruger a atormentar as pessoas, o enredo não passa disso. Uma explicação sem nexo, que tira todo o suspense da trama - afinal de contas você não estava lá - então acaba assistindo a mais um longa do gênero para depois, dormir sossegado e embalar o seu sono, como se nada tivesse acontecido. Para quem gostou da primeira versão, a nova chega ser um pesadelo para os amantes do gênero.
Raulino Prezzi, especial para o The Tramps

sábado, 23 de outubro de 2010

Final feliz ou Final triste?


Estava assistindo dia destes a um filme com minha namorada. Findo o mesmo, ela me olha e diz, em meio a lágrimas:

- Sabia que tinha final triste, tu só gosta de filmes com final triste.

Na hora brinquei e ri (depois de secar minhas lágrimas também). Peguei-me, no entanto, por estes dias pensando sobre a questão, e aí entrou no devaneio o preconceito que uma camada crítica de cinéfilos tem do “happy ending”, dos finais felizes que são tão caros aos produtores, pois, geralmente possibilitam ao público certa lividez na saída do cinema, ou no momento em que tiram o DVD do aparelho.

Parto de mim. Gosto, e já falei (maldito hábito da repetição), muito mais de filmes dramáticos do que cômicos ou leves, mesmo que, vez ou outra não me abstenha de me divertir e, eventualmente, refletir, tendo por base uma boa comédia ou um filme leve. Não sei bem como se formou esta minha fascinação pelos dramas e pelas tragédias. De repente acredite que por meio destas histórias tristes, de percalços e agruras humanas, eu consiga refletir melhor minha condição como pessoa, entre tantas outras modalidades de auto-reflexão. Não é masoquismo, como classificariam alguns.

Pensando especificamente sobre os finais felizes, nada tenho contra eles, desde que acompanhem um contexto ou estejam inseridos numa narrativa coerente. Não é bem o final feliz que incomoda, mas saber e/ou notar que o encerramento é parte de uma série de concessões que os produtores ou mesmo a equipe criativa fizeram para garantir a sobrevivência do evento “cinema“ como negócio. Ok, eu sei, alguém tem de pagar as contas, mas dar ao público somente o que ele quer ver é ser condescendente com um clamor silenciosamente perigoso pela acomodação e pelo empobrecimento crítico das pessoas. O aprendizado acerca do cinema requer, além de tempo e muitos filmes, uma dose de sofrimento, de persistência e de dor. Mais uma vez, não é masoquismo, é a compreensão de que não é fácil sair do lugar comum e tentar ver as coisas, qualquer que sejam elas, por um viés mais amplo e complexo. Algumas pessoas, infelizmente a maioria, não querem “sofrer” quando vão ao cinema, pois “já tiveram um dia cheio, estão repletas de problemas em casa e no trabalho”. Cinema é escapismo da realidade? Pode ser, mas, por favor, não o reduzam a um emplastro para almas fragmentadas e vidas tristes.

Acho que meio que tergiversei, fiz uma série de digressões. Voltemos aos finais felizes. Repito, nada tenho contra eles, desde que sejam parte orgânica de uma proposta de cinema, de narrativa. Também me divirto com bons exemplares "alto-astral", e me pego torcendo no meio de alguns para que as coisas acabem bem, mas, como na vida, nem sempre elas acabam, e não é por isto - que determinado filme foi contra minha “torcida” - que eu vou classificá-lo e medir suas qualidades. Hoje assistirei mais um filme com minha namorada. Acho que vou surpreendê-la, escolhendo um filme leve ou de final feliz, para que ela não tenha esta ideia errônea de que eu (assim também como outros cinéfilos) tenho coração de pedra, ou que só levo a sério filmes em que ou todos morrem, ou definham sofrendo. Final feliz ou triste, não é bem isto que define o que é filme bom ou filme ruim.

sábado, 16 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 e a quimera do sistema


Muito já foi dito sobre o alardeado Tropa de Elite 2. Na verdade, ele foi esmiuçado pela imprensa, pelas conversas de bar, e seus aspectos, desde os mercadológicos que dão conta do lançamento recorde e do instantâneo sucesso de bilheteria, até a discussão ideológica, acerca da visão de país que ele apresenta, foram amplamente discutidos sob as mais diversas óticas. Diante de tanta discussão, de tanto burburinho, fica difícil falar algo novo, de alguma maneira, a respeito de Tropa de Elite 2. Mas, como a opinião passa necessariamente pelo filtro subjetivo de cada espectador, posso não elucidar ou criar teses sobre o filme, e sim tentar transpor em palavras a impressão forte que o mais novo trabalho do diretor José Padilha incutiu em mim, forte de tal maneira que me faz pensar em Tropa de Elite 2 como um dos melhores filmes políticos que já se fez neste país, pelo menos numa história recente.

Para início de conversa, é, no mínimo, tentador comparar Tropa de Elite com Tropa de Elite 2 e, eventualmente é uma situação que não se consegue controlar, até pelo fato de haverem claramente evoluções no segundo com relação ao primeiro, seja como cinema ou mesmo veículo de discussão de problemas de ordem social e política. No entanto, ao apurarmos o olhar e os sentidos, poderemos notar que os filmes formam um díptico coeso, e um exemplo disto, para ficar em apenas um, é certa aproximação da conduta do Capitão Nascimento, agora Coronel, com a visão ideológica que seu agregado Matias tem da polícia e do dever, construída desde a aparição de Matias em Tropa de Elite. Ou seja, não se trata de falar bem de Tropa de Elite 2, dizendo o quão melhor que seu precurssor ele é, mesmo que o seja. Há este complemento que se pede das boas sequências, que não anulam o antecessor, pelo contrário, o completam e o expandem, e é isto que ocorre aqui.

Se no primeiro filme o "inimigo" eram os traficantes, os donos dos morros cariocas que colocam sob estado de sítio a sociedade periférica do Rio de Janeiro, em Tropa de Elite 2 os inimigos se multiplicam e vão desde as milícias formadas por policiais corruptos, que expurgam traficantes para controlar o poderio econômico e político dos morros e das comunidades carentes, passando por figuras tragicômicas que ganham notoriedade por proferirem falácias populistas na televisão, indo até às mais alta esferas do executivo, sob a denúncia do filme, muitas vezes financiadas por este esquema de cobrança de propina e enriquecimento ilícito por parte da ala podre da polícia militar.

Tropa de Elite 2 ainda deve muito ao seu protangonista Nascimento, que ganha tons carregados de complexidade, numa exigência dramatúrgica suprida à altura por um intérprete em estado de graça, como Wagner Moura. O Coronel lida com a distância do filho, que não entende por que o pai mata para sobreviver, ao passo que luta contra o “sistema”, esta quimera sem face definida, ou de múltiplas, portanto de mais difícil identificação, que parece existir somente para proteger uma minoria, a quem as regras não alcançam, a não ser quando delas precisam para acobertar condutas não necessariamente pautadas pela ética de convivência social. Padilha parece nos dizer constantemente, seja pela luta de Nascimento dentro de uma esfera superior de poder, seja por meio do representante dos direitos humanos que briga com as “armas” que lhe competem para que estes direitos sejam garantidos, ou mesmo a jornalista que dribla sanções de imprensa, falta de apoio e de estrutura, que enquanto poucos fizerem este esforço, contra um conjunto de proibições e de intrincados esquemas que regem os poderes, pouca coisa pode mudar. É a constante luta quase solitária do homem contra o sistema, seja ele qual for. Por isto Nascimento é visto por parte do público como o herói que luta contra o que há de podre no reino da terra brasilis, mas em Tropa de Elite 2 ele não está sozinho.

Impreterivelmente, como todo bom filme político, Tropa de Elite 2 gera mais comentários acerca de sua visão ideológica do que suas qualidades enquanto cinema, e isto é bom, pois, grosso modo, é nestas águas do estabelecimento da dialética em amplos campos que um bom filme político deságua, ou pretende desaguar. Mas não podemos esquecer que, estritamente como cinema, Tropa de Elite 2 é uma mistura narrativa muitíssimo eficiente entre o drama de ação e o já citado filme político. Por falar em ação, ela parece agora menos desenfreada, paradoxalmente ao passo que o filme ganha em violência. José Padilha está mais seguro, Wagner Moura continua encarnando visceralmente Nascimento e temos ainda coadjuvantes que fazem trabalhos dignos de premiação, como Irandhir Santos e o surpreendente Sandro Rocha, impecável. Enfim, Tropa de Elite 2 é um blockbuster nacional sim, e o que me deixou mais satisfeito na saída do cinema, em meio ao modo como o filme me cativou e fez refletir, é que este blockbuster nacional é um sucesso que encontra em sua qualidade uma justificativa para ser sucesso. Espero que bata recordes, que seja visto por muitos e se pelo menos uma parcela destes milhões saírem do cinema com metade do que o filme tem a dizer, Padilha terá conseguido atingir seu objetivo, o de fazer o povo refletir por meio do cinema de sua língua, às vezes tão ingênuo e débil, felizmente às vezes, como em Tropa de Elite 2, tão forte, inteligente e necessário.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um dia no SWU: Impressões do festival de música e sustentabilidade

Um parente distante do Woodstock apareceu no Brasil no último final de semana prolongado – e fez sucesso digno de referência. Eu era um entre 56 mil pessoas que ocupavam freneticamente os poucos espaços livres da Fazenda Maeda, em Itú (São Paulo) no último domingo, dia 10. Todos com objetivo igual ou semelhante: o de ouvir boa música e confraternizar durante o SWU (sigla para Starts With You, ou Começa Com Você, traduzindo para nosso português).

O evento que utilizou a música para propagar uma mensagem de sustentabilidade foi organizado por Eduardo Fisher, que já pensa em uma nova edição para o festival. O publico dos três dias do SWU justifica tais planos: foram mais de 164 mil pessoas em 50 horas de programação.

No dia 10, quando estive presente, os shows principais eram de Kings of Leon e de Dave Matthews Band, mas outras apresentações garantiram meu aproveitamento e fizeram valer o investimento no ingresso não muito barato. A começar pela banda paulista Teatro Mágico, que encantou com performances circenses e letras poéticas para as poucas músicas do repertório (o grupo de Osasco foi prejudicado por atrasos na organização dos equipamentos e teve de fazer um show mais rápido).

Para aqueles que como eu quiseram fugir dos shows de bandas como Capital Inicial e Jota Quest, a opção era fazer um pequeno hiato nas apresentações circulando pelas instalações do Festival - um labirinto de garrafas pet e uma montanha russa que se locomovia com a energia gerada por bicicletas eram apenas alguns dos mais instigantes.

De volta aos shows, os estadunidenses do Sublime With Rome apresentaram seu repertório homogêneo com um vocalista apático (e evidentemente drogado), e rapidamente puderam ser esquecidos com toda a graça de Regina Spektor – que enfrentou problemas técnicos em uma setlist que privilegiou algumas de suas melhores canções, como On The Radio e Fidelity.

A surpresa dentre todas as atrações veio em seguida com Joss Stone que, ainda que me agradasse com sua bela voz, nunca me despertou muito interesse como cantora. Quando ela entrou entoando seu hit Super Duper Love, no entanto, mudei expressamente de opinião. Lindíssima e carismática, Joss levou na brincadeira (outros!) probleminhas técnicos e encantou toda a multidão com sua voz afinada e doce, que deixou claros os motivos para a musa ter cantado com nomes de peso como James Brown e ser constantemente comparada à Aretha Franklin. Fell in Love With a Boy (originalmente Fell in Love With a Girl, do duo The White Stripes) e Right to be Wrong apenas somaram ao show composto apenas por acertos.

Da apresentação de Dave Matthews Band tenho pouco a dizer. Já esperava com ansiedade o show do Kings of Leon, banda que me motivou a ficar estático em frente ao seu palco por mais de duas horas antes do concerto começar (os shows aconteciam em dois palcos diferentes, instalados um ao lado do outro). Por essa circunstância, curti as longas canções da banda assistindo seus músicos através de dois telões - que garantiam a felicidade daqueles que estavam mais distantes dos palcos.

Por fim, Kings of Leon. Os irmãos e primo Followill foram ovacionados assim que apareceram e abriram o show com Crawl, seguindo com um público que delirava ao som de Molly's Chambers. Canções esquecidas como Milk, California Waiting e King of the Rodeo, esperadas pelos fãs dos primeiros álbuns do conjunto, foram compensadas pelas inserções mais que obrigatórias de Bucket, Slow Night, So Long e Knocked Up. Para o público ocasional que conhece o lado mais pop da banda, os hits Sex on Fire e Use Somebody eram essenciais e não foram deixados de lado.

No geral, o SWU não deixou a desejar. Esteve bem próximo de seu propósito por todo o tempo, ainda que seu público tenha preterido o discurso pró-ecologia em benefício aos espetáculos musicais programados. Com alguns pequenos problemas em questões de infraestrutura, como no estacionamento e banheiros, tudo foi compensado pela ótima programação do festival – e digo isso com base em apenas um de seus três dias de duração.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: 01 filme, 01 parágrafo #02

POESIA
Se apenas título e origem (Coreia do Sul) já bastam para despertar interesse, Poesia levou também o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes e apresenta a maravilhosa Jeong-hee Yoon, atriz com desempenho desconcertante. No filme de Chang-dong Lee, Yun interpreta Mija, senhora de espírito jovem que em meio a graves problemas busca inspiração para escrever poesia. Narrado de maneira leve e com recursos que o distanciam do melodrama e de soluções fáceis, Poesia excede um pouco em seu tempo de duração, porém consegue desenvolver uma história essencialmente trágica em meio a um universo colorido e alegre – como as roupas de sua protagonista.


UM QUARTO EM ROMA
Um dos filmes mais esperados no Festival do Rio foi este Um Quarto em Roma, de Julio Medem, que veio a ser exibido apenas no penúltimo dia de programação. Seja pela sinopse ou pela atriz principal (a linda e talentosa Elena Anaya), assim como pela admirada filmografia do diretor, as expectativas para com o filme eram grandes – fato que com certeza prejudicou a experiência de muitos espectadores. Um Quarto em Roma é aquele filme que você inicia uma análise justificando a bela fotografia para não dizer instantaneamente que ele é péssimo. Com uma direção excessiva e diálogos tão sofríveis quanto clichês, Medem ainda tem a pretensão de guiar todo um filme com duas personagens rasas e desinteressantes. De destaque, apenas a linda música Loving Strangers (que cansa depois de ser executada pela quinta vez) e, novamente, pela fotografia estupenda – que em alguns momentos emula pinturas impressionistas de forma deslumbrante. No mais fica difícil levar a sério quaisquer outros elementos do filme, uma vez que seu humor involuntário levou um cinema lotado a várias gargalhadas e palmas – de deboche.


REGERAÇÃO
Regeração é um documentário que com pouco mais de 5 minutos já identifica seu conteúdo como um tema sério e de extrema relevância para a sociedade do século presente. Com entrevistados interessantíssimos e narração feita por Ryan Gosling, Regeração procura nos jovens de hoje os motivos pelos quais estes vivem com comodismo em um universo de consumo, adoração à banalidades e de relações virtuais. Por vezes chamada “geração do eu” ou multitarefa, a falta de comprometimento ou de verdadeiras ambições dessa geração apresentada no filme realmente assusta quando damos conta que tais verdades já são praticamente universais. Phillip Montgomery dirige o filme levantando uma bandeira para que alguma mudança aconteça, intenção defendida pelo intelectual Noam Chomsky, que serve como entrevistado, assim como pelo ator e rapper Mos Def. Um filme que deveria ser obrigatório em qualquer sala de aula.


RUBBER
Depois de mais de 40 filmes vistos imaginei que Rubber seria minha válvula de escape do Festival, servindo para despretensiosos 90 minutos de diversão e de cinema do absurdo que, muitas vezes, funciona melhor do que muitos filmes que se levam a sério. Para se divertir com o pneu assassino de Rubber, no entanto, é necessário ir além do conceito de suspensão da crença e rir de animais e cabeças explodindo – necessidades que me parecem improváveis mas que funcionaram para um público que não parava de gargalhar. Abraçado em um discurso de que alguns filmes não precisam de razões para justificar suas motivações, Rubber ao menos precisaria de uma razão para ser engraçado ou inteligente, coisa que seu desenvolvimento preguiçoso e nada criativo não lhe proporciona.


De Nascimento a Harry Potter


Preparei-me ontem para ir ao cinema, cinema de shopping, que há algum tempo não frequento. O motivo? Tropa de Elite 2, o filme do momento, aquele que, felizmente, está levando milhares às bilheterias, no que parece ser um sucesso inconteste, e a esperar, provavelmente recordista nacional de bilheteria. Este sucesso pode ser medido, utilizando a experiência deste que vos escreve, pela minha impossibilidade de assistir ao filme, já que ontem, véspera de feriado, próximo das 16h, provavelmente a fila do cinema era formada por quase duzentas pessoas, ávidas pelo o que ali estava sendo exibido em duas salas. Dei meia-volta e me contentei pela obra, pelo cinema nacional atrair tanta gente (mesmo que seja fenômeno bissexto), e já comecei a arquitetar o novo dia para a audiência, quem sabe na próxima sexta.

Já que chegaria cedo em casa, resolvi passar na locadora antes e ver o que tinha. Na verdade, fui com o objetivo de pegar Harry Potter e o Príncipe Mestiço, único dos filmes do bruxinho que não vi em tela grande, por conta de no seu lançamento ter explodido por aqui aquele surto de gripe suína que fechou os cinemas da cidade e botou todo mundo de máscara. Enfim, com o iminente lançamento do próximo Harry Potter, o qual gostaria de ver no cinema, resolvi tirar o atraso de uma vez, já que tinha sido “impedido” de ver a sequência das desventuras de Nascimento mesmo.

Harry Potter e o Príncipe Mestiço é um filme longo, mas não cansativo, e isto se deve ao fato do diretor David Yates saber com prender nossa atenção na tela. Vemos um Harry, assim como seus amigos de escola, aprendendo as agruras e benfeitorias da descoberta do amor, ao passo em que vive um clima de constante paranóia pela ronda dos comensais da morte e de Voldemort. O filme se desenrola bem, tem a tradicional partida de quadribol e tudo mais, mas quando chegou lá pelo início do terceiro quarto, me dei conta de que ele ainda não tinha levantado a questão crucial do equivalente literário: as Horcruxes (artefatos em que Voldemort incrustou sua alma para se perpetuar). David Yates optou por passar quase todo o filme trabalhando os personagens, seus ritos de crescimento e, no final, acumulou a tensão da descoberta dos artefatos e dos trágicos acontecimentos relatados no livro em que se baseou. Ficou tudo meio atropelado, como se o perigo à espreita só pudesse de fato surgir na parte final, elevando a expectativa da platéia, a preparando para as sequências.

Harry Potter e o Príncipe Mestiço não é ruim, é um bom filme, um entretenimento que cumpre o que promete, entretém. David Yates ainda realiza um trabalho notável de direção, e as cores (quase sombrias demais) do filme, ajudam neste clima que o diretor propôs desde sua entrada. O problema é que ao tentar segurar a audiência, prejudicou fatos importantes da história, vistos de passagem neste filme, ou mesmo com um enfoque dramático menos interessante do que no livro (o que é bem ruim, já que este é um dos livros mais deficientes de todos os de Potter).

E Tropa de Elite 2? Ainda estou curioso, afinal gosto bastante do primeiro e vejo possibilidades de expansão temática no segundo. Assim que assistir, driblando as filas, conto o que achei.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: Dois Irmãos


Cinema para se deliciar aos quatro cantos, Dois Irmãos confirma, mais uma vez, o potencial de Daniel Burman, à frente de um filme encantador, um drama tragicômico que vai se superando a cada momento! Este segue de certa forma mantendo algumas de suas tendências vistas em seus filmes anteriores (Abraço Partido, Leis de família, Ninho Vazio), onde ele aborda com propriedade e sensibilidade temas como: complexos familiares e dinâmicas relacionais.

Dois Irmãos foi baseado no romance de Sergio Dubcovsky e conta a história de dois irmãos na terceira idade que após a morte da mãe precisam levar suas vidas e tocás-las para frente. Burman traça um paralelo muito inteligente e interessante entre os irmãos e os países: Argentina e Uruguai que se separam e se unem apenas por um rio. A partir desta idéia ele faz uma alusão à possível união, distanciamento, afeto e desafeto entre os dois que, entre acertos e erros, levam suas vidas ora num país, ora em outro.

Os dois personagens são imbatíveis, nos comovem e nos matam de rir! Susana (Graciela Borges) uma agente do ramo da imobiliária, autoritária e possessiva que se nega a compreender seu irmão Marcos (Antonio Gasalla), um homem generoso, atencioso que se mostra saudoso de sua mãe e que após sua morte é convencido por Susana a se mudar para Villa Laura no Uruguai, local bem provinciano e pacato, no qual Marcos se encontra, quando faz amizades e se inicia em uma aula de teatro onde estão preparando um espetáculo sobre Édipo Rei,n ão à toa a peça se relaciona intimamente com o filme que tem tudo a ver com o mito grego de Édipo! O filme vai tomando corpo com esses dois pólos distintos, mas que são constantemente marcados por toques humanos e realísticos, muito sutis e delicados. Daniel Burman acerta mais uma vez e emociona uma sala inteira de cinema que chora e aplaude seu filme.

Festival do Rio 2010: Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

Escrever sobre Woody Allen nunca é tarefa das mais fáceis. Para assistir e analisar um filme do diretor, de quem me confesso fã, deve-se deixar de lado quaisquer expectativas e parcialidades, visto que sua carreira é composta por trabalhos irregulares – alguns excelentes, alguns nem ao menos bons. Você vai conhecer o homem dos seus sonhos é um desses filmes que nem para bom serve. 

Na trama ficamos íntimos de uma série de personagens dignos do cinema cômico e crítico de Woody Allen. Todas suas histórias são desenvolvidas em paralelo e ao menos uma ligação existe entre eles. Temos aqui um casal em crise, a mãe paranóica dela, o pai que não consegue aceitar a terceira idade, um chefe que lhe desperta o interesse e uma série de outras personas – todas com a mesma importância e relevância para o desenvolvimento do filme.

Allen já é reverenciado pela força com que continua dirigindo, sempre lançando um filme por ano. Sua obra é composta por exemplares das melhores e mais inteligentes comédias do cinema norte-americano, mas que, como todo diretor, possui algumas manchas em sua carreira. No caso de Woody, temos uma retomada para a boa forma que se faz notar há alguns anos, quando ele lançou Match point e uma série de outros trabalhos elogiáveis, onde entra seu filme anterior, Tudo pode dar certo

A expectativa de encontrar um bom Woody Allen (me valendo do nome do diretor para aplicar como subgênero) era grande, fato que não deve ser censurado já que seu cinema andava em uma boa fase com raras exceções. Seu novo filme, no entanto, infelizmente apresenta um roteiro preguiçoso, com poucas passagens dignas do cinema do diretor, assim como uma série de outras inconsistências – que vão desde as atuações até a maneira com que o filme se desenvolve.

Evito maiores detalhamentos do filme para não tornar a experiência do futuro expectador comprometida, já que este (o filme) se guia pelo ordinário e qualquer pequena revelação pode causar isso. Se for necessário comparar com algum de seus outros filmes, o misticismo e as relações pretensiosamente cômicas entre os personagens me lembraram Scoop – O grande furo, enquanto a narrativa episódica dividida entre tantas pessoas excêntricas me remete a Celebridades – dois de seus filmes mais erráticos.

Tente não se deixar induzir por aquele letreiro em branco sobre fundo preto, aquelas caminhadas urbanas com personagens aparentemente grandiosos, ou pela narração em off descrevendo e acrescentando o que se vê na tela. Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, infelizmente, não é dos melhores lançamentos e sequer serve como um bom Woody Allen. 

Festival do Rio 2010: A vida durante a guerra


Todd Solondz. Para quem conhece o diretor norte-americano, a dualidade do “ame ou odeie” se aciona e causa impacto apenas com a leitura do nome do diretor. Solondz faz cinema crítico disfarçado de imparcial, carregado de simbolismos e argumentos dos mais válidos e ácidos quando se aponta o dedo para a sociedade contemporânea – não apenas a dos Estados Unidos, já que seus filmes poderiam ser passados em muitos outros países, inclusive no Brasil.

Em A vida durante a guerra o diretor retoma seu enredo de Felicidade, filme de 1998 que apresentou um núcleo familiar disfuncional e uma série de outros personagens que se relacionam com cada um de seus integrantes. Com um elenco inteiramente diferente, o filme coloca uma lupa na realidade de cada uma dessas pessoas nos dias de hoje – e o resultado não é dos mais animadores ou otimistas, como já se espera do cinema de Solondz.

Sempre econômico nos recursos estéticos e técnicos, Todd Solondz busca com sua composição visual a representação de uma sociedade imaculada e limpa, que beira à perfeição. Quando se aproxima de cada residência de fachada impecável, no entanto, é justamente o oposto que se enxerga. Em grande parte do filme, Solondz salienta sua economia inserindo apenas dois personagens em cena com um longo diálogo, daqueles cheios de referências e menções que apenas ouvidos atentos notarão.

Mais uma vez temos Joy como centro do filme, que mesmo afundada em desgraças acredita em um futuro no mínimo aceitável para sua vida – ainda que Andy e Allen contribuam justamente para que o oposto aconteça. Com mesmo destaque no filme está sua irmã, Trish, que ignora completamente o passado traumático causado pelo seu ex-marido pedófilo e segue procurando por uma normalidade irreal ao lado de seus filhos – dos quais se destaca Timmy, com a importância que Billy, seu irmão mais velho, teve em Felicidade.

Sem Phillip Seymour Hoffman, Jon Lovitz, Jane Adams ou Dylan Baker, Solondz poderia ter um problema grande com seu elenco em A vida durante a guerra, o que não acontece pelas ótimas performances entregues por atores como Shirley Henderson, Allison Janney e Ciarán Hinds. A troca de elenco funciona também para distanciar ainda mais o filme de Felicidade, tornando este um filme independente da obra dos anos 90. Todas as relações com o filme anterior são óbvias e sim, se trata de uma sequência, mas não existem impedimentos para que este A vida durante a guerra seja visto sem que se conheça o filme anterior de Solondz.

Com o humor bastante particular de seu cinema, Todd Solondz coloca o dedo na ferida de uma sociedade que só procura a normalidade vendida pelos veículos de massa e que se reproduz abraçada a um conformismo quase absurdo. Assim como em todos os seus outros filmes, Solondz apresenta argumentos que podem causar tudo aos seus espectadores, menos a indiferença. 

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: Turnê


Incrível como Turnê é arrebatador e encanta o espectador que não desgruda os olhos da tela e ainda é capaz de lotar uma sala de cinema numa terça ao meio dia, mesmo sem ter tido grandes divulgações no Festival, se compararmos a outras grandes produções.

O filme conta a história de um produtor falido que na esperança de retomar seu prestígio no meio artístico, resolve levar seu grupo de dançarinas strippers para a França. Esse grupo muito peculiar é formado por strippers de verdade, que originalmente são de um movimento  americano chamado "new burlesque". São artistas, 1 homem e 5 mulheres fora do padrão esperado para dançarinas comuns. Todas muito inventivas, alegres, batalhadoras e, principalmente, nada caricatas, seguindo seus próprios conhecimentos e tendências no palco. Elas encantam com suas habilidades e um carisma que só vendo pode-se entender o que falo.

A grande sacação de Mathieu Almaric, ao meu ver, é a celebração do grupo enquanto trupe, não só de um grupo que está junto  defendendo interesses comerciais. Almaric nos mostra o quão possível e gostoso pode ser viver um ideal de vida atrelado ao profissional. Nessa perspectiva, o filme se torna uma espécie de "Show must go on" quando mostra cada uma das atrizes com suas questões pessoais em jogo, mas lutando para que a trupe não acabe, como se encarassem aquilo como uma segunda família. Há um diálogo claro de Mathieu com a linguagem teatral. As cenas performáticas mostram bastante essa tendência da encenação enquanto espetáculo, sem entraves, jogos de cena ou truques.

Turnê é de uma beleza e sensibilidade incríveis! Eu adorei!

domingo, 3 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: A Solidão dos Números Primos


Com o coração ainda explodindo e a cabeça fervilhando, tento, sem muitos recursos, pois me faltam palavras, falar sobre essa maravilha: A Solidão dos Números Primos.

Alice e Mattia se conhecem na infância e ambos têm a vida marcada por uma criação cheia de conflitos e traumas que os tornam indivíduos singulares e isolados na sociedade em que vivem. Alice cresceu numa família onde a mãe era quase ausente e o pai, hiper autoritário e ditador, apostava em uma carreira atlética para ela quando esta sofreu um grave acidente de esqui que a deixou manca de uma perna. Mattia era responsável pelos cuidados de sua irmã gêmea deficiente, que um dia depois de sair para uma festa com ele, desaparece, provocando uma reviravolta na vida desse menino. O filme tem uma narrativa que começa em 1983 chegando a 2007 entre idas e vindas, numa alternância cronológica com a intenção de explicar o que ocorrera nesse período. Partindo desses dois acidentes, o filme se desenvolve.

Os traumas vividos por Alice e Mattia os uniam cada vez mais, como se cada um entendesse a dor do outro. No entanto, eles não conseguiam pedir ajuda para mais ninguém e se afundavam cada vez mais em seus problemas. Mattia se escondia atrás de ótimas notas na escola e, mais tarde, de títulos honrosos. Alice investiu na carreira de fotografia, mas isso não a segurou muito. Depois de um tempo ela foi ficando cada vez mais identificada com a sua mãe, uma mulher aparentemente omissa e perdida.

A infância, adolescência e vida adulta dos protagonistas são períodos apresentados com requinte de detalhes no que se refere aos sentimentos de ambos, estado de espírito e condições psicológicas. Alice, na fase adulta, impressiona por sua magreza típica de anorexia e Mattia com quilos a mais, reflete em suas expressões um estado solitário, culpado, de martírio e tristeza. Esses dois contrapontos, que também reforçam a idéia de inscrições corporais e não só psíquicas, chocam o espectador que, em busca de uma luz no fim do túnel, vai acompanhando esse roteiro perfeito, porém triste e muito sofrido.

Os dois são comparados aos números primos: divisíveis por um e por eles mesmos, sem chance de serem divisíveis por outros. Dando a idéia de que somente um poderia salvar o outro. Com essa base metafórica extraída da matemática, o autor vai descrevendo cenas lindas, intensas, fortes, vividas com dor e amor. De tão verossímeis os fatos, o filme acaba nos envolvendo e transportando para o universo traumático e obscuro de Alice e Mattia. Não poderia me antecipar, mas digo com segurança que A Solidão dos Números Primos pra mim foi o melhor filme da Mostra até agora! 

Festival do Rio 2010: Somewhere


Contra tudo e contra todos, parece, vou dando aqui minhas impressões muito pessoais, é claro, do mais novo filme de Sofia Coppola. Não me agrada um filme que pretende ser "non sense" em alguma medida e que, à partir de cenas que aparentemente não querem dizer nada, tenha um significado especial. Takes longuíssimos! Mas para mim foi mais incômodo parecer que eu estava praticamente revendo Encontros e Desencontros, pelo excesso de semelhanças pequenas, mas em grande quantidade, como: as locações (sempre quartos de hotéis onde tudo acontece), a condição solitária do protagonista (ator de hollywood que vive a cada dia entre festas e passeios na sua Ferrari , tem a vida mexida quando precisa se deparar com a responsabilidade de cuidar da filha por alguns dias).

Sinceramente, não consigo acreditar muito em filmes que não passem emoção e que, diferente do anterior que vi, causam impacto pelo formato muito mais que pelo conteúdo, que nesse caso é bem fraco. Soa como se fosse modismo e uma forma bem peculiar, moderna de conquistar o espectador, essa de apresentar takes bem longos, onde os personagens olham para o teto e de repente uma música que aumenta, aumenta...até que....que...nada acontece e fica aquela coisa de: vai ser, não foi, quase foi...

Sem contar com as falas, que também devem fazer parte desse estilo, onde o barato é dar asas à nossa imaginação, uma vez que elas quase não existem. Sendo assim as atuações não precisam ser excepcionais, aliás, não precisam ser um ponto alto no filme e não são! Já que o contexto blasé, "despretensioso" aparentemente sustentam essa atmosfera "comum" mas bacana, aliás (nesse contexto) o bacana é ser comum!!

Pra mim quanto menos declarado (o estilo) pior, pois menos autoral o filme se torna. E Somewhere talvez pelo excesso de impessoalidade que a diretora injeta no filme se torne apagado, sem identidade própria, fica meio escorregadio no tocante roteiro e desenvolvimento do mesmo. A primeira cena, tão falada pela mídia, além de eu não ter gostado realmente, já dava pistas do que seria o resto do filme. Se estivéssemos falando aqui de um escritor, eu diria que sua obra, roda, roda e não sai do lugar ou que ele dá milhões de voltas para falar de um ponto ou ainda que toda sua linguagem rebuscada não dá em nada, para alguns, para outros surte efeito e agrada muito justamente por esse modelo muito mais contemplativo do que visceral.

Festival do Rio 2010: Cópia Fiel


Excelente! Um verdadeiro mergulho no cinema defendido por aqueles que não abrem mão do clássico, do cinema tradicional com todas as qualidades pertinentes, desde atuações primorosas, roteiro muitíssimo bem amarrado, linda fotografia passando por um argumento de peso e consistência a diálogos maduros e bem acabados. Só que Cópia Fiel se destaca também por impactar não pelo formato, mas sim pelo conteúdo profundo, diferente da maioria dos filmes dessa mostra, por exemplo.

A história se passa na Itália, onde um filósofo inglês vai falar de seu novo livro sobre o valor da cópia na arte. Lá ele conhece uma mulher francesa que é dona de uma galeria de arte e mora com seu filho pré-adolescente. Elle, a mulher interpretada lindamente por Juliette Binoche se encanta com James, o filósofo. Após uma visita dele à sua galeria, os dois saem para passar a tarde fora. Nesse passeio os dois começam a interpretar papéis que se confundem com eles próprios e suas vidas, nos deliciando com um verdadeiro show de atuação nas telas.

Imperdível assistir Juliette Binoche falando em francês, inglês e italiano em diálogos surpreendentes sem mesmo mudar de plano e cenário. William Shimell, o filósofo, cantor e ator de teatro na vida real, também emociona o espectador quando se mostra confuso e misturado no enredo da linda mulher que o envolvera naquele jogo todo.

Um filme de Abbas Kiarostami é sempre um filme de Abbas Kiarostami, e nesse longa, seus traços estão evidentemente impressos, deixando suas marcas sem restar dúvida de quem está à frente da direção. Afinadíssimo ele conduz a história com expressão, emoção deixando um gosto de quero mais a cada cena que ia se passando.

O interessante é que de todos os filmes que vi, Cópia Fiel foi com certeza o mais concorrido, lotando uma sala grande de cinema. No entanto, pelos comentários o sucesso e a expectativa se deram pela presença ilustre da bela e competente Juliette Binoche. Só que para não haver engano, gostaria de dizer que o mérito, a meu ver, é do conjunto da obra: um roteiro sensível, inteligente, autoral que aliado a boas atuações se constituiu o tal filme disputado entre os cinéfilos, e não apenas pela presença dela.
O fato é que Cópia Fiel merece ser visto e revisto!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: Micmacs


Micmacs, novo filme de Jean-Pierre Jeunet, é “legalzinho”, moderninho e diverte, por assim dizer,  a semelhança com os filmes anteriores do diretor é incontestável. No entanto, a meu ver, Micmacs, Amélie Poulain, Ladrão de Sonhos, só se assemelham nos aspectos estéticos e de estilo, pois a trama em si, o desenvolvimento dos personagens e saídas para as cenas absurdamente estilizadas, são completamente diferentes . E talvez isso explique a eficácia de um e os furos de outros.

Bazil, o protagonista, perdeu o pai quando era jovem, durante a guerra. Anos depois, ele é atingido por uma bala mas sobrevive. Completamente sem perspectivas e falido, Bazil é acolhido por um ex-presidiário que o convida para conhecer outras tantas pessoas esquisitas, mas muito receptivas. Em meio a esse grupo estranho, ele descobre que tanto a empresa da mina que matou seu pai como a da bala que o atingiu, são rivais e tem muito mais em comum do que parece. Com o propósito de se vingar Bazil arma um plano fantástico, mirabolante. De toda forma Micmacs é um filme de bom gosto, cômico na medida certa, ágil, dinâmico, com planos divertidos, coloridos, emocionantes, mas não a ponto de se tornar um filme inesquecível de Jeunet.