sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Melhores, Piores, e considerações sobre o cinema em 2010


Mais um ano está acabando, neste fluxo inexorável e implacável do tempo. Não sejamos por demais filosóficos neste momento, nem piegas com aquelas mensagens do tipo “da boca para fora” que entopem nossas caixas de entradas do correio virtual. Falemos de cinema, pois, como sempre fazemos, estamos aqui para apresentar nossa lista de melhores e piores de 2010. Na verdade, este ano cada um seguiu uma linha, como poderão ver abaixo, balizados somente pelo critério de selecionar filmes lançados no ano que acaba depois das 23h59min e 59s. Alguns critérios como lançamento setorizado e relançamento permitem a entrada de alguns filmes, como podem constatar. O Conrado elegeu melhores e piores, eu (Marcelo, para os que não conhecem) resolvi eleger os apenas melhores, seguidos de um breve comentário e o Rafa resolveu não participar desta vez, até porque 2010 foi um ano de poucos filmes para o menino (atolado em estudo e outros compromissos, diga-se). Então vamos lá, esperamos que em 2011 consigamos manter o bom ritmo de postagens, sempre contando com os que nos leem.


CONRADO

Melhores 2010

3. Os Famosos e os Duendes da Morte
4. O Profeta
5. Hanami – Cerejeiras em Flor
6. Procurando Elly
7. O Segredo dos Seus Olhos
8. Mother – A Busca Pela Verdade
10. Guerra ao Terror

Piores 2010

1. A Caixa
2. Os Coletores
3. Os Normais 2 – A Noite Mais Maluca de Todas
4. Percy Jackson e o Ladrão de Raios
5. À Moda da Casa
6. Grace
7. Patrick 1.5
8. Ondine
9. Encontro Explosivo
10. Enterrado Vivo

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MARCELO

Melhores 2010

1. Ervas Daninhas - Alain Resnais e seu conto, sobre o amor torto entre duas pessoas, e o seu próprio pelo cinema.
2. Toy Story 3 - A Pixar não dá ponto sem nó, e a terceira parte desta impecável trilogia mostra, com muito humor e aventura, a dolorosa e imprescindível experiência dos ritos de passagem.
3. Vincere - Em tom operístico, Marco Bellocchio cruza história pública e pessoal para fazer um dos filmes mais impressionantes que a Itália gestou nos últimos tempos.
4. Ilha do Medo - Um filme instigante, o melhor exemplar recente do cinema scorsesiano. Só a abertura primorosa já valeria o ingresso e o deslocamento ao cinema.
5. A Fita Branca - Brilhantemente duro, seco e incisivo, aliás, como quase tudo dirigido por Michael Hakene.
6. O Escritor Fantasma - Polanski volta à velha forma com um filme claustrofóbico, que joga com as aparências e que ecoa sua recente experiência pessoal.
7. Tudo Pode Dar Certo - Woddy Allen, aqui interpretado magistralmente por Larry David, continua impagável. Este é seu filme mais engraçado desde Desconstruindo Harry.
8. Tropa de Elite 2 - Recordista de bilheteria do cinema nacional, a continuação do sucesso de José Padilha é filme político e thriller de ação, ainda com reverberação na sociedade, que se mobilizou para discutí-lo. Precisa falar mais?
9. A Rede Social - O novo filme de David Fincher fala sobre internet, alienação, solidão em tempos de redes sociais, tudo isto filtrado pela história de um Charles Foster Kane contemporâneo, utilizando um roteiro brilhante de Aaron Sorkin.
10. Os Famosos e os Duendes da Morte - Os anseios juvenis, as expectativas e projeções de um adolescente no meio de uma pequena comunidade, são as forças motrizes deste belíssimo filme que marca a estreia da promissora carreira em longas de Esmir Filho.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Os Trapalhões e a Nostalgia


Foi um impulso nostálgico que me fez comprar ontem o DVD de O Casamento dos Trapalhões, e prontamente não resistir à revisita. Como toda criança nascida e criada nos anos 80, cresci vendo as estripulias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, entre a tela da Globo e a sala de cinema. No meu caso, bem mais na tela da Globo, na qual via o programa que tinham e seus filmes, exibidos com frequência nos áureos tempos da sessão da tarde.

No cinema propriamente dito, fui apenas uma vez assistir a um filme dos Trapalhões, e justamente esta se tornou inesquecível, pois foi a primeira vez que fui ao cinema, no finado Cine Central, na época uma já decadente sala bem no calçadão central de Caxias do Sul, num prédio que posteriormente abrigou um bingo, e que hoje sedia sei lá o que, não lembro no momento. O filme em questão era justamente O Casamento dos Trapalhões, e o ano que corria era o de 1988. Lembro até hoje da excitação de ir ao cinema pela primeira vez, então com seis anos, de mãos dadas com meu pai. A sala já denotava a deterioração que mais tarde viria a decretar seu melancólico fechamento, mas não importava, pelo menos não àquela criança que vibrou ao entrar e ficou ansioso enquanto o filme não começava. Como todas as “primeira vez”, foi uma experiência marcante, o que de repente explique o motivo de eu gostar tanto de O Casamento dos Trapalhões, um filme até meio ingênuo, nem o melhor da profílica carreira do quarteto, mas um exemplar que me fala direto ao espaço dedicado às emoções.

A história dos quatro irmãos (sim, mesmo Mussum sendo negro, não há nada de estranho na irmandade de sangue entre eles, filhos da mesma mãe e do mesmo pai, primeira piada) que moram numa fazenda bagunçada que só ela, é contada sem muitas invenções, bem ao gosto do cinema popular, comercial. Existe um contraste forte entre a cidade grande e o campo. As filmagens do campo foram feitas em locação natural, geralmente rendendo imagens bem iluminadas, exaltando a natureza, enquanto a cidade é sempre vista como um ambiente escuro, somente iluminado pelos néons e luzes artificiais. Temos aí um contraste, o único ponto que nos fornece algo para uma interpretação mais aprofundada.

Eu disse, O Casamento dos Trapalhões é um filme dos Trapalhões, assumidamente comercial (chega a exagerar em alguns merchans) e escapista, deliciosamente escapista, como a maioria de seus filmes. E então, como explicar meus olhos marejados quando a história foi se aproximando de seu clímax? Como envolver-se tanto com algo tão rasteiro e de feitura tão simples? Felizmente não somos máquinas programadas para pensar, racionalizar, peneirar até que os sentimentos sumam e fique apenas o substrato intelectual de todas as coisas. Quem sabe o envolvimento e a alegria de ver O Casamento dos Trapalhões novamente e rir das piadas, seja reflexo não só da admiração que sempre tive pela trupe, mas, e principalmente, por conta daquela primeira experiência no cinema, numa espécie de inconsciente gratidão pela porta que o filme abriu para aquela criança de seis anos, e pela qual o hoje adulto filtra algumas experiências e vislumbra sua paixão. Como diria o finado Renato Russo: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão.”

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A temporada de séries da TV estadunidense

Nas duas últimas semanas foram ao ar os derradeiros episódios das temporadas dos seriados que acompanho da TV americana. Falando em séries de TV, esta nova indústria estadunidense parece que tende a crescer mais em mais, abrigando projetos um pouco mais ousados, encontrando seu público, um público que está se afastando do cinema, cada vez mais lotado de adolescentes barulhentos e filmes de temática e abordagem uniforme. Ser apocalíptico em relação ao cinema, principalmente o americano, guarda certa dose de exagero, é certo, mas desde o levante dos filmes evento, geração após geração vem sendo educada para consumir o que de mais rasteiro a sétima arte pode oferecer. Até mesmo bons entretenimentos (por que nem só de filmes profundamente relevantes vive o homem), estão rareando, frente a cortes rápidos, efeitos especiais e projetos sob encomenda. É claro que a TV americana não vive só de coisa boa e quem pinta este painel maniqueísta “TV é bom e cinema é uma porcaria” não lê as constantes notícias de cancelamentos e insucessos de projetos televisivos.

Não há, porém, como negar a qualidade dos produtos da telinha americana, ainda mais quando temos gente de grosso calibre envolvida, como Martin Scorsese, Frank Darabont, Michael Mann e Neil Jordan, só para citar os mais recentes oriundos do cinema a se aventurarem nos seriados. Sem dúvida este envolvimento de gente de renome é sintomático, e aponta para uma tendência crescente de bons projetos para a TV, onde mentes criativas têm mais tempo para desenvolver tramas e personagens, e onde, verdade seja dita, o inverso também é verdadeiro, ou seja, mentes medíocres têm mais tempo para fazer mais porcaria. Como em qualquer coisa, seja no consumo de cinema, TV e literatura, basta selecionar. Bem, vamos às considerações.


Dexter (Quinta Temporada): Como dar sequência a Dexter, quando a quarta temporada, além de apresentar um antagonista fascinante, encerrou-se de maneira tão inusitada e impactante? Parece que a equipe criativa da série (minha favorita) se ressentiu um pouco desta responsabilidade, e entregou uma quinta temporada que se não foi decepcionante, ficou bem aquém das possibilidades da trajetória de Dexter. Não faltaram boas tramas e a evolução psicológica do personagem central que, nesta temporada, se viu na condição de pai solteiro, e às voltas com um relacionamento afetivo dos mais profundos que já teve. Bons motivos não faltavam para uma temporada apoteótica, que, infelizmente, não veio. Tramas paralelas que dominaram os primeiros episódios, como o relacionamento conturbado de Angel e Laguerta, não foram muito bem exploradas, bem como o mistério da “Santa Muerte”, que pouco serviu para o todo. Isto, esta falta de profundidade de certos desenvolvimentos, diluiu um pouco meu interesse neste quinto ano, interesse este que só voltou a partir da entrada para valer do antagonista da vez: Jordan Chase. Felizmente o embate entre Dexter e o ardiloso líder dos estupradores e assassinos de mulheres, rendeu bons episódios, sacadas interessantes. Mesmo assim, no final, ficou uma sensação de que os responsáveis pela série precisam ligar o alerta vermelho.


The Walking Dead (Primeira Temporada): Baseada nos quadrinhos homônimos, a série produzida por Frank Darabont foi uma das mais esperadas do ano, pelo simples fato de tratar de zumbis, assunto inusitado quando pensamos em uma história serializada. O primeiro episódio, dirigido pelo próprio Darabont, foi empolgante, mostrando a infestação zumbi que tomou conta do mundo, transformando-o em local cheio de carne putrefata, moscas e serem errantes. A arte, o cuidado com as minúcias, a maquiagem zumbi e os animatrônicos hiper realistas, encheu os olhos de quem acompanhou o piloto. Darabont sabe o que faz. O segundo episódio não deixou a peteca cair. Porém, dentro de seus seis episódios, esta promessa de grandiosidade não se cumpriu por completo, em parte por que faltou um estofo dramático mais elaborado aos personagens. É normal que numa série, alguns episódios sejam “enrolativos”, mas quando isto acontece em pelo menos dois episódios de uma série com seis, ou seja, quando mais de 30% da temporada forma um painel um tanto quanto insosso, é de se pensar. Mesmo com estes poréns, The Walking Dead já garantiu sua segunda temporada, que acompanharei como atento espectador. Gostei, com ressalvas, mas gostei, em certos momentos com bastante entusiasmo. Não poderia Frank Darabont escrever e dirigir todos os episódios?


Boardwalk Empire (Primeira Temporada): A melhor série das três que acompanhei este ano, sem dúvida foi Boardwalk Empire, e sua figura central, Nucky Thompson, é o personagem mais interessante  do meio, desde o surgimento de Dexter Morgan. Nucky é o tesoureiro de Atlantic City, governa a cidade e suas cercanias, acima de tudo e de todos, como um autêntico gângster legitimado, controlando políticos, asseclas e pessoas próximas. A reconstituição de época é só um dos muitos acertos desta série, que conta ainda com um elenco homogeneamente inspirado. Steve Buscemi faz o papel de sua vida como Nucky Thompson, e seu trabalho merece todos os elogios que vem recebendo (espero que estes se transformem em prêmios). Mas não só de Buscemi vive Boardwalk Empire. Figuram com muito destaque, atores igualmente de primeiro escalão, tais como: Michael Shannon, Michael Pitt, Kelly Macdonald e Michael Stuhlbarg. Acerca do desenvolvimento, após um primeiro episódio vistoso (dirigido por Martin Scorsese) a série derrapou um pouquinho, pelo excesso de informação que, vez ou outra, confundiu o espectador. Mas, a partir do quinto episódio, ela desenhou uma rápida curva ascendente, com tramas bem escritas e dirigidas. Ao final de sua primeira e empolgante temporada, Boardwalk Empire, pelo menos sob a ótica deste que vos escreve, se apresentou como a melhor série de 2010, justamente pela inteligência com a qual misturou os jogos políticos e marginais de priscas eras (alarmantemente atuais) com o desenvolvimento gradual de relações e personagens instigantes. Aguardo muito ansioso a já garantida segunda temporada.

sábado, 11 de dezembro de 2010

A bem-vinda incorreção de Kick-Ass


Os filmes de super-herói tomaram de assalto a indústria americana de cinema nos últimos anos. Descoberto o filão e a máquina de fazer dinheiro, toda a engrenagem que movimenta financeiramente Hollywood se ajustou para seguir a direção do gosto popular, e até editoras de quadrinhos viraram estúdios, para poderem ganhar mais dinheiro com a galinha dos ovos de ouro que tinham em mãos. Alguns dos filmes desta tipologia são muito bons, a maioria nem tanto, mas como isto não é exclusividade dos heróis, e sim uma tendência triste de falta de criatividade, não iremos utilizar este argumento para minimizar os filmes do novo gênero.

Quando surgiu, Kick-Ass - Quebrando Tudo, baseado numa HQ que virou cult onde foi publicada, foi apontado por uma parte da crítica como sendo algo de reveladora importância, como se a história, cheia de sangue e incorreção, do menino que quer virar herói mesmo que não possua poder algum, fosse um tipo de evolução, ou mesmo a prova de que tendência violenta/sombria (lembram-se do alarido em torno de Batman - O Cavaleiro das Trevas?) estaria agradando ao público mais do que os valorosos e limpinhos antigos faróis da boa conduta. A crítica, principalmente a americana, gosta de pregar umas peças, de alçar alguns cineastas ou filmes a panteões que de direito não lhes pertencem. No caso de Kick-Ass - Quebrando Tudo, a crítica exagerou, concordo, não há nada que justifique demais este alvoroço, mas que é um filme divertidíssimo, ah isto é.

Dave quer ser herói, mas não perdemos muito tempo com explicações filosóficas para a gênese desta vontade. Ele quer e pronto. Compra uma roupa na internet e sai querendo fazer a coisa certa. É claro, se arrebenta, e logo percebe que não depende só de querer, mas de poder. Em seu caminho, ele encontra pessoas que, tampouco dotadas de poderes, lutam contra o crime, só que por vingança. Entram em cena então, Big Daddy e Hit Girl, a dupla que representa um ponto que me agrada muito em Kick-Ass - Quebrando Tudo: a falta de correção. Ok, dirão os detratores, é tudo da HQ, não é original, mas pensem em mostrar na tela uma menina de 11 anos decapitado pessoas, arrancando membros, assassinando a sangue frio, e agora vislumbrem o embate destas imagens com aquelas associações carolas que vivem buscando o pomo da discórdia, e castram as criações pelo bem da “moral e dos bons costumes”. Se o filme não fosse feito com financiamento independente, e se as exibições prévias e marketing preliminar não tivessem despertado no público a vontade de vê-lo no circuito, provavelmente Kick-Ass - Quebrando Tudo nunca teria saído das páginas da história originalmente concebida por Mark Millar e John Romita Jr.

Kick-Ass - Quebrando Tudo é sangue, personagens arquetípicos, citações pop, trilha sonora inspirada (em alguns momentos, especialmente inspirada), e uma direção muito segura de Mattew Vaughn. Impagável a interpretação de Nicolas Cage (fã inveterado de quadrinhos) como Big Daddy, fazendo referência a Adam West, o ator que envergou a capa de Batman no seriado televisivo sessentista. Aliás, o elenco está ótimo, e me cobrem no futuro se Aaron Johnson não será o novo queridinho de Hollywood, enquanto a preciosidade chamada Chloë Moretz será uma das mais interessantes atrizes de sua geração.  

Kick-Ass - Quebrando Tudo é o que promete: diversão, violência, que de tão absurda e recorrente vira elemento quase cômico, e uma boa dose de profundidade, se formos analisar as histórias familiares: a do homem que busca vingança, nem que para isto precise transformar a filha numa máquina de guerra, ou a do filho que faz de tudo para ficar ao lado do pai, nem para que isso precise virar um bandido. Kick-Ass - Quebrando Tudo não vai mudar os rumos do cinema, nem mesmo do gênero no qual está inserido, mas que é um entretenimento empolgante, antenado com a época em que foi realizado (atentem para a internet, quase personagem do filme) e com alguns momentos emocionantes (sim, eu derramei algumas lágrimas), não há como negar. Entretenimento sim, assumido e confesso, e por que passar o tempo, se entreter, com algumas porcarias vistas por aí, quando podemos nos envolver com uma narrativa absurdamente divertida como a de Kick-Ass - Quebrando Tudo?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Entrevista: David Fincher fala sobre "A Rede Social"


Entrevista realizada por David Jenkins (Time Out Sidney)
Tradução: Conrado Heoli

David Fincher atingiu algo com "A Rede Social" - e ele sabe disso. Seu vivaz estudo sobre a gênese do Facebook funciona como uma versão pontocom de O Grande Gatsby, com diálogos rápidos que remetem às comédias screwball dos anos 40. É um filme muito diferente daquilo que poderíamos esperar vindo do homem por trás de "Clube da Luta", "O Curioso Caso de Benjamin Button" e "Zodíaco", embora ainda seja centrado em um personagem - o milionário miserável co-fundador do Facebook, Mark Zuckenberg - que, ao contrário de seus maiores esforços, é incapaz de encontrar a felicidade através da construção de conexões humanas. O Time Out encontrou com o diretor, de 48 anos, em Paris, onde ele se apresentou com um bom humor enquanto fazia uma pausa antes das filmagens de "Os Homens que não Amavam as Mulheres", quando irá para o norte da Suécia.

Time Out Sidney: Por que fazer um filme sobre Mark Zuckerberg?
David Fincher: Ele é facinante, ele é vulnerável, ele é esperto e ele é incrivelmente intolerante. Ninguém chegou até mim e disse "Você gosta de Mark Zuckerberg?". Eles disseram "Nós temos um roteiro realmente ótimo, você gostaria de ler?". Mas este é Zuckerberg enquanto escrito por Aaron Sorkin, pois eu preciso afirmar que não o conheci, apenas o observei à distância.

TOS: Você se identifica com ele?
DF: Eu me identifico com quase todos os personagens do filme. Enquanto diretor, eu não sinto que devo me identificar com os meus personagens como um requisito para se fazer um filme.

TOS: Você acha importante que Zuckerberg não seja um personagem fácil de se gostar rapidamente?
DF: Olha, eu não sou um assistente de desenvolvimento que é serviçal do estúdio: muitas vezes as pessoas gostam de personagens que precisam ser amados ou admirados. Eu gosto desses personagens. Eu gosto de Jake LaMotta. Eu gosto de Travis Bicke. Eu até gosto de Rupert Pupkin. Eu gosto de personagens que não mudam, que não aprendem com seus erros. Charles Foster Kane era um garoto mimado de oito anos com um trenó, então ele se tornou um homem mimado de 76 anos que cresceu em seus últimos momentos na Terra. Mas ele não mudou. Se eu estou tentando separar você da sua carteira, então eu tenho que me preocupar se você irá gostar do que está vendo? Eu não faço isso. Eu gosto de pessoas que pensam "Foda-se!".

TOS: Você tentou fazer contato com Mark Zuckerberg?
DF: Quando me envolvi, o produtor Scott Rudin teve sua última discussão oficial com o Facebook e seus sócios. Eles tinham uma dúzia de requerimentos para a participação deles, e as duas primeiras eram: o filme não pode se passar em Harvard e você não pode chamar ele de Facebook. Então, Rudin, que não é um cara burro, apenas disse que aquelas discussões não precisariam ir adiante: nós faremos um filme sobre o processo, enquanto as deposições forem todas públicas e nós podemos juntar deles o drama que precisamos para fazer nosso filme.

TOS: Algum representante do Facebook foi convidado para ver o filme finalizado?
DF: Houve um contingente do Facebook Legal e do Facebook Corporate Communications que viu o filme, mas eu não sei as especificidades daquilo e eu não estive na sessão.

TOS: O que eles acharam?
DF: Novamente, eu não estive lá, mas foi relatado para mim pela pessoa responsável pela entrega do filme nessa sessão que eles estavam... apropriadamente chocados.

TOS: O filme foi lançado através de uma campanha de marketing bastante esperta.
DF: Sim, mas o problema com a campanha de divulgação foi que você não pode apenas dizer "Punk, gênio, bilionário" já que você está usando aquele flash narcisista da MTV para pegar crianças interessadas. Eu quis incluir "Judas", ou "traidor", porque você deve ter uma palavra ruim lá. "Punk, gênio, bilionário" é basicamente um boquete gigante.

TOS: Os diálogos do início do filme são extremamente rápidos.
DF: A primeira cena de um filme deve ensinar a audiência como o assistir. Eu tinha um contrato para 2 horas e 19 minutos. Eu tive um corte final de 2 horas e 19 minutos. Enquanto eu pudesse fazer o filme nesse tempo, eu poderia fazer qualquer merda que quisesse. Eu segurei esse roteiro de 166 páginas em minhas mãos, então peguei as primeiras nove páginas, entreguei para Aaron Sorkin e disse: "fale". Ele fez isso e foi engraçado, isso iria prender as pessoas, e você sabe o quê? Não irá começar com a tela preta como está escrito. Eles vão começar a falar sobre o maldito logo da Columbia Pictures! Se eu pudesse colocar as falas iniciais e diálogos sobre um trailer, eu teria feito isso. É um momento "cala-esta-maldita-boca": preste atenção, ou você perderá um monte.

TOS: Uma coisa que você disse sobre "A Rede Social" é que você temeu que as pessoas o vissem como um filme sem muito valor.
DF: É irrefletido, com certeza, mas nós estamos falando sobre um monte de grandes noções. Mas sim, quando eu vi o primeiro corte, eu pensei que era um pouco sem valor. Para mim, era uma interessante pílula amarga, e você precisaria de muitas colheres cheias de açúcar para o engolir. Mas eu não quis o açúcar para atrapalhar a grande tristeza no final do filme. Com "Benjamin Button", a maior preocupação era que ele fosse sentimental demais. Eu sinto que esta é a real versão deste filme. Mas eu gosto de me preocupar. Eu estive preocupado que "Seven" e "Clube da Luta" não fossem violentos o suficiente, então...

TOS: O filme está atraindo referências com diversos grandes filmes e livros, assim como Macbeth, O Grande Gatsby, Cidadão Kane. Você estava considerando alguma dessas referências com as quais você foi elogiado?
DF: Alguém me perguntou qual era minha intenção com este filme, e eu disse - muito alegremente - que eu queria fazer o Cidadão Kane dos filmes de John Hughes. Nós estamos falando de um filme sobre uma idade crescente que é também o reflexo dos últimos quatro anos de uma vida de 26 anos. Esta é a comicidade da era da informação. Algo que eu penso é que um dia na vida de uma baleia azul é diferente de um dia na vida de uma mosca.

TOS: Este é seu filme mais falante. Como um diretor reconhecido por seu senso visual distinto, você se divertiu esculpindo palavras e performances?
DF: Houveram duas coisas sobre as quais eu fui responsável. Uma foi estar ou não apresentando um comportamento crível, o que é totalmente subjetivo. A outra coisa que eu tive era a posição da câmera: de onde eu vou olhar para esta pessoa? Algumas pessoas pensam que dirigir é como O Grande Circo: sim, 90% de dirigir é pegar o dinheiro e escolher o equipamento adequado, as pessoas corretas e os departamentos certos para criar o sentimento adequado dentro do contexto correto. No cinema, nós esculpimos o tempo, esculpimos o comportamento e esculpimos a luz. O público apenas vê o que mostramos a ele e nesse momento eu controlo tudo o que eles vêem e ouvem. Eu estou torcendo para que esses elementos se traduzam em sentimento. Foi Louis B. Mayer que disse "O genial do ofício do cinema é que a única coisa que o freguês recebe é uma memória.". É isso o que dirigir é.


Leia a análise crítica feita por Marcelo Müller para o filme "A Rede Social" clicando aqui.

domingo, 5 de dezembro de 2010

A Vida dos Peixes

E se...? Talvez não exista uma interjeição mais infeliz tão utilizada quanto esta. Três letras que, quando combinadas, geram uma infinidade de sensações. Um misto de incerteza, nostalgia, aflição e indefinições nasce quando a questão é o que poderia ter sido se nossas escolhas fossem outras. As suposições intrínsecas ao “e se...?” são o tema no novo drama de Matías Bize, “A Vida dos Peixes”, onde um casal desfeito há anos se reencontra e toda a complexa teia de sentimentos que um possuía pelo outro volta a tona.

Começamos “A Vida dos Peixes” ao lado de Andrés e alguns amigos em uma festa de aniversário. As piadas e o clima de descontração são abandonados quando se revela ao espectador que Andrés está voltando para a Alemanha, e que sua rápida visita após 10 anos afastado está no fim. Andrés então é informado que Bea, uma antiga namorada, chegará logo. Decidido a evitar o possível conflito emocional do encontro, decide ir embora - quando já é tarde demais.

A partir daí acompanhamos o passado de Andrés sendo remontado em pequenas ações, diálogos pouco esclarecedores e muitas suposições por parte do espectador. Seu encontro com antigos amigos e todas as pessoas que habitaram seu universo há tanto tempo, assim como as vivências de um passado que não poderia estar mais presente, tornam a experiência com “A Vida dos Peixes” um exercício triste e nostálgico para com um mundo que não é o de quem assiste, mas que inevitavelmente passa a ser.

Não se deve revelar muito - ou o pouco que é dito - sobre Bea e Andrés. É um sôfrego prazer acompanhar como voyeur a complicada trama de relações que são ressuscitadas nesse reencontro. Eles são como os peixes que observam em um aquário, numa das mais belas cenas do filme. São expostos em uma redoma e seguem ocupando os espaços vazios do ambiente, nitidamente emanando o mistério que os mantêm absortos no local e em suas funções.

Enquanto revela cada pedaço da vida de seu protagonista, Bize e sua competente diretora de fotografia, Bárbara Álvarez (a mesma de “A Mulher sem Cabeça”), inserem em seus enquadramentos elementos sobrepostos em planos distintos – ora são luzes, objetos e até mesmo pessoas. Tal artifício passa a se justificar cada vez que ele se torna menos recorrente, quando se entende seu tom simbólico, que representa a história de Andrés ficando clara para o espectador – assim como a bela mise-en-scène do filme.

Filmes de retorno são comuns, mas poucos atingem a densidade e melancolia deste “A Vida dos Peixes”. Os recentes “Tudo Acontece em Elizabethtown” e “Hora de Voltar” rivalizam em tema com o filme de Matías Bize, mas ambos seguem através de uma perspectiva mais leve e cômica. No drama chileno, cada sequência é necessária para se construir uma imagem sobre seu protagonista, para que se entenda o motivo pelo qual sua volta é tão pesada e incômoda para si, ainda que agrade todos à sua volta.

Fica evidente a maturidade de Matías Bize como diretor e roteirista, capaz do difícil feito de substituir uma verborragia explicativa em diálogos excessivos por longos silêncios. Um realizador competente, como Bize aqui se mostra, tem a capacidade de escrever com a câmera, de mostrar que a contenção de recursos, simplicidade e naturalidade podem ser melhores que quaisquer aparatos técnicos e artifícios megalomaníacos. Bize ainda deve muito ao seu duo de protagonistas, dois maravilhosos atores que encontram na expressão e controle o tom certo para seus difíceis personagens. São eles: Blanca Lewin, que já trabalhou com o diretor no inferior “Na Cama”, e Santiago Cabrera, que é conhecido internacionalmente pelo personagem Isaac Mendez, da série “Heroes”.

E em dado momento do filme percebe-se que Andrés não consegue ir embora. São inúmeras as vezes que ele se aproxima da saída, ou que se despede de alguém dizendo que está indo, e que um magnetismo invisível o mantém preso ao lugar. Nesse ponto, “A Vida dos Peixes” lembra o magnífico “Os Famosos e os Duendes da Morte” - sensação reforçada por sua cena final. Há uma redenção, ou a libertação do personagem? Assim como em todo o filme, apenas a suposição pode nos fornecer as respostas – exatamente como acontece com Andrés e Bea.


sábado, 4 de dezembro de 2010

A Rede Social e o isolamento entre milhões


A Rede Social é um filme ágil. A analogia com os tempos internéticos em que vivemos, onde somos constantemente obrigados a assimilar o maior número possível de informações, num espaço cada vez mais reduzido de tempo, fica explícita pela forma como o diretor David Fincher conduz a narrativa, que se propõe a esmiuçar os controversos bastidores da gênese da maior rede social do mundo, e uma das empresas que mais se valoriza: o Facebook. Marc Zuckerberg era estudante de Harvard quando conheceu o brasileiro Eduardo Saverin e os gêmeos que queriam fazer um aplicativo social para unir virtualmente os estudantes da faculdade. Entre tentativas frustradas de se tornar popular, de fazer parte de final clubs, de sociedades excludentes, de irmandades hermeticamente fechadas que lhe conferissem status, Zuckerberg, um gênio, se aproveitou de algumas ideias, um que outro lance de sorte, a iluminação vinda de alguém, e juntou com sua capacidade incrível para programação, ainda contando com uma pitada de falta de escrúpulos e alienação, para acertar em cheio e se transformar no mais jovem bilionário do mundo..

Dizem alguns que A Rede Social é o Cidadão Kane da geração internet. Não é exagerado, até por que ambos os filmes versam sobre poderosas e controversas figuras que venceram (ou seria, perderam?) capitalizando para si importantes veículos, cada qual referente à sua época: no caso de Kane, a imprensa escrita, no caso de Zuckerberg, a internet. Pode-se então, dizer que, pelo menos no que tange ao entorno social, Zuckerberg é sim o nosso contemporâneo equivalente a Charles Foster Kane. Sua persona é vista com uma complexidade que enche a nós, espectadores, de dúvidas quanto a quantidade de vilania que existe neste solitário, e quanto de problemático existe na vida deste rapaz que passa por cima de leis e amizades, em busca de algo, algo que, aliás, todos buscamos: aceitação.

A forma como Fincher desvela personagens é um dos muitos acertos do filme. Tanto Zuckerberg como a maioria dos envolvidos na gestação e nascimento do Facebook, são vistos sob diversos ângulos, que nos permitem, senão simpatia total, uma reflexão a posteriori sobre suas reais contribuições para o todo. Sean Parker (interpretado com uma surpreendente segurança pelo cantor Justin Timberlake) é um dos pivôs da separação dos amigos Saverin e Zuckerberg, mas onde estaria o Facebook não fosse sua visão de negócios, meio inconsequente, meio arrojada? Saverin fez mesmo tudo que podia, se esforçou como deveria? Os gêmeos atléticos e com futuro garantido pela frente, mereciam mesmo crédito, e dinheiro, por suscitarem em Zuckerberg, vendo nele alguém que os pudesse ajudar, por conta do sucesso de seu aplicativo de comparação de mulheres, a ideia de uma rede social? Zuckerberg é um alienado, um carente, um canalha, arrogante, autista, meio maluco, ou todas as alternativas acima?

Além de habilidoso no trato de seus personagens, A Rede Social tem linguagem visual inventiva (a utilização de pouca profundidade de campo reforça o isolamento das figuras dramáticas, mesmo quando lidam com milhares de seguidores no reino virtual), ritmo acelerado (desaconselhado para pessoas que não conseguem absorver muita informação em pouco tempo), e uma opção pela alternância do tempo (que mostra as audiências de julgamento e conciliação entre as partes em litígio) que reforça o caráter multifacetado dos personagens que foram protagonistas deste imbróglio. Dizer que é um dos grandes filmes americanos do ano não seria exagero, nem mesmo que é um dos favoritos à algumas categorias em premiações importantes, como o Oscar (eu apostaria em Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante para Andrew Garfield, outra gratíssima surpresa, e, por que não, Melhor Ator para Jesse Eisenberg).

David Fincher conseguiu mais uma vez, acertou em cheio, não se rendendo às tentações de uma história que, em mãos menos habilidosas, poderia render um filme apenas sobre intrigas no mundo corporativo, mas que nas dele se transformou em algo maior, com muitas linhas de abrangência e significação. Por fim, se Zuckerberg é nosso Kane, e no personagem de Welles temos o mistério de Rosebud, que se revela depois como sendo uma lembrança de infância que afetivamente o persegue, em A Rede Social o “rosebud” de Zuckerberg é mais vivo, mais independente, mas ainda assim ligado a algo que ele perdeu, ou que nunca conseguiu conquistar. Se a Kane não restam escolhas, a Zuckerberg falta, no final, coragem para testar a aceitação de quem se tornou, não só fardo emocional, mas exemplo de que nem todos nós somos suscetíveis a fama, dinheiro ou qualquer outro fator de deslumbramento. Filmaço.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Kinatay e o culto aos gênios fabricados


A crítica de cinema parece viver constantemente em busca de um novo gênio, de um olhar que seja diferente, que fuja da mesmice atual que muitos gostam de relacionar a centenária arte do cinema. Reducionismos à parte, esta busca é sintomática, pois revela uma necessidade, mais da imprensa cultural do que precisamente de quem está preocupado com o presente e o futuro do cinema, até por que cineastas alçados muito rapidamente ao panteão dos “gênios” são descartados com similar velocidade, para darem lugar ao próximo, neste círculo vicioso. Exemplo: o homem da vez é o vencedor da última Palma de Ouro, Apichatpong Weerasethakul, incensado como se fosse uma lufada solitária de originalidade, por seu cinema metafórico, lúdico e cheio de símbolos. Concordâncias ou discordâncias à parte (pauta para um novo post), não demorará muito para que o tailandês dê lugar ao próximo, feliz ou infelizmente. 

Há alguns anos, o filipino Brillante Mendoza era o homem da vez, o emergente que salvaria o cinema do “monstro do conformismo e da gula mercadológica de Hollywood”. Resolvi, é claro, movido pelos elogios e pela curiosidade que eles despertaram em mim, assistir Kinatay, um de seus filmes mais controversos pelos olhos dos críticos que cobriram os festivais onde ele foi exibido. Não há como avaliar toda carreira apenas por um filme, mas o impacto, ou a falta de, que Kinatay causou em mim, provocou esta reflexão sobre  a necessidade que alguns têm de encontrar o novo “gênio do cinema”.

Dizer que Kinatay é ruim, seria fechar os olhos para as evidentes qualidades do filme. Ele inicia com um casamento (que me remete ao expediente de alguns filmes de Claude Chabrol), e depois enfoca o noivo em seu envolvimento com o crime local, na “missão” de acompanhar o corretivo dado pelo tráfico em alguém que não cumpriu seus pagamentos. Brillante trata da perda da ingenuidade do protagonista, por meio de seu olhar, testemunha de algo hediondo, que nunca mais será o mesmo. É como se o cineasta, num ideário pautado pela crítica social, fizesse da transição do momento de luminosidade e alegria (casamento) para os sombrios e tensos momentos do crime (o esquartejamento de uma prostituta), uma espécie de elegia a sociedade filipina, vítima de sua própria condição. O filme tem clima, é tenso e, em determinados momentos, passa esta tensão ao espectador.    

Aí chegam os problemas. Os planos de Mendoza soam artificiais, e a câmera na mão, onipresente, mais atrapalha do que ajuda. Mesmo quando procura nos chocar (por mais que negue esta procura), Brillante parece pudico, “cheio de dedos” em mostrar o que está acontecendo. O filme, ou melhor, as cenas de tortura e mutilação, ficam no meio termo entre o gore e o sugerido, não se decidindo por qual linha seguir. Mendoza foi aclamado por muitos como corajoso e inventivo, mas a rigor, seu filme, longe de ser ruim ou algo que o valha, é um exemplar até certo ponto comum, maquiado por algumas cenas mais fortes e pela linguagem documental que a câmera trepidante e inquieta tenta emular.

Brillante Mendoza tem talento, isto é inegável, e Kinatay me despertou curiosidade sobre seus outros filmes, mas irei vê-los, assim como vi este,  não como quem busca presenciar a gênese de uma revolução cinematográfica, mas com o olhar ciente de que no cinema, e em qualquer outra arte, são mais corriqueiros os ídolos fabricados, do que os gênios de fato e de direito.
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Ps.: Quando relacionei um aspecto de Kinatay a Chabrol, por conta da cena inicial do casamento, fiquei pensando se o fato de os casamentos de Chabrol serem envoltos em festas, com direito a bolo, celebração e tudo mais, e o mostrado no filme filipino ser tão precário, coletivo, comemorado de maneira informal em um restaurante, seria deliberadamente uma tentativa de reforçar o caráter miserável do entorno, por meio desta paralelização do cinema filipino (terceiro mundo) com o cinema francês (primeiro mundo). Seria um exemplo da eterna “síndrome do coitadinho”, que volta e meia permeia alguns registros da arte de países subdesenvolvidos? Fruto da minha cabeça? Pode ser.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Equilíbrio das Boas Opiniões


Entreguei-me de corpo e alma (e quando viu, lá se foi o primeiro clichê) à tarefa hercúlea de ler as edições fac-similares da revista Filme Cultura, tão importante instrumento de referência cinematográfica de outrora, que foi recentemente reativada, tendo este belíssimo lançamento (da versão fac-similar) como marco de reinício. São lindos livros, cada um dos cinco, compilando doze edições da revista, num texto miudinho, o que significa que as mais de 4000 páginas render-me-ão um bom tempo junto às personalidades nacionais do pensamento cinematográfico das décadas de 60 a 80, período em que a revista sobreviveu, passando pelas turbulentas eras em que o Brasil estava inserido, tanto no campo político como no social.

Tenho certeza de que tal leitura enriquecerá, e muito, minha percepção acerca de alguns filmes, ou mesmo de fenômenos ligados ao cinema, neste caso à guisa das épocas, no frescor dos acontecimentos, sob a jurisdição de quem era farol deste tipo de análise em idos tempos. Onde mais poderíamos encontrar uma entrevista de Stanley Kubrick quando do lançamento de 2001 Uma Odisséia no Espaço? Em período cibernético, não há de se duvidar de nada, mas em papel, sentindo o peso da edição e o contato com as palavras de maneira quase física, duvido muito que se tenha semelhante oportunidade.

Imagino que muitas leituras me levarão a reflexões, que se configurarão posteriormente em posts por aqui, em parte pela minha tendência ao devaneio, em outra por conseguir pinçar, entre um artigo e outro, entre uma análise fílmica e outra, algo que julgo merecer a atenção de quem por aqui se abastece de alguma forma. Algo que me chama a atenção no momento, é uma enquete realizada, paulatinamente a cada edição, sobre a visão dos críticos a respeito do Cinema Novo, o maior movimento (escola?) cinematográfico que o Brasil já gestou. Uma coisa é ter uma opinião agora, olhando retrospectivamente, buscando um contexto e, tendo visto os filmes, analisar o Cinema Novo e achar para ele um espaço na história mundial do cinema. Outro assunto é ler como estes críticos viam os cinemanovistas e suas obras, no calor de seus lançamentos, influenciados ainda pelo ambiente social da nação naqueles claudicantes tempos.

As opiniões, como costumam ser, independente do assunto, são as mais variadas possíveis, e são, também como de costume, geralmente extremadas. Há de se entender que o Cinema Novo sempre foi taxado “de esquerda”, por mostrar as mazelas do Brasil, os menos favorecidos, ao passo que demoniza o capitalismo, o fazendeiro, ou mesmo as relações opressoras de trabalho, que fazem do pobre cada vez mais pobre e do rico cada vez mais afortunado. Na época, e falamos da década de 60, o Brasil vivia um clima político muito acirrado, e este entorno certamente influenciava as opiniões acerca do Cinema Novo, conforme a posição política do analisador. Nota-se que alguns críticos acolhem o movimento, certamente por seus méritos, mas muito pela afinidade com esta visão de esquerda, sendo também o contrário verdadeiro, e certamente mais gritante, com os detratores sendo cegados às qualidades dos filmes inseridos no Cinema Novo, pelo simples fato de eles expressarem uma visão de mundo, de política mais precisamente, que ia de encontro com a sua. É mais ou menos o que se observou recentemente nas opiniões sobre Tropa de Elite, polarizadas entre gente que o achou fascista e gente que encontrou nele, além de signos cinematográficos interessantes, uma resposta aos anseios do povo, farto da não segurança das grandes metrópoles.

Nem todas as opiniões são extremadas, e é justamente nelas que me apego com mais vigor, quando delas me aproprio para construir minha própria, pois nestes julgamentos vejo o equilíbrio necessário para qualquer construção sadia e menos afetada. É certo que uma obra, e o cinema não é diferente, tem de ser vista por diversos ângulos, não só os que lhe são intrínsecos, mas também os que lhe fornecem base e elementos, mas há de se convir que quanto menos contaminada por questões que costumam cegar o homem (como posturas radicais, sejam elas políticas e religiosas, só para citar dois exemplos), mais qualificada será a opinião manifestada, pois dela se conseguirá extrair não só a análise em si, mas também uma visão plural, ampla, sem espaço para chapas brancas e painéis monocromáticos, sem que nela sejam vistos panfletos originários de olhares cansados e/ou pouco generosos.

domingo, 14 de novembro de 2010

Guerra dos Mundos - A Invasão sonora



Olá, caro amigo-leitor!

Depois de longo hiato sem comparecer de forma efetiva no blog, postando algo, mesmo com valor pequeno, aqui estou, não em carne e osso, como geralmente são as aparições naturais, as que tem sua origem no mundo em que vivemos, mas em ideias e reflexões que envolvem um assunto, ou melhor, uma realidade tão comum na contemporaneidade: a democracia sonora, a qual explode em expressão na onda de celulares com MP3.

Não é de hoje, contudo de pouco tempo passado, que os aparelhos celular têm na comunicação falada sua atratividade menos explorada, quando jogos, interatividade, câmeras fotográficas cada vez mais potentes e, por aí vai, usam da publicidade e de outros meios de divulgação no objetivo de gerar venda e lucro aos envolvidos. Tudo bem, não serei hipócrita e nem dissimulado, um aparelho que permita mais de uma função além da que intrinsecamente proporcionaria é louvável, porém quando o foco se estabelece no periférico, motiva justa reflexão.
Bom, talvez o que mais agrida minha individualidade, acredito que a de outros tantos semelhantes à pessoa que vos fala, é o MP3 sem fone, utilizado arbitrariamente como caixa de som. Diferente da atividade sonora ambiente, que, geralmente, condiz com a concepção do lugar onde escolhemos estar. Não, é uma salada de frutas sem o mínimo de coerência, indo de pagode, funk à música pop internacional mais rápido do que uma Ferrari em uma reta nula de obstáculos faria. O que essas pessoas possuem contra o fone?

A música é extremamente banalizada, sendo que na condição de arte, teria de atender uma necessidade individual ou coletiva, não simplesmente invadir nosso aparelho auditivo, a solicitação de licença inexistente. O ônibus é, indubitavelmente, o pior local, pois não há flexibilidade de escolha, onde nosso caminho vai de “A” à “C”, o que nos resta é engolir ou tentar ao menos distração, talvez utilizando ironicamente fones de ouvido, numa espécie de protesto calado, em relação ao indivíduo que nos acompanha até “B”. Quando este ponto chega, ai que alívio. Mas, logo outro ser disposto à invasão surgirá. Aguarde e verá. Ops, aguarde e ouvirá, mesmo sem o querer, no melhor estilo Alexandre, O Grande.

Até mais.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quando reis são substituídos

O nome dela era Molly, e em algum momento de 2003 ou 2004 eu conheci sua câmara. Pareceu-me impossível não ceder e me contagiar com Molly's Chambers, primeiro single da até então desconhecida banda Kings of Leon. Assisti ao videoclipe da música, repleto de zooms e enquadramentos frenéticos, numa de minhas tardes juvenis regadas à MTV e guloseimas calóricas – e foi como descobrir o Santo Graal ou um congênere.

Pouco tempo depois os cabeludos e nada asseados “Reis de Leon” surgiram com Califórnia Waiting, quando garantiram lugar no meu panteão de deuses do rock. Olhando em retrocesso, no entanto, tal afirmação soa exagerada e precoce – porém não se deve creditar muita validade nas máximas de um jovem de 16 anos. De qualquer forma, permaneci fiel ao som dos rapazes de Tennessee, que com seu southern rock continuaram me agradando nos anos seguintes, ainda mais após o lançamento dos álbuns Aha Shake Heartbreak, meu favorito (que inclui as fantásticas Slow Night, So Long, King of the Rodeo, The Bucket e Milk), e Because of the Times.

Em 2009 minha relação com Kings of Leon foi posta a prova após Only by the Night. O quarto disco dos Followill me soou estranho, dissonante à seus trabalhos anteriores. Ainda que Sex on Fire continuasse me empolgando após algumas audições, o álbum em geral me soava correto demais, assim como os vocais de Caleb e suas guitarras somadas às de Matthew. Com o show da banda no recente SWU a constatação de que o reinado deles não deveria durar muito me pareceu inevitável. Impressão que se confirmou com o recém lançado Come Around Sundown.

Com Come Around Sundown o Kings of Leon inaugura uma nova vertente em sua sonoridade, aque pode ser classificada como “clean rock”. Ainda mais que em Only by the Night, os Followill entregam composições lineares, pouco inspiradas e, em alguns casos, até mesmo chatas. Analisando a trajetória da banda com maior atenção, ouso em dizer que houve uma clara ruptura que a descaracterizou, uma linha que hoje a divide entre dois grupos distintos – o que pode ser percebido até mesmo no visual de seus integrantes. Ouso novamente em indicar que a ruptura sonora, esta linha divisível que mencionei, se chama Use Somebody.

De qualquer forma, sigo admirando o Kings of Leon – mas me refiro àquele grupo que para mim morreu em Because of the Times. No entanto, a coroa que uma vez entreguei à esses monarcas agora pertence ao Kings of the Convenience, duo de indie folk norueguês que um estimado Duque me apresentou. Não que a sonoridade desses auto-proclamados reis seja semelhante ou que se possa traçar algum paralelo entre ambos, porém o Kings of Convenience mantém através de seus álbuns algo que o Kings of Leon perdeu já tem algum tempo. A autenticidade.

sábado, 6 de novembro de 2010

O Direito de Morrer


O título já diz, e eu realmente não conhecia Jack, pelo menos não da maneira como o filme You Don’t Know Jack me mostrou a figura do Dr. Jack Kevorkian, alcunhado de Dr. Morte. É claro, não é somente a imagem que o filme passa que ficará em mim, que pautará minha opinião sobre esta figura tão controversa e sobre o tema que ele defendia, tão ou mais controverso quanto. Ele denfendia a eutanásia, o direito à liberdade de escolha do momento de se morrer. Cinebiografias geralmente endeusam seus objetos de foco, os tornam mais planos e menos dotados de arestas, até para que se estabeleça empatia entre o mesmo e o público. Por isto não devemos apenas guiar nossas opiniões acerca de alguém, ou de algo que este alguém defendia, após assistir a um filme destes. Não há como negar, porém, que You Don’t Know Jack dá uma perspectiva interessante, instigante e eu diria até iluminadora, sobre quem era Jack Kevorkian, sobre o porquê deste homem ter desafiado o sistema, a suprema corte e a opinião pública, por conta de sua convicção de que todos têm o direito de viver e morrer da maneira como lhe convirem.

You Don’t Know Jack foi desenvolvido pela televisão, é portanto um telefilme, mas que não se venha com aquele discurso pronto de que “só na televisão poderia se abordar um tema como este, com tal complexidade”. Não há nada em You Don’t Know Jack que não pudesse ser discutido numa sala de cinema, das convencionais. Talvez tivesse mais dificuldade de encontrar um público disposto às suas mais de duas horas de contestação, mas qual é, senão este, o desafio dos filmes que vão além do senso comum? O que importa é que é um filme legítimo, independente da maneira como foi exibido a priori. É um exemplar daqueles que gravitam em torno de seu protagonista, aqui brilhantemente interpretado por Al Pacino, que após muitos trabalhos anêmicos, no automático, volta a nos brindar com a pulsão dramática que fez dele, em idos tempos, um dos mais talentosos atores do cinema americano.

You Don’t Know Jack mostra o homem contra um sistema reacionário. Ele enfrenta mundos e fundos pelo progresso, contra as crenças e as desgastadas leis que limitam o humano, que fazem dele apenas massa de manobra, numa sociedade cada vez mais uniforme. Ser contra ou a favor da eutanásia é mais do que uma questão religiosa, mais do que acreditar-se pecador ou não, e era a favor desta expansão da discussão popular que ele trabalhava e, por que não, militava. Jack Kevorkian era um homem de personalidade complexa, um artista que acreditava no humanismo de sua prática médica. Ele desafiava a igreja e seus dogmas, as leis e suas brechas, não apenas por se achar acima de qualquer Deus ou da força da sociedade, mas por crer que ninguém tem o direito de sufocar a individualidade e perpetrar o sofrimento, em nome do que quer que seja.

Não há grandes inovações cinemáticas em You Don’t Know Jack, não há quebra de linguagens ou algo que o valha. Há, porém, uma história contada de maneira clássica, por um bom diretor artesão, Barry Levinson, que não se crê maior que a trajetória ou seu personagem central. Há um intérprete em estado de graça, e a busca pela complexidade, tanto da personalidade do Dr. Kevorkian, como do tema que ele defendia. Geralmente é mais fácil elogiar um filme quando suas qualidades são mais evidentes, ou quanto ele reza pela cartilha do chamado “cinema de arte”. Mesmo que, inevitavelmente, o filme tome partido da causa de Kevorkian, não há como negar que a discussão acerca da morte assistida e a maneira fascinante como ele, Kervokian, é mostrado, fazem de You Don't Know Jack um filme, no mínimo, desafiador, que frente a um espectador disposto, dificilmente passaria despercebido numa sessão de TV ou mesmo numa sala de cinema.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Ás na Manga de Billy Wilder


Não se pode passar incólume ante um filme como A Montanha dos Sete Abutres. Recentemente muito comentado por conta do acidente com os mineiros chilenos (guarda semelhanças, pois trata da história de alguém que ficou preso nos escombros de uma montanha), este filme de Billy Wilder, um mestre, dos maiores que já filmaram em Hollywood, também é comumente associado ao jornalismo, profissão do protagonista, e do próprio Wilder antes que trabalhasse na indústria do cinema. Não se faz uma faculdade de jornalismo sem que veja ou, no mínimo, se ouça falar do filme, por sua abordagem da ética jornalística, matéria tão em falta nas coberturas que vemos por aí. Mas seria redutor, do meu ponto de vista, taxar A Montanha dos Sete Abutres somente como um magnífico exemplo da má conduta de alguém ávido pela notícia. O filme é mais que isto, bem mais.

Por meio da figura de Tatum, o jornalista brilhantemente trazido à vida pela interpretação de Kirk Douglas, podemos desenvolver uma série de leituras, expediente comum quando se busca a análise dos personagens de Wilder, aparentemente simplórios, mas dotados de uma complexidade ímpar, como poucos escritores de cinema conseguiram criar e outros poucos diretores conseguiram evidenciar. O homem fracassado que busca emprego de maneira confiante (externamente), por conta da falência de suas anteriores tentativas, que nada tinham a ver com seu talento para a profissão, e sim com escorregões de conduta e/ou desvios morais, é aceito numa pequena comunidade, alheia a vida que sempre desejou em meio às metrópoles e a efervescência das notícias. Em pouco tempo ele fica aborrecido e vê na primeira oportunidade concreta, a possibilidade de mudar de vida, de crescer, de ser mais. Este comportamento encontra um duplo na mulher do soterrado, que já não dispondo mais de amor pelo mesmo, acha na tragédia de seu ainda cônjuge uma possibilidade de enriquecer e também mudar de vida, sair do buraco interiorano onde vive.

Voltando a questão ética, tão falada nas faculdades de jornalismo que se apropriam de A Montanha dos Sete Abutres como exemplo, ela é mostrada, ou melhor, registrada como ausente, não só na figura da imprensa, facilmente identificada com abutres em busca da carniça (aliás, nas palavras de Tatum, notícias são as más, as boas nem podem ser chamadas de notícias), mas também em muitos outros personagens e situações que evidenciam esta praga (a falta da tal ética) que corrói a sociedade. A família que passa as férias em frente a montanha, a exploração do comércio e turismo ligados ao fato, o xerife que busca se reeleger construindo uma falsa imagem heróica (e é genial a história de ele alimentar um bebê de serpente de vez em quando, numa das metáforas mais fortes do filme), enfim, tudo que gira em torno do drama torna evidente esta falta de ética que parece instaurada no consciente coletivo, quase como que inerente ao humano.

A Montanha dos Sete Abutres é, portanto, mais do que um manifesto pelo bom jornalismo, utilizando para isto um exemplo quase que extremo de mau profissional. Poderia muito bem ser uma narrativa maniqueísta, nesta mania de enquadrar bons e maus, e colocá-los em lados totalmente opostos, sem espaços para nuances. Mas não podemos esquecer que, além de ter sido feito em tempos nos quais Hollywood abundava de talentos e era ponto de partida de verdadeiras obras-primas, o roteirista e diretor é Billy Wilder, um dos grandes, um “samurai”, como costumamos denominar carinhosamente entre amigos os grades diretores, aqueles cujas obras passam da tela para a eternidade. A Montanha dos Sete Abutres é uma das realizações que fazem de Wilder um diretor atemporal.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Releitura

Nunca se ouviu falar tanto na palavra “releitura”, quando o segmento da hora, é a sétima arte. Será a falta de bons roteiros que leva os diretores a buscar sucessos que foram criados para uma época, a qual, diga-se de passagem, não volta mais? Pude conferir a versão 2010 de A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street) um célebre filme norte-americano de 1984, do gênero terror, dirigido e escrito por Wes Craven, que narra a história na cidade fictícia de Springwood, Ohio, que gira em torno de um grupo de adolescentes aterrorizados em seus pesadelos pelo fantasma de um psicopata assassino de crianças chamado Freddy Krueger. Sem muitas delongas, o filme realizado na década de 1980 não tinha o pretexto de explicar ao espectador o que levaria uma turma de jovens (Johnny Depp está no elenco), a serem perseguidos pela fatídica luva com garras metálicas que estraçalhava os mesmos, em suas belas horas de sono. O filme original tinha um apelo tão aterrorizante, que o público em geral tinha até medo de dormir, sonhando muitas vezes com aquele "monstro" de blusa listrada. Nesta nova versão, onde o diretor conta a causa que leva Freddy Kruger a atormentar as pessoas, o enredo não passa disso. Uma explicação sem nexo, que tira todo o suspense da trama - afinal de contas você não estava lá - então acaba assistindo a mais um longa do gênero para depois, dormir sossegado e embalar o seu sono, como se nada tivesse acontecido. Para quem gostou da primeira versão, a nova chega ser um pesadelo para os amantes do gênero.
Raulino Prezzi, especial para o The Tramps

sábado, 23 de outubro de 2010

Final feliz ou Final triste?


Estava assistindo dia destes a um filme com minha namorada. Findo o mesmo, ela me olha e diz, em meio a lágrimas:

- Sabia que tinha final triste, tu só gosta de filmes com final triste.

Na hora brinquei e ri (depois de secar minhas lágrimas também). Peguei-me, no entanto, por estes dias pensando sobre a questão, e aí entrou no devaneio o preconceito que uma camada crítica de cinéfilos tem do “happy ending”, dos finais felizes que são tão caros aos produtores, pois, geralmente possibilitam ao público certa lividez na saída do cinema, ou no momento em que tiram o DVD do aparelho.

Parto de mim. Gosto, e já falei (maldito hábito da repetição), muito mais de filmes dramáticos do que cômicos ou leves, mesmo que, vez ou outra não me abstenha de me divertir e, eventualmente, refletir, tendo por base uma boa comédia ou um filme leve. Não sei bem como se formou esta minha fascinação pelos dramas e pelas tragédias. De repente acredite que por meio destas histórias tristes, de percalços e agruras humanas, eu consiga refletir melhor minha condição como pessoa, entre tantas outras modalidades de auto-reflexão. Não é masoquismo, como classificariam alguns.

Pensando especificamente sobre os finais felizes, nada tenho contra eles, desde que acompanhem um contexto ou estejam inseridos numa narrativa coerente. Não é bem o final feliz que incomoda, mas saber e/ou notar que o encerramento é parte de uma série de concessões que os produtores ou mesmo a equipe criativa fizeram para garantir a sobrevivência do evento “cinema“ como negócio. Ok, eu sei, alguém tem de pagar as contas, mas dar ao público somente o que ele quer ver é ser condescendente com um clamor silenciosamente perigoso pela acomodação e pelo empobrecimento crítico das pessoas. O aprendizado acerca do cinema requer, além de tempo e muitos filmes, uma dose de sofrimento, de persistência e de dor. Mais uma vez, não é masoquismo, é a compreensão de que não é fácil sair do lugar comum e tentar ver as coisas, qualquer que sejam elas, por um viés mais amplo e complexo. Algumas pessoas, infelizmente a maioria, não querem “sofrer” quando vão ao cinema, pois “já tiveram um dia cheio, estão repletas de problemas em casa e no trabalho”. Cinema é escapismo da realidade? Pode ser, mas, por favor, não o reduzam a um emplastro para almas fragmentadas e vidas tristes.

Acho que meio que tergiversei, fiz uma série de digressões. Voltemos aos finais felizes. Repito, nada tenho contra eles, desde que sejam parte orgânica de uma proposta de cinema, de narrativa. Também me divirto com bons exemplares "alto-astral", e me pego torcendo no meio de alguns para que as coisas acabem bem, mas, como na vida, nem sempre elas acabam, e não é por isto - que determinado filme foi contra minha “torcida” - que eu vou classificá-lo e medir suas qualidades. Hoje assistirei mais um filme com minha namorada. Acho que vou surpreendê-la, escolhendo um filme leve ou de final feliz, para que ela não tenha esta ideia errônea de que eu (assim também como outros cinéfilos) tenho coração de pedra, ou que só levo a sério filmes em que ou todos morrem, ou definham sofrendo. Final feliz ou triste, não é bem isto que define o que é filme bom ou filme ruim.

sábado, 16 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 e a quimera do sistema


Muito já foi dito sobre o alardeado Tropa de Elite 2. Na verdade, ele foi esmiuçado pela imprensa, pelas conversas de bar, e seus aspectos, desde os mercadológicos que dão conta do lançamento recorde e do instantâneo sucesso de bilheteria, até a discussão ideológica, acerca da visão de país que ele apresenta, foram amplamente discutidos sob as mais diversas óticas. Diante de tanta discussão, de tanto burburinho, fica difícil falar algo novo, de alguma maneira, a respeito de Tropa de Elite 2. Mas, como a opinião passa necessariamente pelo filtro subjetivo de cada espectador, posso não elucidar ou criar teses sobre o filme, e sim tentar transpor em palavras a impressão forte que o mais novo trabalho do diretor José Padilha incutiu em mim, forte de tal maneira que me faz pensar em Tropa de Elite 2 como um dos melhores filmes políticos que já se fez neste país, pelo menos numa história recente.

Para início de conversa, é, no mínimo, tentador comparar Tropa de Elite com Tropa de Elite 2 e, eventualmente é uma situação que não se consegue controlar, até pelo fato de haverem claramente evoluções no segundo com relação ao primeiro, seja como cinema ou mesmo veículo de discussão de problemas de ordem social e política. No entanto, ao apurarmos o olhar e os sentidos, poderemos notar que os filmes formam um díptico coeso, e um exemplo disto, para ficar em apenas um, é certa aproximação da conduta do Capitão Nascimento, agora Coronel, com a visão ideológica que seu agregado Matias tem da polícia e do dever, construída desde a aparição de Matias em Tropa de Elite. Ou seja, não se trata de falar bem de Tropa de Elite 2, dizendo o quão melhor que seu precurssor ele é, mesmo que o seja. Há este complemento que se pede das boas sequências, que não anulam o antecessor, pelo contrário, o completam e o expandem, e é isto que ocorre aqui.

Se no primeiro filme o "inimigo" eram os traficantes, os donos dos morros cariocas que colocam sob estado de sítio a sociedade periférica do Rio de Janeiro, em Tropa de Elite 2 os inimigos se multiplicam e vão desde as milícias formadas por policiais corruptos, que expurgam traficantes para controlar o poderio econômico e político dos morros e das comunidades carentes, passando por figuras tragicômicas que ganham notoriedade por proferirem falácias populistas na televisão, indo até às mais alta esferas do executivo, sob a denúncia do filme, muitas vezes financiadas por este esquema de cobrança de propina e enriquecimento ilícito por parte da ala podre da polícia militar.

Tropa de Elite 2 ainda deve muito ao seu protangonista Nascimento, que ganha tons carregados de complexidade, numa exigência dramatúrgica suprida à altura por um intérprete em estado de graça, como Wagner Moura. O Coronel lida com a distância do filho, que não entende por que o pai mata para sobreviver, ao passo que luta contra o “sistema”, esta quimera sem face definida, ou de múltiplas, portanto de mais difícil identificação, que parece existir somente para proteger uma minoria, a quem as regras não alcançam, a não ser quando delas precisam para acobertar condutas não necessariamente pautadas pela ética de convivência social. Padilha parece nos dizer constantemente, seja pela luta de Nascimento dentro de uma esfera superior de poder, seja por meio do representante dos direitos humanos que briga com as “armas” que lhe competem para que estes direitos sejam garantidos, ou mesmo a jornalista que dribla sanções de imprensa, falta de apoio e de estrutura, que enquanto poucos fizerem este esforço, contra um conjunto de proibições e de intrincados esquemas que regem os poderes, pouca coisa pode mudar. É a constante luta quase solitária do homem contra o sistema, seja ele qual for. Por isto Nascimento é visto por parte do público como o herói que luta contra o que há de podre no reino da terra brasilis, mas em Tropa de Elite 2 ele não está sozinho.

Impreterivelmente, como todo bom filme político, Tropa de Elite 2 gera mais comentários acerca de sua visão ideológica do que suas qualidades enquanto cinema, e isto é bom, pois, grosso modo, é nestas águas do estabelecimento da dialética em amplos campos que um bom filme político deságua, ou pretende desaguar. Mas não podemos esquecer que, estritamente como cinema, Tropa de Elite 2 é uma mistura narrativa muitíssimo eficiente entre o drama de ação e o já citado filme político. Por falar em ação, ela parece agora menos desenfreada, paradoxalmente ao passo que o filme ganha em violência. José Padilha está mais seguro, Wagner Moura continua encarnando visceralmente Nascimento e temos ainda coadjuvantes que fazem trabalhos dignos de premiação, como Irandhir Santos e o surpreendente Sandro Rocha, impecável. Enfim, Tropa de Elite 2 é um blockbuster nacional sim, e o que me deixou mais satisfeito na saída do cinema, em meio ao modo como o filme me cativou e fez refletir, é que este blockbuster nacional é um sucesso que encontra em sua qualidade uma justificativa para ser sucesso. Espero que bata recordes, que seja visto por muitos e se pelo menos uma parcela destes milhões saírem do cinema com metade do que o filme tem a dizer, Padilha terá conseguido atingir seu objetivo, o de fazer o povo refletir por meio do cinema de sua língua, às vezes tão ingênuo e débil, felizmente às vezes, como em Tropa de Elite 2, tão forte, inteligente e necessário.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um dia no SWU: Impressões do festival de música e sustentabilidade

Um parente distante do Woodstock apareceu no Brasil no último final de semana prolongado – e fez sucesso digno de referência. Eu era um entre 56 mil pessoas que ocupavam freneticamente os poucos espaços livres da Fazenda Maeda, em Itú (São Paulo) no último domingo, dia 10. Todos com objetivo igual ou semelhante: o de ouvir boa música e confraternizar durante o SWU (sigla para Starts With You, ou Começa Com Você, traduzindo para nosso português).

O evento que utilizou a música para propagar uma mensagem de sustentabilidade foi organizado por Eduardo Fisher, que já pensa em uma nova edição para o festival. O publico dos três dias do SWU justifica tais planos: foram mais de 164 mil pessoas em 50 horas de programação.

No dia 10, quando estive presente, os shows principais eram de Kings of Leon e de Dave Matthews Band, mas outras apresentações garantiram meu aproveitamento e fizeram valer o investimento no ingresso não muito barato. A começar pela banda paulista Teatro Mágico, que encantou com performances circenses e letras poéticas para as poucas músicas do repertório (o grupo de Osasco foi prejudicado por atrasos na organização dos equipamentos e teve de fazer um show mais rápido).

Para aqueles que como eu quiseram fugir dos shows de bandas como Capital Inicial e Jota Quest, a opção era fazer um pequeno hiato nas apresentações circulando pelas instalações do Festival - um labirinto de garrafas pet e uma montanha russa que se locomovia com a energia gerada por bicicletas eram apenas alguns dos mais instigantes.

De volta aos shows, os estadunidenses do Sublime With Rome apresentaram seu repertório homogêneo com um vocalista apático (e evidentemente drogado), e rapidamente puderam ser esquecidos com toda a graça de Regina Spektor – que enfrentou problemas técnicos em uma setlist que privilegiou algumas de suas melhores canções, como On The Radio e Fidelity.

A surpresa dentre todas as atrações veio em seguida com Joss Stone que, ainda que me agradasse com sua bela voz, nunca me despertou muito interesse como cantora. Quando ela entrou entoando seu hit Super Duper Love, no entanto, mudei expressamente de opinião. Lindíssima e carismática, Joss levou na brincadeira (outros!) probleminhas técnicos e encantou toda a multidão com sua voz afinada e doce, que deixou claros os motivos para a musa ter cantado com nomes de peso como James Brown e ser constantemente comparada à Aretha Franklin. Fell in Love With a Boy (originalmente Fell in Love With a Girl, do duo The White Stripes) e Right to be Wrong apenas somaram ao show composto apenas por acertos.

Da apresentação de Dave Matthews Band tenho pouco a dizer. Já esperava com ansiedade o show do Kings of Leon, banda que me motivou a ficar estático em frente ao seu palco por mais de duas horas antes do concerto começar (os shows aconteciam em dois palcos diferentes, instalados um ao lado do outro). Por essa circunstância, curti as longas canções da banda assistindo seus músicos através de dois telões - que garantiam a felicidade daqueles que estavam mais distantes dos palcos.

Por fim, Kings of Leon. Os irmãos e primo Followill foram ovacionados assim que apareceram e abriram o show com Crawl, seguindo com um público que delirava ao som de Molly's Chambers. Canções esquecidas como Milk, California Waiting e King of the Rodeo, esperadas pelos fãs dos primeiros álbuns do conjunto, foram compensadas pelas inserções mais que obrigatórias de Bucket, Slow Night, So Long e Knocked Up. Para o público ocasional que conhece o lado mais pop da banda, os hits Sex on Fire e Use Somebody eram essenciais e não foram deixados de lado.

No geral, o SWU não deixou a desejar. Esteve bem próximo de seu propósito por todo o tempo, ainda que seu público tenha preterido o discurso pró-ecologia em benefício aos espetáculos musicais programados. Com alguns pequenos problemas em questões de infraestrutura, como no estacionamento e banheiros, tudo foi compensado pela ótima programação do festival – e digo isso com base em apenas um de seus três dias de duração.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Festival do Rio 2010: 01 filme, 01 parágrafo #02

POESIA
Se apenas título e origem (Coreia do Sul) já bastam para despertar interesse, Poesia levou também o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes e apresenta a maravilhosa Jeong-hee Yoon, atriz com desempenho desconcertante. No filme de Chang-dong Lee, Yun interpreta Mija, senhora de espírito jovem que em meio a graves problemas busca inspiração para escrever poesia. Narrado de maneira leve e com recursos que o distanciam do melodrama e de soluções fáceis, Poesia excede um pouco em seu tempo de duração, porém consegue desenvolver uma história essencialmente trágica em meio a um universo colorido e alegre – como as roupas de sua protagonista.


UM QUARTO EM ROMA
Um dos filmes mais esperados no Festival do Rio foi este Um Quarto em Roma, de Julio Medem, que veio a ser exibido apenas no penúltimo dia de programação. Seja pela sinopse ou pela atriz principal (a linda e talentosa Elena Anaya), assim como pela admirada filmografia do diretor, as expectativas para com o filme eram grandes – fato que com certeza prejudicou a experiência de muitos espectadores. Um Quarto em Roma é aquele filme que você inicia uma análise justificando a bela fotografia para não dizer instantaneamente que ele é péssimo. Com uma direção excessiva e diálogos tão sofríveis quanto clichês, Medem ainda tem a pretensão de guiar todo um filme com duas personagens rasas e desinteressantes. De destaque, apenas a linda música Loving Strangers (que cansa depois de ser executada pela quinta vez) e, novamente, pela fotografia estupenda – que em alguns momentos emula pinturas impressionistas de forma deslumbrante. No mais fica difícil levar a sério quaisquer outros elementos do filme, uma vez que seu humor involuntário levou um cinema lotado a várias gargalhadas e palmas – de deboche.


REGERAÇÃO
Regeração é um documentário que com pouco mais de 5 minutos já identifica seu conteúdo como um tema sério e de extrema relevância para a sociedade do século presente. Com entrevistados interessantíssimos e narração feita por Ryan Gosling, Regeração procura nos jovens de hoje os motivos pelos quais estes vivem com comodismo em um universo de consumo, adoração à banalidades e de relações virtuais. Por vezes chamada “geração do eu” ou multitarefa, a falta de comprometimento ou de verdadeiras ambições dessa geração apresentada no filme realmente assusta quando damos conta que tais verdades já são praticamente universais. Phillip Montgomery dirige o filme levantando uma bandeira para que alguma mudança aconteça, intenção defendida pelo intelectual Noam Chomsky, que serve como entrevistado, assim como pelo ator e rapper Mos Def. Um filme que deveria ser obrigatório em qualquer sala de aula.


RUBBER
Depois de mais de 40 filmes vistos imaginei que Rubber seria minha válvula de escape do Festival, servindo para despretensiosos 90 minutos de diversão e de cinema do absurdo que, muitas vezes, funciona melhor do que muitos filmes que se levam a sério. Para se divertir com o pneu assassino de Rubber, no entanto, é necessário ir além do conceito de suspensão da crença e rir de animais e cabeças explodindo – necessidades que me parecem improváveis mas que funcionaram para um público que não parava de gargalhar. Abraçado em um discurso de que alguns filmes não precisam de razões para justificar suas motivações, Rubber ao menos precisaria de uma razão para ser engraçado ou inteligente, coisa que seu desenvolvimento preguiçoso e nada criativo não lhe proporciona.


De Nascimento a Harry Potter


Preparei-me ontem para ir ao cinema, cinema de shopping, que há algum tempo não frequento. O motivo? Tropa de Elite 2, o filme do momento, aquele que, felizmente, está levando milhares às bilheterias, no que parece ser um sucesso inconteste, e a esperar, provavelmente recordista nacional de bilheteria. Este sucesso pode ser medido, utilizando a experiência deste que vos escreve, pela minha impossibilidade de assistir ao filme, já que ontem, véspera de feriado, próximo das 16h, provavelmente a fila do cinema era formada por quase duzentas pessoas, ávidas pelo o que ali estava sendo exibido em duas salas. Dei meia-volta e me contentei pela obra, pelo cinema nacional atrair tanta gente (mesmo que seja fenômeno bissexto), e já comecei a arquitetar o novo dia para a audiência, quem sabe na próxima sexta.

Já que chegaria cedo em casa, resolvi passar na locadora antes e ver o que tinha. Na verdade, fui com o objetivo de pegar Harry Potter e o Príncipe Mestiço, único dos filmes do bruxinho que não vi em tela grande, por conta de no seu lançamento ter explodido por aqui aquele surto de gripe suína que fechou os cinemas da cidade e botou todo mundo de máscara. Enfim, com o iminente lançamento do próximo Harry Potter, o qual gostaria de ver no cinema, resolvi tirar o atraso de uma vez, já que tinha sido “impedido” de ver a sequência das desventuras de Nascimento mesmo.

Harry Potter e o Príncipe Mestiço é um filme longo, mas não cansativo, e isto se deve ao fato do diretor David Yates saber com prender nossa atenção na tela. Vemos um Harry, assim como seus amigos de escola, aprendendo as agruras e benfeitorias da descoberta do amor, ao passo em que vive um clima de constante paranóia pela ronda dos comensais da morte e de Voldemort. O filme se desenrola bem, tem a tradicional partida de quadribol e tudo mais, mas quando chegou lá pelo início do terceiro quarto, me dei conta de que ele ainda não tinha levantado a questão crucial do equivalente literário: as Horcruxes (artefatos em que Voldemort incrustou sua alma para se perpetuar). David Yates optou por passar quase todo o filme trabalhando os personagens, seus ritos de crescimento e, no final, acumulou a tensão da descoberta dos artefatos e dos trágicos acontecimentos relatados no livro em que se baseou. Ficou tudo meio atropelado, como se o perigo à espreita só pudesse de fato surgir na parte final, elevando a expectativa da platéia, a preparando para as sequências.

Harry Potter e o Príncipe Mestiço não é ruim, é um bom filme, um entretenimento que cumpre o que promete, entretém. David Yates ainda realiza um trabalho notável de direção, e as cores (quase sombrias demais) do filme, ajudam neste clima que o diretor propôs desde sua entrada. O problema é que ao tentar segurar a audiência, prejudicou fatos importantes da história, vistos de passagem neste filme, ou mesmo com um enfoque dramático menos interessante do que no livro (o que é bem ruim, já que este é um dos livros mais deficientes de todos os de Potter).

E Tropa de Elite 2? Ainda estou curioso, afinal gosto bastante do primeiro e vejo possibilidades de expansão temática no segundo. Assim que assistir, driblando as filas, conto o que achei.