terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A temporada de séries da TV estadunidense

Nas duas últimas semanas foram ao ar os derradeiros episódios das temporadas dos seriados que acompanho da TV americana. Falando em séries de TV, esta nova indústria estadunidense parece que tende a crescer mais em mais, abrigando projetos um pouco mais ousados, encontrando seu público, um público que está se afastando do cinema, cada vez mais lotado de adolescentes barulhentos e filmes de temática e abordagem uniforme. Ser apocalíptico em relação ao cinema, principalmente o americano, guarda certa dose de exagero, é certo, mas desde o levante dos filmes evento, geração após geração vem sendo educada para consumir o que de mais rasteiro a sétima arte pode oferecer. Até mesmo bons entretenimentos (por que nem só de filmes profundamente relevantes vive o homem), estão rareando, frente a cortes rápidos, efeitos especiais e projetos sob encomenda. É claro que a TV americana não vive só de coisa boa e quem pinta este painel maniqueísta “TV é bom e cinema é uma porcaria” não lê as constantes notícias de cancelamentos e insucessos de projetos televisivos.

Não há, porém, como negar a qualidade dos produtos da telinha americana, ainda mais quando temos gente de grosso calibre envolvida, como Martin Scorsese, Frank Darabont, Michael Mann e Neil Jordan, só para citar os mais recentes oriundos do cinema a se aventurarem nos seriados. Sem dúvida este envolvimento de gente de renome é sintomático, e aponta para uma tendência crescente de bons projetos para a TV, onde mentes criativas têm mais tempo para desenvolver tramas e personagens, e onde, verdade seja dita, o inverso também é verdadeiro, ou seja, mentes medíocres têm mais tempo para fazer mais porcaria. Como em qualquer coisa, seja no consumo de cinema, TV e literatura, basta selecionar. Bem, vamos às considerações.


Dexter (Quinta Temporada): Como dar sequência a Dexter, quando a quarta temporada, além de apresentar um antagonista fascinante, encerrou-se de maneira tão inusitada e impactante? Parece que a equipe criativa da série (minha favorita) se ressentiu um pouco desta responsabilidade, e entregou uma quinta temporada que se não foi decepcionante, ficou bem aquém das possibilidades da trajetória de Dexter. Não faltaram boas tramas e a evolução psicológica do personagem central que, nesta temporada, se viu na condição de pai solteiro, e às voltas com um relacionamento afetivo dos mais profundos que já teve. Bons motivos não faltavam para uma temporada apoteótica, que, infelizmente, não veio. Tramas paralelas que dominaram os primeiros episódios, como o relacionamento conturbado de Angel e Laguerta, não foram muito bem exploradas, bem como o mistério da “Santa Muerte”, que pouco serviu para o todo. Isto, esta falta de profundidade de certos desenvolvimentos, diluiu um pouco meu interesse neste quinto ano, interesse este que só voltou a partir da entrada para valer do antagonista da vez: Jordan Chase. Felizmente o embate entre Dexter e o ardiloso líder dos estupradores e assassinos de mulheres, rendeu bons episódios, sacadas interessantes. Mesmo assim, no final, ficou uma sensação de que os responsáveis pela série precisam ligar o alerta vermelho.


The Walking Dead (Primeira Temporada): Baseada nos quadrinhos homônimos, a série produzida por Frank Darabont foi uma das mais esperadas do ano, pelo simples fato de tratar de zumbis, assunto inusitado quando pensamos em uma história serializada. O primeiro episódio, dirigido pelo próprio Darabont, foi empolgante, mostrando a infestação zumbi que tomou conta do mundo, transformando-o em local cheio de carne putrefata, moscas e serem errantes. A arte, o cuidado com as minúcias, a maquiagem zumbi e os animatrônicos hiper realistas, encheu os olhos de quem acompanhou o piloto. Darabont sabe o que faz. O segundo episódio não deixou a peteca cair. Porém, dentro de seus seis episódios, esta promessa de grandiosidade não se cumpriu por completo, em parte por que faltou um estofo dramático mais elaborado aos personagens. É normal que numa série, alguns episódios sejam “enrolativos”, mas quando isto acontece em pelo menos dois episódios de uma série com seis, ou seja, quando mais de 30% da temporada forma um painel um tanto quanto insosso, é de se pensar. Mesmo com estes poréns, The Walking Dead já garantiu sua segunda temporada, que acompanharei como atento espectador. Gostei, com ressalvas, mas gostei, em certos momentos com bastante entusiasmo. Não poderia Frank Darabont escrever e dirigir todos os episódios?


Boardwalk Empire (Primeira Temporada): A melhor série das três que acompanhei este ano, sem dúvida foi Boardwalk Empire, e sua figura central, Nucky Thompson, é o personagem mais interessante  do meio, desde o surgimento de Dexter Morgan. Nucky é o tesoureiro de Atlantic City, governa a cidade e suas cercanias, acima de tudo e de todos, como um autêntico gângster legitimado, controlando políticos, asseclas e pessoas próximas. A reconstituição de época é só um dos muitos acertos desta série, que conta ainda com um elenco homogeneamente inspirado. Steve Buscemi faz o papel de sua vida como Nucky Thompson, e seu trabalho merece todos os elogios que vem recebendo (espero que estes se transformem em prêmios). Mas não só de Buscemi vive Boardwalk Empire. Figuram com muito destaque, atores igualmente de primeiro escalão, tais como: Michael Shannon, Michael Pitt, Kelly Macdonald e Michael Stuhlbarg. Acerca do desenvolvimento, após um primeiro episódio vistoso (dirigido por Martin Scorsese) a série derrapou um pouquinho, pelo excesso de informação que, vez ou outra, confundiu o espectador. Mas, a partir do quinto episódio, ela desenhou uma rápida curva ascendente, com tramas bem escritas e dirigidas. Ao final de sua primeira e empolgante temporada, Boardwalk Empire, pelo menos sob a ótica deste que vos escreve, se apresentou como a melhor série de 2010, justamente pela inteligência com a qual misturou os jogos políticos e marginais de priscas eras (alarmantemente atuais) com o desenvolvimento gradual de relações e personagens instigantes. Aguardo muito ansioso a já garantida segunda temporada.

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Bom, larguei "Dexter" ao final de seu quarto ano, pois ali, ao meu ver, a série já perdia fôlego em demasia. É fato que "The Walking Dead" agrada mais à mim do que à ti, e os episódios enrolativos, entendo como parte do proceso narrativo. Espero ansioso a segunda temporada e outras novas séries que apontam no horizonte de forma promissora.

    Abraçosssss

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