sábado, 18 de dezembro de 2010

Os Trapalhões e a Nostalgia


Foi um impulso nostálgico que me fez comprar ontem o DVD de O Casamento dos Trapalhões, e prontamente não resistir à revisita. Como toda criança nascida e criada nos anos 80, cresci vendo as estripulias de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, entre a tela da Globo e a sala de cinema. No meu caso, bem mais na tela da Globo, na qual via o programa que tinham e seus filmes, exibidos com frequência nos áureos tempos da sessão da tarde.

No cinema propriamente dito, fui apenas uma vez assistir a um filme dos Trapalhões, e justamente esta se tornou inesquecível, pois foi a primeira vez que fui ao cinema, no finado Cine Central, na época uma já decadente sala bem no calçadão central de Caxias do Sul, num prédio que posteriormente abrigou um bingo, e que hoje sedia sei lá o que, não lembro no momento. O filme em questão era justamente O Casamento dos Trapalhões, e o ano que corria era o de 1988. Lembro até hoje da excitação de ir ao cinema pela primeira vez, então com seis anos, de mãos dadas com meu pai. A sala já denotava a deterioração que mais tarde viria a decretar seu melancólico fechamento, mas não importava, pelo menos não àquela criança que vibrou ao entrar e ficou ansioso enquanto o filme não começava. Como todas as “primeira vez”, foi uma experiência marcante, o que de repente explique o motivo de eu gostar tanto de O Casamento dos Trapalhões, um filme até meio ingênuo, nem o melhor da profílica carreira do quarteto, mas um exemplar que me fala direto ao espaço dedicado às emoções.

A história dos quatro irmãos (sim, mesmo Mussum sendo negro, não há nada de estranho na irmandade de sangue entre eles, filhos da mesma mãe e do mesmo pai, primeira piada) que moram numa fazenda bagunçada que só ela, é contada sem muitas invenções, bem ao gosto do cinema popular, comercial. Existe um contraste forte entre a cidade grande e o campo. As filmagens do campo foram feitas em locação natural, geralmente rendendo imagens bem iluminadas, exaltando a natureza, enquanto a cidade é sempre vista como um ambiente escuro, somente iluminado pelos néons e luzes artificiais. Temos aí um contraste, o único ponto que nos fornece algo para uma interpretação mais aprofundada.

Eu disse, O Casamento dos Trapalhões é um filme dos Trapalhões, assumidamente comercial (chega a exagerar em alguns merchans) e escapista, deliciosamente escapista, como a maioria de seus filmes. E então, como explicar meus olhos marejados quando a história foi se aproximando de seu clímax? Como envolver-se tanto com algo tão rasteiro e de feitura tão simples? Felizmente não somos máquinas programadas para pensar, racionalizar, peneirar até que os sentimentos sumam e fique apenas o substrato intelectual de todas as coisas. Quem sabe o envolvimento e a alegria de ver O Casamento dos Trapalhões novamente e rir das piadas, seja reflexo não só da admiração que sempre tive pela trupe, mas, e principalmente, por conta daquela primeira experiência no cinema, numa espécie de inconsciente gratidão pela porta que o filme abriu para aquela criança de seis anos, e pela qual o hoje adulto filtra algumas experiências e vislumbra sua paixão. Como diria o finado Renato Russo: “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, e quem irá dizer que não existe razão.”

Um comentário:

  1. Olá, Celo!
    Belo texto motivo à nostalgia. Por mais que tentamos, muitas vezes as emoções dominam nossas ações e reações.

    Abraçosss

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